Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Ernesto Rodrigues

Tal&Qual, 3 de fevereiro

O Tal & Qual é a medida tanto do que seria ideal que acontecesse, em termos de integração dos conteúdos audiovisuais latino-americanos, quanto da distância e dos obstáculos que ainda separam todos nós – realizadores, emissoras e telespectadores – desse sonho.

O notável esforço de contextualização dos responsáveis pelo programa, no texto das cabeças e nas contagiantes participações do âncora Amaury Wilson, não conseguem impedir, infelizmente, a sensação de que os conteúdos exibidos despertam pouco interesse no telespectador médio brasileiro.

No caso do primeiro episódio, o documentário ‘Quando o pequeno se torna grande’, apesar do interesse potencialmente universal despertado pelo movimento de desobediência civil que resultou no fechamento de uma base da Marinha dos EUA em Porto Rico, a história era antiga (2003) e sem atualização, as imagens tinham qualidade sofrível em vários momentos, o tom era mais militante do que jornalístico e a narração era inexistente.

No segundo assunto, um perfil do pintor, ceramista e escultor cubano Alfredo Sosabravo, uma ironia: havia muito o que saborear em termos visuais, através de planos mais demorados e densos que reproduzissem a obra do Sosabravo, mas o que se viu foi uma enxurrada aflitiva de efeitos jurássicos de edição que misturavam, como num clipe da MTV dos anos 80, as imagens das obras de Sosabravo com objetos e lugares, tudo isso ao som de uma trilha épica que se entendia muito pouco com a edição.

O assunto do último bloco do programa, curiosamente, tinha um potencial de interesse diametralmente oposto ao das artes plásticas: a história do estádio da Bombonera, do time do Boca Juniors, em Buenos Aires. A produção e a edição, no entanto, eram pobres e certamente só prenderam a atenção dos poucos fãs brasileiros do futebol argentino. Uma pena.

Por essa e outras edições já comentadas aqui é que os desafios da bem-intencionada proposta do Tal & Qual continuam enormes.

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O homem-enxurrada

Roda Viva, 2 de fevereiro

Não foi exatamente uma entrevista. Também não se pode falar em palestra. Muito menos em sessão de psicanálise. Qualquer que seja o nome que se dê ao Roda Viva de 2 de fevereiro com o filósofo e psicanalista Zlavoz Zizek, o fato é que não havia nada que o âncora interino Alexandre Machado ou os entrevistadores convidados pudessem fazer para alterar o estado de ebulição intelectual em que o entrevistado esteve mergulhado ao longo de todo o programa. A ponto de Zizek bater o que provavelmente é um recorde na história do Roda Viva: o de levar um bloco inteiro para responder apenas a uma pergunta.

Antes que essa introdução seja interpretada como uma crítica, é preciso dizer que, para boa parte dos telespectadores, Zizek, com seu inglês rústico e sua linguagem corporal situada entre o desespero e o êxtase, certamente fez deste atípico Roda Viva um programa irresistível, pela profusão de seus conceitos, opiniões e análises instigantes e agudas sobre o atual cenário econômico, político, intelectual e filosófico.

Marxista hegeliano assumido e apaixonado, Zizek, mesmo quando era controverso – como ao dizer que Hugo Chavez e Evo Morales estão inventando ‘uma nova forma de estado’ ou ao reivindicar para os marxistas a exclusividade do direito de analisar criticamente o stalinismo – dava a impressão de que as idéias e teses ardiam dentro dele.

Zizek vê a atual crise mundial e as soluções que estão sendo apresentadas como uma prova definitiva de que ‘não existe mercado que não seja sustentado por alguma forma de governo’. Ele criticou os ‘esquerdistas masoquistas’ que ‘apostam em uma grande catástrofe ecológica’. E disse que a tarefa da esquerda, hoje, ‘é menos mudar e mais tentar entender e formular o problema corretamente’. Os entrevistadores foram Emir Sader, Maria Rita Khel, Laura Greenhalgh e o professor Vladimir Safatle, da USP, que conseguiu abordar pontos mais controversos do pensamento de Zizek ao pedir que o entrevistado falasse sobre sua visão da violência política e da necessidade histórica que supostamente justificaria o stalinismo.

Tenhamos concordado ou não com esse filósofo que é fã da novela ‘Escrava Isaura’ e do filme ‘Clube da Luta’, tenhamos entendido ou não certos momentos em que a entrevista ficou excessivamente acadêmica ou confusa para um telespectador médio, dificilmente quem sintonizou o programa deixou de acompanhá-lo até o final.

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Os caminhos do diálogo

Central de relacionamento, 3 de fevereiro

Recebi de Júlio Moreno, Secretário-Executivo da Presidência da Fundação Padre Anchieta, um relatório preparado por Marina Su, responsável pela futura Central de Relacionamento. O documento mostra uma estatística das mensagens recebidas em janeiro através do site da TV Cultura – via ombudsman, falecom e webmaster – e que foram encaminhadas a ela por tratarem de assuntos que exigiam uma manifestação institucional mais elaborada da FPA.

Ao analisar o relatório, Júlio Moreno observa que o público já identifica o ombudsman como sendo o canal apropriado, quando se trata de fazer críticas à emissora. Cerca de 66% das mensagens, de acordo com o relatório, foram encaminhadas ao ombudsman.

Júlio acrescenta outras considerações importantes a respeito da estatística. Primeiro, lembra que o mês de janeiro, tradicionalmente, é atípico, devido ao volume menor de acessos ao site e de mensagens. Informou também que, entre os canais de comunicação disponíveis via site, o ‘falecom’ é ainda o mais procurado para contatos quando se trata de esclarecimentos sobre horários da programação. Foram 2215 mensagens em janeiro, número menor do que a média mensal de três mil mensagens.

Não estão computados, neste relatório, os emails enviados diretamente aos programas e que dizem respeito a sugestões de pautas, pedidos de esclarecimentos e outros assuntos. De acordo com Júlio Moreno, assim que a Central de Relacionamento esteja funcionando, estatísticas como as desse relatório serão produzidas regularmente e também de forma pontual.

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Quem sabe um pouquinho mais de pimenta?

Ao ponto, 29 de janeiro

O ‘Ao Ponto’ exibido em 29 de janeiro confirmou o compromisso dos realizadores do programa com a agilidade, a criatividade e as temáticas pertinentes ao público jovem ao qual o programa é destinado.

O assunto da vez, ‘O corpo como forma de expressão’, uma discussão aberta sobre como o vestuário, a tatuagem e o culto ao corpo compõem e exprimem a personalidade das pessoas, particularmente as mais jovens, foi uma boa oportunidade para que o ‘Ao ponto’ avançasse na consolidação de sua proposta original.

A experiência de ‘troca de embalagem’, pela qual três jovens fizeram uma mudança radical de vestuário e de penteados ao longo do programa, tinha os ingredientes de linguagem e de formato indicados para a televisão, assim como o quadro ‘Profissões’ – no caso, mostrando como é a vida de uma modelista – as intervenções ‘internéticas’ de Renan e a participação da repórter Hananza.

Cabe apenas uma observação que não chega a ser uma crítica: considerando-se o teor polêmico do tema escolhido, pelo menos parte dos telespectadores deve ter sentido falta de um pouco mais de controvérsia e também de humor, matérias-primas fundamentais num programa cujo objetivo é o de sensibilizar os jovens.

A relativa apatia da turma que participou da platéia, aliás, foi, quem sabe, um sinal de que a preocupação didática, desta vez, pode ter passado um pouco do ponto.’