A imprensa africana acolheu com cautela a notícia de que o líder da oposição no Zimbábue, Morgan Tsvangirai, tornaria-se primeiro-ministro do país em uma administração em parceria com o presidente Robert Mugabe, no poder há quase 29 anos. O Zimbábue teve eleições presidenciais conturbadas no ano passado, com manifestações de violência e acusações de fraude eleitoral. No fim, Mugabe manteve seu posto. Tsvangirai assumiu o cargo de premiê, na semana passada, em um acordo de poder compartilhado assinado pelos partidos Zanu-PF, de situação, e Movimento para a Mudança Democrática (MDC), até então de oposição.
Alguns jornais zimbabuanos viram a mudança política como uma oportunidade para que os cidadãos se unam pelo bem do país. Em outros países da África, como a África do Sul, alguns diários rejeitaram sugestões de ajuda para combater a hiperinflação do Zimbábue.
O jornal zimbabuano Herald afirmou que a formação do novo governo compartilhado não é o fim, e sim um começo. O Chronicle ressaltou que ‘não há dúvidas de que o mundo estará olhando para o Zimbábue, como sempre fez, mas desta vez por uma razão diferente: [para ver] se os zimbabuanos são capazes de se unir e adotar um senso comum para o bem da nação’. O jornal afirmou ainda que este é um bom momento para a sociedade zimbabuana começar a debater seriamente sobre os desafios do país.
No Quênia, o Nation definiu a entrada de Tsvangirai no governo como um ‘tiro necessário no braço’ do Zimbábue e enfatizou que uma solução para a crise política e econômica zimbabuana seria uma grande ajuda para os países vizinhos. ‘Ambos os lados precisam confiar um no outro se querem tirar o país do buraco cavado pelas políticas tirânicas de Mugabe’, completou. Na República Democrática do Congo, o Le Potentiel fortaleceu a idéia de que o governo compartilhado deve ter como objetivos primordiais a restauração da unidade nacional, o despertar da economia – ‘hoje de joelhos’ – e o restabelecimento da cooperação multilateral.
No Business Day, da África do Sul, foi noticiada a sugestão do presidente Kgalema Motlanthe de que o Zimbábue passe a adotar a moeda Rand para tentar estabilizar as conseqüências da hiperinflação. ‘Mas, para o fim da hiperinflação’, diz o jornal, ‘o primeiro passo necessário é a recuperação da economia zimbabuana, e o Rand não é a resposta’. Em Botsuana, o Mmegi adotou tom pessimista. ‘Ao se apegar ao poder com unhas e dentes, os líderes africanos e seus ingênuos seguidores passam a se iludir de que são um presente de Deus a seus países. Os líderes africanos e seus lacaios devem primeiro aceitar que nenhum ser humano é infalível. Até que passemos desta fase, assassinatos e violência continuarão a ser nossa realidade’. Informações da BBC News [12/12/09].