Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Sapo sabe ler o que é ciência

O Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade de Campinas (Unicamp) desenvolveu um sistema capaz de detectar automaticamente matérias de ciência e tecnologia na mídia impressa, possibilitando uma avaliação da cobertura jornalística em termos quantitativos e qualitativos.

O mecanismo, batizado de Sapo (Science Authomatic Press Observer), foi apresentado na sexta-feira (20/10) durante o seminário ‘Estratégias para a divulgação científica na sociedade do conhecimento’, em São Paulo.

‘Ele é capaz de ‘farejar’ edições online de jornais e descobrir onde está a ciência’, explicou Yurij Castelfranchi, do Labjor, um dos responsáveis pela criação do sistema. ‘Trata-se de um banco de dados que coleta, seleciona e organiza os conteúdos de ciência e tecnologia.’

O Sapo foi desenvolvido durante três anos, em conjunto com a empresa Solis – Cooperativa de Soluções Livres, do Rio Grande do Sul. O projeto teve apoio da Fapesp no âmbito do projeto ‘Ciência & tecnologia, comunicação e sociedade: Questões de C&T na mídia nacional’.

A ferramenta foi projetada para percorrer o conteúdo dos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo, Jornal do Brasil e O Globo, disponíveis na internet a assinantes. Considerando apenas o texto da versão impressa, o Sapo extrai as matérias que contêm termos de uma lista de palavras-chave cuidadosamente selecionadas a partir de sua tipicidade no discurso científico.

‘Essas palavras-chave são agrupadas em cinco filtros: disciplinas, instituições, prática da ciência e palavras técnicas de humanas ou exatas. Esse último filtro, por exemplo, inclui palavras do tipo ‘nanotecnologia’ ou ‘aftosa’, por exemplo’, disse Castelfranchi à Agência Fapesp.

O sistema aplica uma pontuação às matérias selecionadas e define o que é texto científico, o que não é e o que precisa ser inspecionado por um observador humano. Segundo os responsáveis pela ferramenta, o índice de precisão na detecção de matérias científicas é maior que 95%.

Em todos os cadernos

Ao aplicar o sistema aos diários brasileiros, os pesquisadores obtiveram um dado surpreendente: a maior parte das reportagens com temas científicos e tecnológicos não está nos cadernos de ciência dos jornais, mas dispersa em outras editorias. É como se a ciência fosse um grande tema transversal.

‘A difusão tradicional da ciência é importantíssima. O resultado obtido pelo Sapo mostra que a ciência, fisiologicamente, está sendo apropriada pela sociedade. Ela já é cultura’, disse o pesquisador.

Comparando uma série histórica, com o Sapo pesquisadores poderão detectar o ritmo em que a ciência penetra a sociedade. O sistema, segundo Castelfranchi, poderá ser adaptado para outras áreas além da ciência, sendo potencialmente útil para vários tipos de pesquisas em comunicação. ‘Ele permite avaliar e medir tendências gerais na cobertura de qualquer temática’, afirma.

******

Editor da Agência Fapesp