Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 30 de outubro de 2006
TELEFÔNICA & TVA
Telefônica fica com a TVA
‘Os presidentes do Grupo Telefônica no Brasil, Fernando Xavier Ferreira, e do Grupo Abril, Roberto Civita, assinaram ontem, por volta de 16 horas, os contratos de venda da empresa de televisão por assinatura TVA para a operadora, no escritório de advocacia Machado Meyer. Eles queriam ter anunciado o negócio na sexta-feira, mas o batalhão de advogados envolvido nas negociações não havia chegado a um acordo. Ontem, Xavier e Civita estouraram um champanhe para comemorar.
A Telefônica comprou todas as participações que podia em áreas da TVA que não trouxessem problemas legais, em uma operação que ainda precisa ser aprovada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O objetivo da Telefônica é comprar toda a empresa.
Ontem, a Telefônica assumiu 100% das operações de MMDS, TV paga via microondas, da TVA em São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre. Não existem limitações legais para que uma empresa de telefonia exerça o controle do MMDS. A companhia também comprou todos os papéis sem direito a voto das operações de cabo. Em São Paulo, ficou com 19,9% das ações ordinárias, porque seu contrato de concessão a impede de ser controladora de empresas de cabo em sua área. Em Curitiba, Florianópolis e Foz do Iguaçu, ficou com 49% das ações com direito a voto, pois a Lei do Cabo determina que 51% do controle devem ficar na mão de acionistas brasileiros.
Não foram divulgados os valores do negócio. No ano passado, a TVA faturou US$ 128 milhões. Comandada por Leila Loria, a empresa atende 320 mil clientes de TV por assinatura e 60 mil de banda larga. Seu capital social é de R$ 837,6 milhões. Segundo comunicado da TVA, o processo de oferta inicial de ações, iniciado em setembro junto à Comissão de Valores Mobiliários, fica suspenso.
O acordo entre as companhias não se restringe a mudanças no controle da TVA. Os contratos prevêem que a Abril, que permanece na gestão da empresa de TV paga, vai desenvolver conteúdo segmentado para ser distribuído em novas plataformas da Telefônica, como o IPTV (TV por internet). O conteúdo desenvolvido pela Abril não será exclusivo da Telefônica.
A medida pode ser vista como uma reação à presença da Telmex, maior concorrente da Telefônica na América Latina, no controle da Net, maior empresa de TV paga do País. ‘A Telefônica acredita que a parceria firmada vai beneficiar os clientes de ambas as empresas com a oferta do ‘triple play’, serviços de telefonia, internet de banda larga e TV por assinatura’, apontou a Telefônica em comunicado. ‘Essa convergência é uma tendência internacional e a Telefônica já vem oferecendo esses serviços a seus clientes em outros países.’
A Net tem em seu controle a Embratel, que pertence à Telmex. Em seis meses, a empresa conquistou 115,4 mil clientes de telefonia. A Net também anunciou este mês a compra da Vivax, segunda maior empresa de cabo do País, elevando sua participação para 45% do mercado total de TV paga e para 75% do mercado de TV a cabo.
‘Foi uma oferta de reação’, afirmou Luis Shibata, diretor geral para América Latina da consultoria The Yankee Group, sobre a compra da TVA. ‘As empresas de cabo que restaram são bem menores, mas não deixam de ser interessantes.’ Uma delas seria a TV Cidade, com 86 mil assinantes.
A Telefônica e a Abril também assinaram contratos de compartilhamento de infra-estrutura. Com isso, a TVA pode usar a rede da Telefônica, oferecendo IPTV nos locais onde não tem rede. A operadora de telefonia tem 1,378 milhão de clientes de banda larga e 12,342 milhões de linhas em serviço.’
INTERNET
Começa a segunda guerra da internet
‘Hoje, tudo gira em torno da internet – ela está no centro dos negócios, da cultura, do lazer, da informação e da comunicação entre as pessoas. Por isso, o navegador (em inglês, browser) é o programa mais importante que existe. Ele é, literalmente, a sua janela para o mundo digital, ainda que você não se dê conta disso. Dominar o mercado de navegadores, hoje, é dominar o acesso à informação – algo tão importante quanto a agricultura, o petróleo ou a indústria dos remédios.
Até recentemente, a gigante Microsoft reinava soberana: quase 100% das pessoas usavam o programa Internet Explorer, que vem embutido no sistema operacional Windows. O império da Microsoft parecia imbatível. Tão imbatível que Bill Gates relaxou e, desde 2001, não lançava uma atualização para o Explorer, que ficou empacado na versão 6.0.
Mas aí um grupo de voluntários, sem conexão com nenhuma empresa, decidiu criar um browser que iria mudar tudo: o Firefox. Cada vez mais gente resolveu abandonar o Explorer e instalar o novo software, mais seguro e prático. Em 2006, o Firefox superou a marca dos 200 milhões de downloads e fez, pela primeira vez em muito tempo, a participação de mercado da Microsoft no mercado de navegadores cair abaixo de 90%.
Acendeu uma luz vermelha na cabeça de Gates, que decidiu reagir: mandou seu exército de funcionários criar uma nova versão do Explorer, a 7.0, que acaba de ser lançada e cujo objetivo é esmagar o Firefox . Em novembro, a Microsoft começará a distribuir, via internet e de forma automática, o programa para os mais de 500 milhões de PCs, em todo o mundo, que rodam Windows XP.
Quando você perceber, o novo Explorer, que traz diversas melhorias (e copia descaradamente o Firefox), já terá sido baixado para o seu computador – e aí caberá a você decidir, com um clique, se autoriza ou não a instalação dele.
Sentindo o perigo, os criadores do Firefox responderam: na semana passada, lançaram uma nova versão do seu programa, 2.0, que promete dar um passo à frente, com um arsenal de recursos novos para ganhar a sua preferência.
Mas e aí? Qual dos browsers é o melhor? Nesta edição, confira o primeiro teste comparando os dois programas, leia entrevistas exclusivas com representantes da Microsoft e do Firefox e relembre os principais momentos da chamada ‘guerra dos navegadores’, que nos anos 90 marcou a ascensão da internet e quase destruiu o império de Bill Gates – essa batalha, que acontece dentro do seu computador, acaba de recomeçar.’
Filipe Serrano
Orkut agora diz que combaterá crimes
‘Mais de dois anos depois da primeira denúncia de que existiam comunidades e usuários do Orkut praticando crimes de racismo e pedofilia, o Google anunciou mudanças no site de relacionamentos mais popular entre os brasileiros.
Em videoconferência, o Google, dono do Orkut, anunciou ter desenvolvido novas ferramentas para agilizar denúncias e pediu para os usuários avisarem os responsáveis pelo site sobre perfis e comunidades com conteúdo ilegal.
Em texto publicado na página inicial do site, com o título Mantenha o Orkut bonito, o Google reconheceu o erro por não ter tomado até agora uma atitude mais firme.
O Google tem dificultado o acesso da Justiça brasileira às informações de pessoas acusadas de cometer crimes no Orkut. A alegação é de que o site está baseado nos EUA, e o Google Brasil, para quem foram endereçados os pedidos judiciais, não teria condições de repassar os dados.
O Google afirmou já ter respondido 40 pedidos do Ministério Público Federal. Mas, segundo o procurador da República, Sergio Suiama, o Google não enviou o endereço IP (número que identifica a conexão dos internautas) dos investigados, o que impossibilita que eles sejam localizados.
INSUFICIENTE
‘Reconheceram a omissão e pediram desculpas. Mas não vejo resultados práticos. Eles precisam mesmo é fornecer dados que permitam identificar e encontrar os criminosos acusados. Não adianta só tirar o perfil do ar’, diz Thiago Tavares, presidente da SaferNet, associação contra crimes na internet.
A SaferNet (www.denunciar.org.br) recebe em média 2.000 denúncias por dia contra o Orkut. Em fevereiro de 2006, a ONG apresentou um relatório sobre os casos ao Ministério Público Federal (MPF), que deu início às investigações e aos processos na Justiça.
Uma das novas ferramentas anunciadas foi a possibilidade do dono de uma comunidade nomear até dez pessoas para checar e até apagar o que outros membros escrevem. Isso facilitaria encontrar conteúdos ilegais principalmente em comunidades grandes. Porém, depende da vontade de cada moderador.
O Google espera que os membros utilizem a ferramenta ‘denunciar abuso’ (que aparece nos perfis e nas comunidades). Também afirmou ter aumentado a quantidade de funcionários que fiscalizam o site, mas não informou o número exato.
Tavares, da SaferNet, notou que, há três semanas, os perfis denunciados por conter imagens de pedofilia foram retirados do ar com mais rapidez . Mas reparou que ainda há demora nos finais de semana. Segundo o Google, o software que rastreia fotos e textos ilegais foi aprimorado.
O Orkut pediu que relatos de abusos sejam enviados para o e-mail KeepOrkutBeatiful@google.com. O Link mandou mensagens para o endereço durante toda a quinta-feira usando provedores diferentes, mas todas retornaram. Em uma das contas testadas, a mensagem chegava com o aviso de que o destinatário não existia.
O Google disse, sem dar certeza, ser uma falha técnica. Duas horas depois, os e-mails enviados não retornaram mais. Mas também não foram respondidos até o fechamento desta edição.’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 30 de outubro de 2006
TELEFÔNICA & TVA
Telefônica sela compra da TVA com Abril
‘O grupo Abril, dono da TVA, e a Telefônica firmaram ontem acordo para a venda da TV por assinatura. A transação depende da aprovação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que aguarda o pedido de análise que pode ser feito a partir de hoje.
Em notas distribuídas ontem pela Abril e pela Telefônica, as empresas informam que o negócio envolve 100% das ações preferenciais e parte das ordinárias referentes às operações de TV a cabo, ‘nos limites de participação permitidos pela legislação’.
Segundo a Lei Geral de Telecomunicações, uma empresa estrangeira só pode controlar até 49% de uma empresa do segmento de cabo.
O pacote inclui ainda a totalidade das ações de operações por microondas (MMDS), que não têm esse obstáculo.
Um segundo entrave pode impedir o negócio. A lei de telecomunicações proíbe concessionárias, como a Telefônica, de ingressarem em outros segmentos que não são o alvo de sua concessão na mesma região em que atuam.
No entendimento de algumas operadoras, isso ocorre no acordo entre a Telefônica e a TVA, já que as duas operam no setor de internet banda larga. Ações desse setor e do de telefonia IP, no entanto, não foram incluídas no acordo.
A Anatel aguardará que o grupo Abril e a Telefônica entrem com um pedido oficial de análise da operação junto à agência para se manifestar.
Segundo a assessoria da Anatel, depois do comunicado feito ontem pelas empresas, o pedido poderá ser registrado hoje.
A partir daí, o Conselho Diretor terá que decidir se dará ou não aval à transação. A assessoria da Anatel informou ainda que não há um prazo padrão para esse tipo de parecer.
Criada em 1991, a TVA tem cerca de 300 mil assinantes e responde por 7% de participação no mercado de TV por assinatura. É o mesmo percentual da Vivax, que neste mês foi comprada pela Net, que detém a maior fatia do mercado (38%), seguida pela fusão entre SKY e DirecTV (31%).
Já o grupo Telefônica tem mais de 44 milhões de clientes no país, segundo dados fechados de 2005.
Convergência
Desde o começo do ano, pelo menos, a Telefônica quer ingressar no segmento de TV por assinatura do país. A empresa já solicitou à Anatel uma licença de TV para operar via satélite. Pediu também autorização para atuar em um acordo comercial com a Astral Sat, empresa de TV a cabo pré-paga.
A estratégia adotada é explorar um mercado com tecnologias convergentes, que operem com sinergia a custos baixos.
Outras companhias do setor têm investido pesado na convergência, impulsionadas pelos avanços tecnológicos e pela chegada da TV digital ao Brasil.
Há duas semanas, a Net, maior empresa de TV paga do país, com 1,6 milhão de clientes, comprou a Vivax, a segunda, com 300 mil assinantes.
A Telemar -que foi alvo de rumores de que poderia adquirir a TVA- já havia comprado, também neste ano, a Way Brasil, operação de TV a cabo em Minas Gerais.
A aquisição da Vivax será feita em duas etapas. Na primeira, a Net, sociedade entre as Organizações Globo e a tele mexicana Telmex, comprará os 36,6% do capital da Vivax de posse da Horizon Telecom International, composta por investidores estrangeiros.
Numa segunda fase, se houver consentimento da Anatel, a Net comprará o controle acionário da Vivax, pertencente ao brasileiro Fernando Norbert, ex-diretor da Paranapanema.
Colaborou a Sucursal de Brasília’
ELEIÇÕES 2006
Lula reeleito
‘RECONDUZIDO ao cargo com mais de 60% dos votos válidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê abrir-se diante de si um horizonte político singularmente diverso daquele com que se deparava em 2002.
Legitimamente referendado por mais de 58 milhões de eleitores, Lula está longe de corresponder, entretanto, à aura de renovação social e ética de que era cercado no imaginário de seus adeptos em 2002; tampouco sua eleição se associa, agora, às ameaças de irresponsabilidade econômica e turbulência política projetadas pelo discurso de seus adversários naquela época.
O jogo da sustentação parlamentar, que levou o governo a tantos desastres e vergonhas nos últimos quatro anos, terá de ser jogado mais uma vez. A estratégia de alianças agora em curso acrescenta às imoralidades do varejo partidário vigentes no primeiro mandato a oficialização de um pacto com a macrofisiologia peemedebista.
Qualquer discurso em torno de reformas políticas abrangentes, capazes de dar maior transparência e funcionalidade às instituições republicanas, choca-se amargamente com o predomínio do arcaísmo e da ausência de compromissos ideológicos dos detentores do poder real.
Das incertas negociações com esses setores, assim como de sua própria ‘vontade política’ -cuja intensidade e consistência têm deixado muito a desejar- é que depende o presidente reeleito para responder aos desafios de seu próximo mandato.
A aceleração do ritmo do crescimento econômico, ao contrário do que tanto lulistas quanto oposicionistas afirmaram no decorrer desta campanha, não dispensa um equacionamento da questão das contas públicas; a diminuição continuada da taxa de juros e o desafogo da carga tributária não dispensam a realização de reformas para controlar as despesas federais -reformas cujo teor e cujas chances de respaldo legislativo são, a esta altura, absolutamente nebulosos.
Terão paralelamente de prosseguir com rigor as investigações em torno do chamado dossiegate. Democraticamente eleito, o presidente da República não está acima da lei e das instituições do país. Tende a arrefecer, sem dúvida, o furor inconformista dos que, supondo-se já derrotados nas urnas, por vezes incorreram numa retórica açodada de contestação do futuro mandato presidencial. Somente fatos e evidências, fundamentados numa investigação minuciosa, poderão dar resposta às questões que até hoje ficaram sem esclarecimento em todo o escândalo.
Enquanto isso, e já amainado o período das exaltações eleitorais, não faltam entretanto outras incertezas, de ordem econômica, política e administrativa imediata, a que o próximo mandato de Lula terá de dar firme resposta. O desafio de passar da ‘realpolitik’ dos acordos parlamentares à adoção de medidas objetivas para a aceleração do desenvolvimento econômico está colocado; resta saber se Lula e as forças que o apóiam estão prontos a enfrentá-lo desta vez.’
Paulo Sampaio
Elite peessedebista atribui vitória de Lula à falta de informação do ‘povão’
‘Freqüentadores de Higienópolis, bairro de Fernando Henrique Cardoso e reduto de intelectuais tucanos, tentavam explicar ontem o que um deles classificou de ‘fenômeno Lula’, referindo-se ao crescimento do candidato petista nas pesquisas, ‘apesar da roubalheira do PT’.
‘O eleitor do Lula é o povo do interior ou do Nordeste, que não tem acesso à informação e por isso não sabe o quanto se roubou no governo do PT’, formula a artesã Maria Lúcia Barros Barreto, 66.
‘As pessoas podem até assistir ao jornal pela TV, mas muitas não têm condição de interpretar a notícia’, acrescenta a executiva Margareth Goldenberg, 44.
Na opinião dela, o erro de Alckmin foi transmitir seu programa de governo de maneira muito formal. ‘É triste, mas só ganha quem reduz a qualidade do discurso para atingir o maior número de eleitores possível.’
A administradora de empresas Patrícia Marino, 40, acredita que ‘Lula faz apologia da pobreza e fala mal o português de propósito’.
Sua tia, a pedagoga Cecília Andreolli, não tem dúvidas: ‘O que estragou foi colocarem o Alckmin ao lado do (Anthony) Garotinho. Quem teve aquela idéia?’
Incrédulas na quantidade de votos para Lula, as duas afirmam que ‘tem muito petista enrustido por aí’.
Em cerca de três horas de entrevistas na praça Vilaboim, coração de Higienópolis, a Folha observou que existe uma tentativa de ‘organizar’ o pensamento -sem garantia de coerência.
Mesmo afirmando que ‘o povão vota no Lula’ porque não tem acesso à informação, a artesã Maria Lúcia diz que é contra publicar pesquisa antes da eleição. ‘Isso induz o voto do eleitor (ignorante).’
A aposentada Zuleika Frizzo afirma que ‘Lula rouba’ -mas não se responsabiliza pela idoneidade do PSDB. ‘Pelo menos, a gente não tem a sensação de que está sendo extorquido.’ Para ela, ‘o brasileiro perdeu a credibilidade em si mesmo’. ‘Os americanos começaram uma nação de verdade; os portugueses já chegaram extorquindo.’
Dizendo-se ‘abaladas’, mas sem parecer propriamente tristes, a mesária tucana Flávia Heilman, 27, e sua amiga, a designer Tatiana Bauman, 28, perguntam, sentadas no terraço do lado de fora de um barzinho: ‘Se a gente fizer cara de desoladas, você colocará nossa foto na capa do jornal?’
Flávia prepara-se para a pose, segurando o dinheiro que recebeu para despesa com o almoço. ‘Ganhei R$ 10 pro ‘lanche’, debocha.’
Catia Seabra e José Alberto Bombig
PSDB admite erro ao ‘esfriar’ campanha
‘Do tom no debate à conveniência da foto com o casal Garotinho, tucanos e pefelistas divergem ao buscar culpados pela derrapagem de Geraldo Alckmin no segundo turno da corrida presidencial. Mas em um ponto concordam: ela começou a ser desenhada no dia 2 de outubro, na reunião do comando político da campanha.
Nela, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia, questionou o coordenador de comunicação, jornalista Luiz Gonzalez, sobre a data de reinício do horário eleitoral. Gonzalez respondeu que começaria dez dias mais tarde.
‘Quem esfria a campanha é quem está na frente. Não atrás. Precisamos virar’, ponderou Rodrigo ao presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). ‘Fale isso em voz alta’, recomendou Tasso.
Gonzalez argumentou, no entanto, que temia a desconstrução da imagem de Alckmin durante o programa eleitoral. E, com aval de Alckmin, foi mantido o acordo pelo qual a propaganda só começaria no dia 12 de outubro.
Hoje, o próprio Alckmin reconhece o erro. Mas não o debita na conta de Gonzalez. Segundo tucanos, essa foi uma decisão de Alckmin, que temia não ser capaz de arrecadar recursos suficientes para a produção de novos programas de rádio e TV. Além disso, como havia a hipótese de Luiz Inácio Lula da Silva vencer no primeiro turno, a equipe de comunicação não estaria preparada para reiniciar o programa imediatamente.
Em suas recentes conversas, Alckmin admite outro erro cometido no mesmo 2 de outubro: a fotografia com o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB).
Naquela noite, Alckmin, Tasso e o coordenador-geral da campanha, Sérgio Guerra (PE), acertaram para o dia seguinte um encontro com o casal Garotinho. ‘Aquela fotografia esvaziou o discurso ético de Alckmin’, avalia o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), segundo o qual eleitores se queixavam do apoio nas viagens pelo Brasil.
Independentemente do efeito eleitoral do apoio, a crise provocada pela fotografia interrompeu a trajetória que o próprio Alckmin declarava como ascendente.
Na opinião do comando da campanha, preocupados com o equilíbrio da cobertura, os meios de comunicação buscavam um ponto fraco de Alckmin, após duas semanas de bombardeio sobre o PT. Foi a foto de Garotinho.
A aparição de Garotinho aconteceu no momento em que Alckmin se debatia em busca de uma agenda positiva em resposta ao ‘não troque o certo pelo duvidoso’ de Lula. Alckmin reconhece: foi um tiro no pé.
O comando da campanha também admite não ter reagido com a rapidez necessária à estratégia petista de rotular Alckmin como privatista. Para neutralizar o impacto desse ataque entre eleitores mais à esquerda, especialmente no Rio, Alckmin insistiu até o fim para que o senador Cristovam Buarque (PDT) declarasse seu voto.
Na quarta-feira, a exemplo de Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a telefonar para Cristovam pedindo que se manifestasse. Nos dois dias seguintes, Cristovam se limitou a fazer uma análise do cenário político.
Só às 20h de sábado, véspera da eleição, Cristovam avançou um pouco mais: ‘Se Alckmin disser que voto nele, não vou desmentir’, afirmou Cristovam.
Tarde demais.
Nas conversas, Alckmin atribui a derrota a erros políticos, inclusive de seus aliados. A começar pelo Nordeste. Lá, Alckmin teria obtido apoio apenas do então governador do Sergipe, João Alves (PFL). Segundo tucanos, havia semanas que Alckmin não conseguia programar atividades na região.
A disputa interna do PSDB, no início do ano, acabou prejudicando a candidatura Alckmin no Nordeste, onde Serra ainda tinha forte ‘recall’ de 2002. Hoje, ele concorda: o ideal teria sido a definição do presidenciável tucano ainda em 2005.
O fato de Alckmin não ter defendido o legado de FHC também é apontado como deslize estratégico, dando a impressão de que ‘não tinha lado’.
Outra falha diagnosticada pelo próprio Alckmin: a falta de um ‘Estado-Maior’, uma equipe que comandasse sua campanha, até para a elaboração do programa. A ‘solidão’ do candidato é expressão recorrente entre tucanos e pefelistas.’
Lula e mais Lula
José Arthur Giannotti
‘Antes de tudo, gostaria de louvar o caráter democrático dessas eleições. Não ignoro as enormes deformações pelas quais passou o processo eleitoral: o predomínio do marketing político a evitar uma discussão mais rente dos desafios que nossa sociedade enfrenta; a manipulação dos dados; a dificuldade de se chegar a fundo dos inúmeros casos de escandalosa corrupção; o uso indevido de serviços estatais e assim por diante.
No entanto, seja com for, as instituições funcionaram normalmente, o processo eleitoral foi limpo, correto e admiravelmente eficaz e não me parece que a vitória de Lula e do lulismo não exprima a vontade da maioria da população.
Não é por isso, entretanto, que (usando do direito da minoria) vou deixar de exprimir minha profunda decepção com esse resultado, meu temor de que as eleições, em vez de resolver a crise política, apenas a tenha aprofundado. O funcionamento da democracia política mais encobriu do que revelou os desafios a serem enfrentados para que o Brasil seja uma nação moderna e mais justa. Não há dúvida de que a vitória de Lula se deve ao sucesso de um programa de inclusão social, que, se na verdade integra e aumenta projetos do governo anterior, não deixa de ser muito alvissareiro, na medida em que continua, de maneira considerável, a aumentar o poder de compra das classes mais desfavorecidas. Mas o desafio é mantê-lo e aumentá-lo.
Como isso se tornará possível com a medíocre taxa de crescimento obtida nas últimas décadas? Ora, não vejo como se possa trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável sem que se encontre nova figura para o Estado brasileiro. É quase consenso de que esse Estado não corresponde às nossas necessidades, de que de alguma maneira ele precisa se tornar mais eficaz e menos perdulário. Ora, se o lulismo não enfrentar esse desafio, não vejo como sairemos do impasse em que nos metemos.
Mas, no final das contas, o que é esse lulismo? De um lado, um movimento que tem o mérito de trazer para o palco político as camadas mais desfavorecidas da população. E como, a meu ver, elas chegaram para ficar, a tarefa é descobrir novas formas de representação social compatíveis com a democracia formal. Desde o século 19 se sabe que a democracia patina em terrenos de extrema desigualdade.
Como aprofundar a democracia, não cair nos encantos do populismo e não perder de vista a importância de um governo que se faça sob o estrito comando da lei?
Na campanha eleitoral do segundo turno, dois temas foram privilegiados. Desde o início, a oposição colocou em pauta a necessidade de um governo obediente às normas morais, levando-se em conta, obviamente, a necessidade de flexibilizar padrões normativos nos momentos de crise do Estado. Mas, rapidamente, o discurso governista se recuperou na base de dois argumentos.
Primeiro, a política é corrupta por sua própria natureza, mas na história do Brasil nunca esse tumor foi lancetado com tanta profundidade. A oposição simplesmente não conseguiu mostrar que há diversas formas de corrupção -a corrupção romana não sendo a mesma coisa do que a nossa corrupção colonial- , de sorte que a tarefa consiste agora em desmascarar o conúbio dos fundos públicos com os fundos partidários, numa fusão que somente tem sentido no autoritarismo dos governos implementados pelo socialismo real.
E, sob esse aspecto foi muito curioso, observar a transformação da vergonha petista diante dos primeiros escândalos no desprezo por aqueles que caíram nos vícios de um udenismo retumbante (vale dizer, no bumbo petista de cinco anos atrás).
Segundo, a ideologia lulista se mostrou ferozmente contrária à venda do patrimônio nacional, contra as privatizações corruptas e inteiramente favorável ao estatismo purificador. Por certo o lulismo aceita privatizar serviços futuros, como propõe a PPP, mas o que é do Estado é do povo e ninguém deve meter a mão nesse tesouro, a não ser alguns, ungidos pelos evangelhos partidários.
A oposição se esborrachou tentando convencer que não pretendia privatizar empresas estratégicas, como a Petrobrás, e quase se desculpou pelas privatizações já feitas. Mas a Vale do Rio Doce, como tantas outras empresas estatais, antes de ser patrimônio, é capital, que somente perdura enquanto crescer e se tornar competitiva no plano internacional. Não é à toa que até mesmo a Petrobrás tem ações na bolsa. A oposição foi incapaz de explicar que a oposição contemporânea entre o público e o privado vai além da questão da propriedade, pois um bem público, em determinadas circunstâncias, pode virar pó a partir do momento em que se insere no movimento do capital internacional. E deixando de elucidar esse ponto elementar da teoria social democrática -de que certas empresas mesmo públicas funcionam como capital-, ficou acuada e não soube nem mesmo esclarecer que a privatização, isto é, a capitalização, somente pode ser admitida se agências reguladoras vierem contrabalançar os efeitos perversos do capital.
Deixou assim, à margem, o problema crucial de uma política social universalizanate: deixar a riqueza social crescer em termos capitalistas e armar um sistema público de regulação que contrapese os efeitos perversos da globalização capitalista. O lulismo ainda acredita que essa última tarefa possa ser cumprida por um único partido ou pelo gênio inovador de um líder, que é ao mesmo tempo proletário e rentista do partido ou do Estado.
JOSÉ ARTHUR GIANOTTI é professor emérito da USP e membro fundador do Cebrap’
Francisco de Oliveira
Voto condicional em Luiz Inácio
‘A ‘insustentável leveza’ do meu voto em Luiz Inácio Lula da Silva poderá pregar-me uma peça, mas, de qualquer modo, o voto já foi dado, e como bem me lembrou meu amigo Renato Guimarães, o arrependimento só traz salvação na Igreja Católica.
O presidente já está reeleito, com as urnas confirmando apenas o que as pesquisas de intenção de voto já apontavam. Meu voto, assim, isoladamente, não terá sido o que o reelegeu, mas nem assim a minha responsabilidade é menor. Suas razões aparecem neste texto, escrito antes da eleição, a pedido da Folha, para ser publicado no domingo. Por motivos editoriais, fui informado ontem que ele sairia na segunda.
Votei em Luiz Inácio porque a urna eletrônica tinha apenas o seu nome e o do seu adversário, o já manjadíssimo e em derretimento ‘picolé de chuchu’, segundo charge do Maringoni na ‘Carta Maior’. Que, advirta-se, não é fascista, como muitos do PT se esmeraram em rotulá-lo, como se a rotulação fácil resolvesse o enigma de seus 40% de votos no primeiro turno.
Votei por uma nova chance de reabrir espaços onde a esquerda, inclusive e talvez principalmente a que ficou no PT, possa influenciar em alguma medida o novo mandato. Sou céptico a respeito. Não penso que a política econômica vá mudar; aposto apenas que, até por dever de demagogo, Luiz Inácio prometa que ‘o céu é o limite’ e que as esquerdas e alguns dos principais movimentos sociais possam articular-se para pressionar seu governo.
É preciso criar problemas para o novo mandato, tornar o Bolsa Família incompatível com os superávits primários. Uma lição freqüentemente esquecida é que foram as políticas sociais que conduziram o capitalismo no êxito dos ‘Trinta anos gloriosos’: sem o seguro-desemprego, sem as políticas anticíclicas da teorização keynesiana e também, infelizmente, sem o keynesianismo de guerra, o sistema capitalista teria sido levado à breca.
As esquerdas precisam aprender com o ‘pequeno grande sardo’ Gramsci: a luta política no capitalismo é uma permanente ‘guerra de posições’, e a pregação falsa de unidade acima de tudo somente serve para deixar os flancos abertos para as forças contrárias à transformação social. Assim, em certas conjunturas, a palavra de ordem pode ser ‘dividir para lutar melhor’: foi o que uma parte não muito grande das esquerdas fez ao deixar o PT, entre as quais me incluo para melhor dar conta da complexidade da nova situação, muito acima da simplificação que os sectários fazem.
Estão comemorando com euforia de embriagados o governo cujo primeiro mandato finda-se agora; esqueceram tudo. Nada mais longe do que ocorreu: o primeiro mandato de Luiz Inácio foi um rotundo fracasso, em todos os sentidos.
Não me demorarei a mostrar com números, de que todo mundo anda farto. Mesmo na escala internacional dos ‘emergentes’, o fracasso é mais que evidente. Nenhuma das grandes questões nacionais foi sequer tocada: não me venham com o Bolsa Família, que na verdade é uma reunião dos cacos de antigos programas, que vêm desde o ‘leite de Sarney’ -sim, em política boi dá leite- passando por todos os tíquetes de FHC: Vale-Gás, Bolsa-Escola etc. Cujo inventor, da última modalidade, foi ninguém menos que Cristovam Buarque, quando governador.
O Bolsa Família, que minha ética cristã -como marxista, fui educado, como quase todos nós, na ética cristã, que é uma aquisição civilizatória- impede-me de olhar cinicamente, é uma confissão do fracasso, uma capitulação neoliberal, um reconhecimento de que não existe mais a nação, pois trata-se de um programa-limite, um programa de sobrevivência no dizer de um Agamben. É o programa do Homo Sacer, isto é, dos descartáveis.
Sem a pressão das esquerdas e dos movimentos populares, o segundo mandato pode transformar-se no neopopulismo da era da globalização. Não nos enganemos com as promessas falsas do progressismo: está aí na 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo o filme ‘Infância Roubada’, título em português sobre a tragédia da África do Sul. O país, que conseguiu abater o apartheid, um dos regimes mais funestos de que se tem notícia no último século (mesmo se incluído no século do nazi-fascismo), levantando uma onda de otimismo mundial, sucumbiu frente ao neoliberalismo. Trata-se de uma dominação sem mediações: um acordo aparentemente civilizado, obra maior da política, que abriu as portas para uma exploração desenfreada, cujo retrato são as favelas de Johannesburgo, de Durban e da Cidade do Cabo: talvez, responda-me Dante, o último patamar do Inferno. Réplica de Heliópolis, Rocinha e todos os nossos casos.
Um acordo sem rupturas pode dar nisso: se Luiz Inácio governar sem a crítica contundente das esquerdas, e se esta não tiver a capacidade de fazê-lo mudar, podemos aguardar pelo último patamar. Este texto deveria ser para explicar por que votei em Luiz Inácio: está explicado. Votaria nulo, que considero ser também um voto político. Votei no nome do presidente, que, espero, se traduza em transformação. Com um pé atrás. Este artigo é também a continuação da crítica que fiz ao primeiro mandato e que continuarei no segundo.
FRANCISCO DE OLIVEIRA, 72, professor titular aposentado de sociologia do departamento de sociologia da USP, é autor de, entre outros, ‘Crítica à Razão Dualista’ (Boitempo)’
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Em editorial, Sarney chama ex-aliado de ‘judas repugnante’
‘O senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP), em editorial assinado ontem na primeira página do jornal ‘O Estado do Maranhão’, de propriedade da sua família, chamou o governador do Estado, José Reinaldo Tavares (PSB), de ‘judas andrajoso e repugnante’ e, ainda, de ‘traidor que perdeu o caráter e todos os valores’.
Segundo Sarney, Tavares irá ‘arder na fogueira de sua própria consciência’.
O governador foi braço direito do ex-presidente Sarney por quase quatro décadas. Juntou-se a Sarney em 1966, quando este se elegeu governador do Estado. Quando Sarney ocupou a Presidência da República (1985-90), Tavares foi nomeado ministro dos Transportes.
Sarney também o colocou como vice-governador de Roseana, contra a vontade da filha, e patrocinou sua candidatura ao governo, em 2002.
O rompimento se deu por divergências entre Roseana Sarney e a ex-mulher de Tavares, Alexandra (de quem ele já se divorciou) e, segundo ele, porque Roseana queria mandar em seu governo.
‘Ódio e vingança’
O editorial refere-se aos aliados do governador como ‘sanguessugas marqueteiros’, que disseminaram a idéia de que família Sarney empobreceu o Estado do Maranhão. Segundo o texto, Roseana deixou o Estado, em 2002, na posição de 17º mais rico do país, índice que caiu para a 19ª posição sob a administração Tavares.
Sobre Jackson Lago, disse que ele persegue pessoas e que tem a cabeça impregnada de ódio e vingança. ‘O tempo dele passou. O de Roseana é o avanço, o futuro’, diz o editorial, publicado no dia da eleição.
Sarney também criticou o Ibope, que apontou empate na última pesquisa de intenção de voto, divulgada na última sexta-feira à noite.
Ele questionou a isenção do instituto, dizendo que a empresa resolveu ‘lavar as mãos e dar empate’, diante dos ataques e pressões da dobradinha Reinaldo-Jackson. ‘Pelo que acontecer, este instituto não quer ter responsabilidade’, afirmou.
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, disse que o instituto não lavou as mãos e que houve uma virada no Estado. Segundo ele, a boca-de-urna dava vitória ‘irreversível’ a Lago já no início da tarde.
O governador José Reinaldo Tavares rebateu: ‘É um editorial raivoso, uma confissão de derrota antecipada. Penso em interpelá-lo, judicialmente.’’
TODA MÍDIA
Até 2010
‘À noite, na manchete da Folha Online, ‘Com mais de 58 milhões de votos, Lula se reelege até 2010’.
A sombra do terceiro turno esteve por todo lado. A Globo anunciou a vitória no meio do ‘Domingão do Faustão’, quando entrou o narrador Márcio Gomes:
– Faustão, neste momento, na apuração dos votos, o presidente Lula está matematicamente reeleito.
Perfilou rapidamente o ‘ex-líder sindical, torneiro mecânico, marido de dona Marisa, pai de cinco filhos’ -e chamou Alexandre Garcia, que fugiu de comentar.
Voltou então Fausto Silva, que comentou, ele sim:
– Agora, mais importante do que nunca é que não importa em quem você votou. É claro que, se votou no Lula, comemore. Caso tenha votado no Alckmin, o importante é que você tenha juízo e serenidade para respeitar o resultado. Que a oposição respeite. Uma democracia, e quem lutou pela democracia sabe, só se faz, só se fortalece respeitando o resultado das urnas. Lula foi reeleito com expressiva maioria, portanto, tem todo o mérito para continuar seu trabalho. E a oposição que tenha bastante juízo e serenidade.
Insistiu, depois, ‘quem apostou no perdedor que respeite a decisão das urnas, faça oposição e tente virar o jogo na próxima, a lei da democracia é essa’. Alckmin, em seu discurso, depois, ecoou ‘Faustão’.
AGARRADO, BEIJADO
Zileide Silva e Lula, nas cenas finais da campanha global
Zileide Silva, no ‘JN’ de sábado, sobre a semana final de campanha -com a ‘volta às origens’ no ABC, onde ‘comemorou aniversário’, e antes, com pobres pelo país:
– Adeus protocolo. Ele é agarrado, abraçado, beijado… O comício foi na periferia, um bairro pobre com muitos nordestinos, como o pernambucano Luiz Inácio Lula…
E por aí foi, na nova interface da Globo com o poder.
‘WALL ST. LOVES LULA, TOO’
No texto ‘Wall Street ama Lula, também’, o ‘Financial Times’ postou ontem, antes mesmo do resultado, que ‘os banqueiros de Wall Street’, como no relatório do J.P. Morgan na sexta, estavam ‘pouco preocupados quanto à manutenção dos pilares de política macroeconômica em um segundo governo Lula’. No entanto, ‘as expectativas quanto a uma agenda de reformas são muito pequenas’.
FÁCIL, FÁCIL
Em minutos, a vitória era manchete de ‘Le Monde’, ‘El País’ e ‘La Nación’. ‘FT’, ‘Washington Post’ e ‘New York Times’diziam que foi ‘facilmente’, ‘vitória fácil’, até ‘esmagadora’ (landslide).
Antes, já davam a reeleição por certa e arriscavam por quê. Para Larry Rohter, do ‘NYT’, o presidente colou no opositor a marca de quem só fala de corrupção. Monte Reel, do ‘WP’, destacou o Bolsa Família, que vem de ser ‘exportado aos EUA, como anunciou o prefeito de NY’.
NOVO VELHO PT
Marco Aurélio Garcia anunciou ‘reforma muito profunda’ e Marta Suplicy, ‘balanço de muitas coisas’ no PT. Patrus Ananias anunciou ‘grande debate interno’. Luiz Dulci, ‘mudanças amplas’. Tarso Genro ( ‘acabou a era Palocci’ ) e Dilma Rousseff (‘obsessão’ de crescer 5%) atacaram no lado econômico. Tudo ontem, na Folha Online, Reuters Brasil e outros sites.
Mas os ex-ministros José Dirceu, na Band, e Antônio Palocci, no site de ‘O Estado’, já reagiam, ontem mesmo.’
TELEVISÃO
TVs musicais não pagam direitos autorais
‘Canal de TV que tem como sócio Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula, a Play TV está fora da lei. A emissora de programação predominantemente musical não está pagando direitos autorais.
As TVs pagam dois tipos de direitos autorais: o de execução pública, recolhido pelo Ecad, e o de sincronização (pela inclusão da música numa vinheta, videoclipe ou fundo musical), devido às editoras musicais.
A Play TV (canal 21 em São Paulo) não está pagando nenhum dos dois. A irregularidade foi denunciada às editoras pela MTV. A Play TV é concorrente da MTV _que, curiosamente, não está pagando direitos de execução ao Ecad, porque trava uma batalha judicial com a instituição, por não concordar com o valor cobrado.
A MTV calcula que a Play TV deva pagar cerca de R$ 2 milhões por ano de direitos de sincronização. Os direitos de execução são definidos a partir da aplicação de um percentual sobre o faturamento de cada TV.
Leonardo Eid, diretor-presidente da Gamecorp, empresa que controla a Play TV, admite a irregularidade. ‘Era uma coisa que a gente não sabia que existia. Não sabíamos que temos que pagar pela exibição de clipes. Mas vamos resolver, já entramos em negociação’, diz.
A MTV também denunciou a Mix TV (canal 16 em SP), outro canal que investe no filão musical. A Mix TV já negocia com o Ecad e com as editoras.
POR UM FIO 1É delicadíssima a situação da TV da Gente, de Netinho de Paula, que completa um ano no dia 20. Escondida num canal de baixa potência (o 24), que divide com uma emissora evangélica, a TV da Gente não conseguiu conquistar audiência.
POR UM FIO 2Sem audiência, a TV da Gente não atraiu anunciantes. Sua produção já foi reduzida a apenas dois programas. Hoje, é sustentada por investidores angolanos, que devem deixá-la à própria sorte em dezembro.
POR UM FIO 3Avalia-se que o grande erro da TV da Gente foi transmitir um conceito errado: vendeu-se o canal como ‘de negros para negros’, e não ‘uma TV feita por negros para mostrar a diversidade racial do país’.
PRIMEIRO AMOROs adolescentes Luciano (Rafael Almeida) e Giselle (Pérola Faria) terão a primeira transa sábado de ‘Páginas da Vida’. ‘Será uma cena muito delicada, em que ela se oferece a ele. Nada pesado. Ao contrário, será poético e romântico’, adianta o autor, Manoel Carlos.
COMEÇAR DE NOVONão deu certo a tentativa da Cultura de emplacar um telejornal direcionado ao público jovem na faixa das 12h. O jornal deverá passar por uma grande reformulação neste mês, com troca de apresentadores.
ASSÉDIOSilvio Santos andou sondando Maria Adelaide Amaral, autora de ‘JK’. A escritora, que já trabalha em uma minissérie da Globo para 2008, não alimentou a idéia de ir para o SBT.’
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Conversa Afiada
Segunda-feira, 30 de outubro de 2006
ENTREVISTA / CIRO GOMES
Ciro: ‘é preciso democratizar a mídia’
‘O deputado eleito com a maior votação da história do Brasil, Ciro Gomes (PSB-CE), disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta segunda-feira, dia 30, que um dos desafios do segundo mandato do Governo Lula vai ser promover a democratização dos meios de comunicação (clique aqui para ouvir). ‘Não temos que ter medo de avançar na questão da democratização dos meios de comunicação do Brasil’, disse Ciro Gomes.
Para Ciro Gomes, o presidente Lula deve ter um contato mais próximo com a imprensa e com os jornalistas. ‘O presidente Lula, de seu lado, deve falar mais com a sociedade brasileira através da mídia’, defendeu Gomes. Ele disse também que é preciso fortalecer os meios de comunicação alternativos e as cooperativas de jornalistas.
Em relação a Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes disse que o ex-presidente precisa ser desmascarado. ‘Esse sujeito circula pelo mundo afora desqualificando o processo político brasileiro’, disse Ciro Gomes.
Leia a íntegra da entrevista com Ciro Gomes:
Paulo Henrique Amorim: Deputado, qual é a análise que o senhor extrai do resultado da eleição de ontem, da vitória do presidente Lula e a composição do novo mapa dos governadores em todo o país?
Ciro Gomes: Eu estou ainda bastante emocionado. É uma emoção vibrante que eu sinto em relação ao que fez o povo brasileiro nesse processo eleitoral em todas as dimensões. Quero explicar: a eleição do presidente Lula foi uma decisão lúcida do povo brasileiro porque acredito que, no processo democrático do país, do Brasil moderno, nunca um presidente foi tão agredido, tão atacado, tão insultado em coisas fundamentais como a sua própria honra pessoal, e o povo inteiro assistiu e percebeu o que estava em jogo e garantiu a vitória do Lula. O interesse nacional esteve em discussão, porque, ainda que de forma pouco explícita, havia ali duas concepções de país, a forma com que o Brasil deve ser inserido, e o povo inteiro assistiu, afirmou concretamente que o nacionalismo moderno, o compromisso nacional é o valor que tem que se segmentar no país. Em jogo, uma discussão entre elitismo, uma visão elitista do processo econômico, a visão elitista do processo produtivo, da própria sociedade brasileira e um compromisso popular genuíno. E o povo brasileiro teve clareza em afirmar, de forma esmagadora, esse interesse popular, de maneira que eu acho que quem ganhou foi esse conjunto de valores. Entretanto, o povo brasileiro não deu ao presidente Lula a vitória no primeiro turno. Isso é uma clara missão que tem que ser com muita humildade aprendida e eu creio que está sendo e foi para o presidente Lula e para todos nós que fazemos um arco de forças liberais. O brasileiro não quer que se repitam erros graves que aconteceram, o povo brasileiro precisa que nós construamos um quadro institucional e na questão da ética possa colocar as coisas nos termos corretos porque a ética não pode – e disse isso ao povo brasileiro nas eleições – o argumento oportunista que, não tendo comportamento ético, flagram falhas éticas do adversário e as manipulam inclusive com o esforço coadjuvante de uma certa imprensa que também levou uma lição preciosa do povo brasileiro, ou seja, o povo brasileiro é capaz de, de mesmo para as mediações interrompidas e manipuladas perceber inteligentemente aonde está o equilíbrio, aonde está o rumo correto. Não é só a questão da ética, que tomou relevo oportunista como disse, mas tomou relevo que não pode ser desconsiderado. É também a questão do modelo de concentração de renda, é também um crescimento medíocre que o país está vivendo, um modelo econômico que produziu coisas importantes e vamos continuar, mas é um modelo econômico também que não é satisfatório para as necessidades estratégicas de uma nação brasileira e para os potenciais que a nossa economia tem.
Paulo Henrique Amorim: E o que o senhor diria sobre a política econômica do segundo mandato? Já há, evidentemente, uma grande especulação, uma grande discussão, sobre o que significa a frase do ministro Tarso Genro quando disse: ‘Acabou a era Palocci’. O que significa isso na sua opinião? O que é acabar com a ‘era Palocci’?
Ciro Gomes: Eu acho que nós deveríamos evitar todos os adjetivos que você, Paulo Henrique, tem muita experiência e sabe que as coisas são como são para atender a interesses hegemônicos. E hoje ainda é hegemônico no Brasil, apesar de uma mudança importante, mas ainda é hegemônico no Brasil o modelo do rentismo, em que os banqueiros são os intermediadores de ganhos espetaculares para 50 ou 70 mil brasileiros bem postos com seus saldos financeiros. E o Estado nacional brasileiro ainda é o grande promotor desta perversão que nos faz muito mal, atrapalha quem produz, atrapalha quem trabalha e o estado brasileiro está longe de cumprir as mínimas tarefas de segurança pública, saúde pública, educação pública e as energias do modelo tributário brasileiro perverso. Isto é o concreto, isto é o substantivo. Eu discreto da frase do meu companheiro e amigo Tarso Genro porque acho que o presidente Lula tem que refletir serenamente, mais substantivo e menos objetivo. O que vamos fazer para corrigir o desequilíbrio do câmbio. Mais ação e nada de conversa. O que vamos fazer para corrigir as disfunções da política monetária. Ou seja, como fazer com que o objetivo estratégico do Brasil seja crescer e distribuir renda, sem adjetivo, até porque a base das contas externas, a base fiscal do país, enfim, o controle da inflação, estão postos. Então, não precisa fazer nada espetacular, é preciso ir ajustando, mas ter clareza de que o objetivo estratégico do Brasil não é apenas controlar a inflação. O objetivo estratégico do país deve ser sobremaneira, a qualquer custo, crescer. Crescer com suficiência para cobrir os ganhos de produtividade, que pararam por causa de informalidade brutal e crescer com suficiência para cobrir a chegada dos jovens ao mercado de trabalho.
Paulo Henrique Amorim: Eu gostaria que o senhor aprofundasse, se fosse possível, a questão da mídia e o governo. A questão da mídia no Brasil, na minha modestíssima opinião não é apenas o fato de que a mídia no Brasil é uma mídia de oposição maciçamente, com exceções honrosas, como por exemplo a da Carta Capital, mas é também uma mídia que age no processo político e agiu no processo político. E a mídia, na minha opinião, tem se comportando como uma ameaça ao funcionamento do sistema democrático no Brasil. Como o presidente Lula deve reagir diante desse quadro que se agravou no primeiro mandato dele?
Ciro Gomes: Eu acho que entre outras lições importante que o presidente Lula muita seguramente – eu converso com ele com certa freqüência – é a questão da conciliação do país depois desse processo eleitoral. Não pode ser uma conciliação oportunista e que não faça avançar os bons costumes democráticos que nós estamos vivenciando no país. Um dos pontos dessa conciliação de mérito é tratar essa questão do comportamento democrata de outros setores da nossa mídia. E interferiu certamente com desequilíbrio no processo político-eleitoral, a democracia moderna de massas precisa de uma imprensa plural, se não houver uma imprensa plural há uma distorção grave, perigosa, desqualificadora mesmo do processo democrático. Como eu penso, assim como você disse, eu penso, não estou falando o presidente Lula, jamais que arvoraria nisso, eu penso que o presidente Lula de seu lado deve diretamente conversar com a sociedade brasileira através da mídia. Falar mais com a imprensa, se submeter mais ao crivo, ao escrutínio, à crítica, que se vulgarize, na melhor acepção que esse termo possa ter, a relação do presidente da República, da Presidência da República, com a mídia. Que não seja uma relação puramente espetaculosa, escandalosa, oportunista, inconveniente não aos processos plurais que nós estamos defendendo. De outro lado, nós precisamos ter clareza de que não temos que ter medo que, assim como na economia – menos adjetivo, mais substantivo -, de avançar numa questão substantiva que é a questão da democratização dos meios de comunicação no Brasil. Acho isso com clareza, agora sou mandatário, com um conjunto da sociedade brasileira que se reúne aqui no Ceará, e eu vou participar desse debate. Quando a gente discute democratização dos meios de comunicação, os que têm o monopólio disso vão sempre inventar que isso é autoritário, vão sempre querer desqualificar que isso é controle. Não é. É preciso incentivar dramaticamente os meios de comunicação alternativos, fortalecer cooperativa de jornalistas, financiar e, nisso, conceder canais de televisão, e discutir isso depois das eleições. Na América do Norte não é menos democrática porque as grandes redes de televisão lá são reguladas para não ficar 24 horas no ar. A produção regional no Brasil é uma imposição da questão federativa, da diversidade cultural que está sendo pasteurizada. O vanguardismo cultural precisa ter espaço. Isso tem que ser discutido abertamente, sem preconceito, mas também sem medo. Precisamos conversar com o povo. De boa fé, com clareza, com profundo senso democrático e avançar par ao futuro.
Paulo Henrique Amorim: O que o senhor acha que será o papel do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e como ele vai se inserir nesse debate público do segundo mandato do presidente Lula?
Ciro Gomes: Esse cidadão tem que ser desmascarado. Ele inclusive tem feito coisas absolutamente absurdas, que é circular pelo mundo afora desqualificando o processo político brasileiro. Um homem que dobrou a dívida pública brasileira em oito anos. Que aumentou em 11 pontos percentuais a carga tributária, um homem que privatizou U$S 100 bilhões em oito anos, um homem que destruiu a infra-estrutura do país, um homem que internacionalizou, criando o passivo externo que quebrou o Brasil três vezes, um homem que manipulou o câmbio, inclusive com ingerência do Fundo Monetário Internacional obtida pelo senhor Bill Clinton, e eu conheço detalhes da história, um homem desses tem que ser desmascarado, se recolher ao recato que nunca se recolheu da tradição brasileira do ex-presidente.’
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