Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Mara Gama

‘‘O presidente Lula encerrou a semana comemorando aos prantos, na Dinamarca, a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Aproveitou para tirar uma casquinha do colega norte-americano Barack Obama. No Brasil, governistas reclamaram de um relatório do TCU, que apontou suspeita de irregularidades em obras do PAC. José Antonio Dias Toffoli, que advogou para Lula em campanhas eleitorais, foi aprovado em sabatina no Senado para ocupar uma cadeira no STF. Em Honduras, a Embaixada do Brasil continua ocupada pelo presidente deposto Manuel Zelaya. Comente! Escute Outros! Visite o UOL Notícias.’


Com este texto é descrito o vídeo ‘Escuta Essa! Rio 2016, ‘cacildis’! Yes we créu, Obama!’ que ficou com chamada na home page do UOL por pelo menos 7 horas no sábado, 3 de outubro.


O vídeo está dentro de uma área do UOL chamada UOL Notícias.


A ombudsman recebeu mensagens com críticas ao vídeo:


‘Hoje pela segunda vez fiquei com uma vontade imensa de romper com o UOL. E o motivo é a brincadeira absurda, a montagem sem pé nem cabeça, misturando alhos com bugalhos feita em ‘Escuta Essa! Rio 2016, ‘cacildis’! Yes we créu, Obama!’, escreveu Raul.


Carlos também mandou sua crítica: ‘No próximo dia 10 do corrente mês, após doze anos de assinatura, irei cancelar meu contrato com o UOL. Já há um razoável tempo que a posição do UOL frente ao atual governo e suas intenções com relação às próximas eleições vem ficando cada dia mais transparentes. O tipo de abordagem de determinados assuntos, a linha editorial da maioria dos blogs em destaque e, mais recentemente, o conteúdo de vídeos de autoria UOL ou encomendados, não deixam dúvidas à minha afirmação. Desejar uma mídia totalmente isenta e imparcial é utopia, eu sei. Porém, quando a posição assumida extrapola os limites da ética e do respeito ao assinante, esse é o derradeiro sinal para aqueles que têm brio e respeito próprio demonstrarem, da maneira que podem, sua insatisfação. O vídeo veiculado no último dia 2, ridicularizando a conquista do direito de sediar as olimpíadas de 2016 selou minha decisão. Não devo dar ouvidos aos que tentam ridicularizar o meu país. E eu me senti desrespeitado, assim como muitos que, no dia do vídeo mencionado, demonstraram sua insatisfação através de comentários. Acredito que a direção do UOL, mantendo essa linha de conduta, estará motivando muitos de seus assinantes a tomar a mesma atitude que eu’.


Motivada pelas críticas dos leitores, asisti ao vídeo. Considerei o vídeo pueril e jocoso. Um comentário editorializado que não se anuncia como tal. Parece notícia, mas não é. Não cita todas as frases que compila com o rigor necessário (data, local e nome do personagem). Faz um clipe de declarações coladas sem narração, mas com trilha musical e com legendas que sinalizam e encaminham o roteiro para a mensagem que os editores querem transmitir.


Pedi à Redação que comentasse as críticas dos leitores Raul e Carlos e as minhas e esclarecesse o objetivo do material, se o vídeo é considerado uma peça de humor ou uma reportagem e se esta característica editorial está sinalizada ao público.


O editor-executivo de Notícias Irineu Machado respondeu:


‘O vídeo em questão é do programa ‘Escuta Essa!’, criado pelo UOL Notícias em fevereiro de 2009 e do qual já foram publicadas 25 edições, sempre levadas ao ar aos sábados. Trata-se de um produto que aborda o noticiário da semana com uma linguagem nova, diferente e até certo ponto experimental. A ideia do programa é compilar alguns fatos de repercussão da semana, principalmente na área de política, usando frases, vídeos, fotos, declarações de personalidades que tenham tido destaque na imprensa, com um trabalho de edição em vídeo que transforma esse material em uma espécie de charge do noticiário em vídeo. Em todos os programas, uma trilha sonora é escolhida com canções cujos temas sirvam para ilustrar essa edição. Canções que, em geral, sirvam de alusão a uma imagem marcante da semana ou a uma frase de alguma personalidade que tenha sido notícia na semana. Por exemplo, em um dos primeiros programas, um parlamentar dizia que em política ‘vale tudo’, e a música escolhida como tema do programa naquela semana foi a canção de mesmo título do saudoso Tim Maia.


No título ‘Escuta Essa! Rio 2016, ‘cacildis’! Yes we créu, Obama!’, nossa intenção não foi usar o sarcasmo. A edição, a meu ver, também não chega a ser editorializada: há um trabalho de escolha dos temas que marcaram a semana, uma seleção de material em vídeo e de frases que foram destaque. Há uma edição, e não uma editorialização. Não há um texto ou uma locução sobre aquela compilação de imagens: os trechos são editados, com declarações de personalidades e o uso de música de caráter ilustrativo e até lúdico (sim, a trilha sonora serve um pouco para brincar com as imagens), mas não é opinativo, nem faz juízo de valor. Como numa charge convencional, há um caráter crítico nessa edição, em algumas circunstâncias, embora não esteja explícito. Mas não vejo nenhuma extrapolação ‘dos limites da ética’, nem desrespeito ao assinante. Assisti novamente ao vídeo para tentar identificar algum momento em que se possa tirar a conclusão de que o vídeo ridiculariza a conquista do Rio como a cidade escolhida para sediar os Jogos Olímpicos. Não encontrei.


Por que o material é assinado, se não é reportagem? Não é uma reportagem convencional, não é uma peça de humor, mas é um material de edição de conteúdo jornalístico. Há o trabalho de profissionais, que merece crédito, assim como uma fotografia, por exemplo, deve ser sempre creditada.


Um fato que notamos em reportagens, sejam elas em formatos de vídeo ou de texto, sejam colunas de humor ou de opinião, é que qualquer abordagem que se faça de fatos políticos ou que envolvem figuras políticas acaba recebendo enxurradas de elogios e de críticas, de seguidores apaixonados ou de militantes deste ou daquele partido.


O programa ‘Escuta Essa!’ ousa brincar com declarações de políticos dos mais diferentes partidos, como pode ser atestado nos 25 programas que estão no ar neste link: http://noticias.uol.com.br/videos/?tagId=99645&tagName=escuta%20essa! O sucesso do programa se nota com a quantidade de visitas e de comentários que os vídeos recebem todo sábado. Em todos os vídeos, há uma grande quantidade de críticas e de elogios. Quando o assunto é política, é natural que haja críticas, reclamações e suspeitas de que estamos do lado desse ou daquele partido ou político. Mas nosso compromisso sempre foi e continua sendo procurar fazer um jornalismo crítico, plural e apartidário.


As observações dos internautas nos trouxeram um alerta positivo: a necessidade de, para evitar confusão, identificar melhor o produto. Criaremos uma vinheta curta que será exibida no início dos vídeos (será algo na linha ‘Escuta Essa! A charge política da semana em vídeo’).Agradecemos as críticas dos internautas e os convidamos a continuar acompanhando o UOL para que possam ver alguns exemplos de nossa cobertura apartidária.’


Internautas que escreveram para a ombudsman sobre este vídeo e sobre um outro vídeo da mesma série ‘Escuta Essa!’ não os consideraram exemplos de cobertura apartidária.


Entre os comentários que os leitores postaram no vídeo sobre a Olimpíada, há mais críticas que elogios. Extraí os 367 comentários postados das 9h39 do dia 3 as 12h19 do dia 7. Li um a um e tabulei. Há muitos comentários repetidos. Vários diálogos entre internautas. Comentários sobre a situação política, ataques a petistas e lulistas, peessedebistas e serristas. Sobre o vídeo propriamente dito, 122 críticas e 24 elogios. A maior parte das críticas aponta viés político e falta de qualidade jornalística: ‘E foi feito pela equipe do UOL?????? Lixão’, escreve um internauta.O outro vídeo bastante criticado em mensagens para a ombudsman foi ‘Escuta Essa Pré-sal amado idolatrado salve salve’. Também destaque da home page do UOL no dia 5 de setembro, o vídeo faz piada com a apresentação da proposta do Governo Federal para a exploração do pré-sal e uma outra cerimônia na Assembléia Legislativa de São Paulo, que ficou célebre por ter tido o hino nacional cantado pela cantora Vanusa. Num determinado momento, o vídeo usa as imagens da ministra Dilma e de Lula com o áudio de Vanusa desafinando e errando a letra do hino, como fizessem parte da mesma cena.


O leitores apontaram neste vídeo falta de qualidade na montagem, preconceito, mau gosto, apelação, desrespeito com a verdade.


Em 5 de setembro, em mensagem para a ombudsman, Antonio Claudio escreveu: ‘Mas que coisa vergonhosa essa da UOL, a montagem de um hino nacional de uma dada solenidade como se fosse a do Pré-Sal. Isso é caso de polícia! Estou revoltado com isso, eu e muita gente amiga. Merece uma satisfação’. Maristela fez coro: ‘Tenho observado um crescente desrespeito pela verdade no noticiário do UOL. Hoje, porém, estou decidida a cancelar minha assinatura, ao ver o vídeo produzido – PASME! – pelo UOL Notícias, sob o título ’Escuta Essa! (com maiúscula!) Pré-sal amado, idolatrado, salve, salve!’ Há um tal conjunto de desrespeitos a pessoas, instituições e símbolos que não tenho palavras para expressar. É o lixo do lixo do lixo’.


Para Reinaldo, a montagem era tosca. Ele sentenciou: ‘O vídeo repercutirá com a mesma isenção com que foi feito: NENHUMA!’. Carlos Alfredo também criticou: ‘Aquele vídeo-montagem com a cerimônia do lançamento do pré-sal e o hino nacional ‘cantado’ pela Vanusa é de: 1°: mau gosto fora do comum, 2°: desrespeito à cantora, à figura do presidente, 3°: um péssimo exemplo de jornalismo totalmente sem caráter e apelativo’.


Luiz Henrique afirmou: ‘Como assinante do UOL há alguns anos, quero manifestar o meu protesto pela apresentação desse vídeo macabro (Escuta Essa! Pré-sal amado, idolatrado, salve salve! – 05.09.09), que atenta contra a inteligência dos brasileiros e das organizações da Folha de S. Paulo e dos que integram os seus quadros de jornalismo e administradores. Continuando este tipo de desjornalismo, serei obrigado a cancelar minha assinatura com o UOL. Por favor, sejam mais criativos e éticos para com os leitores’.


Com o título de ‘mau jornalismo’, a leitora Elisabet criticou: ‘A montagem de vídeo é de uma perversidade vampiresca. Vocês já foram melhores profissionalmente tanto na escrita quanto na política. É um direito da empresa privada vergar-se para o lado que lhe convém. Mas, apontem para as possibilidades de outras versões, de outros olhares. Pelo menos, mais humanos, menos odiosos e mais libertos. Ensinem aos mais jovens que o ’mundo é redondo’ e que as verdades são efêmeras e dependem das lentes de quem as vê’.


As críticas a ambos os vídeos não deveriam ser tomadas em bloco pela Redação como comuns ‘quando o assunto é política’. Não acredito que se trate apenas disso, embora, sim, haja paixões políticas envolvidas. Mas as críticas deveriam ser analisadas ponto a ponto, no confronto com o material que está sendo produzido e exibido, para avaliar e conduzir melhor o projeto.


É ótimo que haja espaço para experimentação no jornalismo do UOL. Mas não é necessário apelar para experimentar novos formatos.


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Páginas automáticas, erros e o leitor sem aviso (7/10/09)


O leitor Roberto reclamou na sexta-feira, dia 2, sobre a página de cotações de Economia. ‘Sempre tão boa, hoje, 02/10/2009, está completamente desatualizada, em valores e no tempo, e não é corrigida e nem retirada do ar induzindo a erros. Uma pena!’.


O leitor se referia ao gráfico de evolução diária do índice Ibovespa (da Bolsa de Valores de São Paulo). Este gráfico, que é atualizado automaticamente, deixou de receber dados no período das 11h13 às 13h do dia 2. Depois das 13h, o gráfico voltou a receber os dados e exibi-los, porém o horário não foi atualizado e assim houve discrepância entre dado instantâneo e horário. As cotações e o valor de fechamento da Bolsa no dia estavam corretos.


A Redação foi alertada no mesmo dia e verificou que houve falha técnica. Uma errata foi produzida e publicada hoje, 7 de outubro, 5 dias depois.Existe enorme quantidade de páginas com atualização automática em qualquer site. Neste caso, os dados são coletados por um programa e exibidos num gráfico preparado para este fim.


Mas penso que neste tipo de página é preciso adotar cuidados básicos. Do ponto de vista técnico, deve haver a possibilidade de edição, para a intervenção manual do jornalista. Seja para atualizar dados numéricos seja para inserir aviso em texto que comente ou explique o conteúdo apresentado.


A Direção de Conteúdo afirma que estão tomando providências para que a página possa ser editada.


Enquanto isso não acontece, penso que em caso de erro, deveria ser regra retirar a página do ar e avisar os leitores imediatamente. Aqueles que virão procurar a página e aqueles que já vieram e viram o erro.


Recentemente fiz um balanço dos problemas mais citados pelos leitores que escrevem para a ombudsman. Apesar das diferenças de contextos, temas e tipos de reclamações, o que vejo se repetir na maior parte dos casos é a falta de comunicação clara do UOL com seu público. O leitor merece ser apresentado de forma mais clara a cada conteúdo e avisado sobre circunstâncias de apuração de determinados temas, de funcionamento das interfaces e ferramentas e, sempre, das falhas eventuais e erros.’