Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Os tempos são terríveis para os jornais impressos nos EUA e na Europa. A crise econômica acelerou o desgaste do modelo econômico dessa indústria nos países centrais do capitalismo e os efeitos são visíveis.

Na sexta-feira, circulou a última edição em papel do centenário e excelente ‘Christian Science Monitor’. Na quinta, o ‘New York Times’ anunciou corte de 5% por nove meses no salário de quase todo o seu pessoal, mais um gesto extremo para tentar melhorar suas contas, e o ‘Washington Post’ deu partida a processo de demissões voluntárias.

Na terça, quatro cidades do Estado de Michigan, inclusive Ann Arbor, sede da Universidade de Michigan, souberam que este ano ficarão sem nenhum jornal impresso porque o único em cada uma delas (todos pertencentes a uma rede) vai deixar de circular.

Semanas atrás, dois tradicionais títulos, o ‘Rocky Mountain News’ e o ‘Seattle Post Intelligencer’ haviam deixado de rodar e passado a operar só na internet.

A Federação Europeia de Jornalistas, em atitude clara de desespero, pediu aos líderes dos partidos no Parlamento Europeu que os governos salvem os jornais impressos, ‘pedra angular da democracia europeia’, segundo dizem no documento.

A administração Sarkozy, na França, já seguiu nessa direção com um pacote de 600 milhões de euros de socorro aos diários. Nos EUA, o senador Benjamin Cardin, democrata do Maryland, argumenta com seus pares que os jornais merecem tanto auxílio quanto os bancos.

Esse apelo ao Estado é um atentado contra o princípio essencial da independência, condição indispensável para o exercício do bom jornalismo. A sobreviver como apêndice de governos, é melhor perecer.

Apesar de todos esses indícios, e dos prenúncios sombrios para os jornais no mais recente relatório do ‘State of the News Media’, o jogo ainda não está jogado nem lá nem muito menos aqui no Brasil.

Mas a tendência da migração do jornalismo do papel para a tela é irredutível, mesmo que as versões impressas se mantenham. Por isso, mais do que nunca, é preciso cuidar para que a qualidade sempre exigida no produto impresso se mantenha no eletrônico.

Esta semana, na cobertura da Operação Castelo de Areia, a versão on-line da Folha deu uma derrapada feia, em decorrência de vícios estruturais dessa plataforma: a pressa em colocar no ar informações e a frouxidão dos controles.

Das 8h41 às 10h30 de quinta-feira, a terceira chamada da página inicial da Folha Online tinha um título errado (‘PT pode ser investigado por doações da Camargo’), sem nenhuma base nas informações disponíveis. O erro, que não apareceu no jornal impresso, foi corrigido e o título mudado.

O rigor e o cuidado imprescindíveis no jornal impresso devem ser obrigatórios no eletrônico. As sociedades democráticas podem até sobreviver sem jornalismo de papel, mas sem jornalismo independente serão castelos de areia.’

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‘Sobre a Portuguesa no futebol e sobre os olhos azuis na crise’, copyright Folha de S. Paulo, 29/3/09.

‘Diz o jargão manjado que ‘futebol é uma caixinha de surpresas’. Não neste jornal, ultimamente. Estabeleceu-se como cláusula pétrea que só se vai cobrir direito os times das quatro maiores torcidas de São Paulo: Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos.

Pouco importa que eles não sejam necessariamente os quatro primeiros colocados no campeonato estadual.

A Portuguesa disputa palmo a palmo com o Santos a quarta vaga nas semifinais. E quase nada é publicado sobre ela, mesmo depois de jogos importantes, como o de domingo, em que aconteceu lance inusitado.

E se a Portuguesa chegar à final? A Redação vai continuar respondendo a seus leitores que não tem estrutura nem espaço para acompanhá-la?

A Folha adora debochar das mancadas verbais do presidente Lula. Quase sempre de maneira preconceituosa, elitista, exagerada, inócua e equivocada porque um presidente deve ser julgado pela sua administração, não pelo seu português ou seus conhecimentos gerais.

Na sexta, deu destaque a um desses deslizes: a acusação de que a crise econômica é culpa de ‘gente branca com olhos azuis’. A frase tem conotação racista e ideológica, foi proferida diante de um chefe de governo de nação majoritariamente branca e merecia repercussão.

Mas ao armar uma pegadinha para Lula e mostrar que há envolvidos na crise negros, asiáticos e de olhos castanhos, o jornal aceita a premissa do argumento e se nivela com ele.’

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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 29/3/09.

‘‘Os Jornais Podem Desaparecer?’, de Philip Meyer, tradução de Patrícia De Cia, Contexto, 2007 (a partir de R$ 36,90) – o mais importante livro sobre o futuro do jornalismo impresso

‘Vestígios da Travessia’, de José Marques de Melo, Paulus, 2009 (R$ 30) Relatos de 50 anos de jornalismo de um de seus mais expressivos pesquisadores brasileiros

PARA VER

‘A Primeira Página’, de Billy Wilder, com Jack Lemmon e Walter Mathau, 1974 (a partir de R$ 33) – um dos clássicos do cinema sobre jornalismo conta a divertida história do repórter nos anos 1920 que prefere fazer uma boa reportagem a se casar

ONDE A FOLHA FOI BEM…

ANTÁRTIDA

Revista especial é exemplo de bom jornalismo e grande contribuição à divulgação científica

ESTRADAS NO CENTRO-OESTE

Reportagem que vai a campo, documenta a realidade, alerta para os problemas e pratica o melhor jornalismo preventivo

FALTA DE ÁGUA

Também no domingo, outro caso de jornalismo preventivo chama atenção para possibilidade de escassez de água em São Paulo

…E ONDE FOI MAL

GILMAR MENDES

Resultado pífio da sabatina com o ministro é retratado chamada de capa: ‘Presidente do STF nega ser ‘líder de oposição’

GREVE DOS PETROLEIROS

Jornal cobre pouco e mal importante paralisação’