BAHIA
Portos, uma idéia na cabeça e a vontade de fazer
‘Nos últimos cinco anos venho acompanhando de perto o trabalho de comunicação de uma entidade baiana. Reúne os usuários de portos de Salvador, conta com apenas três bravos funcionários: o diretor-executivo, Paulo Villa, as assessoras Anne Queiroz e Aldina Ventim. Uma responde para parte de secretaria, a outra está à frente da assessoria de Imprensa. Os três são profissionais experientes nas suas especialidades e formam um time coeso. A Usuport, essa a sigla, fez aniversário no último dia 2, reuniu quase uma centena de pessoas num almoço comemorativo.
Nesse período, conseguiu uma conquista rara: tirou o tema dos portos do anonimato para as páginas nobres da imprensa baiana. E não ficou apenas na Bahia, tem sido tema constante de reportagens em revistas como a Exame e em jornais como o Estado de São Paulo, Valor, Folha, Correio Braziliense, a antiga Gazeta Mercantil, além de rádios, televisões e sites de economia em todo o país. Com isso trouxe a luz temas como a necessidade de concorrência nos portos, a necessidade de modernização da infra-estrutura e, mais ainda, o significado que os portos têm para a economia brasileira.
Na Bahia, tornou-se uma referência no tema portos. Discute desde a cobrança irregular de taxas até a necessidade de duplicação, imediata, das atuais instalações do porto de Salvador, como também os portos de Aratu e Ilhéus. Reivindica que a área portuária da capital seja integrada à cidade como acontece em Belém, no Brasil, e em cidades como Buenos Aires e Barcelona.
No ano passado, publicou um livro histórico sobre os 200 anos da abertura dos portos, cujo decreto foi assinado em Salvador por Dom João VI. E agora está lançando uma revista eletrônica, com o propósito inicial de aglutinar o debate em torno da modernização do porto de Salvador, imperativa para a competitividade do Estado em 2102. Tornou-se uma interlocutora respeitável junto ao governo da Bahia e autoridades federais. Onde antes grassava o silêncio, agora brota o debate, o diálogo, a busca de um projeto para os portos brasileiros. Onde antes grassava a inércia, letal para a democracia, agora grassa a vida ativa, o interesse pela unidade entre a reflexão e a ação, o pensar e o agir. Esse o coração da atividade comunicacional.
Tudo isso graças a um único predicado: a vontade de fazer, a sensibilidade para o tema da comunicação.
No alvorecer dos anos 70, quando trabalhava no jornal A TARDE, fiz cobertura do Porto de Salvador. Divulgava a chegada e partida de navios, o movimento de cargas e me interessava pelo que podia acontecer de diferente. Um velejador solitário, navios com multidões de turistas, guindastes que custavam caro, mas não funcionavam ( os ‘belo Antônio’, referencia ao contraste entre a beleza e a incapacidade militar de Marco Antonio quando, apaixonado por Cleópatra, resolveu sublevar-se contra Roma)….
Certa vez descobri que um navio de turismo italiano chegou em estado de greve ao porto. Como a legislação proibia greves no mar, atracou e toda a tripulação parou de trabalhar. Estavam seguindo orientação do aguerrido PCI italiano. Era época do regime militar. Foi sensacional. A matéria mostrou, como metáfora, que a liberdade existia e podia ser conquistada. Que comunistas eram gente como qualquer outra. E que a greve era natural em países democráticos. O jornal,deu destaque ao fato, com fotos. Uma festa. Detalhe: a informação me foi passada por um oficial de Marinha.
O tempo passou. A greve dos italianos se transformou numa reminiscência de tempos de guerra contra a ditadura, de guerra contra a censura. Hoje, a cobertura portuária mudou. Diz respeito à discussão de grandes temas, todos ligados ao modelo de desenvolvimento do país. Mais de 90% das exportações passam pelos portos. As privatizações em 1995 deram certo, mas pela metade. É imperativo rediscutir o caminho percorrido. Abrir caixas pretas, criar um autentico regime de concorrência. E, em especial, rever o papel dos governos estaduais na administração dos portos. Em síntese, uma nova refundição. Essas teses vêm aflorando do trabalho da Usuport.
A sua comunicação é estratégica. Não se limita apenas a divulgar notícias, ocupar espaços na mídia no estilo tecnicista. Não.Tem objetivos de longo prazo, tem continuidade, é de portas abertas. Os fatos são sagrados, as opiniões são livres, prega seguindo os ensinamentos do venerando Rui Barbosa. São idéias forças que podem, e devem, iluminar a comunicação de entidades de classe no Brasil. No tempo do regime militar, tiveram papel relevante. Ocuparam o lugar dos partidos políticos, lideraram movimentos, inclusive pela modernização.
E hoje, o que está acontecendo? Quase nada. Nem mesmo a Fiesp desponta se destaca na sociedade civil? A liberdade que deveria inspirar ações mais intensas, não inspirou. Por quê? É uma questão a exigir resposta. Entidades de classe precisam ser fontes de informação. Pois, na essência, representam o interesse coletivo.
Nesse contexto a Usuport se destaca duplamente: no plano prático, está fazendo muito com uma estrutura liliputiana. É uma versão contemporânea da tese que Glauber modelou no cinema novo. A diferença é que em lugar de uma câmara na mão e uma idéia na cabeça, predomina uma idéia na cabeça e a ação comunicacional. O outro aspecto é que a Usuport ocupou o espaço que emergiu com o ocaso do carlismo, ocupou o amplo espaço de liberdade que emergiu no país com o fim do regime militar. Ocupar espaços, desenhar políticas de comunicação, é o que demonstra o trabalho da Usuport, é uma questão de vontade política. Os usuários de portos na Bahia estão dando um valioso exemplo.
A democracia não acontece por geração espontânea. Olhe-se a história da França pós-revolução de 1789, olhe-se a história americana após a revolução de 1775 a 1781, é uma luta constante, uma exigência constante de participação. E não se trata apenas de participação popular, é a participação de todo o conjunto da sociedade civil. É esse movimento, com pressões e contra pressões, com avanços e recuos, com conflitos e entendimento, que mudam a sociedade.
No Brasil, nunca fizemos uma revolução social, sequer pelo voto. Mas temos um mundo democrático a conquistar. Somos uma sociedade industrial de massas. Exemplos como o da Usuport demonstram que os espaços de liberdade existem e estão ai, à luz do dia, para serem ocupados e transformados em caminhos para superar a velha sociedade, fechada e monopolista, avessa ao moderno, numa sociedade onde as forças econômicas e políticas dialoguem, tendo a sociedade civil como elo mediador.
Francisco Viana é jornalista, consultor de empresas e autor do livro Hermes, a divina arte da comunicação. É diretor da Consultoria Hermes Comunicação estratégica (e-mail: viana@hermescomunicacao.com.br)’
BERLUSCONI
O rei da mídia contra a mídia
‘Desta vez o homem exagerou um pouquinho. Já o fato que o alvo do rei da mídia é a própria mídia revela como é enorme o conflito de interesses a que assistimos na Itália.
Berlusconi está em guerra contra todos os que não são berlusconianos. Quer dizer, uma pequena parte da imprensa nacional, uma grande parte da mídia internacional, um bom número de católicos ‘moralistas’, etcétera. Um bando de comunistas, por sinal.
Os pitbulls do chefe do governo italiano escolheram como vítima do primeiro sacrifício um diretor de jornal, Dino Boffo, que chefiava o L’Avvenire, jornal da conferência episcopal italiana, o diário católico mais lido na Itália. Chefiava, porque Boffo se demitiu ontem à tarde.
Boffo cometeu um pecado grave, aos olhos do megalomaníaco Berlusconi (ele próprio se definiu um super-homem). O pecado de ter criticado – de modo bastante pacato – alguns episódios da vida particular do chefe do governo. Tipo suas amizades coloridas com menores, suas festinhas com garotas de programa, o seu divórcio nada elegante, as fofocas que circulam sobre o modo em que escolhe suas ministras.
Boffo é um jornalista prudente, não um extremista anti-berlusconiano. É o porta-voz da conferência dos bispos, difícil considerá-lo um ‘perigoso comunista’, como toda a imprensa de oposição e todos os correspondentes estrangeiros na Itália. Quando não dá para chamar de comunista, a melhor opção é apostar em coisas mais sórdidas.
Por exemplo, acusar Boffo de ser homossexual. Gay, para um machista puro e duro como Berlusconi, provavelmente é até pior do que comunista. O pitbull escolhido para lançar o ataque contra Boffo é Vittorio Feltri, diretor do jornal da família, ‘Il Giornale’. Feltri abre uma campanha difamatória, acusando o super-moralista Boffo de ter sido condenado, há sete anos, por moléstias contra a namorada de um seu amiguinho.
Para confirmar sua tese, Feltri cita uma ‘nota de informação’, dando a entender que se trata de um documento da magistratura que investigou sobre o caso. O juiz desmente. Mas o veneno começa a circular. Porque Boffo realmente pagou, em 2002, uma multa de 512 euros, porque seu celular foi efetivamente usado para insultar a moça.
O diretor de L’Avvenire explica que os telefonemas foram feitos às escondidas por um estagiário do jornal, um rapaz cheio de problemas. Drogado, apaixonado pelo namorado da moça, ele entrava na sala do diretor e usava seu telefone para xingar e ameaçar sua vítima. História velha e sem graça: o rapaz morreu em 2004, por overdose de cocaína. Para sufocar o escândalo, Boffo pagou a multa e decidiu deixar cair o caso. Nem botou advogado, aceitou a multa e pagou.
Mas o veneno está principalmente na tal ‘nota de informação’ que ninguém sabe quem escreveu. Nela, Boffo é definido como ‘reconhecidamente homossexual’. Feltri agora insinuou que a nota foi escrita pelos serviços secretos do Vaticano. Provocando um desmentido indignado do porta-voz do Papa.
O que não dá para entender é o motivo deste ataque tão direto contra a Santa Sé. Os bispos italianos não são berlusconianos, mas as relações entre o governo de Berlusconi e a Cúria romana são ótimas. Tanto que já tinha marcado um jantar com o secretário de estado vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone.. O premiê pretendia também participar na romaria do Perdão, a mais famosa festa religiosa da sofrida região do Abruzzi, em L’Aquila, a capital destruida pelo terremoto de abril. Logo depois da romaria ao lado do bispo, jantar com o primeiro ministro do papa. Um programa perfeito, sob medida para um homem que não está de bem com o eleitorado católico conservador.
Dom Tarcisio desmarcou o jantar, depois do ataque do pitbull. O presidente da conferência dos bispos definiu a campanha contra Dino Boffo como ‘nojenta’. Os leitores do L’Avvenire encheram o jornal de emails de solidariedade. Mas de nada valeu. Boffo preferiu se demitir, porque sua família está sofrendo demais com a guerra suja dos homens de Berlusconi..
Enquanto fervia o ataque contra os católicos ‘não-alinhados’, os advogados do primeiro ministro depositaram duas denúncias nos tribunais de Roma, uma contra o diário La Repubblica e outra contra L’Unità.
Pela primeira vez na história judiciária italiana, o réu de um processo não será uma pessoa, mas dez perguntas. As dez perguntas que La Repubblica vem publicando há quatro meses, para tentar esclarecer os vários episódios ‘picantes’ da vida particular do primeiro ministro – que é um super-homem, mas não é um santo (de novo palavras suas).
A denúncia contra L’Unità é bem mais clássica, contra a diretora e quatro jornalistas (todas mulheres) que ousaram descrever as festinhas alegres no palazzo Grazioli, entrevistando as garotas de programa que eram as convidadas especiais das noitadas de Berlusconi. Ousaram também duvidar da potência sexual de Berlusconi, dúvida confirmada por conversas grampeadas das suas ministras, que trocavam conselhos para não se cansar muito durante os encontros com o chefe.
Na sala dos troféus desta guerra, desta vez, Berlusconi poderá exibir a cabeça de Dino Boffo, as dez perguntas impertinentes, e a liquidação do jornal fundado em 1924 por Antonio Gramsci. Que se tiver que pagar os 3 milhões de euros que o milionário pede para defender sua honra, certamente vai fechar.
Vera Gonçalves de Araújo jornalista, nasceu no Rio, vive em Roma e trabalha para jornais brasileiros e italianos.’
ELEIÇÕES
Mercadante: Restrições à rede devem ser revogadas
‘Líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP) defende a revogação ‘de todas as restrições, assegurando o direito de resposta’ da lei eleitoral na Casa. A votação em plenário foi adiada para o início da semana que vem e, conforme assegura Mercadante em entrevista a Terra Magazine, dará tempo de melhorar o texto:
– Vamos fazer emenda em plenário, dá para fazer.
A reforma eleitoral urge aprovação para que entre em vigor nas eleições de 2010. Projeto da Câmara (leia mais) chegou ao Senado e, em relatoria conjunta dos senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Eduardo Azeredo (PSDB-MG), foi pré-modificada. Senadores como Mercadante criticaram a exclusão do plenário do debate e agora propõem emendas.
O líder petista, ele mesmo adepto às ferramentas da internet como o twitter, acredita que a legislação ‘não dá e nem pode pretender dar’ conta da informação veiculada pelos milhões de internautas. ‘Porque internet é o espaço da liberdade e é incontrolável. Nem ditadura consegue controlar. Ainda bem’, complementa.
Terra Magazine – Como o senhor avalia as modificações no Senado do projeto de reforma da legislação eleitoral?
Aloizio Mercadante – O texto estende as redações de rádio e televisão à internet, que é o artigo 45, inciso 3 da lei. Ou seja: ‘É proibido veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes’. A essência da internet é a liberdade de expressão. Eu acho, primeiro, que é ineficaz e improcedente esta restrição. Nós estamos reforçando, que também já veio da Câmara na lei, o direito de resposta.. Ou seja, se houver uma agressão ao candidato, ele vai ter direito de, em 48 horas, ter a resposta no mesmo espaço com tempo não inferior ao dobro que esteve disponível a mensagem ofensiva. Com isso a gente encontra um bom equilíbrio para assegurar a mais ampla liberdade de expressão na internet.
O senhor fez críticas à regra dos debates, proposta pela Câmara, que exclui candidatos de partidos nanicos.
Isso aí foi aprovado por unanimidade no Senado. Quando você for fazer um debate você é obrigado a convidar pelo menos dois terços dos candidatos e os partidos que tenham no mínimo dez representantes no Congresso nacional. Por quê? Porque os representantes na Câmara dos Deputados foram eleitos pelo povo, eles têm uma representação política que têm que ser assegurada no debate. O problema é que tem muitos candidatos inexpressivos hoje que inviabilizam o debate. As emissoras não fazem mais debates. Algumas fazem acordo, compensam com outro tempo de televisão etc. Mas se não resolver isso, não vai mais ter debate, que é um momento nobre da campanha. Então, estamos fazendo essa mudança também. Eu fiz (inclusão de emenda sobre) vedação de publicidade de obra durante seis meses (antes) das eleições, candidato não pode participar de nenhum evento de inaguração do quer que seja, políticas socias: não pode ampliar ou criar programas durante o ano eleitoral, para não ter uso da máquina. Acho que houve uma série de aperfeiçoamentos do Senado, mas de fato o texto da Câmara é muito restritivo em relação à internet. Nós estamos revogando todas as restrições, assegurando o direito de resposta.
Como o senhor supõe que se consiga controlar os milhares de usuários do Twitter?
Usuário não tem problema nenhum. O problema são os portais noticiosos, que têm grande audiência. Vale para o Terra, G1, Uol… O cidadão pode escrever o que quiser na internet.
Mas o cidadão pode fazer campanha. A legislação não dá conta…
Não dá e nem pode pretender dar. Porque internet é o espaço da liberdade e é incontrolável. Nem ditadura consegue controlar. Ainda bem.
Adiamento da votação dará tempo para melhorar o texto?
Vamos fazer emenda em plenário, dá para fazer.’
TELEVISÃO
Mais do mesmo
‘A imprensa deu grande destaque à disputa travada entre Globo e Record nas últimas semanas.
A emissora da família Marinho se aproveitou do inquérito no qual Edir Macedo é réu e tratou de disparar contra a Record. Do ponto de vista jornalístico, a abertura de um processo contra o fundador da Iurd não significa muita coisa. Só a vontade de surrar a concorrente justifica a cobertura desproporcional levada a cabo pela Globo.
A Record contra-atacou e tratou de lembrar o histórico global de pouco afeto à democracia, sua relação com os sucessivos regimes militares e as tentativas de interferência direta em processos eleitorais. Um histórico pouco louvável, diga-se, e que certamente precisa ser recordado e registrado para evitarmos coisas parecidas no futuro..
Nas duas semanas seguintes, muitos apontaram – inclusive aqui em Terra Magazine – tratar-se de uma disputa puramente comercial, movida por interesses privados, e não pela determinação de informar à sociedade fatos relevantes.
Fomos lembrados, também corretamente, que a peleja é ilegal, porque ambas as emissoras utilizaram suas concessões (públicas) para defender interesses privados, e não para produzir um jornalismo movido pelo interesse público.
Nessa confusão toda, muita gente boa comemora o fato da Record estar incomodando a liderança absoluta da Globo, em termos de audiência e faturamento. Faz algum sentido, afinal, o monopólio do principal meio de comunicação do país (já que o acesso à Internet ainda engatinha no Brasil) é o que de pior pode acontecer numa nação que se pretende democrática, ou que pelo menos almeja desenvolver sua democracia.
Parece importante, contudo, olhar a ascensão da Record também sob uma outra perspectiva: na tentativa de ascender e incomodar a líder, faz-se tudo exatamente como ela. E pior.
As novelas da Record (também da Band e do SBT, claro) são cópias mal-feitas das novelas globais. O jornalismo é uma reprodução piorada. O Fantástico foi clonado. Os programas de auditório são imitações evidentes, assim como o principal programa de esporte do final de semana. Até o Gugu foi contratado para concorrer com o Faustão.
O maior símbolo da tentativa de reproduzir o que faz a Globo foi o tal A Fazenda, reprodução grosseira do já insuportável Big Brother.
Inclusive os nomes dos programas, em geral, remetem aos seus espelhos globais, de forma que o telespectador imediatamente entenda tratar-se de uma versão do que está na outra emissora: Domingo Espetacular, Esporte Fantástico, Tela Máxima, Louca Família…
Talvez a única diferença relevante da Record seja seu programa matinal, realmente sem espelho fiel na emissora do Jardim Botânico.
As outras emissoras reproduzem a mesma lógica. Se a programação da Record já é uma cópia piorada, o que dizer das outras?
A digressão evidentemente não pretende defender o monopólio da Globo. Longe de mim. Duas ou três emissoras fortes é obviamente melhor do que uma. Monopólio e liberdade de expressão não combinam. Nós brasileiros, infelizmente, sabemos bem disso.
Trata-se, acima de tudo, de chamar a atenção para o fato de que emissoras comerciais tendem a reproduzir os modelos consagrados, já que o seu objetivo é o mesmo da emissora líder: conseguir a maior audiência possível para maximizar o lucro. A família Marinho, João Carlos Saad, Silvio Santos, Edir Macedo e Amílcare Dallevo querem todos a mesma coisa.
Por isso, a ascensão de emissoras que operam na mesma lógica não necessariamente ajuda a democratizar as comunicações brasileiras. É sempre, ou quase sempre, mais do mesmo.
Vejamos o caso dos jornais impressos: a competição entre Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo é capaz de dar voz aos diferentes setores da sociedade? Os três jornais partilham de pontos de vista semelhantes, se alinham com os setores conservadores da sociedade e são contrários aos movimentos populares e sociais. Há aí diversidade e pluralidade?
O mesmo se aplica à televisão.
Para uma verdadeira democratização da televisão, o melhor caminho é cumprir a Constituição Federal, até hoje solenemente ignorada, e construir no Brasil um vigoroso Sistema Público de Comunicação, com emissoras independentes tanto das forças de mercado quanto dos governos de plantão.
Ainda engatinhamos nessa direção, mas alguns passos foram dados recentemente com a criação da TV Brasil.
A democracia brasileira agradecerá se a iniciativa se consolidar e passar realmente a ser uma alternativa às emissoras comerciais.
Diogo Moyses é jornalista e radialista especializado em regulação e políticas de comunicação, pesquisador do Idec – Instituto Brasileira de Defesa do Consumidor e autor de A convergência tecnológica das telecomunicações e o direito do consumidor.’
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