Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

TELEVISÃO
Bruno Meier

O Pânico amarelou

"Recentemente convertida em repórter política, Sabrina Sato, do Pânico na TV, desembarcou em Brasília com a missão de descobrir um ‘senador super-herói’. Encontrou Eduardo Suplicy, político e clown que já recitou letras dos Racionais MC e deu cartão vermelho para José Sarney. O senador petista aceitou desfilar com uma sunga vermelha de Super-Homem. Sabrina ajudou Suplicy a vestir o adereço, por cima da calça. A cena deveria ter ido ao ar no domingo 18. Não foi. A foto de Suplicy com a cueca heroica, estampada nos jornais, causou irritação e constrangimento em seus colegas. Falou-se em um processo por quebra de decoro. E o Pânico, programa especializado no assédio às celebridades, amarelou diante de um político: o quadro foi engavetado a pedido de Suplicy.

‘Até meus três filhos me criticaram por vestir o calção’, diz o senador (aliás, os filhos Supla e João estrelam o programa Brothers na Rede TV!, a emissora do Pânico). Suplicy ligou para a equipe do programa e foi convidado a assistir às imagens editadas na noite de sábado. Depois da exibição do vídeo, solicitou candidamente que as imagens não fossem ao ar. Emílio Surita, apresentador e líder da trupe do Pânico, alega que não houve tratamento especial ao senador – e que qualquer celebridade que se sinta incomodada por um quadro pode barrar sua exibição simplesmente ligando para a produção. ‘A gente tem um pouco de coração, ué’, diz.

O Pânico tem um histórico de perseguições agressivas a celebridades – que desmente essa história de ‘ligou, barrou’. Seus integrantes já esfregaram meleca no cabelo do ator Wagner Moura e usaram uma grua para filmar o interior do apartamento da atriz Carolina Dieckmann, em clara violação de sua privacidade. ‘Eles fazem graça com quem não quer entrar na brincadeira. Esperar que a gente telefone é muita audácia’, diz Carolina, que processou o Pânico (e ganhou). Neste domingo, o programa exibe uma nova entrevista com Suplicy, na qual ele devolve a sunga a Sabrina. Na gravação, ele ainda presenteou a apresentadora com livros sobre suas ideias fixas. ‘Não entendo nada disso, mas vou ler e guardar para mostrar aos meus filhos e netos’, diz ela. Surita agora se revela reticente com as investidas de seu programa no Congresso. ‘Mexer com política é complicado’, diz. Vale lembrar que Surita, segundo relatou VEJA em 2007, já esteve envolvido em uns negócios mal explicados, de aquisição de emissoras de rádio e televisão, do seu cunhado Romero Jucá, outro senador governista. Política é mesmo um negócio complicado."

 

INTERNET
Veja

Assassinatos virtuais

"Na semana passada, o rapper Kanye West foi vítima de uma brincadeira macabra. Segundo uma notícia que se espalhou sobretudo pelo Twitter, o americano teria morrido num acidente de carro em Los Angeles. A falsa informação, com o título ‘RIP Kanye West’, enfureceu Amber Rose, namorada do artista. ‘Este tópico não é divertido e NÃO É VERDADEIRO!’, escreveu, com aquele uso de maiúsculas que na internet indica ênfase. Não bastou para conter o boato. Pouco tempo depois de a mentira ter sido postada, na quarta-feira, ‘Kanye West morreu’ foi o tema mais procurado na ferramenta de busca Google. Sites de fofocas davam detalhes do acidente. Foram divulgadas até fotos de um carro arrebentado – seria o veículo em que o rapper teria morrido. Boa parte dos sites com informações fajutas foi criada por hackers, que introduziram vírus nos computadores de quem buscava informações sobre o cantor. A agilidade sem precedentes na transmissão de informações que a rede instaurou no mundo tem esse efeito colateral: a mentira também viaja rápido.

Boatos desse tipo intensificaram-se depois da morte (real) do cantor Michael Jackson e da atriz Farrah Fawcett, em junho passado. Além de Kanye West, a cantora Britney Spears e os atores Jeff Goldblum, Harrison Ford, George Clooney e Natalie Portman estão entre os mortos pela internet. A notícia falsa sobre a morte de Natalie foi especialmente grotesca: ela teria caído do alto de um penhasco na Nova Zelândia. Esse gênero de assassinato virtual é movido por interesses financeiros. Editor do fakeawish.com, um site que permite aos internautas inventar fofocas sobre celebridades do showbiz, o americano Rich Hoover é um especialista do noticiário de araque. Sempre que um de seus boatos cola, o acesso a seu site cresce, chegando a bater em 500 000 – o que lhe garante mais ganhos dos anunciantes.

A morte de Kanye West foi atribuída a outro site mentiroso, o 4Chan. Imediatamente após o boato, o Twitter foi tomado por comentários vingadores de fãs da cantora Taylor Swift – que pagou um mico sem tamanho em uma cerimônia de prêmios da MTV, quando Kanye West tirou um troféu de melhor vídeo de suas mãos, alegando que Beyoncé Knowles era mais merecedora. Houve quem afirmasse que Taylor estaria por trás do acidente que matou West – mas esse boato não pegou. Nesse oceano de bobagens, só o humor salva. Como o de Jeff Goldblum. Convertido pelos noticiários fajutos em morto que anda, ele teve o desprendimento de ler o próprio obituário em um programa de entrevistas."

 

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