Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O espetáculo das bolhas

Quais os limites do telejornalismo? O que o separa do puro e simples espetáculo? A Globo parece fornecer algumas pistas desses limites em sua megacobertura da Copa do Mundo – limites, na verdade, que extrapolam o espetacular.

Parece que o país não tem mais nenhum miserável, não há analfabetos nem analfabetismo funcional, não há desemprego nem desigualdades, não há desdentados, não há aposentados recebendo salários defasados, não há mais injustiças, não há preconceitos, não há bolsões de miséria, não há mais violência, crimes, ataques… respira-se tão-somente os ares da Copa.

Deve ser por isso que o Brasil é ‘um país preocupado com as bolhas’ (nos pés) do Ronaldo, que, aliás, passou o dia de folga de chinelos – segundo Fátima Bernardes, direto da Alemanha, na abertura do Jornal Nacional de segunda-feira, 5/6. Pelo visto ou pelo prometido, tudo são amenidades nessas semanas que se seguem – o que interessa e é servido como prato principal parece ser mesmo o Brasil na Copa. Que o futebol tem o poder de fascinar, despertar paixões ninguém duvida. Daí (para muitos) o seu caráter ‘anestesiante’ ou, se preferir, alienante.

Mas isso talvez seja apenas uma injustiça que se comete contra o futebol/espetáculo – a não ser que ele tenha realmente o poder de ‘anestesiar’ a inteligência, senão a do público telespectador a dos responsáveis pela espetacular cobertura da TV Globo.

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Funcionário público, Jaú, SP