INTERNET
Murdoch vira o jogo
‘Rupert Murdoch, aos 78 anos, não é o tipo de empresário que se deixa levar pelas ‘tendências’ do mundo corporativo. Ao contrário, normalmente, ele as cria – e não são marolas. Fundador da News Corp., o quinto maior conglomerado de mídia do mundo, controla canais de TV como o Fox e jornais como o Wall Street Journal e o britânico The Times. frente desse gigante, Murdoch prepara-se para desafiar o Google. Ou melhor, quer enfrentar uma lógica consagrada na internet. Hoje, os grandes grupos jornalísticos gastam fortunas para produzir informação qualificada. Esse mesmo material, contudo, é difundido de forma gratuita na web por sites de busca. Isso ocorre sem que os produtores do conteúdo original sejam remunerados. É como se o custo de apurar reportagens e interpretar notícias fosse zero. Murdoch quer dar um basta a esse processo, que contribui para a crise de grandes jornais ao redor do mundo e, a longo prazo, poderia levar o negócio à extinção. Para isso, articula um acordo inédito, segundo o qual a Microsoft pagaria para ter acesso exclusivo aos links das publicações da News Corp., por meio do Bing, a ferramenta de buscas da companhia de Bill Gates. Em contrapartida, Murdoch fecharia as portas dos seus sites aos algoritmos do Google.
Dizer não ao Google parece, à primeira vista, uma decisão suicida. Pesquisa da consultoria Serasa Experian Hitwise indica que, nos Estados Unidos, o site de busca e seu agregador de informações (o Google News) são responsáveis por 26,3% da audiência da versão on-line do Wall Street Journal. Esse porcentual está acima da média de publicações americanas, que é de 21,5%. No Brasil, quatro em cada dez usuários da web chegam a sites de notícias pelo Google. Para Murdoch, no entanto, suicídio é se manter enfeitiçado por esses números. Recentemente, ele disse que os links do Google ‘roubavam’ (esse foi o termo empregado pelo empresário australiano) as histórias de seus jornais. Outras ferramentas de distribuição eletrônica de notícias o deixam igualmente desconfiado. Embora em termos mais corteses, ele se recusa a vender assinaturas de seus jornais por meio do Kindle, o leitor digital da Amazon. Deu a entender que a companhia de Jeff Bezos queria pagar muito pouco pelas informações da News Corp.
Murdoch parece ter encontrado um aliado na Microsoft, que procura transformar o Bing numa alternativa ao Google. Hoje, os sites de busca movimentam 33 bilhões de dólares por ano ao redor do mundo, segundo estimativa do J.P. Morgan. Desse valor, 72% vão para o Google. A Microsoft detém somente 7% do total. O Bing cresce no mercado americano – e Steve Ballmer, o presidente da empresa, afirma que acelerar esse crescimento, por meio de investimentos, é uma prioridade. O acordo com a News Corp. – cujos detalhes ainda são desconhecidos – seria o primeiro passo dessa estratégia. Ótimo para Murdoch, bom para a imprensa em geral.’
TELEVISÃO
Os narcisistas vão à roça
‘Ao ser indicado para o paredão (ou, no caso, a roça) de A Fazenda, na quarta-feira passada, o ator Igor Cotrim apresentou suas razões para ser salvo da eliminação no reality show da Record: ‘Minha presença está divertindo o povo brasileiro’. O rapaz tem um currículo exemplar de celebridade de segunda linha – sua maior glória foi um papel pequeno no seriadinho da dupla Sandy & Junior, extinto lá se vão seis anos. De divertido, também não tem nada: os colegas o indicaram ao paredão por sua chatice. Essa absoluta ausência de autocrítica é previsível: o narcisismo é uma marca dos participantes de reality shows. No livro The Mirror Effect (O Efeito do Espelho), publicado neste ano nos Estados Unidos, o psicólogo americano Drew Pinsky confirmou, com base em testes de personalidade aplicados a centenas de celebridades, que elas se amam mais que a média da população – e a categoria que suplanta todas as demais em narcisismo é a dos participantes de reality shows.
Em apenas quinze dias, a segunda edição de A Fazenda ofereceu um vasto inventário dos traços psicológicos do narcisismo. A dançarina Adriana Bombom deu um show de exibicionismo. Ao ter a parte de cima do biquíni arrancada por uma colega, não teve pudor em correr do banheiro até a piscina cobrindo os seios com as mãos. Noutro episódio, deixou-se flagrar sem calcinha, obrigando a produção a recorrer a uma pudorosa tarja preta para esconder o que não deve ser visto pelas crianças na sala. As cenas irritaram seu ex, o pagodeiro Dudu Nobre, que não gostou de ver a mãe de suas duas filhas virar a ‘peladona do curral’. A Record, aliás, vem se esmerando em explorar a nudez. Santa ironia: nas pregações do programa Fala que Eu Te Escuto, os bispos da Igreja Universal sempre condenaram os excessos do Big Brother Brasil, da concorrente Globo.
De mãos dadas com o exibicionismo, vem a vaidade extremada. A loira Sheila Mello retoca a maquiagem a toda hora e procura exibir um tchan literário: surge em cena lendo o romance A Descoberta do Mundo, de Clarice Lispector. A Fazenda ilustra ainda outro traço: narcisistas se acham superiores aos demais mortais. Mandão e intolerante a críticas, o modelo Caco Ricci ficou possesso ao ser chamado de turrão pelo cantor (não menos convencido) Mauricio Manieri. Numa tendência que já se tornou clássica nos narcisistas autoritários em reality shows, Ricci vem clamando para si o status de macho alfa da fazendola. Até agora, está mais para ‘macho alfafa’, na definição do desafeto Cotrim.
‘Não se faz um programa assim sem pessoas apaixonadas pela própria imagem’, diz Rodrigo Carelli, diretor de A Fazenda. Mesmo depois da eliminação, o pessoal não baixa a crista. A bandeirinha Ana Paula Oliveira tomou cartão vermelho logo na primeira semana. Mas, do alto de sua mísera experiência em cena, se julga credenciada para virar apresentadora de TV. ‘Meus dotes como artista e mulher iluminada ficaram evidentes’, diz – ultrapassando, definitivamente, a linha do impedimento. Torcedores do Botafogo se mobilizaram para votar contra a bandeirinha, que há dois anos esteve no centro de lances polêmicos que tiraram o clube carioca da final da Copa do Brasil. No futuro, a moça já vislumbra o sucesso na política: ‘Como representante do povo, eu faria do mundo um lugar melhor’. O povo que acompanha A Fazenda não parece concordar.’
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