A árbitra de futebol Ana Paula Oliveira tem emprestado seu bonito rosto ao programa Seleção SporTV, comandado pelo bom comentarista Maurício Noriega. Mas, na verdade, a participação da bela Ana Paula pouco tem acrescentado aos debates sobre a arbitragem na Copa. Ela pisa em ovos. A cautela é tanta que a moça consegue brigar com as imagens, apenas para não se posicionar contra um colega de apito, cuja atuação esteja sendo posta em dúvida.
No programa desta segunda-feira (12/6), os participantes do Seleção SporTV analisaram dois supostos pênaltis que o árbitro Carlos Eugênio Simon teria deixado de marcar para Gana contra a Itália. Para quem está de fora, as penalidades foram claríssimas. O time africano foi prejudicado. Ana Paula, mesmo com as imagens roçando seus olhos, concordou com a não-marcação dos pênaltis. Preferiu afundar-se na lama junto com Simon a contrariar interesses da classe.
Ao lado de Márcio Rezende de Freitas, Simon é um dos árbitros que mais comentem erros no Brasil. Por que, então, ele foi escolhido para representar o Brasil nas duas últimas copas? Sei lá, também procuro por essa resposta. De uma coisa tenho certeza: Simon é o queridinho da Comissão de Arbitragem da Confederação Brasileira de Futebol. Dizem também que o gaúcho é bom de mídia e marketing.
Dupla falta
Em 2002, Simon foi à Copa do Japão-Coréia mesmo depois da desastrada atuação na primeira partida da final da Copa do Brasil entre Corinthians e Brasiliense. Seus erros naquele jogo foram tão evidentes que nem a própria Comissão de Arbitragem suportou a pressão. Foi obrigada a suspendê-lo das competições nacionais. Mas o manteve na Copa. Em 2006, a história se repete. Depois de ter cometido falhas absurdas nos últimos três anos, o gaúcho foi escolhido pela CBF para apitar sua segunda Copa do Mundo. É bom esclarecer que, por enquanto, não há provas de que ele tenha participado de qualquer esquema parecido com o que flagrou Edílson Pereira de Carvalho em 2005. Mas é evidente que a falta de competência de Simon ajudou a mudar resultados de várias partidas, algumas das quais decisivas.
E a bonita Ana Paula Oliveira – que sonha um dia atuar numa Copa do Mundo – está se queimando à toa ao fechar os olhos às lambanças de seu colega de apito. Pior: tem deixado o assinante do Sportv furioso. A auxiliar deveria ter em mente de que sua participação em programas esportivos é coisa séria. Ao aceitar convites para participar desses debates, ela tem a obrigação de passar por cima de interesses menores de sua categoria. O assinante ou torcedor não é burro. A impressão que se tem é de que há uma concepção entre jornalistas esportivos e convidados, como Ana Paula, de que a consciência do telespectador é manipulável. Não é, Ana Paula. Não caia nesta armadilha. Não confunda torcedor com eleitor. São dois campos distintos. O brasileiro conhece futebol como poucos no mundo. Já de política…
Ao Sportv, no entanto, cabe toda a responsabilidade por apostar num rosto bonito, mas sabidamente parcial em relação a assuntos sobre arbitragem. Para essa função, há dezenas de competentes ex-árbitros por aí, loucos por um cachê, por um extra, por uma boquinha em programa de alcance nacional. Certamente, os ex terão mais segurança e isenção para opinar sobre lances polêmicos ocorridos em partidas apitadas por árbitros como Carlos Eugênio Simon.
Se fosse no tênis, eu diria que o diretor do Seleção Sportv comete dupla falta ao escolher um profissional em atividade para comentar lances duvidosos do apito na Copa: queima-se uma boa auxiliar de arbitragem – pois ela jamais se posicionará contra a marcação de um colega – e aborrece o já irritado assinante. Até porque, admitamos, é chato à beça ver a TV Globo usando as lágrimas de Zagallo para comover mais ainda o país. O pobre Zagallo chorando de um lado; o mau árbitro Simon inocentado pelo corporativismo do outro. Ninguém merece tudo isto numa só noite. Nem o pior dos nossos adversários na Alemanha.
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Jornalista em Brasília, DF