Os resultados das pesquisas realizadas pelos diferentes institutos de opinião pública continuam a contradizer não só a oposição política, mas também a maioria dos colunistas ‘formadores de opinião’ da grande mídia. Apesar da crise política e de mais de um ano de cobertura negativa, as avaliações positivas do presidente Lula e de seu governo voltaram aos índices anteriores a maio de 2005. E as intenções de voto para as eleições presidenciais de outubro, se confirmadas, reelegeriam o presidente ainda no primeiro turno.
A explicação mais fácil, naturalmente, é dizer que os programas sociais do governo estão ‘comprando’ as consciências dos eleitores de baixa renda. Mas, é claro, mesmo essa simplificação não explica o que de fato vem ocorrendo [ver, a propósito, neste Observatório, ‘Revisitando o poder da grande mídia‘ e ‘O silêncio suspeito da grande mídia‘].
Em artigo publicado na CartaCapital (nº 396), Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, atribui os resultados das pesquisas a três motivos principais: o primeiro é que Lula tem uma base maior e mais sólida que qualquer outro político já teve no Brasil; o segundo é a avaliação positiva da economia; e o terceiro, o bom trabalho de ‘candidato’ que Lula vem fazendo.
Formato adequado
Gostaria de chamar a atenção para dois fatores – que poderiam talvez ser incluídos no terceiro motivo apresentado por Marcos Coimbra. Ambos têm a ver com a comunicação ‘direta’ que o presidente tem feito com boa parte da população brasileira.
O primeiro tem sido objeto da atenção crítica da grande mídia: são as dezenas de discursos que o presidente tem feito em viagens por todo o país. Um rápido levantamento feito no site do Palácio do Planalto indicou que nos 13 meses entre maio de 2005 e maio de 2006 o presidente Lula fez 75 viagens no Brasil, ou seja, quase seis viagens por mês. São Paulo foi o estado mais visitado, o que coloca a região sudeste em primeiro lugar, seguida pelo nordeste, sul, centro-oeste e norte.
Nessas viagens o presidente fez 141 discursos ou mais de 10 discursos por mês, nos mais diferentes pontos do território nacional. É a forma eficiente que ele utiliza para se comunicar com a população de forma direta, sem qualquer tipo de mediação ou edição.
O segundo, ao qual não se deu ainda a devida atenção, é o programa de rádio Café com o Presidente produzido pela Radiobrás. Apresentado em formato de entrevista, com a duração de seis minutos, vai ao ar desde novembro de 2003. Há dois anos e oito meses, portanto. Era quinzenal e, desde setembro de 2005, passou a ser semanal. Já são 87 edições, retransmitidas voluntariamente, às segundas-feiras, em quatro horários alternativos (6h, 7h, 8h30 e 13h) por cerca de 1.300 emissoras de rádio em todo o país – o equivalente a um terço do total das emissoras existentes.
O programa, na verdade, é um bate-papo descontraído entre o presidente e o jornalista Luiz Fara Monteiro, o formato mais adequado ao meio rádio. Os temas são escolhidos pelo próprio presidente, que fala sobre ações, projetos de governo e temas variados de interesse da população.
Sem interferência
Uma avaliação positiva do Café com o Presidente pode ser feita considerando o número de emissoras que o retransmitem e a repercussão que tem entre as agências de notícias online, os portais de internet e os veículos de referência nacional, tanto da mídia eletrônica quanto da impressa.
Mas o verdadeiro sucesso do programa é a relação ‘direta’ que o presidente estabelece com o ouvinte, uma certa ‘intimidade distante’ que só o rádio permite (sem a alta definição da TV). Ademais, o rádio é o veículo mais popular do país e está presente não só em praticamente a totalidade dos domicílios, mas nos meios de transporte e, individualmente, acompanhando ouvintes no exercício das mais diferentes tarefas diárias.
Muitas vezes, nas análises dos índices revelados nas pesquisas de opinião pública, se esquece de considerar as formas diretas de comunicação que ainda se pode estabelecer com a população. As peculiaridades do rádio e a possibilidade de existência nele de um programa sem interferência editorial, combinadas com o contato direto por meio de viagens e discursos, podem fazer um interessante contraponto à narrativa ‘adversa’ dominante na grande mídia.
É isso que parece estar acontecendo.
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Pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) da Universidade de Brasília e autor, entre outros, de Mídia: Teoria e Política (Editora Fundação Perseu Abramo, 2ª ed., 2004)