Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Paulo Machado

‘Esta Ouvidoria recebeu a seguinte mensagem do leitor Alexandre Brandão sobre a notícia Lula sanciona lei que cria gratificação por risco de vida para PMs e bombeiros do DF, publicada dia 6 de novembro às 19:57:

‘Assunto: Mais jornalismo e menos porta-voz’

Caro ouvidor,

Sou um leitor assíduo da Agência Brasil e também um grande apoiador da idéia e do formato. Também aprecio muito o caráter multimídia e as várias ferramentas disponíveis, que ajudam muito os demais meios de comunicação. Entendo a agência como um órgão público de Estado e não do governo de plantão – e respeito muito essa postura. Poucos países tem uma mídia semelhante como essa, principalmente na América Latina. Por isso, é preciso reconhecer a iniciativa do atual governo ao tomar a iniciativa de criar a agência, e depois a EBC.

No entanto, acho preciso tomar cuidado para a agência não se transformar em um simples porta-voz do governo. É preciso ir mais além, é preciso fazer apenas jornalismo público e de qualidade. Faço essa ressalva depois de ler um texto publicado na Agência Brasil e no portal G1 sobre a cerimônia do governo que sancionou o plano de carreira dos militares do DF.

Explico com os exemplos a seguir:

1- Na Agência Brasil, o lead da matéria em questão tratou de assunto diverso ao objetivo da cerimônia:

‘Brasília – Ao sancionar hoje (6) a lei que muda o plano de carreira dos policiais militares e bombeiros do Distrito Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que o Brasil conquistou credibilidade no cenário internacional. ‘É tanto elogio à nossa economia, à política fiscal, à geração de empregos e à política social que, às vezes, fico me beliscando para saber se é verdade o que estou ouvindo’, afirmou o presidente.’

2 – Veja como o G1 tratou do assunto no lead:

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (6), após sancionar lei que cria plano de carreira para policiais militares e bombeiros do Distrito Federal, pagar bons salários é o único jeito de evitar que agentes de segurança levem ‘propina da bandidagem’. No Distrito Federal, cada soldado da PM recebe pelo menos R$ 4 mil de salário inicial.’

3 – Quando tentou aprofundar o assunto (plano de carreira), a ABr não avançou de fato, parece que apenas reproduziu um release:

‘Na cerimônia realizada em um ginásio em Brasília, com a presença de cerca de 7 mil PMs e bombeiros, o presidente também defendeu o pagamento de salários dignos para os policiais, a fim de que possam desempenhar bem às suas atividades. A lei sancionada por Lula estabelece regras para as promoções nas duas carreiras e a cria uma gratificação por risco de vida.’

4 – Já o G1, enveredou por um assunto importante para o plano de carreira dos militares:

‘Ele disse ainda que é preciso resolver com as corporações da PM questão dos turnos de trabalho. Segundo ele, não é possível continuar com as escalas de trabalho por 24 horas e 72 horas de folga.

Essa história de trabalho de 24 horas por 72 horas, temos que discutir. Primeiro, achar que um ser humano pode trabalhar 24 horas sem dar uma cochiladinha é acreditar em Papai Noel. É melhor que os companheiros ganhem melhor e tenham companheiros para trabalhar oito horas por dia, durante todo o dia, declarou.’

5 – Por fim, o G1 contextualizou ainda o assunto para entender o impacto da lei sancionada:

‘Segundo a PM, o novo plano de carreira permitirá a promoção de 12 mil policiais, o que resulta em reajustes salariais. Contudo, a PM não soube informar o impacto sobre a folha de pagamento.

A PM tem um efetivo de 13 mil policiais no Distrito Federal e com a aprovação também poderá contratar até mais 3 mil agentes, 1,5 mil já em janeiro de 2010. O outros serão contratados somente em 2011.’

6 – E a agência só reproduziu declarações protocolares:

‘O governador do DF, José Roberto Arruda, e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, participaram da solenidade, na qual Lula foi aplaudido em vários momentos. Arruda agradeceu a cooperação dada pelo presidente e por Dilma para mudar o plano de carreira da PM e dos bombeiros do DF.Em seu discurso, Arruda afirmou que nunca teve problemas em pedir ajuda ao governo Lula por pertencer a um partido de oposição, no caso, o Democratas (DEM).

Segurança pública é tema que vem recebendo bastante atenção pela sociedade e pelos leitores em geral. Por isso, poderia receber uma cobertura melhor da agência. Veja, por exemplo, qual é a matéria mais lida na Agência Câmara.

Fontes:

Agência Brasil: http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/11/06/materia.2009-11-06.6536617803/view

G1: http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1369672-5601,00-LULA+DIZ+QUE+PM+PRECISA+GANHAR+MAIS+PARA+NAO+LEVAR+PROPINA+DA+BANDIDAGEM.html

Mais exemplos da cobertura do assunto:

Agência Câmara: http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/141862-Camara-aprova-reformulacao-da-carreira-de-PMs-e-bombeiros-do-DF.html

Estadão: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,lula-reajusta-em-684-salario-da-policia-militar-do-df,462384,0.htm

Não se trata aqui de criticar a repórter, mas a postura da agência. Obrigado pela atenção.

Alexandre, de Florianópolis’

As comparações feitas pelo leitor sobre a maneira como veículos públicos e privados cobriram o assunto dão uma dimensão de como a crítica, quando exercida de maneira atenta e imparcial, pode se aperceber de eventuais desvios editoriais que comprometem a qualidade da informação. Se tivéssemos mais leitores como Alexandre, talvez o trabalho da Ouvidoria se tornasse dispensável.

Há apenas uma pequena reparação que devemos fazer às suas observações. A Agência Brasil havia publicado uma outra matéria sobre o assunto uma hora antes: Lula diz que bom salário é a fórmula para ‘policial não levar propina da bandidagem’. Somando as informações contidas nas duas notícias praticamente temos o mesmo conteúdo publicado pelo portal G1, com a diferença desse ultimo haver se restringido ao assunto objeto da cerimônia, como salientou o leitor. Esse é um aspecto realmente relevante e provavelmente foi o que o inspirou a nos escrever. A ele a Agência Brasil respondeu apenas: ‘agradecemos os comentários do leitor’.

A matéria mais completa realmente é a da Agência Câmara que apresenta detalhes do projeto, inclusive em relação aos militares inativos e a critérios de promoção.

Até a próxima semana.’