Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘A cobertura do terremoto no Haiti comprova o que o senso comum e a pesquisa científica indicam: gerar informação nova custa muito dinheiro, exige estrutura profissional experiente, não se faz na base de palpite e improviso, que é só o que se exige para postar opiniões na internet.

As chamadas redes sociais também demonstram nessa tragédia onde elas podem ser mais eficientes e relevantes: no esforço para mobilizar pessoas e levantar recursos.

O Projeto para a Excelência em Jornalismo, mantido nos EUA pelo Pew Research Center, divulgou nesta semana relatório sobre como Facebook, Twitter e blogs têm sido fundamentais para arrecadar milhões de dólares para entidades que ajudam vítimas em Porto Príncipe. A mesma organização tornou públicos no dia 11 resultados de pesquisa feita na cidade de Baltimore, segundo a qual 95% das informações novas em todo o ambiente da mídia local se originam nos jornais diários (principalmente) e nas emissoras de rádio e TV.

Ou seja, sem a velha mídia, blogs e seus sucedâneos não teriam muito do que tratar. O que mais eles fazem é reverberar o que os veículos tradicionais produzem. O caso do Haiti é muito sintomático. Quem é capaz de deslocar em 24 horas, como este jornal, quatro repórteres para um país em ruínas, em que a simples tentativa de desembarcar comporta riscos e custos imensos?

Desde quarta retrasada, a Folha tem mantido quatro pessoas lá. E elas têm feito um trabalho de alta qualidade nas circunstâncias mais adversas que se possa conceber.

Diante da imensidão das dificuldades e do preço pessoal que pagam (em desgaste físico, psicológico, emocional), impressiona como são poucas e pequenas as falhas perceptíveis em seu trabalho.

A edição tem valorizado os textos que os jornalistas no campo fazem, e as fotos, de excepcional beleza, como a que ilustra esta página e esteve na capa do jornal do dia 15.

Mas tem deixado a desejar, em minha avaliação, no que diz respeito ao aprofundamento das informações que eles geram. A esta altura, há dois temas que parecem centrais: a capacidade do Estado haitiano para reconstruir o país e qual deve ser o papel do Brasil ali em função de seu interesse nacional.

Têm faltado boas entrevistas, artigos, análises, interpretações para o leitor formar seus juízos de valor.

Ainda há tempo para recuperar esse terreno, e é até bom que haja muito a ser feito porque o maior erro que o jornalismo poderá cometer nesta situação será abandonar o assunto quando o impacto da tragédia passar.

‘O Haiti não deve ser notícia hoje e esquecimento amanhã’, como alertou o grande escritor Carlos Fuentes em artigo para ‘El País’ nesta semana.

PARA LER

‘Os Farsantes’, de Graham Greene, tradução de Ana Maria Capovilla, ed. Globo, 2003 (a partir de R$ 34,27)

PARA VER

‘O Dia em que o Brasil Esteve Aqui’, de Caíto Ortiz e João Dornelas (disponível para locação)’

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‘Um jornalismo tão previsível como a chuva’, copyright Folha de S. Paulo, 24/1/10.

‘As chuvas continuam, como era de esperar, matando ou de uma vez ou aos poucos. O jornal fez pouco antes de o verão chegar para cobrar as autoridades a respeito de providências que deveriam estar sendo tomadas então para mitigar as tragédias de agora.

Sua reação aos novos desastres tem sido tão corriqueira quantos as chuvas. As mesmas fotos, as mesmas histórias de vítimas ocupam quase todo o espaço dedicado à cobertura, numa tentativa necessariamente frustrada de concorrer com os meios eletrônicos no relato do factual.

Poucas exceções realçam como seria melhor para o leitor se ele desse prioridade para apurar as causas estruturais dos problemas. Na segunda, por exemplo, ótima reportagem mostra a relação diretamente proporcional entre intensidade de chuva (e enchentes) e quantidade de concreto numa região específica.

Na sexta, os destaques positivos são o artigo de climatologista sobre a quantidade atípica da chuva desta temporada e em especial reportagem sobre como o atraso na aplicação do programa de 1988 de combate às cheias agrava o permanente drama de São Paulo com a água.’

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‘Onde a Folha foi bem…’, copyright Folha de S. Paulo, 24/1/10.

‘ONDE A FOLHA FOI BEM…

USINAS NUCLEARES

Boa e oportuna entrevista na segunda com James Lovelock, que aceita usinas nucleares, mas não no Brasil

DOCUMENTA DE KASSEL

Importante entrevista na terça com a diretora artística da Documenta de Kassel

ANOREXIA NA MODA

Reportagem na quarta sobre São Paulo Fashion Week levanta adequada discussão sobre a preferência da indústria por modelos excessivamente magras

…E ONDE FOI MAL

ANO VELHO

Suplemento Equilíbrio publica nada original pauta sobre resoluções de Ano Novo na terceira semana de 2010

PRÓ-MEMÓRIA

Ao tratar (mal) da excelente história do maquinista que sumiu e deixou que um trem no Rio rodasse cinco quilômetros em alta velocidade sem ninguém no comando, reportagens não mencionam que a empresa que explora o serviço é a mesma cujos seguranças já chicotearam passageiros que protestavam contra atrasos

ASSUNTOS MAIS COMENTADOS DA SEMANA

1. Haiti

2. Direitos Humanos

3. Chuvas’