Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

‘A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro.’ (Gabriel Garcia Márquez, escritor)

A realidade é cruel ou a crueldade humana é que é valorizada pela imprensa? A divulgação, em detalhes e com exclusividade, na segunda-feira (25), do laudo do corpo da menina Alanis Maria Laurindo de Oliveira, 5, causou uma reação imediata dos leitores. ‘Pense no que a mãe dessa menina não deve ter sentido. Chega!’ protestou Marcelo Feitosa. Por e-mail, o leitor Macedo se disse desrespeitado com a matéria. ‘Foi uma afronta e um grande desrespeito com seus leitores’ afirmou. Outros foram mais veementes e contaram o drama que sentiram ao ler o texto. ‘Enquanto lia, a voz embargava e a sensação de desespero foi tomando conta de tudo’ lembrou em um texto emocionado Ana Karine Lima.

A maior critica focou a revelação minuciosa da crueldade do crime. Para a maioria, considerados desnecessários. ‘O texto em si causa repulsa a quem lê ‘ afirmou Rafael Araújo alegando que o jornal fugiu à sua linha editorial. ‘Creio que esteja sendo utilizado um recurso sensacionalista para vender mais jornal’ completou. O médico Mário Mamede, superintendente do Instituto de Previdência do Município de Fortaleza e ex-subsecretário de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, também criticou a postura adotada pelo O POVO. ‘Qual a contribuição que a matéria traz a sociedade e a família de Alanis, principalmente com o detalhamento do laudo do IML?’ indagou ele. ‘É preciso que a imprensa tenha um zelo maior no trato da informação para que ela permita às pessoas se conscientizarem da realidade que as rodeiam’ sugeriu.

A ombudsman emérita do O POVO, a professora e jornalista Adísia Sá, também acha que houve exageros na decisão de dar o laudo em detalhes. ‘Não houve sensibilidade para tratar do assunto. Nós não somos sensacionalistas’ sentenciou. Para ela, a questão do ‘furo’ de reportagem hoje está superado pela existência da internet, dos blogs. O que vale é a diferença de abordagem.

O outro lado

O jornalista Demitri Túlio, autor da matéria, descarta o caráter sensacionalismo. ‘O laudo em discussão é também uma informação jornalística. É peça fundamental para reforçar a acusação do autor dos delitos e o jornalismo deve contribuir com isso’. Segundo ele, até a publicação da matéria houve uma discussão muito grande. ‘…começou no sábado e entrou pela segunda-feira. Fomentou dúvidas, e ainda fomenta, sobre o publicar ou não. E de como publicar sem ferir, principalmente, a machucada família da menina’ justificou-se. A chefia de redação também discorda com as acusações de sensacionalismo. ‘É uma informação cruel e chocante, como o fato em si, mas relevante na perspectiva jornalística e no esclarecimento do caso. Informação não é sensacionalismo’. O choque do público era previsto. ‘Repercute, sim, choca, mas ( a informação) não pode ser banalizada ou tornada palatável’.

Na popa e na proa

Equilíbrio é o que se pede em um período marcado por eleições como é o ano de 2010. E foi isso que o leitor Evandro Matos não viu na edição de quinta-feira (28) quando o governador Cid Gomes visitou O POVO para expor o projeto de instalação do estaleiro na Praia do Titanzinho. ‘A imprensa precisa mostrar todos os lados. Não tem nada disso’ afirmou. E o leitor tem razão. A matéria, com o título ‘Cid apresenta projeto e rebate críticas’ ocupou uma página completa e não mostrou um único contraponto. No dia seguinte o jornal se redimiu e mostrou novo enfoque, desta vez com especialistas relatando os problemas que a obra trará. ‘A imprensa precisa estimular o debate sobre o assunto e questionar tudo’ ensinou. Ele está certo novamente.

Tango em Buenos Aires

Convites para viagens, jantares e apresentações são normais para os jornalistas. No O POVO a determinação é que o leitor seja informado qual empresa está patrocinando a viagem. Na última segunda-feira (25), o Viagem & Lazer trouxe matéria, assinada pela jornalista Manoella Monteiro, com dicas de Buenos Aires, na Argentina. Ela viajou a convite de uma operadora. Tudo muito claro. Perfeito. Porém, ao indicar ‘Onde ficar’ e ‘Pacotes’ só foram citados dois hotéis e o telefone da operadora, respectivamente.

Ora, quantos hotéis não existem na capital argentina? Porque só dois? Segundo ela, porque ‘foram estes que conheci e poderia indicar de forma mais afirmativa ao leitor, pois ‘testei’ os serviços’. Já a tal operadora não vende pacotes. Ao ligar, fui informado que ela trabalha com várias agências e que ligasse para uma delas. ‘A minha intenção era canalizar a demanda’ explicou Manoela. Melhor se tivesse indicado mais hotéis e os endereços das agências. O leitor que decida a melhor opção.

Bloco dos escolhidos

No ritmo do Pré-Carnaval, o leitor Fernando Utillano questionou o excessivo destaque do bloco Amici-s no O POVO. O bloco Cheiro na PI, o Luxo da Aldeia, no Benfica e até mesmo o Unidos da Cachorra têm atraído muito mais público e não têm tido o destaque merecido’ protestou. O bloco em questão é um dos parceiros do Grupo de Comunicação O POVO. Segundo levantamento da assessoria de imprensa do Grupo, o Amici-s foi citado 15 vezes nas últimas duas semanas, contra 10 do ‘De quem é esse jegue?’ e 6 do ‘Concentra mas não sai’. No total, 45 blocos foram citados. Alguns com fotos e matérias, outros só com uma inclusão na agenda. O do Amici-s, eu diria, com muitas fotos.’