Saturday, 30 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

José Queirós

‘1. Os leitores do PÚBLICO que se interessam por futebol habituaram-se a encontrar, nas páginas de desporto do jornal, e no próprio dia da realização dos jogos, uma antevisão dos encontros que envolvem os clubes ditos ‘grandes’ da Liga portuguesa – conceito que inclui o Benfica, o FC Porto e o Sporting e pode estender-se a outros, como aconteceu durante uma parte da época passada com o Braga. Essa antevisão – que integra normalmente um gráfico com a imagem de um campo de jogo, os nomes do árbitro e dos prováveis titulares de cada equipa, e o horário e estação televisiva em que a partida será transmitida – destina-se a enquadrar a importância do jogo no âmbito da competição e a destacar as apostas de cada clube, geralmente através de declarações dos seus treinadores. Dela constam ainda, com frequência, referências a jogadores lesionados ou castigados, previsões tácticas e outros elementos com que os leitores aficionados gostam de municiar-se antes de uma ida ao estádio ou de uma transmissão televisiva.

Contando com esse serviço por parte do seu jornal, os leitores a que me refiro não aceitam de bom grado a ausência pontual dessa antevisão, especialmente quando está em causa um jogo do clube da sua preferência. A leitora Alda Nobre, de Lisboa, já se queixara da ausência de informação acerca de um embate entre o FC Porto e o Leiria no dia 25 de Outubro, ao contrário do que sucedera na véspera com os rivais Benfica e Sporting. E voltou a protestar na manhã do último domingo – sendo desta vez seguida por outros leitores – contra a inexistência de uma notícia, na edição desse dia, sobre o confronto entre o FC Porto e a Naval. ‘Sem direito a informação prévia sobre um jogo que pretendo ver na televisão’ (‘nem uma linha, nem uma miserável linha’, salientava), mostrava-se ‘desapontada’ com a ‘parcialidade do PÚBLICO’, que nesse mesmo dia antecipava o encontro que iria opor o Benfica à Académica.

Confrontado com o primeiro caso, Jorge Miguel Matias, editor do Desporto, considerou na altura que ‘a leitora tem razão’, por não ter ‘culpa de o jornal não ter páginas suficientes para todas as notícias’. Sustentou que se tratara de ‘falta de espaço’, detalhando os motivos editoriais e técnicos da decisão tomada. Quanto à edição do passado dia 16, o mesmo editor aponta causas diferentes para a falta de uma notícia sobre o FC Porto. A saber: o treinador deste clube fizera declarações na antevéspera (e não na véspera) do jogo, e estas foram noticiadas no dia 15, pelo que não teria havido ‘omissão da antevisão’. E não foram acompanhadas do habitual gráfico com a previsão do plantel porque nessa altura o FC Porto ainda não dera a conhecer a lista dos jogadores convocados. Esse gráfico, por sua vez, não foi publicado a 16 (dia do jogo) porque ‘não faria sentido’ fazê-lo ‘sem que ele fosse acompanhado por qualquer texto que o enquadrasse’.

A invocação da ‘falta de espaço’ num caso concreto é sempre discutível, mas arriscam-se a ser frágeis conclusões que não resultem da verificação de um padrão de selecção editorial. Já a explicação dada para o sucedido no passado domingo me parece mais difícil de aceitar. O PÚBLICO adoptou há muito a regra de fazer a antevisão dos jogos dos chamados ‘grandes’ no dia em que estes se disputam. O facto de o treinador do FC Porto já se ter pronunciado sobre o desafio não impedia a redacção de um texto de antecipação (como aconteceu, nessa edição, em relação ao Benfica), nem justifica que não tenha sido dada a conhecer aos leitores a lista de convocados entretanto disponível.

Estes dois casos, separados entre si por quase três meses, não constituem amostra suficiente para que se possa falar em ‘parcialidade’. Mas aconselham uma maior atenção a critérios de equilíbrio e isenção no tratamento de grandes emblemas rivais. E julgo que têm toda a razão os leitores que se queixam de não terem encontrado ‘nem uma linha’, no último domingo, sobre o jogo que o FC Porto iria disputar.

2. Afinal Mark Zuckerberg viu ou não o filme inspirado na sua própria história? A questão não será muito relevante, e se é aqui chamada é porque o PÚBLICO escolheu na passada terça-feira o título ‘Será agora que o fundador do Facebook vai ver A Rede Social?’ para uma chamada de capa à peça que o caderno P2 dedicou à cerimónia de atribuição dos ‘Globos de Ouro’, em que o prémio para ‘melhor filme dramático’ coube à obra de David Fincher sobre o Facebook e o seu criador.

Afirmava-se, nesse texto, que Zuckerberg se recusara a ver o filme, o que causou estranheza ao leitor José Paulo Andrade, do Porto, que tinha lido o perfil do fundador do Facebook publicado pela revista Time quando, em Dezembro, o escolheu para ‘personalidade do ano’ de 2010. E por aí se inteirara de que ‘Zuckerberg viu o filme em cinema alugado para si e seus colaboradores’ e dos comentários que fez após o visionamento.

O leitor tem razão ao apontar o erro, que a editora do P2 Paula Barreiros explica ter tido origem em informações divulgadas em Outubro, aquando da estreia do filme nos Estados Unidos, segundo as quais ‘Zuckerberg assumiu que não iria ver o filme’. Isto num contexto em que, como recorda o autor do texto do PÚBLICO, Jorge Mourinha, ‘a estratégia de Zuckerberg e do Facebook relativamente ao filme’ fora ‘a de o ‘ignorar’ na medida do possível, (…) optando por considerá-lo como uma ‘obra de ficção’’, em que o criador da rede social não se reconheceria. ‘Em artigos mais recentes na imprensa internacional, dos quais nem o autor do texto nem as editoras do P2 tinham conhecimento, [Zuckerberg] disse já ter visto [o filme]’, acrescenta Paula Barreiros, concluindo: ‘Tentamos sempre confirmar toda a informação. Neste caso, infelizmente, jornalista e editores partiram de um pressuposto errado’.

O erro ficou pois a dever-se a uma pesquisa incompleta e a uma informação não actualizada, e ganhou maior dimensão ao contaminar, a partir do tal ‘pressuposto errado’, um título de primeira página.

3. Outros erros ficam a dever-se, para além da falta de certos conhecimentos, a momentos de distracção ou enganos que uma edição e revisão cuidadas deveriam impedir. Terá sido o caso da notícia publicada na edição on line de 21 de Dezembro sobre o falecimento de Pôncio Monteiro. Nela se afirmava que o antigo dirigente do FC Porto ‘já tinha sido operado’, em 2006, ‘a uma lesão muscular intracerebral’. O leitor Tiago Mestre fez o comentário merecido: ‘Como médico e neurologista, fico espantado que um jornalista do PÚBLICO possa dar provas de ignorância e descuido anatómico ao considerar que o ser humano possa ter um músculo dentro do cérebro…’.

O editor Jorge Miguel Matias explica que se deveria ter escrito ‘lesão vascular’ onde apareceu ‘lesão muscular’. Considera que se tratou de ‘uma gralha’ e acrescenta: ‘Não foi detectada na edição online e, por esse motivo, não foi corrigida. Na edição em papel, escrita por outra pessoa, não foi utilizada a expressão’. E aproveita para pedir aos leitores que ‘indiquem a existência destas falhas nas notícias escritas no online (…) através da caixa de comentários’, pois ‘já sucedeu alguns leitores darem nota de erros nas notícias, permitindo a sua correcção online pouco depois’. É uma boa sugestão, que permite aos redactores do jornal beneficiar dos mais diversos conhecimentos especializados dos seus leitores, ainda que neste caso um mínimo de exigência torne difícil aceitar a classificação de ‘gralha’.

Problema diferente suscitado por este caso é o das correcções às notícias on line, que deveria merecer maior atenção aos responsáveis editoriais do PÚBLICO. Para que os erros não permaneçam na rede por tempo indefinido, para que sejam efectivamente corrigidos, e essas correcções sejam assinaladas. É um tema a que me parece importante voltar, e que hoje antecipo para referir que no momento em que escrevo (um mês depois…) essa antológica ‘lesão muscular’ continua a figurar, impávida, na edição electrónica do jornal.

4. E há, ainda, os ‘erros’ que afinal não o são. O leitor Celso Cunha viu uma fotografia antiga do Teatro Águia d’Ouro, no Porto, nas páginas do caderno Cidades (edição de 2 de Janeiro) e achou que estava perante uma imagem ‘manipulada’, porque ‘a metade direita é uma cópia exacta da metade esquerda, ou vice-versa’. ‘Não sei’, admitia, ‘se a manipulação foi efectuada no jornal ou, pelo contrário, a fotografia já foi adquirida assim’.

O leitor não se enganou a observar a imagem (usada para ilustrar um texto de Patrícia Carvalho sobre o recém-publicado segundo volume da obra As Casas da Música no Porto), mas precipitou-se na conclusão. Como explica Abel Coentrão, do Local Porto, a imagem – da autoria do pioneiro portuense da fotografia Domingos Alvão – ‘foi adquirida e arquivada pelo Centro Português de Fotografia, que a cedeu’ para a obra referida. ‘Trata-se’, esclarece, ‘de uma fotografia estereoscópica, (…) técnica utilizada naquele tempo, em que dois instantâneos consecutivos eram fixados no mesmo negativo de vidro para serem visualizados numa máquina estereoscópica, ganhando um efeito de aparente tridimensionalidade. A imagem é, por isso, um documento histórico em si’. E, como documento histórico, o próprio protocolo que regula a cedência não autoriza qualquer alteração à sua integridade. Não foi, portanto, ‘manipulada’. ‘Se uma falha pode ser apontada ao PÚBLICO’ neste caso, comenta com razão o responsável do Local Porto, é a de não terem sido assinalados estes dados ‘no momento da publicação’.’