TECNOLOGIA
E-books superam brochura na Amazon
A loja virtual Amazon anunciou que as vendas de livros para Kindle superaram pela primeira vez as dos livros de brochura. Seis meses atrás, a empresa disse que os livros eletrônicos ultrapassaram os de capa dura. Em 2010, para cada 100 livros de brochura, a Amazon vendeu 115 e-books.
Venda de smartphones aumenta 18,5%
Foi vendido 1,39 bilhão de aparelhos em 2010, o melhor ano para a indústria de telefones inteligentes desde 2006. Os dados são da empresa IDC, que divulgou também que a Nokia, seguida pela Samsung, é a líder mundial nas vendas de celulares, que cresceram 17,9% no ano passado.
POLÍTICA CULTURAL
Silvana Arantes
Ana e o do-in
Ao se tornar ministro da Cultura, em 2003, Gilberto Gil disse que era preciso ‘fazer uma espécie de do-in antropológico, massageando pontos vitais do corpo cultural do país, para avivar o velho e atiçar o novo’.
Ana de Hollanda, que assumiu a pasta neste mês, parece preferir o reiki. A ministra afastou as mãos do ponto que a gestão Gil (2003-2008) e a de seu sucessor, Juca Ferreira, mais pressionaram, embora sem resultados concretos.
Trata-se do propósito de reordenar o sistema de patrocínio a produções culturais, consignado num projeto que extingue a lei federal de incentivo à cultura (Rouanet) e a substitui por mecanismos que conferem ao MinC mais autonomia para gerir os recursos hoje movimentados via lei (cerca de R$ 1 bilhão/ ano).
Discutido ao longo de quase todo o governo Lula, o projeto de reforma da Lei Rouanet só conseguiu ir ao Congresso no início de 2010. Em dezembro passado, escalou o primeiro degrau -foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara.
Se Gil evidenciou sua meta já no discurso de posse, quando tomou distância dos ‘caprichos do deus-mercado’ e afirmou a necessidade de regulá-lo, para corrigir suas distorções, Ana de Holanda fez o mesmo, pelo caminho inverso ao da veemência.
A ministra não pronunciou uma única vez o vocábulo ‘mercado’ na fala de sua posse. Quando se referiu à Lei Rouanet, o fez de forma indireta e em tom crítico, dizendo ser preciso ‘descentralizar sem deserdar’.
A concentração de patrocínios da Rouanet no Sudeste, tida como antirrepublicana pelo duo Gil/Juca, era o pilar do discurso por uma reforma da lei que pulverize seus recursos pelas demais regiões.
Ao Congresso, Ana de Hollanda rogou agilidade na aprovação do Vale Cultura, que vem a ser um programa de subvenção do consumo cultural. Nenhuma palavra sobre a Lei Rouanet.
A ministra disse e reiterou que a figura do artista será o foco de suas atenções e ações. No que tange os criadores, ela também se distanciou da gestão anterior.
Estava em curso no MinC a ideia de rever a lei do direito autoral pelo viés da ‘flexibilização’ dos direitos de autor, dado o cenário de crescente difusão digital de produtos culturais. O freio da ministra a esse objetivo foi suave, mas inequívoco.
A julgar por seus passos iniciais e pela promessa de ‘continuar sem repetir’, é provável que Ana de Hollanda não promova nem fortes recuos -temor dos simpatizantes da dupla Gilberto Gil/Juca Ferreira- nem redirecionamento das políticas do MinC- anseio dos adversários da gestão passada. Mas apenas deixe tudo como está. Ou não.
TELEVISÃO
Keila Jimenez
‘Tem uns estilistas que tiram sarro’
Mariana Weickert não está mais nas passarelas, mas passa horas na TV falando sobre elas. Na semana da São Paulo Fashion Week, a top/apresentadora está fazendo sua última cobertura do evento pelo ‘GNT Fashion’ (GNT). Despedida com justa causa: Mariana ganhou seu próprio programa sobre moda: ‘Vamos Combinar’, que estreia dia 21 de março na nova grade do GNT.
Na atração, a loira vai falar menos do glamour e mais do que se usa na vida real. ‘Há estilistas que fazem coisas absurdas e devem dar risada: ‘Ai, que burra, ela comprou!’, diz. Dá como exemplo o clog, pesado tamanco no estilo holandês, ressuscitado por Karl Lagerfeld, da Chanel. ‘Ele deve ter colocado câmeras escondidas na rua e hahaha, aquela caiu!’, diz Mariana, rindo.
Trabalhando na área desde os 16 anos, quando começou a carreira de modelo, ela diz que não sofre mais por vaidade.
‘Não tiro mais a sobrancelha, porque a dor é infernal’, conta a bela, que também dispensa um guarda-roupa só com tendências e compra até peças no supermercado quando gosta.
‘É ignorância uma pessoa baixinha usar comprimento na canela só porque a moda diz. Ela é burra.’
TUITADAS
@xguinle
Gente!Oque foi o premiê da Itália, Silvio Berlusconi, ligando para o programa do jornalista Gad Lerner, doprograma ‘L’Infedele’? Vocês viram?
@xguinle
E xingando o apresentador muito!!? Que cena foi aquela?!!!?? ‘Infame’, ‘repugnante’, ‘desprezível’ foram alguns dos insultos!!
a atriz Guilhermina Guinle chocada com o barraco televisivo protagonizado pelo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi
16 pontos
Foi a média da novela ‘O Clone’ (Globo) no ‘Vale a Pena Ver de Novo’ na segunda-feira (24)
A antecessora ‘Sete Pecados’ vinha marcando 12 pontos
13 pontos
Foi a média do ‘Domingão do Faustão’ (Globo) no último domingo, dia 23
A média da atração costuma ficar na casa dos 17 pontos
Extreme Makeover do ‘Hoje em Dia’
Cinco anos não é tanto tempo assim, mas faz diferença no espelho de qualquer um. Mais ainda para quem tem a imagem refletida nas câmeras diariamente .
Além dos novos quadros e integrantes, o ‘Hoje em Dia’ (Record) chama a atenção pela mudança no visual dos seus apresentadores ao longo desses anos.
Na atração desde sua estreia, em 2005, Chris Flores trocou os óculos e a pinta de jornalista pelos cabelos compridos e por roupas mais glamourosas.
Tão veterano na atração quanto Chris, Edu Guedes mudou o cabelo e ganhou vários quilinhos a mais.
Novato na trupe, Celso Zucatelli, que entrou na atração em 2009, foi o que mais mudou. Deixou o cabelo crescer e abandonou a gravata.
‘Minha mulher me botou pilha para mudar. Tô tentando me cuidar, fazer exercícios. Arrumei um personal e tive um apoio importante do figurinista para mudar de visual’, disse Zucatelli.
Com Samia Mazzucco
Josimar Melo
Âncora do ‘Comidas Exóticas’ grava no Rio
Afinal, o que há de bizarro numa feijoada? É o tipo de pergunta a que Andrew Zimmern, apresentador do ‘Comidas Exóticas’, teve de responder em sua passagem pelo Rio, onde gravou seu primeiro episódio no Brasil.
A pergunta não é nova: em todos os países ouve algo parecido. Afinal, para um tailandês que desde criança come insetos, o que há de estranho em comer besouros? ‘O que é bizarro para uma cultura não o é para outra’, explica o ex-chef de cozinha.
O exemplo da feijoada é esclarecedor. Zimmern a comeu (e ajudou a fazer) na quadra da escola de samba Império Serrano.
‘Nasci em Nova York, onde há comidas de todo o mundo, e já comi muito arroz e feijão. Mas convenhamos:
com farofa, todas as partes do porco, cachaça, pulando feito um louco, suando em bicas, ao lado de mulheres lindas… não é o jeito como eu como arroz e feijão!’ Zimmern entupiu-se de carne num rodízio (Porcão), de petiscos e galinha ao molho pardo num boteco (Aconchego Carioca), de sucos de frutas em toda parte e até de esfihas na praia em Ipanema.
Mas sua mais interessante experiência foi pescar em Copacabana com Manuel, da colônia de pescadores.
‘Veio na rede um caramujo gigante, que no Japão custaria caríssimo, e Manuel me disse que aquilo não se come. Subi então à casa dele, na favela do Pavão, e o preparei no vapor. Ele adorou! Poderíamos ter comido cru, mas não quis forçar.’ Na mesma rede havia um enorme caranguejo-ermitão, que também foi para a panela.
Vivendo em Minnesota com a mulher e o filho, Zimmern, 49, pretende voltar ao Brasil. Depois da primeira temporada do programa, quando cruzava cada país, decidiu visitar uma única cidade por vez. ‘Prefiro ir mais fundo num local a ter uma ideia rasa.’ À China, por exemplo, já foi dez vezes.
‘SEM RESERVAS’
O episódio no Rio estará na quarta temporada (aqui está no ar a segunda). Confirmando que o Brasil é alvo de interesse da gastronomia mundial, a passagem de Zimmern coincidiu com a de outra estrela da TV, Anthony Bourdain: na mesma semana, ele foi a Belém gravar seu ‘Sem Reservas’, do mesmo canal.
Bourdain visitou o Mercado Ver-o-Peso e passeou pela selva. Tentei saber suas impressões depois da viagem, mas só o alcancei já no fechamento desta edição, de volta a Nova York -e sem muita disposição para conversa: ‘Acabei de chegar de viagem e estou meio doente… Podemos falar depois?’ Não resisti a responder: ‘Deve ter sido algo que você comeu’.
NA TV
COMIDAS EXÓTICAS
Segunda temporada do programa
QUANDO sábado, às 21h, no
Discovery Travel & Living
CLASSIFICAÇÃO livre
Mauricio Stycer
Na falta de tragédias, Datena exibe paixão por helicóptero
Passada a primeira onda de enchentes e tragédias de janeiro, o jornalismo na televisão se vira como pode nesta fase de rescaldo, com reportagens piegas aqui e dramas acolá.
No caso do ‘Brasil Urgente!’, da Band, um clássico da gritaria vespertina, a novidade parece ser a paixão cada vez maior de José Luiz Datena por helicópteros.
Na falta de uma enxurrada, um acidente, um crime ou uma tragédia de grandes proporções, o espectador pode ficar tranquilo, pois o apresentador vai lhe oferecer emoções, seja a bordo do helicóptero pilotado pelo comandante Hamilton, seja em algum Águia da Polícia Militar de São Paulo. Na última terça, até choveu forte. ‘O dia virou noite, comandante Hamilton’, sublinhou Datena. Mas quando ‘o melhor repórter do ar do mundo’, segundo o apresentador, partiu em buscas de imagens de impacto, o espectador se deu conta de que não havia muito a mostrar.
Hamilton localizou uma rua alagada perto do parque D. Pedro, no centro de São Paulo, e ali parou. Ficou tanto tempo que, a certa altura, Datena mandou-o correr dali: ‘Se você fica parado aí, dá a impressão de que a cidade inteira está debaixo d’água.
O que a gente não faz’. O piloto seguiu viagem, então, rumo a Guarulhos. ‘Olha a água aí no rio, Hamilton’, gritou Datena’. ‘É o Cabuçu de Cima, Datena’, respondeu, explicando se tratar de um afluente do Tietê. O helicóptero seguiu até uma favela, parcialmente alagada. ‘Já morei em casa que tinha goteira. Não tem coisa pior moralmente. Não é, comandante?’, observou o apresentador.
Longos minutos se passaram com Hamilton e Datena conversando sobre a situação daqueles moradores. Até que… ‘Comandante, você quer procurar outro ponto? É melhor mudar porque já mostramos este à exaustão’.
Enquanto Hamilton roda Guarulhos, o ‘Brasil Urgente’ mostra: ‘Crime da mala! Mulher era dançarina e morava no exterior’. Datena entrevista a mãe da vítima. E logo grita: ‘Comandante, o senhor está aonde agora?’ E o programa volta a exibir imagens de Guarulhos, agora de uma avenida alagada.
‘Agora! Temporal deixa Guarulhos debaixo d’água’, informa a TV. Datena ri da placa no alto de um semáforo, que adverte: ‘Em piscante, não siga: enchente’. E critica: ‘Em vez de resolver o problema, eles colocaram um semáforo antienchente.
Piada pronta. Precisa de semáforo aí? Precisa de vergonha na cara’.
DIA SECO
Na quarta, o ‘Brasil Urgente’ volta a Guarulhos e mostra uma reportagem sobre um ônibus queimado por moradores revoltados com as enchentes. ‘Estou sempre do lado do povo, mas não nesse tipo de manifestação. Porque aí vira bagunça. Anarquia.’
Nem uma gota caiu em São Paulo na quarta. Hamilton, então, dedica-se a mostrar, do alto, imagens da Polícia Militar. A equipe do ‘Brasil Urgente’ acompanha a rotina do grupamento, elogiadíssimo por Datena.
‘Vamos mostrar toda a logística do Águia. A valorosa equipe… Assuma, Hamilton.
Vai, Hamilton!!!’, grita.
Corre a notícia de um assalto em um hipermercado no Tucuruvi, na zona norte.
‘Não prenderam ninguém, Hamilton?’ ‘Ainda não, Datena.’ O apresentador, então, fala com um policial. ‘Se prenderem os bandidos, queremos dar a boa notícia, capitão’. ‘Pode deixar’, diz o militar. ‘Se prendermos, avisamos a sua produção.’
Minutos depois, Datena volta a gritar: ‘Atenção! Tocou a sirene no ninho dos Águias. Imagens ao vivo. O Águia vai ser acionado para um cerco policial’. Na falta de alguma coisa mais emocionante para mostrar, o apresentador destaca o objeto do seu fetiche: ‘Decolagem do Águia em detalhe para você. Águia 9, comandante Hamilton!’
Na volta do bloco comercial, reencontramos Hamilton sobrevoando uma favela, repleta de policiais. ‘Comandante Hamilton, melhor ‘news ar’ do mundo’, diz Datena. ‘Policiais com arma na mão. Uma mulher estaria em cativeiro. Então não é sequestro relâmpago’, grita.
São 19h15, hora do próximo programa. E Datena se despede de Hamilton e do público, agradecendo a audiência, mas sem contar como acabou a história.
MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL
NA TV
Brasil Urgente
Telejornal de José Luiz Datena
QUANDO de segunda a sexta, às 17h, na Band
Keila Jimenez
Insensato Barracão
Noveleiros de plantão sabem: não há melhores ‘boas-vindas’ para um folhetim do que uma cena de barraco daquelas. De preferência, entre familiares, em uma comemoração, com xingamentos, bofetões e chuva cenográfica para encharcar os ânimos.
Se a premissa valer, ‘Insensato Coração’ (Globo) promete. Há duas semanas no ar, a trama teve mais de um barraco por capítulo: briga de marido e mulher, de pais e filhos, entre irmãos…
O campeão até agora: 4 minutos de lavação de roupa suja em família. Tias, primas, maridos, mulheres, todos dizendo tudo o que pensam uns sobre os outros, metendo a colher sem pudores.
Baixaria regada a desabafos preciosos como: ‘Eu sei por que que você se casou.
Casou pra sair da vila, pra ter televisão colorida!’.
Abriu-se um festival de patadas: ‘puxa-saco’, ‘ladrão, ‘rodada’, encerrado por pancadaria. Foi o início de um ringue que não empolgou a audiência: ‘Insensato Coração’ segue com média de 33 pontos (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo).
‘Já que o universo da novela é a classe média, nada melhor do que um bom barraco para lavar mágoas soterradas em nome da harmonia familiar’, afirma Ricardo Linhares, que divide a autoria da trama com Gilberto Braga.
‘A classe média não fala abertamente; dissimula, engole sapos, finge que está tudo bem. Mas todos os sentimentos que estão guardados um dia explodem’, diz ele.
Se na calmaria do Leblon de Manoel Carlos todos esperam pelo surto da Helena da vez, em ‘Insensato Coração’ a paz vai demorar a reinar.
Repleta de pequenas participações, a novela terá gente entrando e saindo a todo momento. Claro, depois de armarem seus barracos.
‘O personagem diz a que veio, cumpre a sua função de agilizar a narrativa e sai, sem encher linguiça. Assim, a trama fica quente’, diz Linhares, prometendo chutar um balde atrás do outro.’Será assim a novela inteira!’
NA TV
Insensato Coração
Novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares
QUANDO de segunda a sábado, às 21h20, na Globo
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
Clarice Cardoso
Fevereiro esquenta estreias da TV paga
Terminadas as férias de verão, a temporada de estreias nos canais pagos brasileiros começa a engatar agora, em fevereiro, e vai a toda até março (leia mais abaixo).
Quem inaugura o período é Claire Radcliff, personagem vivida por Rhona Mitra em ‘The Gates’, que estreia na próxima quarta na Fox.
A dona de casa modelo é uma das moradoras do condomínio para onde se muda a família do chefe de polícia Nick Monohan (Frank Grillo). Tudo muito pacato, não fosse o fato de os vizinhos serem vampiros -como Claire-, lobisomens e bruxas.
Na outra semana (dia 7/2), o Warner Channel estreia ‘$#*! My Dad Says’. A série é inspirada no perfil homônimo do Twitter e no livro em que Justin Halpern conta histórias e máximas proferidas pelo pai ranzinza.
No mesmo dia, chega a segunda temporada de ‘The Middle’, sobre uma família de classe média que não consegue dar certo em nada, mas vai bem, obrigada.
Na quarta (9/2), os nerds dançantes de ‘Glee’ desembarcam com seu segundo ano na Fox. E são seguidos nas outras semanas pelas enfermeiras de ‘Hawthorne’ (Liv), pelo super-herói de ‘The Cape’ (Universal) e pelas patricinhas de ‘Pretty Little Liars’ (Boomerang).
Mais para o meio do ano, há boas opções, como ‘Running Wilde’, prevista para julho no I.Sat.
A comédia romântica é protagonizada por Keri Russell, lançada à fama no papel-título de ‘Felicity’, que aqui dá vida a Emmy, uma ativista que resolve morar no meio da floresta para tentar salvá-la.
Mas acaba se envolvendo com um antigo colega de escola convertido em bilionário metido e excêntrico.
Também já confirmada, mas sem data, está ‘Game of Thrones’. A megaprodução do ano da HBO é um épico com batalhas grandiosas e retrata disputas de reis, rainhas e cavaleiros.
Vanessa Barbara
Suécia, terra da alegria
CHEGA DE detetives geniais, excêntricos ou espirituosos. Agora a moda é inspetores enfadonhos, depressivos e sem nenhum dote intelectual extraordinário.
O mais insigne deles, se é que podemos dizer assim, é o britânico Inspetor Morse, do seriado homônimo da ITV que foi exibido entre 1987 e 2000. (Falaremos dele em outra ocasião, a fim de evitar que os leitores cochilem.) O mais recente é Kurt Wallander, aclamado detetive criado pelo escritor sueco Henning Mankell. Diante do sucesso dos livros, uma produtora escandinava lançou em 2005 a série de TV ‘Wallander’, exibida pela BBC4 e, no Brasil, pela Film&Arts (seg., à 0h, classificação não informada), com duas temporadas de 13 episódios cada uma. Wallander é um policial de meia-idade solitário, divorciado e alcoólatra, com hábitos de vida pouco recomendáveis. Nas investigações, é dado a rompantes de raiva. Não se dá bem com a família nem com os colegas de trabalho.
Fascinado pelo alto-astral do escandinavo, o ator shakespeariano Kenneth Branagh resolveu interpretá-lo numa nova adaptação para a BBC escocesa. Em 2008, estreou o ‘Wallander’ britânico, com duas ótimas temporadas de três episódios -a primeira saiu em DVD no Brasil pela Log On (R$ 72).
A julgar pela ficção, a pacata cidade de Ystad é uma espécie de Bronx dos países nórdicos. Não se deixe enganar pelo que dizem da Suécia: lá existem seitas satânicas, homicídios ritualísticos, espancamento de velhinhos, gangues neonazistas, psicopatas sádicos, tráfico de órgãos e brutalidade sexual. Numa mesma semana.
(Na dúvida, é só consultar a trilogia ‘Millenium’, do conterrâneo Stieg Larsson. Dizem que os suecos têm tantos subsídios e assistência estatal que, quando perdem as chaves do carro, desistem de viver.) Wallander é obstinado, mas revela uma certa demora para desvendar os mistérios, ao contrário da maioria dos detetives ficcionais. É um inspetor existencialista com dúvidas sobre a profissão que vive decepcionando a filha e que, como o inspetor Morse, adora ouvir ópera.
É difícil gostar dele e aí é que está o atrativo de ‘Wallander’ -isso e a desgovernada criminalidade sueca.
‘Ótimo. Só fica melhor e melhor’, exclama o policial diante de um cadáver enforcado numa igreja. Wallander, dizem, nunca sorriu.
Brasil poderá ver ‘Os Kennedy’ em agosto
O canal pago The History Channel programou para agosto a estreia da controversa minissérie ‘Os Kennedy’, inspirada na vida da família do ex-presidente americano John F. Kennedy (1917-1963).
A produção, desenvolvida pelo premiado Joel Surow (vencedor de dois Emmy e cocriador de ‘24 Horas’), tem no elenco Greg Kinnear no papel principal e Katie Holmes como a ex-primeira dama Jackie (1929-1994).
Anunciado em dezembro de 2009 pelo History Channel americano, o programa começou a sofrer pressões antes mesmo do início das filmagens. Um grupo de historiadores, que incluía um conselheiro de Kennedy, tentou vetar sua realização, alegando tratar-se do ‘assassinato de uma figura política’.
Na época, o canal afirmou que as críticas foram feitas com base em rascunhos preliminares, mas contratou dois nomes de peso para garantir a veracidade dos fatos.
Porém, segundo o ‘New York Times’, os convocados, Robert Dallek e Steven M. Gillon, autores de livros sobre o presidente, ficaram preocupados com informações não confirmadas, muitas ligadas à vida sexual de Kennedy e a um caso entre ele e a atriz Marilyn Monroe.
VETO
Quando todos os episódios estavam prontos -após um custo estimado de mais de US$ 25 milhões (R$ 41,7 mi)-, no começo do mês o History Channel divulgou que não mais os exibiria.
Dizia o comunicado: ‘Depois de ver o produto final em sua totalidade, concluímos que as interpretações dramáticas não se enquadram com a marca do History’.
Depois disso, ‘Os Kennedy’ ainda foi rejeitado por outras três emissoras, levantando dúvidas sobre se o programa chegará a ir ao ar nos EUA. Há, contudo, contratos de exibição em outros 30 países -incluindo Brasil, Canadá e Grã-Bretanha.
Há duas semanas, a DirecTV confirmou ao site TVLine que estava em negociação para exibir o programa nos Estados Unidos.
Segundo reportagem do ‘New York Post’, Caroline Kennedy, filha de Jackie e JFK, teve um papel determinante na suspensão.
Ela teria ameaçado cancelar o lançamento de um livro e de um conjunto de fitas contendo conversas entre ela e sua mãe. O contrato foi firmado com empresas da Disney (dona da A&E, ao qual o History Channel é afiliado).
Saima Mir, Guardian
Paquistão ganha primeiro programa de sátira política
Com bombas, assassinatos e leis contra a blasfêmia, não há muito do que rir no Paquistão hoje em dia. Mas um humorista espera mudar essa situação, lançando o primeiro programa de sátira política do país.
Saad Haroon é astro da internet -sua recente paródia de ‘Pretty Woman’, de Roy Orbison, ‘Burka Woman’ (exemplo de um verso: ‘I’ll go home and practise flirting / With my living room curtain’; vou para casa praticar meu flerte com a cortina da minha sala), já foi vista quase 200 mil vezes no YouTube.
E o humorista de 33 anos, que é comediante há mais de dez, criou o primeiro grupo de teatro de improvisação do país.
‘Eu estava triste, estava para baixo, o 11 de Setembro tinha acabado de acontecer e nada estava indo bem. Então comecei a treinar algumas pessoas. Fizemos uma divulgação boca a boca e mandamos e-mails para todo o mundo que conhecíamos. Na noite de estreia, estava lotado, e não paramos mais.’ ‘Os paquistaneses curtiram realmente. Pense nisso: aquelas salas enormes, nem uma gota de álcool à vista, e as pessoas gargalhavam.’
O sucesso encorajou Haroon a deixar seu emprego na empresa têxtil de seu pai, para escrever sátira política. Em um país onde a maioria dos escritores ou morre de fome ou escreve dramas em urdu para pagar suas contas, foi um risco grande. E não apenas um risco profissional. ‘Burka Woman’ já lhe valeu algumas ameaças de morte.
Mas Haroon não desanima. ‘Todos os episódios de todos os programas de TV vistos no Paquistão no momento são cheios de terror. Mas os paquistaneses não querem ficar deprimidos. Se você oferece às pessoas uma possibilidade de rir, elas vão dar risada.’
Tradução de CLARA ALLAIN .
PERFIL
Fred Melo Paiva
Um escritor com o pé na lama
Edney, embora Silvestre, é um repórter que prefere sair a campo em missões, podemos dizer, menos selvagens.
Gosta mesmo é de ter descoberto, no interior do Ceará, um professor de balé cujo ofício transforma filhos de pescadores em bailarinos.
Na semana passada, tendo de subir o morro do Borel, no Rio de Janeiro, foi identificado por um menino: ‘Olha o Caco Barcelos!’. Ao que respondeu, contrariado: ‘Não, meu filho, o Caco é o de olho azul’.
Apesar desse seu gosto pessoal, a cobertura de abacaxis é uma das especialidades do cardápio jornalístico de Edney Silvestre, 55, na Globo desde meados dos anos 1980.
Vangloria-se, por exemplo, de ter sido um dos primeiros repórteres do Brasil a chegar ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Não é um desembarque na Normandia, mas de qualquer modo lá estava o Edney.
Com um pouco de boa vontade (talvez muita), seu cabelo lembra o Wolverine do cinema. Assim ele surgiu em reportagens na região serrana do Rio de Janeiro durante a cobertura da tragédia das chuvas. Experiente (‘eufemismo para velho’, diz), ficou chocado com o que viu.
Deu-se conta do horror ao subir numa montanha de lama e escombros, em Nova Friburgo, e perceber que ‘caminhava sobre dezenas de cadáveres’.
Pela primeira vez em vários meses, interrompeu a escrita de seu novo romance, ‘A Felicidade é Fácil’, que vinha ganhando pelo menos um parágrafo por dia, ainda que obrado num saguão de aeroporto. Em Nova Friburgo ‘não tinha como entrar no personagem’.
‘Há coisas inimagináveis acontecendo ali, como as cenas dos pais com seus filhos mortos no colo, inchados por causa do afogamento’, relata. ‘Um comandante dos Bombeiros me falou, em off [sob condição de anonimato], que deve haver cerca de mil mortos só em Nova Friburgo. No final, acho que as notícias serão ainda piores.’
Edney é hoje essa figura dicotômica: ao mesmo tempo em que chafurda a lama em suas reportagens, esquiva-se para redigir um paragrafinho que seja de seu novo livro, ambientado em São Paulo no início dos anos 90.
Está no nono capítulo, planeja ao menos outros seis. Entrega o original à editora Record em junho e espera vê-lo nas livrarias em outubro -mesmas datas em que lançou o sortudo ‘Se eu Fechar os Olhos Agora’ (Record).
Vencedor no ano passado dos Prêmios São Paulo de Literatura, categoria estreante, e Jabuti de Melhor Romance, o livro será traduzido em cinco países até 2012 -França, Alemanha, Holanda, Sérvia e Portugal.
Se o Edney Silvestre fechar os olhos, vai achar que está sonhando. Ainda mais depois de ter abandonado um romance em gestação e desistido de outro, recusado por um editor.
Tendo posto a mão numa bufunfa considerável -R$ 200 mil pelo Prêmio São Paulo e R$ 3 mil pelo Jabuti-, tratou de reinvestir o dinheiro. Transformou um quarto de hóspedes em escritório, comprou um Macintosh do qual passou a apanhar rotineiramente, refez o assoalho de seu apartamento no Rio, no Leblon.
Sua estreia rendeu, ainda, uma polêmica com relação ao Jabuti -que premiou como livro do ano ‘Leite Derramado’, de Chico Buarque, segundo colocado na categoria em que Edney saiu vencedor. Edney nunca cruzou o Chico no Leblon, porque, enquanto ele caminha na areia, Chico prefere o calçadão. Só leu um livro dele, ‘Estorvo’, de 1991. Achou ‘confuso’ -um estorvo.
Jornalista começou como datilógrafo
Se o Edney Silvestre se transformar de fato num grandissíssimo escritor, será mais ou menos como aquele pintor extraordinário que começou a carreira vendendo lata de tinta numa casa de material de construção. Ou o excepcional tenor que surgiu primeiro anunciando na praia os biscoitos Globo.
Edney despontou para as letras como alguém cheio de dedos: no Tribunal Regional Eleitoral de Valença (RJ), sua cidade natal, batia à máquina os títulos de eleitores. Não era bico, mas profissão -datilógrafo, a primeira a constar na carteira de trabalho.
De família simples, sua mãe trabalhou como tecelã e o pai tinha sido funcionário da Central do Brasil, até abrir um armazém, onde vendia ‘de víveres a tamancos’.
Talvez por se chamarem Maria e Joaquim, tenham labutado bastante na hora de batizar os filhos. Saiu assim: Edney, Edmond, Edmir, Edinil, Ederson e Edna.
Edney aprendeu a ler na biblioteca de Valença. Começou com ‘Os Três Porquinhos’, partindo em seguida para Thomas Mann e Joseph Conrad.
Depois de familiarizar-se com o inglês nas sessões contínuas do cinema, passou à leitura da revista ‘Time’.
Hoje fala também um pouco de francês e, ‘macarronicamente’, o italiano.
Já no Rio de Janeiro, datilografava trabalhos escolares e fazia traduções de ‘livros de cowboy’ -o que evoluiu para alguns títulos estrangeiros da então celebrada editora Civilização Brasileira.
Terminou preso pela ditadura, confundido com o editor Ênio da Silveira -que, de acordo com os militares, tentava se safar sob o pseudônimo do falso tradutor Edney Silvestre.
TELEVISÃO
Cooptado pela escrita, foi redator de publicidade, repórter de ‘O Cruzeiro’ e ‘O Globo’. Mandado a Nova York como correspondente do jornal carioca, trocou o impresso pela televisão em meados dos anos 1980.
Dividia a redação com o estúdio improvisado onde Paulo Francis gravava seus comentários, não sem antes emitir duas dúzias de palavrões.
Uma vez, sua mãe ligou de Valença para elogiar: ‘Estava ótima a reportagem de ontem’. Edney estranhou o inesperado interesse de dona Maria pelo assunto da clonagem humana.
‘Não, Edney’, explicou ela, ‘estou falando da sua gravata, estava ótima’.
Sem a gravata, Edney tem o pescoço grande e rosado, além de olhos ligeiramente para fora, uns cílios inclinados para baixo.
Quando vai falar alguma coisa grave, ele franze a sobrancelha sobre o olho direito, ao mesmo tempo em que abre o esquerdo. Repetiu isso toda vez que falou da tragédia na região serrana do Rio, sua última cobertura.
Nela, ele reviveu algumas de suas tragédias pessoais. Como o incêndio que destruiu o pequeno armazém do seu Joaquim no final dos anos 1950.
Edney foi retirado das chamas de pijama, o pai saiu de robe, a mãe, de camisola.
Foi tudo o que restou do patrimônio da família.
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