O Estado de S. Paulo, 13/2
Ethevaldo Siqueira
Dez mudanças em cinco anos
Conectividade talvez seja a palavra que melhor sintetize hoje as tendências tecnológicas da eletrônica para os próximos cinco anos. Nesse horizonte, o mundo estará ingressando na era da eletrônica conectada, em que todos os equipamentos e dispositivos eletrônicos se interligarão, tanto em nossas casas como fora delas, sejam computadores, tablets, iPods, televisores, celulares, equipamentos de áudio, câmeras de foto ou vídeo ou videogames.
Essa integração, aliás, já é uma das marcas da casa digital – também chamada de casa conectada – e do edifício inteligente.
Ela confere maior eficiência e segurança aos dispositivos e mais conforto ao consumidor, embora ainda não passe da ponta de um iceberg.
Tudo começou com a fusão progressiva entre computador, TV e internet.
As dez tendências escolhidas para essa reportagem resultaram de um debate entre jornalistas, pesquisadores e consultores presentes ao Consumer Electronics Show, realizado no começo deste mês, em Las Vegas.
Nossa lista final foi a seguinte: 1. Tablet-mania; 2. Supercelular a 30 Megabits em 2015; 3. Smartphone como carteira eletrônica; 4. Conexões USB dez vezes mais rápidas; 5. TV 3D: com ou sem óculos; 6. Fusão TV-computador-internet; 7. A guerra dos chips; 8. Super telas nítidas à luz do sol; 9. Localizar pessoas pelo celular; e 10. Baixar tudo por streaming (clique e veja, clique e ouça, sem copiar).
Como em toda escolha, há alguma dose de subjetivismo e outras tendências tecnológicas talvez pudessem ser acrescentadas, como, por exemplo: as redes sociais; as superbaterias, que poderão durar dez vezes mais do que as melhores atuais; os supergames; a identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês); a rede elétrica inteligente (smart grid).
Vale ainda registrar que existem tendências mais abrangentes que deverão ter grande influência no desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, como: casa inteligente, carro digital, eletrônica verde, revolução das redes sociais, escola do futuro, teleducação, teletrabalho e telemedicina.
Essas grandes áreas e segmentos envolvem múltiplas tecnologias e conceitos.
O Estado de S. Paulo, 13/2
Ethevaldo Siqueira
O futuro das imagens 3D
A maioria das pessoas se apaixona pelas imagens tridimensionais. A nova tecnologia ganhou espaço na mídia em 2009. O ano de 2010, por sua vez, foi da popularização da sigla 3D, como sinônimo de imagem tridimensional. E 2011 como será? Talvez seja o ano da consolidação.
A dúvida do consumidor, no entanto, ainda é a mesma: será que esse mundo 3D vai pegar? Do ponto de vista da indústria e de seus marqueteiros, a TV e o cinema tridimensionais chegaram para ficar.
É bem provável que eles tenham razão. Embora ainda haja muitos desafios a superar, o futuro das imagens 3D de alta definição parece não ter mais volta.
Akira Shimazu, diretor de 3D da Sony japonesa, em entrevista recente a esta coluna, dizia: ‘Esse novo mundo das comunicações visuais só se consolidará e chegará ao maior número possível de lares quando englobar a totalidade da cadeia de valores da imagem tridimensional’.
Esse é o ponto central da estratégia industrial: pensar não apenas em televisores e cinema 3D, mas em toda a cadeia de valores, isto é, no conjunto dos produtos e aplicações que poderão utilizar com vantagem as imagens tridimensionais.
Essa cadeia é muito mais ampla, pois nela se incluem os videogames 3D, o Blu-ray disc 3D, o home theater 3D, os projetores 3D de alta definição (HD), as câmeras filmadoras de uso pessoal e doméstico HD e 3D, as aplicações em medicina e educação, a fotografia ou still picture 3D, os notebooks e desktops com monitores 3D.
Para muitos especialistas, 2011 é o ano da chegada de diversas aplicações do 3D em celulares, iPods e tablets, bem como da opção lançada pela Toshiba japonesa, da TV 3D sem necessidade de óculos.
Terceira febre. Ouvi recentemente alguns analistas e professores que estudam o problema, tanto do ponto de vista acadêmico quanto industrial, entre os quais, o professor Takashi Kawai, da Faculdade de Engenharia da Universidade de Waseda, de Tóquio.
Kawai lembra que ‘estamos vivendo a terceira febre das imagens estereoscópicas’. É verdade: as imagens 3D não são coisa nova. Pelo contrário, já tiveram pelo menos dois momentos, nos anos 1950 e nos 1980, em que elas foram anunciadas com estardalhaço em todo o mundo.
Por que a novidade não pegou? Porque, no passado, com a tecnologia analógica, ela tinha muitas limitações e não conseguiu popularizar-se. Agora tudo é diferente, pois ela conta com a tecnologia digital e com recursos muito mais poderosos.
Para o professor japonês, ‘a insistência em ressurgir talvez signifique que a tridimensionalidade seja, mesmo, um sonho dos seres humanos’.
Um fator positivo nessa direção é o fato de a indústria cinematográfica ter desenvolvido um padrão 3D que pode ser adotado mundialmente.
Além disso, os filmes de Hollywood são compatíveis com o padrão 3D dos consoles de videogames e dispositivos móveis que estão sendo anunciados e lançados por diversos fabricantes.
Desafios atuais. Embora haja muito otimismo na possível popularização da 3D e essa tecnologia contribua, realmente, para o advento de uma nova indústria e de uma nova cultura, ainda subsistem muitas dúvidas sobre os méritos e sobre o valor agregado que ela possa representar para os usuários.
Pense você, leitor, como responderia a esta pergunta: ‘Qual é a vantagem que você vê nos filmes de cinema ou nos programas de TV em 3D?’ Talvez a vantagem mais comum e mais mencionada na resposta seja: ‘as coisas parecem saltar da tela’.
O mundo precisa da comprovação científica de que as imagens 3D causam sensações efetivamente diferentes das que sentimos diante de imagens 2D. Precisamos saber que elementos das imagens 3D exercem maior apelo ou atração sobre as pessoas. Sem esses elementos de convicção o boom atual corre o risco de ser apenas mais uma onda temporária.
Em seu laboratório, na Universidade Waseda, o professor Takashi Kawai estudou o movimento das pupilas do espectador diante de diversos filmes em 3D comparativamente com filmes em 2D. É curioso que, quando assistem a filmes tradicionais em 2D, as pessoas concentrem mais sua atenção na fisionomia das pessoas.
Quando assistem a filmes 3D, no entanto, os expectadores não concentram sua atenção apenas na face ou na fisionomia das pessoas, mas, também, nos demais objetos em seu entorno ou no fundo. Que significado têm essas diferenças?
Além de envolver com essas questões, o professor Kawai discute e se preocupa com o futuro da tecnologia 3D. Uma das direções desse futuro está nas aplicações possíveis do mundo 3D.
No Japão, os pesquisadores pensam até em utilizar as tecnologias de imagens tridimensionais no processo de alfabetização de crianças.
O propósito dessas pesquisas é verificar o impacto da 3D na percepção das formas, em comparação com imagens 2D, no processo de alfabetização e nas primeiras etapas da educação infantil.
Sólidos. Outra direção das pesquisas da Universidade de Waseda se relaciona com a experiência perceptiva da visão tridimensional, em combinação com a experiência táctil. Especificamente, o que o grupo de pesquisa conseguiu foi criar a sensação de um corpo sólido.
Numa próxima geração da tecnologia 3D, é provável que se possam combinar sensações tácteis com a visão tridimensional, para conferir maior realismo às cenas dramáticas, de filmes ou de jogos eletrônicos.