1.
2.
Esta despolitização decorre, entre outros fatores, do fato de que quem faz a comunicação política domina a expertise da comunicação, não a da política;3.
A profissionalização da comunicação política se dá pelo uso intensivo e extensivo das pesquisas eleitorais e de opinião pública;4.
Tal circunstância inverte as características tradicionais da política;5.
Na política tradicional, clássica, aristotélica, que marcou a história dos povos ocidentais, o traço fundamental era a retórica, a persuasão, o argumento. As pessoas convenciam-se ou não com a argumentação política do orador;6.
Na comunicação política profissionalizada, a opinião da população é previamente apurada e levantada pelas pesquisas. Cabe ao político, com o auxílio decisivo do marqueteiro, mostrar-se como a melhor expressão da vontade da maioria;7.
Em síntese, basta apresentar o candidato como o mais capaz de expressar e resolver os problemas urgentes da população;8.
A comunicação política profissionalizada, enfim, é um retrocesso na medida em que a política adapta a retórica da política à vontade idealizada da população previamente apurada. Ao invés de propor e submeter as opiniões, propostas e projetos ao mercado de idéias;9.
Os temas programáticos e doutrinários dos partidos – a marca que identifica e diferencia os partidos políticos entre si – têm sido desprezados, quando não são simplesmente abandonados;10.
Esse último ponto do item anterior sinaliza uma importante mudança nas funções e papéis desempenhados pelos partidos políticos. Hoje são instituições da sociedade civil com imensas dificuldades de se apresentarem como opções políticas para o cidadão;11.
A propaganda política, sob responsabilidade dos partidos políticos, e executada pelos marqueteiros, não encontrou solução para o voto proporcional;12.
O marketing político foi capaz de modernizar e criar algum grau de atração no debate majoritário;13.
Mas o uso de pesquisas de opinião como forma de apurar o pensamento médio ou a opinião pública impede a percepção de um arranjo diversificado das correntes de opinião;14.
Há muito mais propaganda do que jornalismo nas campanhas políticas;15.
Este fato evidencia-se claramente na TV. Grosso modo, nos períodos eleitorais, para cada 30 minutos de propaganda no horário nobre, são 3 minutos de jornalismo nos telejornais;16.
Daí decorre que, particularmente em períodos eleitorais, o eleitor é muito mais exposto à propaganda do que ao jornalismo. Em outras palavras: a quantidade de produção jornalística (em circunstâncias excepcionais, como uma campanha presidencial) pode até ser elevada. Mas o jornalismo que efetivamente alcança o eleitor-cidadão é mínimo;17.
Além disso, as campanhas majoritárias são amplamente mais comunicadas do que aquelas proporcionais;18.
Como decorrência, o voto proporcional, na política contemporânea, tem características anacrônicas, ampliando e agravando o que a teoria política tem chamado de crise de representação;19.
O voto proporcional não se adapta à TV porque ainda solicita algum tipo de relação vivencial na definição do voto. Formalmente, representa opiniões e/ou interesses;20.
A tendência da comunicação política de falar para todos dificulta a expressão de interesses e opiniões conflitantes, fundamentais para o esclarecimento do eleitor quando da opção pelo seu candidato proporcional.******
Jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, autor de Democracia de massas: jornalismo e cidadania e integrante da Rede Nacional dos Observatórios de Imprensa (Renoi)