Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Vinte teses sobre a comunicação, o marketing e a política


1. A política contemporânea apresenta-se despolitizada ao cidadão;


2. Esta despolitização decorre, entre outros fatores, do fato de que quem faz a comunicação política domina a expertise da comunicação, não a da política;


3. A profissionalização da comunicação política se dá pelo uso intensivo e extensivo das pesquisas eleitorais e de opinião pública;


4. Tal circunstância inverte as características tradicionais da política;


5. Na política tradicional, clássica, aristotélica, que marcou a história dos povos ocidentais, o traço fundamental era a retórica, a persuasão, o argumento. As pessoas convenciam-se ou não com a argumentação política do orador;


6. Na comunicação política profissionalizada, a opinião da população é previamente apurada e levantada pelas pesquisas. Cabe ao político, com o auxílio decisivo do marqueteiro, mostrar-se como a melhor expressão da vontade da maioria;


7. Em síntese, basta apresentar o candidato como o mais capaz de expressar e resolver os problemas urgentes da população;


8. A comunicação política profissionalizada, enfim, é um retrocesso na medida em que a política adapta a retórica da política à vontade idealizada da população previamente apurada. Ao invés de propor e submeter as opiniões, propostas e projetos ao mercado de idéias;


9. Os temas programáticos e doutrinários dos partidos – a marca que identifica e diferencia os partidos políticos entre si – têm sido desprezados, quando não são simplesmente abandonados;


10. Esse último ponto do item anterior sinaliza uma importante mudança nas funções e papéis desempenhados pelos partidos políticos. Hoje são instituições da sociedade civil com imensas dificuldades de se apresentarem como opções políticas para o cidadão;


11. A propaganda política, sob responsabilidade dos partidos políticos, e executada pelos marqueteiros, não encontrou solução para o voto proporcional;


12. O marketing político foi capaz de modernizar e criar algum grau de atração no debate majoritário;


13. Mas o uso de pesquisas de opinião como forma de apurar o pensamento médio ou a opinião pública impede a percepção de um arranjo diversificado das correntes de opinião;


14. Há muito mais propaganda do que jornalismo nas campanhas políticas;


15. Este fato evidencia-se claramente na TV. Grosso modo, nos períodos eleitorais, para cada 30 minutos de propaganda no horário nobre, são 3 minutos de jornalismo nos telejornais;


16. Daí decorre que, particularmente em períodos eleitorais, o eleitor é muito mais exposto à propaganda do que ao jornalismo. Em outras palavras: a quantidade de produção jornalística (em circunstâncias excepcionais, como uma campanha presidencial) pode até ser elevada. Mas o jornalismo que efetivamente alcança o eleitor-cidadão é mínimo;


17. Além disso, as campanhas majoritárias são amplamente mais comunicadas do que aquelas proporcionais;


18. Como decorrência, o voto proporcional, na política contemporânea, tem características anacrônicas, ampliando e agravando o que a teoria política tem chamado de crise de representação;


19. O voto proporcional não se adapta à TV porque ainda solicita algum tipo de relação vivencial na definição do voto. Formalmente, representa opiniões e/ou interesses;


20. A tendência da comunicação política de falar para todos dificulta a expressão de interesses e opiniões conflitantes, fundamentais para o esclarecimento do eleitor quando da opção pelo seu candidato proporcional.

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Jornalista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, autor de Democracia de massas: jornalismo e cidadania e integrante da Rede Nacional dos Observatórios de Imprensa (Renoi)