Em 2006, após ser demitida da HarperCollins, a editora Judith Regan afirmou que um executivo do alto escalão da News Corporation, proprietária da editora, a havia encorajado a mentir, dois anos antes, para investigadores federais que avaliavam o nome de Bernard Kerik para o cargo de secretário de segurança nacional. Kerik, com quem Judith havia tido um relacionamento, tinha sido comissário de polícia do prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que na ocasião estava nos estágios iniciais de sua campanha à presidência. O tal executivo da News Corp, que Judith não identificou, queria proteger Giuliani, alegou ela. Na época, o mistério intrigou a mídia americana.
Agora, ele chegou ao fim. Documentos apresentados em um processo aberto em 2008 pelos advogados que representaram Judith contra a News Corp na rescisão de seu contrato – e que a acusam de demiti-los na noite do acordo com a empresa para não pagá-los uma taxa de contingência de 25% – deixaram claro quem ela acusava de tê-la feito mentir: tratava-se de Roger Ailes, presidente do canal de TV Fox News e amigo de longa data de Giuliani. Os documentos dão conta de que Judith teria gravado uma conversa telefônica em que Ailes discutia seu relacionamento com Kerik. Não se sabe se a existência desta gravação teria influenciado na decisão da News Corp de aceitar um acordo rápido e confidencial com Judith em 2007, pagando a ela mais de US$ 10 milhões.
Segundo Daniel Richman, professor de Direito de Columbia, dependendo do conteúdo, a conversa telefônica poderia configurar conspiração para mentir para agentes federais, o que constituiria crime federal. No mínimo, se for divulgada, a gravação seria embaraçosa para Ailes. O executivo, que já atuou como consultor de Richard Nixon, é acusado por críticos de manipular a cobertura da Fox News para beneficiar republicanos e prejudicar democratas.
Uma porta-voz da News Corp não negou que Ailes seja o executivo citado, mas afirmou que a companhia possui uma carta de Judith em que ela diz que ele não teve a intenção de influenciá-la durante a investigação governamental. Portanto, segundo a porta-voz, o assunto estaria encerrado.
De mal a pior
O caso é curioso por envolver pessoas que tiveram colapsos grandiosos em suas carreiras.
Judith foi demitida depois da controvérsia sobre o livro If I Did It (Se eu tivesse feito), que traria uma confissão hipotética do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson sobre o assassinato de sua mulher. O magnata Rupert Murdoch, dono da News Corp, teria dito que recebeu maus conselhos de Judith para publicar o livro – que acabou sendo cancelado.
Oficialmente, a editora foi demitida por ter feito um comentário anti-semita a um advogado judeu da HarperCollins. Ela teria descrito uma ‘campanha interna’ por sua demissão como uma ‘conspiração judaica’. Em sua briga com a News Corp, Judith alegou que as controvérsias sobre o livro foram forjadas, assim como o comentário anti-semita – tudo parte de um plano para desacreditá-la caso ela resolvesse falar coisas sobre Kerik que viessem a prejudicar a carreira política de Giuliani.
Kerik, por sua vez, foi preso no ano passado após se declarar culpado por sonegação de impostos e mentir para oficiais da Casa Branca.
A firma de advocacia contratada por Judith para seu processo contra a News Corp abriu falência em 2008 quando seu diretor, Marc Dreier, foi acusado de envolvimento em um esquema de fraude de US$ 100 milhões. A ação aberta pela firma contra Judith pelo pagamento da taxa de contingência é tocada por um conselho que cuida da dissolução da empresa. As informações são de Russ Buettner [The News York Times, 24/2/11].