Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

‘‘A glória da imprensa foi feita por gente com opiniões fortes e inconformistas.’ (Paulo Francis, jornalista)

Uma das características que diferem um bom jornalista de outro é quando ele mantém o senso crítico diante de um assunto ou de uma fonte. Quando se acomoda na simples declaração, na mera constatação do fato vira um burocrata da comunicação. Incentivar a análise e comparações tem sido uma das principais bandeiras do ombudsmam nas avaliações diárias.

Em dois momentos esta semana, O POVO teve grande oportunidade de dar ao leitor uma boa dose de que tem assimilado esta tese. A primeira, na entrevista com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, publicada dia 16, na página 22 (Economia). Em uma notinha, na seção ‘Saiba mais’, o ministro revelou a existência de um estudo sobre locais autorizados para a instalação de estaleiros. A segunda, na página 4 (Fortaleza) na matéria ‘Tiroteio e morte na ambulância’, quando um fugitivo da Colônia Agrícola do Amanari provocou uma desordem na cidade.

Agilidade e análise

A possibilidade de instalação do estaleiro na praia do Titanzinho tem dominado o noticiário e já caiu para a disputa política. Afora as bravatas – para deleite da crônica política – há fatos concretos. A informação de um estudo do Ministério do Meio Ambiente sobre o assunto não foi divulgada ainda. Era a novidade. E ninguém foi atrás da informação. Faltou agilidade.

Já no segundo caso faltou senso analítico. O assaltante morto fugiu do mesmo local de onde havia escapado o assassino da menina Alanis, morta em janeiro, caso que mobilizou a cidade. Há algo de errado naquele local. Não houve nem sequer uma citação da coincidência na matéria e nenhum questionamento das autoridades sobre as constantes fugas do local. Muito menos do processo que a Polícia utiliza para voltar a prender esses fugitivos. Se é que há algum.

Jornal decreta falência de empresa

O noticiário econômico tornou-se ponto vital para a imprensa brasileira a partir do final da década de 70 e início dos anos 80. Hoje a área é uma das com maior índice de leitura e de influência na população. Daí a importância que toda informação seja bem apurada. Não foi bem o que aconteceu na edição de sábado (13) na série que O POVO publicou sobre os 20 anos do Plano Collor. Na matéria coordenada intitulada ‘Desespero levou muitos ao fundo do poço’, o jornal deu como verdadeira as informações de um entrevistado que afirmara não ter recebido mais o dinheiro bloqueado pelo Plano, em 1990, porque ‘logo depois a Domus, instituição onde tinha poupança, faliu’.

Irritado, o gerente administrativo e financeiro da Domus, Márcio R. Silva, qualificou, em e-mail para o ombudsman, como ‘mentirosa, caluniosa e desprovida de fundamento’ a informação. A empresa não faliu e atua hoje no financiamento de construção e aquisição de unidades habitacionais. E mais. Desde 1985 já não trabalhava mais com poupança. ‘Portanto, impossível que o senhor Antônio Maria, em 1990, tivesse depósito de poupança na Domus’ explicou.

Faltou atenção

De fato, a Domus continua em operação e pode ser facilmente localizada em sites de busca como o Google. Na realidade, o banco de dados do próprio O POVO teria esclarecido. Em novembro de 2008, o entrevistado das Páginas Azuis do dia 17 foi o empresário Elano Vieira de Oliveira Paula, fundador e presidente da Domus. Na matéria ele falava dos planos e das atividades da empresa, em pleno funcionamento. Difícil esquecer também o fato de ele ser jornalista e irmão mais velho do humorista Chico Anysio.

‘Ao citar a Domus como uma instituição falida, a reportagem peca em não praticar o verdadeiro jornalismo, que deve ser pautado, primordialmente, na constatação da veracidade dos fatos’ finalizou o gerente da Domus. Questionada sobre o assunto, a jornalista Neila Fontenele, editora-executiva do Núcleo de Negócios, responsável pelas matérias, não deu retorno ao ombudsman. Nem foi publicada qualquer retificação até o fechamento desta coluna.

Virou rotina

‘Eu fico revoltada com isso. É preciso que haja revisão, pelo menos nas manchetes’. O desabafo da leitora e professora Hilda Praxedes é reflexo de mais um erro na manchete do jornal, o segundo em 15 dias. A falha aconteceu na terça-feira (16), na capa, a principal página da edição. ‘Consumo de água e energia batem (sic) níveis históricos’ dizia a manchete, mostrando todo o erro de concordância do verbo com o sujeito. Segundo a leitora, assinante há vários anos, o jornal cai nas mãos de estudantes e minimiza os constantes conselhos dos professores de que a leitura é essencial. Nesse caso, não foi. O correto seria ‘Consumo de água e energia bate níveis históricos’.

Dois dias depois, nova manifestação. No ponto de vista ‘Não mais uma desconhecida’, de um dos editores do Núcleo, publicado na página 17 (Política), saiu a palavra ‘exita’ – que não existe – no lugar de ‘hesita’. O leitor Raimundo Nonato criticou a falha, ainda mais vinda de um editor. ‘Eles são um exemplo para os mais novos. Precisam ler e reler, para evitar erros’ aconselhou. Francisco de Assis Garcia também lamentou a falha. ‘O jornal está muito diferente nos últimos anos. Muitos erros’ desabafou. A correção, em ambos os casos, foi realizada no dia seguinte como manda o Guia do O POVO. Porém, parece ser necessário um instrumento mais eficaz.’