Reproduzido do blog Entrelinhas, 27/06/06 A TV Globo exagerou ao pedir desculpas ao técnico Carlos Alberto Parreira após ter revelado, por meio de leitura labial, no programa Fantástico, algumas frases ditas por ele a outros integrantes da comissão técnica da seleção brasileira durante o jogo contra o Japão, na semana passada.
Ao contrário de Luiz Felipe Scolari, técnico de Portugal, Parreira faz o tipo ‘gentleman’ – dá entrevistas em inglês, trata a todos com cortesia e dificilmente perde a paciência com as cobranças dos jornalistas – e tem razão de estar aborrecido com a divulgação das frases em que aparece dizendo palavrões. A Globo, porém, não precisava se aborrecer, muito menos pedir desculpas. Tudo que um homem público diz é notícia.
A história de Parreira lembra outra, que aconteceu com o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2002, durante a campanha, Lula resolveu fuma brincadeira com seu correligionário Fernando Marroni, à época prefeito de Pelotas, e disse: ‘Pelotas é um pólo exportador’. Marroni assentiu e o candidato completou: ‘Exportador de veados’. A conversa estava sendo gravada, a gravação foi parar nas mãos de adversários políticos e divulgada para todo o Brasil (apesar da fita, ou por causa dela, Lula venceu o pleito em Pelotas).
Conforme escreveu em seu blog o jornalista Juca Kfouri, Parreira teria razão em reclamar se a Globo tivesse gravado a preleção aos seus jogadores, no vestiário, sem o seu consentimento, como ocorreu certa vez justamente com Luiz Felipe Scolari. De fato, o que o técnico diz em campo é público, qualquer um pode ouvir, se estiver bem posicionado, e reportar. Juca Kfouri tem razão e o que vale para Parreira vale para o presidente Lula – quem errou em Pelotas foi ele, e não o ‘companheiro’ que passou a gravação para seus adversários.
Se Parreira quer privacidade em campo, pode vestir uma daquelas máscaras cirúrgicas para ninguém ler os seus lábios. Talvez os jogadores também não entendam muito bem as ordens do técnico, o que em certos casos pode até ser uma vantagem para o escrete nacional.