Comentários anônimos no site doWashington Post são, muitas vezes, rudes e cruéis, em especial quando figuras públicas são o alvo, afirma o ombudsman do jornal, Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [4/4/10]. ‘Excelente! Espero que tenha sofrido!’, escreveu um internauta quando o colunista Robert Novak morreu, em agosto. O senador Edward M. Kennedy, que faleceu uma semana depois, também não foi poupado. ‘Vão enterrá-lo em um lugar secreto, para que ninguém defeque em seu túmulo’, dizia um comentário.
Aqueles que têm vida pública já esperam pelo pior. Mas pessoas que não são famosas e acabam aparecendo no diário também podem receber comentários devastadores. Os repórteres do jornal dizem que muitas fontes acabam se arrependendo de conceder entrevistas que resultam em ataques anônimos. ‘Acho que esta é uma grande questão noPost. Nós os estamos jogando aos lobos, se não moderarmos os comentários’, opina o repórter Ian Shapira.
Ellen McCarthy, repórter que escreve uma coluna dominical com histórias de casais recém-casados, explica que gasta horas de seus fins de semana monitorando comentários. Alguns são tão cruéis que acabam sendo apagados. Um deles, por exemplo, implorava à noiva que fizesse um seguro de vida para o seu novo marido, sugerindo que sua obesidade acabaria o matando em breve. Outros jornalistas dizem que também gastam seu tempo para moderar os comentários depois que suas matérias vão para o site, a fim de remover os inapropriados. Algumas mensagens são tão venenosas que o repórter de religião, William Wan, aconselha seus entrevistados a evitar lê-los.
Ainda assim, são poucos os casos em que pessoas que contribuíram com alguma pauta se recusam a fazê-lo de novo por conta dos comentários maldosos. Michael J. Sutherland, que lidera a American Collections Enterprise, relutou a ser entrevistado para uma matéria de fevereiro, mas acabou cedendo. ‘Eu tinha jurado não dar outra entrevista, por conta dos comentários negativos’, confessou.
Em defesa do anonimato
Muitos acreditam que os comentários deveriam deixar de ser anônimos. Mas, segundo Alexander, para cada comentário negativo, muitos outros são inteligentes e estimulantes. O anonimato garante a proteção necessária para aqueles cujas circunstâncias pessoais ou de trabalho não permitem que se identifiquem. E até as mensagens mais destrutivas refletem, em geral, uma paixão genuína que deve ser ouvida.
Em um mês típico, mais de 320 mil comentários são publicados nas matérias, colunas e blogs. Isto representa 1/3 a mais do que há um ano, diz Hal Straus, que supervisiona os comentários no site. O crescimento é crítico à sobrevivência financeira do jornal, na inevitável migração do impresso para o online. Levando em conta o objetivo de consolidar a audiência na internet, a quantidade de comentários torna-se peça chave. Quando um leitor cadastra-se para poder comentar no site doPost, ele tem que concordar em não escrever comentários ‘inapropriados’, incluindo os que incitam ódio e violência ou os racistas.
O site baseia-se na autocensura dos leitores e, quando alguém denuncia algum comentário inapropriado, ele é retirado do ar. Cerca de 300 são apagados diariamente. Outros acabam escapando, pois há poucos funcionários para monitorar tudo. Em alguns meses, oPost deve implementar um sistema de monitoramento que deve contribuir para lidar com os comentários abusivos.