A coluna ‘Painel’ da Folha de S.Paulo tem-se notabilizado pela divulgação de dados obscuros e incompletos relativos a ‘pesquisas’ de opinião sobre a sucessão presidencial. Essas pesquisas, em geral divulgadas exclusivamente pela coluna, vêm seguidamente dando conta de ‘reações’ de Geraldo Alckmin. Seriam pesquisas feitas por telefone ou por outros métodos estatísticos questionáveis.
Na segunda-feira (26/6), a coluna divulgou novamente uma pesquisa que teria sido feita pelo instituto Vox Populi e que daria conta de que Alckmin teria assumido de novo a dianteira em São Paulo, contrariando recente pesquisa do Ibope que mostrou o contrário. Entretanto, a coluna não deu detalhe algum sobre uma pesquisa até então desconhecida. Não se sabe se foi registrada no TSE, qual o universo de eleitores pesquisado, qual a margem de erro etc. O que se sabe, apenas, é que a sondagem favoreceria o candidato tucano. E o pior é que não é a primeira vez que a coluna de responsabilidade da jornalista Renata Lo Prete faz isso. Já aconteceu muitas vezes.
Até o ombudsman da Folha já questionou essas divulgações obscuras que a coluna ‘Painel’ faz freqüentemente de pesquisas favorecendo o candidato tucano à presidência da República e que depois se mostram erradas. Aliás, se somássemos todas as críticas que o ombudsman já fez a matérias da Folha artificialmente favoráveis à oposição e prejudiciais ao governo, por apresentarem dados incertos, parciais ou distorcidos, haveria subsídios mais que suficientes para afirmar que o jornal tem sido o que jura que não é, ou seja, partidário da oposição tucano-pefelista.
E o pior é que as advertências do ouvidor da Folha de que ela está perdendo credibilidade por conta desse procedimento não têm sensibilizado sua direção. Pelo visto, o partidarismo que o ombudsman tem denunciado deve estar rendendo alguma coisa para o jornal que ele considera mais importante do que credibilidade. Então fica a pergunta: o que pode ser mais importante para um órgão de imprensa do que sua credibilidade?
Institutos independentes
Acredito que pesquisas falsas voltarão a ser usadas antes da eleição presidencial. Elas foram usadas no fim do ano passado. Mostraram uma queda considerável das intenções de voto de Lula por uns dois ou três meses. No começo deste ano, no entanto, inexplicavelmente Lula disparou na corrida eleitoral. Isso aconteceu antes do aumento do salário mínimo e de outras medidas do governo federal que a mídia considerou ‘populistas’, de maneira que não havia explicação para o presidente ter superado tão rápida e avassaladoramente os então pré-candidatos tucanos à presidência Geraldo Alckmin e José Serra.
Mais recentemente, houve uma suspeitíssima e considerável divergência entre os institutos Sensus, Datafolha e Ibope no que tange as rejeições de Alckmin e de Lula. No Sensus e no Ibope, a rejeição de Lula apareceu uns 4 ou 5 pontos percentuais menor do que a de Alckmin; no Datafolha, a rejeição do petista era o dobro da do tucano.
A explicação da Folha de S.Paulo (dona do Datafolha) foi a de que as ‘metodologias’ seriam diferentes, o que não explica nada porque todas as metodologias objetivam simplesmente saber em quem o eleitor não votaria de jeito nenhum. Além do que, estando Lula tão à frente de Alckmin nas intenções de voto, o mais coerente é supor que seja menos rejeitado. Contudo, o Datafolha divergiu muitos pontos percentuais dos outros dois institutos nesse ponto da rejeição e ninguém na mídia inteira questionou. Suspeitíssimo, não é?
Em razão das considerações já mencionadas, volto a apelar ao presidente Lula e a seu partido para que contratem urgentemente institutos de pesquisa independentes – se possível, no exterior – para fazerem pesquisas paralelas às dos institutos nacionais. Acredito que a mídia tentará desencadear um efeito manada em favor de Geraldo Alckmin divulgando falsamente que ele subiu na preferência popular.
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Comerciante, São Paulo (SP