Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os dinossauros da mídia ainda dão as cartas

Dez anos após a aprovação do Telecommunications Act, a lei geral de comunicações dos Estados Unidos, a revista The Nation volta a publicar uma edição especial sobre o estado da indústria de mídia nos Estados Unidos. O mapa que ilustra a reportagem (ver aqui) dá uma idéia dos poderosos tentáculos de quatro gigantescos conglomerados que vêm, crescentemente, determinando nesse período como os americanos – e boa parte do resto da humanidade – obtêm informações e entretenimento.

Time Warner, General Electric, Disney/Cap Cities/ABC e Westighouse são os nomes dos donos da opinião predominante no mundo mediado. Depois de uma década de fusões e aquisições, associações e divórcios escandalosos entre grandes empresas, além do nascimento e consolidação da chamada ‘nova mídia’, ainda são fortes as pegadas dos dinossauros que se uniram para preservar seu poder de influência – mas um novo cenário começa a ser vislumbrado.

A ‘nova mídia’, que se movimenta pela lógica da maior diversidade na propriedade dos meios de comunicação, aparece em pontos estratégicos no latifúndio dos grandes oligopólios, sustentada pelo resistente movimento de cidadania que busca expandir o caráter democrático da internet.

Casamento de interesses

Na opinião de alguns dos especialistas convidados por The Nation, no entanto, o ingresso de poderosos protagonistas da ‘nova mídia’ – como Microsoft, Google e Yahoo! – no jogo mais amplo da notícia e do entretenimento não garante uma mudança radical na cena. Os dinossauros da ‘velha mídia’ estão tentando colonizar a rede mundial, usando seu poder para tentar limitar as liberdades na Internet, o que não permite grandes sonhos de mudança. Além disso, existe a possibilidade de fusões entre os velhos protagonistas e as empresas que nasceram e cresceram na web, o que daria uma sobrevida ao velho modelo. Bill Gates seria um Rupert Murdoch mais palatável?

O mapa do poder na mídia publicado por The Nation não inclui os gigantes da internet porque eles não possuem grandes operações de televisão, ainda considerado o meio predileto das grandes massas. Mas não está descartada a hipótese de que uma futura versão do estudo venha a colocar no topo do poder a Microsoft, Google e Yahoo! – ou outros protagonistas do sempre surpreendente mundo da internet, capaz de gerar grandes conglomerados quase instantaneamente. Isso porque a BroadbandTV – a TV por banda larga – pode se espalhar rapidamente a partir das experiências em curso durante a Copa do Mundo da Alemanha, ou por um casamento de interesses entre um conglomerado da ‘velha mídia’ e um dos novos webprotagonistas.

Escolha democrática

De qualquer modo, convém temperar a análise da The Nation com uma pitada de macroeconomia. Como no resto do mundo real, o universo da mídia não pode escapar de certas leis que definem as chances de sobrevivência das empresas. Lá no topo da pirâmide, não há sinais de crescimento real – apenas movimentos laterais de compras, fusões, associações, intercâmbio de ações, que se sustentam porque o produto resultante da convergência de interesses dos dinossauros coincide com a predominância do conservadorismo na política americana.

Na base da pirâmide, a diversidade e a escolha democrática são fatores de sustentabilidade, o que autoriza a certo otimismo, no longo prazo, quanto às chances de uma nova mídia menos dependente de interesses econômicos oligopolizados.

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Jornalista