Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

‘O jornalismo de serviço ensina, previne, anima, adverte e aconselha. Maria Pilar Diezhandino, pesquisadora espanhola

Um dos grandes desafios no jornalismo é a prestação de serviço. Cada vez mais o noticiário se volta para dicas aos leitores sobre qual melhor forma de declarar o Imposto de Renda, votar, trocar uma simples lâmpada ou, simplesmente, a melhor programação da TV. Um dos mais tradicionais é a divulgação dos resultados de loterias. Apostadores locais costumar cumprir acordo somente se estiver publicado no jornal. É em cima dessa tradição que o leitor Washington Lima pede mais atenção aos jornalistas na publicação dos números da loteria. ‘Se eu não presto atenção poderia ter rasgado meu cartão’, desabafou ele. Outro leitor, Valmir Nogueira, diz que no resultado da Quina os números saíram repetidos.

Realmente. Se você for conferir o jogo pelos resultados do O POVO tenha cuidado. Os dois leitores se referem ao que foi publicado na edição de terça-feira, 20 de abril, na página 2. No quadro Loterias há completa desatualização. O resultado da Quina saiu com cinco números 13 & logo ele. Já o resultado da Lotofacil se referia ao concurso número 376, de um mês atrás, quando o correto era o de número 523. O alerta foi repassado à Redação, mas não foi feita qualquer correção. Há várias ações na Justiça de leitores que pedem indenização de empresas jornalísticas por estas terem divulgado resultados errados – já imaginou rasgar um bilhete da megassena premiado? Porém, mais que a indenização, é preciso atenção a esse serviço básico em nome da credibilidade do veículo de comunicação.

Panela queimada

Outro exemplo desserviço aconteceu no Buchicho do último dia 21 de abril. Pode parecer até banalidade, mas para quem tem o prazer de cozinhar, a falha do jornal atrapalhou os planos da leitora Celina Corte Pinheiro. ‘Gosto de ler receitas e algumas eu arquivo. Contudo, às vezes, flagro erros que tornam a receita duvidosa. E eles não são raros’, lamentou. O erro a que ela se refere foi publicado na coluna ‘Dica do Chef’ da quarta-feira passada. A colunista promete ensinar como fazer duas tacas espanholas, uma espécie de aperitivo tradicional da Espanha.

A página é ilustrada com a foto de um apetitoso prato de tacas. Despertada a fome, vem o problema. Não existem duas receitas na matéria, apenas uma: a de taca de salmão. No modo de preparo, porém, os ingredientes que aparecem são completamente diferentes. ‘Enfim, não dá para confiar e se arriscar na cozinha’, finalizou ela.

Joaquim, o esquecido

A título de informar o que significava o feriado da última quarta-feira e o que funcionava na cidade, O POVO publicou matéria na editoria Fortaleza, na edição do dia 20, com o insólito título: ‘Quem é o homem do feriado?’. Uma matéria simples de se fazer, com dados históricos e informações básicas sobre funcionamento de shoppings, bancos, hospitais, etc. Tinha tudo para ser uma tarefa fácil. Tinha. Complicou-se a partir da escolha do título. O tal ‘homem do feriado’ é Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, líder da Inconfidência Mineira e um dos personagens mais importantes da história do Brasil. Qualquer aluno da rede básica sabe disso & ou pelo menos deveria saber.

O texto, porém, além de mudar a rua e o tradicional clube Tiradentes do bairro Rodolfo Teófilo para o Henrique Jorge, ainda alterou um dado histórico: o nome completo do personagem. Esqueceram o Joaquim. Para o leitor João Alfredo da Silva, o texto não faz justiça à importância histórica de Tiradentes. ‘E ainda lhe conspurca o direito ao nome. Quem é José da Silva Xavier? O ‘homem do feriado’ é Joaquim José da Silva Xavier’, desabafa. O leitor José Valdesley Alves condena o esquecimento. ‘Seu nome é citado duas vezes, ambas com a omissão do primeiro termo, Joaquim. Por quê?’ indaga. Imagina se fosse para dizer quem traiu Tiradentes? Seria Silvério dos Reis..

Manchetes policiais

O POVO termina a semana com uma estranha estatística. Das sete manchetes de primeira página publicadas de sábado até a última sexta-feira, seis se referem ao tema segurança. Um percentual de quase 86%. Senão vejamos: Sábado, 17 – Polícia faz operação Arrastão e prende 42; Domingo, 18 – Serra 38%; Dilma 28%; Segunda-feira, 19 – Chefe da rota de cocaína no Nordeste é preso na Capital; Terça, 20 – Cocaína pura seria consumida na Capital; Quarta, 21 – Presa quadrilha que planejava sequestro de empresário; Quinta, 22 – Secretaria endurece contra desvios de conduta; Sexta, 23 – Ambientalista ligado à Igreja é morto com 19 tiros.

Para efeito de comparação, no mesmo período, o Diário do Nordeste teve quatro manchetes policiais, com assuntos diferentes, mas relacionados ao tema segurança. Apesar do meu incômodo pelo excesso policial nos jornais cearenses, nenhum leitor se manifestou. Segundo a chefia de redação a factualidade falou mais alto, ‘Exceto pela manchete que trata de conduta de policiais, que não é factual, todas as outras são fatos do dia, relevantes e têm interesse’. Indagada se os destaques podem causar certo pânico, a chefia considera a questão mais complexa: ‘Exige, sem dúvida, uma discussão mais profunda, inclusive com análise de especialistas’. De acordo com a chefia, nos casos citados, ‘não vejo como elas podem causar pânico, vez que abordam ações nas quais a Polícia leva vantagem’, finalizou a chefia.’