Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Faltam ombudsmans no Brasil

Ainda pairam no ar, para o ano de 2006, com insistência, as palavras de Javier Darío Restrepo (El Colombiano), como bem aponta o professor e pesquisador Jairo Faria Mendes em O ombudsman e o leitor (Belo Horizonte, Editora O Lutador, 2002), a pertinência fundamental: ‘A pergunta é: a quem servimos?’. Com uma pitada de desgosto e outra de reconhecimento, acompanho de perto Marcelo Beraba nas edições dominicais da Folha de S.Paulo, que apresenta em linhas gerais erros, acertos e ponderações que importam. Por que desgosto? Desconheço em grande parte dos jornais de Belo Horizonte e outras grandes cidades do Brasil uma coluna semanal ou quinzenal que seja de um ‘mediador’, ‘ouvidor’, ‘defensor do leitor’ ou ‘provedor do leitor’. Observo no máximo, quase sempre ao lado dos editoriais, as seções ‘Cartas à Redação’. E, agora, eis que surge timidamente num deles – Estado de Minas – um ‘Painel do Leitor’.

Os leitores estão satisfeitos com tais jornais? Parece que a coluna ‘Painel do Leitor’, em suas pesquisas telefônicas, quer tangenciar esse tipo de assunto. Acredito que no Brasil exista massa crítica por parte dos leitores para comprovar, pelo menos em parte, o grau de interatividade e receptividade, tão importante na feitura de um jornalismo mais pleno, democrático e ético.

Outra pergunta: existe em médio prazo o interesse de inserir a figura do ombudsman nestes jornais? Este fundamento tem que ser respondido pelos respectivos conselhos editoriais, pois os leitores merecem. Na mesma trilha, seguem outros questionamentos: o público quer o ombudsman? Existem pesquisas de opinião sobre o tema? Num desdobramento: como o público, se é que ele deseja, fica sabendo se houve ou não algum erro, tropeço de apuração ou de edição das matérias? A investigação vale tanto para os periódicos (as empresas) nacionais como para os jornalistas atuantes.

Diálogo

Se a questão é a falta de idéias em torno de um ‘defensor dos leitores’, vai uma sugestão: façam como a revista Imprensa (São Paulo) em 2000. Convidem um leitor para o trabalho de ombudsman. Seria ideal que fosse um leitor com formação e experiência na área. Talvez um professor de Comunicação Social. Ou um jornalista mais tarimbado, que tope a empreitada. O mais importante é que seja um leitor exigente.

Na feitura do bom jornalismo, a empresa e o trabalhador devem confluir para germinar tal propósito. Por mais distantes em seus interesses, caminham juntos; afinal de contas, os dois, no âmbito da comunicação social, estão a serviço da sociedade. Da informação com qualidade. Dos leitores. Aqueles que assinam e compram os periódicos nas bancas de jornais. Eis o ponto de partida para uma reflexão maior em torno da pertinência fundamental: a quem servimos?

A implementação dos ombudsmans – gosto mais dessa palavra do que ombudsmen para os dois gêneros, para o plural original do idioma sueco ‘ombudsmän’, seguindo as regras da língua portuguesa – nos jornais brasileiros é um trabalho de responsabilidade social e fortalecimento da comunicação social. Tem que partir dos dois hemisférios: das empresas e dos jornalistas (se os sindicatos estaduais da categoria quiserem debater com os associados a temática com persistência, até que seria uma boa idéia). Enfim, consultas de ambos os lados são importantes para o começo de um novo processo.

Guardadas as devidas funções, limites e independências para o exercício da função de ombudsman, o diálogo ainda é a palavra mais importante. Diálogo acompanhado de reflexão. Fica a sugestão à imprensa brasileira. Para os proprietários, jornalistas e demais curiosos que queiram se aprofundar no assunto, em vista da necessidade, ousadia e urgência – futuras e possíveis implementações, eu espero – visitem o site www.ombudsmaneoleitor.jor.br. Um conjunto de textos esplendorosos na literatura em jornalismo.

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Jornalista, escritor e ensaísta, Belo Horizonte, autor de Pavios curtos (anomelivros, 2004) e Em linha direta (dissertação, no prelo)