Um olhar sociológico mais aguçado nos permite localizar a gênese do esporte moderno como um elemento característico do século 18, impulsionado pelo processo de industrialização e urbanização de uma sociedade que dava os seus primeiros passos rumo ao desenvolvimento do capitalismo. Trabalhadores, camponeses e operários de diferentes localidades, chegavam às cidades em busca de novas oportunidades de emprego, fixando-se nas periferias. Além da esperança por dias melhores, traziam todo um repertório de tradições de sua comunidade de origem. Entre essas tradições figuravam diferentes tipos de jogos, que eram vivenciados para celebrar diferentes ocasiões e ‘matar’ o tempo de ócio que, embora pouco, existia, ao menos para repor as energias gastas nos trabalhos estafantes das indústrias emergentes.
Essa cultura corporal, lúdica na sua essência e voltada para aspectos da tradição das diferentes comunidades que compunham as cidades, foi, aos poucos, devido a diferentes fatores, transformando-se e cedendo espaço a uma cultura que tinha uma relação mais próxima com os elementos característicos da sociedade capitalista, mais precisamente com o que se andava fazendo nas fábricas. Nesses termos, surge o esporte, trazendo três elementos que reinavam absolutos nas indústrias: os processos de eficiência, eficácia e, principalmente, de rendimento. Foi justamente esse último elemento, que no seu início se tratava de um simples rendimento físico, que se transmutou e, acompanhando a lógica do capital, tornou-se sinônimo de rendimento financeiro.
Essa lógica financeira, então, passou a compor o caldo esportivo e todo o mundo do negócio começou a enxergar no esporte um elemento muito forte de marketing, de publicidade e de propaganda de produtos os mais diversos, inclusive os que, em tese, nada têm a ver com o esporte, como as bebidas alcoólicas. Não por acaso, nesta Copa, pela primeira vez, os investimentos em mídia ultrapassam a incrível cifra de um bilhão de dólares! Das modalidades esportivas, é o futebol a que vem se tornando a mais rentável.
Em nome do e$porte
Jogadores de futebol, como Ronaldinho, por exemplo, tornam-se garotos-propaganda de vários produtos. Se na Copa do Mundo de 82 o merchandising dos jogadores se restringia às chuteiras, hoje vários são os produtos oferecidos através da imagem dos atletas, de picolé a agência bancária, passando por cerveja, guaraná, desodorante, entre outros.
Mas não são os jogadores as únicas estrelas desse espetáculo. No mundo do futebol, a estrela de quinta grandeza são os patrocinadores. Basta ficarmos uns poucos minutos diante da TV para constatarmos isso. Aliás, sozinhos, terão direito a 16% do total de ingressos dos jogos da Copa, o equivalente a 25 mil entradas. Enquanto isso, os pobres torcedores ficam de fora, já que para assistir a um simples jogo devem desembolsar, em alguns casos, cinco mil reais. Por essas e outras a Copa da Alemanha tem sido considerada a mais elitizada de todas.
Pela aceleração dos fatos, com os patrocinadores começando a tomar conta do espetáculo, não nos surpreendamos se na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, tivermos times compostos pelos brinquedos Estrela, chicletes Bubbaloo, picolé Kibon, desodorante Rexona, banco Santander, chuteira Adidas, isotônico Gatorade, guaraná Antarctica. Tudo em nome do e$porte.
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Professor em Salvador (BA)