Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Autoridades criticam vazamento; NYT justifica publicação

O governo americano criticou duramente alguns dos maiores jornais do país após a publicação de reportagem sobre mais um programa secreto contra o terrorismo. Em dezembro do ano passado, o New York Times já havia enfurecido as autoridades ao denunciar a existência de um plano ilegal de grampos telefônicos gerido pela Agência de Segurança Nacional. Na semana passada, o jornalão nova-iorquino voltou a ser alvo de críticas, ao ser o primeiro a publicar – seguido pelo Los Angeles Times e pelo Wall Street Journal – detalhes sobre um programa de espionagem de movimentação financeira internacional coordenado em parceria entre a CIA e o Departamento do Tesouro.

Funcionários do Tesouro obtiveram, por meio de uma intimação, acesso ao gigantesco banco de dados da Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication – conhecida como Swift –, consórcio com sede na Bélgica que lida com o tráfego de movimentação bancária de milhares de instituições financeiras em mais de 200 países. O objetivo do programa era rastrear financiamentos a grupos e ações terroristas.

Críticas e mais críticas

O secretário do Tesouro, John Snow, afirmou que o vazamento da informação é algo ‘lamentável’ e ‘pode apenas ajudar os terroristas’ ao revelar fontes e métodos usados por investigadores. O vice-presidente Dick Cheney também criticou a divulgação do programa, afirmando que torna mais difícil ‘prevenir futuros ataques contra o povo americano’.

O deputado republicano Peter King, presidente do Comitê de Segurança Nacional da Câmara, declarou que o governo Bush tem a obrigação de prestar queixas criminais contra os jornais que divulgaram o programa. King, representante de Nova York, afirmou que escreveria ao procurador-geral Alberto Gonzales pedindo pela abertura de uma ‘investigação e processo contra o New York Times – seus repórteres, editores e o publisher‘. ‘Nós estamos em guerra’, completou. King acusa o diário de estar mais preocupado com a ‘pauta elitista da esquerda do que com a segurança da população americana’.

A Casa Branca, por sua vez, deu indícios de que não pretende tomar alguma medida contra os jornais. ‘Absolutamente não’, afirmou a porta-voz interina Dana Perino ao ser perguntada sobre a possibilidade de represália. ‘Nós continuaremos a trabalhar com todos os membros da imprensa’.

Interesse do público

De fato, a decisão de publicar a história foi tomada depois de semanas de conversas com funcionários governamentais, que o editor-executivo do New York Times, Bill Keller, classificou de ‘cordiais e extremamente respeitosas’. Keller escreveu uma carta aberta [New York Times, 25/6/06] dedicada aos leitores que enviaram mensagens a ele sobre o assunto.

O editor afirma que ‘ninguém deve pensar que tomamos esta decisão [de publicar] casualmente, com algum rancor pelo governo atual ou sem pesar as questões’. Segundo ele, o jornal ouviu com muita atenção e respeito os argumentos das autoridades – entre eles o de que o consórcio interromperia sua ajuda ao programa e o de que a informação beneficiaria os terroristas –, mas optou por publicar a história por acreditar que ela era de interesse do público.

‘As pessoas que inventaram este país viram uma imprensa agressiva e independente como uma medida protetora contra o abuso de poder na democracia’, escreveu Keller. ‘Elas rejeitavam a idéia de que é sábio, ou patriótico, sempre obedecer à palavra do presidente, ou se render às importantes decisões do governo sobre o que publicar (…) Nosso trabalho é publicar informação se estamos convencidos de que ela é imparcial e precisa, e nossos maiores erros ocorreram quando falhamos em cavar a fundo o suficiente ou em reportar o bastante’.

‘Desde 11 de setembro de 2001, nosso governo lançou programas secretos de monitoração contra o terrorismo sem obter autorização legal e sem informar completamente o Congresso. A maioria dos americanos parece apoiar medidas extraordinárias de defesa contra esta ameaça extraordinária, mas alguns funcionários governamentais envolvidos nestes programas falaram ao Times sobre seu desconforto quanto à legalidade destas ações. Nós acreditamos que o Times e outros veículos de imprensa serviram ao interesse público ao reportar com exatidão sobre estes programas para que o público possa ter uma visão informada deles’, concluiu o editor-executivo. Com informações de Seth Sutel [AP, 23/6/06] e Devlin Barrett [AP, 25/6/06].