Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

TV CULTURA
PT pede investigação sobre afastamento de diretor da Cultura

O PT paulista pedirá ao Ministério Público Eleitoral que sejam investigadas as razões do afastamento do diretor de jornalismo da TV Cultura, Gabriel Priolli. Na última quinta-feira, o vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello, avisou a Priolli que ele deixaria o cargo que tinha assumido havia uma semana.

Sites e blogs relacionaram o afastamento à produção de uma reportagem sobre as tarifas de pedágio nas estradas de São Paulo, tema que vem sendo explorado com constância pela campanha petista ao governo estadual. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Vieira de Mello afirmou que veiculação da reportagem fora suspensa porque a apuração não tinha sido concluída.

Para a reportagem, produzida originalmente para o Jornal da Cultura, haviam sido entrevistado os dois principais candidatos do Palácio dos Bandeirantes, Geraldo Alckmin (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT). A cúpula da emissora recomendou, então, que os candidatos de outros partidos também fossem ouvidos. Nem a direção da TV Cultura nem Priolli até agora se manifestaram oficialmente sobre o caso.

Campanha. O episódio serviu de mote ontem para a campanha do PT. Mercadante, que comandou caminhada em Guarulhos, criticou: ‘A matéria é feita com critérios jornalísticos. Os dois candidatos são ouvidos. E depois a matéria não vai ao ar, o jornalista é afastado e a mídia brasileira nem sequer se manifesta. Esse episódio é muito grave e atenta contra a liberdade de imprensa’.

Já Alckmin evitou comentar o caso. ‘É assunto interno da emissora’, disse ele, que participou do Festival da Tainha, em Caraguatatuba.

Outro que será afastado de suas funções na Cultura é o apresentador Heródoto Barbeiro, que deixará o comando do programa de entrevistas Roda Viva, um dos mais importantes da emissora. Ele será substituído por Marília Gabriela.

 

 

ELEIÇÃO
‘Estado’ faz cobertura integrada

Desde a última terça-feira, data do início oficial da campanha de 2010, o Estado intensificou a cobertura eleitoral, que terá como uma de suas marcas a integração das diversas plataformas de conteúdo.

Nos próximos meses, a edição impressa e as voltadas aos usuários de computador, celulares, iPhone e iPad darão prioridade ao acompanhamento das movimentações, propostas e estratégias dos principais candidatos à Presidência e aos governos estaduais.

Uma série de pesquisas do Instituto Ibope, encomendadas em parceria com a TV Globo, mostra a evolução da corrida presidencial. Essas pesquisas – e também as de outros grandes institutos – são analisadas de forma minuciosa, com atenção para detalhes que ajudem a entender os resultados.

O portal estadão.com.br também está conectado às redes sociais. No Twitter, o perfil da editoria dispara posts com os principais destaques do dia, além de chamar a atenção do internauta para o material exclusivo produzido pelo site.

O Twitter também dá vida um mosaico que ilustra a página inicial do site de política do Estado. Tudo o que se comenta na rede de microblog sobre os principais candidatos a presidente é destacado sob a imagem de Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV).

 

ARGENTINA
Ariel Palacios

Cristina Kirchner aperta cerco e tenta atingir finanças do Grupo Clarín

Assediado pelas medidas do governo argentino, o Grupo Clarín, maior holding de mídia do país, viu o valor de suas ações reduzir-se drasticamente nos últimos anos. Em 2007, após a eleição de Cristina Kirchner, as ações chegaram a valer 32,10 pesos. Dois anos depois, em 2009, quando o jornal Clarín adotou uma posição mais crítica em relação a Cristina, a cotação despencou para 5,55 pesos por ação. Hoje, oscila em torno dos 12 pesos por ação.

Uma draconiana Lei de Mídia – aprovada pelo Congresso em outubro, mas ainda suspensa por força de liminares judiciais – foi impulsionada pelo governo e converteu-se na principal ferramenta para tentar inviabilizar o Grupo Clarín como negócio.

Em razão da norma, a holding terá de se desfazer de grande parte de suas empresas, que incluem de emissoras e repetidoras de rádio e TV em todo país a operadoras nacionais de TV a cabo, além dos jornais diários Clarín e Olé. A controvertida lei, porém, é apenas a parte mais visível da série de ações de intimidação e perseguição governamental contra o jornal Clarín, seus proprietários e os jornalistas que nele trabalham.

Ricardo Roa, editor-adjunto do Clarín disse que o jornal tem sofrido com o custo econômico da ofensiva do governo. ‘Mas transmitimos a nossos jornalistas que a diretriz é a de manter a linha editorial, apesar do enorme custo que isso implica ante um governo que ignora a necessidade de existência da imprensa independente’, disse ao Estado.

O jornalista acredita que, ainda que a Lei de Mídia tire do Clarín alguns de seus veículos, a força da voz crítica do grupo não se reduzirá. ‘Vamos agir mais na internet. Esse é um grupo de mídia. Sempre foi assim, e assim continuaremos.’

Desde que Cristina e o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, declararam guerra ao jornal, grupos ligados ao peronismo têm promovido a exibição de outdoors com fotos de colunistas do Clarín, tachando-os de ‘traidores’ e ‘golpistas’. O acesso de repórteres do jornal a dados oficiais restringiu-se na mesma medida em que o rigor fiscal contra o grupo se intensificou.

Na sequência, o sindicato dos caminhoneiros, aliado do governo, chegou a impedir por várias noites, por meio de piquetes, a saída dos caminhões com exemplares do jornal da gráfica. Desde o fim da ditadura (1976 a 1983) um meio de comunicação não era alvo de pressões tão violentas.

O marco inicial da perseguição ao Clarín foi a posição de apoio às organizações de produtores rurais que, em 2008, promoveram piquetes e bloqueios de estradas em protesto a um projeto de lei do governo que aumentava os impostos sobre a produção agrícola.

Além disso, o governo tenta levar a presidente do grupo, Ernestina Herrera de Noble, de 85 anos, à prisão levantando a suspeita de que seus filhos adotivos tenham sido sequestrados de desaparecidos da ditadura.

Julio Bárbaro, ex-diretor do Comitê Federal de Radiodifusão (organismo que regula a mídia) estima que as ações do governo têm sido eficazes no objetivo de debilitar a saúde financeira da holding. ‘O Grupo Clarín tinha um valor de mercado estimado em US$ 4,7 bilhões há quatro anos (antes dos choques com o governo). Hoje, vale pouco mais de US$ 1 bilhão.’

Fontes do Grupo Clarín indicaram, sob a condição de anonimato, que os diretores da holding tentaram negociar com os Kirchners alternativas para reduzir o conflito. ‘Mas os Kirchners exigiram dos editores do Clarín um grau tão grande de submissão que o grupo decidiu abandonar o diálogo’, disse a fonte.

O ódio do governo de Cristina contra o Clarín deriva, segundo analistas de uma paranoia dos Kirchners. Para o casal, a holding está por trás de um plano para dar um golpe de Estado em conjunto com os produtores agropecuários e os partidos da oposição. Néstor Kirchner definiu a campanha para a aprovação da Lei de Mídia como ‘a mãe de todas as batalhas’, numa indicação clara de que considera a redução do poder da empresa fundamental para a sobrevivência do grupo político liderado por ele e Cristina.

Guardadas as proporções, ressaltam os opositores, o casal Kirchner – que sempre manteve uma relação conturbada com a imprensa – optou por trilhar o caminho do venezuelano Hugo Chávez, de calar as críticas por meio de ações de força contra a mídia, sob a alegação de que ela seria parte de uma conspiração contra o governo.

A Lei de Mídia ganhou impulso depois do fracasso de uma série de esforços do governo e de seus partidários para intimidar o Clarín – um movimento que incluía a tentativa de flagrar alguma irregularidade nos livros fiscais do Grupo Clarín. Após a blitz da Afip (a Receita Federal argentina), na qual mais de 200 fiscais invadiram a sede do Clarín em Buenos Aires e praticamente sequestraram os livros contábeis, nada de ilegal foi apurado. Até hoje, no entanto, o governo nunca deu nenhuma informação oficial sobre o resultado de sua fiscalização nem apresentou nenhuma justificativa para a ação do fisco.

Em outra frente contra o Clarín – e os demais jornais do país -, os Kirchners tentam tomar o controle da Papel Prensa, a maior produtora de papel para jornal da Argentina. Desde 1976, a empresa é controlada pelo Grupo Clarín (49% das ações), o jornal La Nación (22,49%) e o Estado argentino (27,46%). Em sua maior parte, por questão de custo, os jornais têm optado por utilizar papel importado. Mas, para muitas organizações de defesa da liberdade de expressão, o assalto à Papel Prensa poderia ser o passo prévio de uma ação do Estado para intervir nas operações de importação do produto.

 

Lei estabelece restrições sem precedentes a holdings de mídia

A Lei de Mídia aprovada em outubro de 2009 pelo governo de Cristina Kirchner estabelece que um único grupo não poderá ter um canal de TV aberta e outra emissora a cabo ao mesmo tempo. Também restringe o alcance dos grupos de mídia a 35% da população do país e reduz o período de concessão de frequências radio-elétricas de 20 para 10 anos, além de impor uma revisão das licenças a cada 2 anos.

A medida estabelece restrições sem precedentes à atuação de grupos de mídia e é defendida por Cristina como uma forma de ‘democratizar’ o setor e acabar com os ‘monopólios’.

As empresas de mídia críticas do governo, porém, argumentam que a lei não passa de um instrumento de repressão da atuação da imprensa, além de criar um cenário que permitirá a empresários aliados do governo a compra de meios de comunicação a preços baixos.

A lei deverá ser aplicada em sua totalidade até o final do ano, caso caiam as barreiras que ainda existem nos tribunais.

Os grupos de mídia que não se encaixem nesses requisitos deverão se desprender das empresas adicionais no período máximo de um ano. Ou seja, a partir do momento em que a medida estiver em pleno vigor, o mercado de comunicação deverá apresentar um quadro de grande oferta – e preços baixos.

O ex-secretário de Comunicações Henoch Aguiar diz acreditar que, em 2011, justamente às vésperas das eleições presidenciais, o mercado de mídia estará em ‘liquidação’.

‘Não tenho dúvidas de que haverá um grande movimento de compras conjunturais de empresas de mídia, mais por razões políticas do que por posições estruturais no mercado.’

Ethel Pis Diez, professora da faculdade de Comunicação da Universidade Austral crê que, além do Clarín, também serão afetados pela lei o Grupo Vila Manzano (América TV), Visión Jujuy, Telefónica e Prisa.

 

INTERNET
Gregory M. Lamb

O fim da era da internet gratuita

‘A informação quer ser gratuita’ é o refrão da internet há muito tempo. Quando um vídeo, uma música ou um artigo estão na rede, são mais difíceis de ser controlados do que uma sala cheia de gente curiosa.

Oferecer conteúdo gratuito para começar é um elemento básico para uma empresa. Mas como estratégia a longo prazo, ‘gratuito’ não faz muito sentido: como criadores de conteúdo poderão continuar produzindo se não forem pagos? A publicidade é uma das maneiras de pagar as contas. Mas as companhias da internet ainda lutam para entender e avaliar o impacto dos anúncios online. Ao mesmo tempo, muitos anunciantes continuam céticos e questionam até que ponto poderão depender dele.

Tanto o setor de comunicação quanto o de entretenimento voltaram a experimentar planos de pagamento para conteúdo online. Algum dia, 2010 poderá ser lembrado como o ano em que as companhias acabaram com a ideia da internet ‘gratuita’.

Atualmente, o Google tenta aplicar o YouTube Rental. O novo serviço permite que as companhias cobrem dos usuários para assistir a determinados vídeos, como programas de TV ou filmes. Os geradores de conteúdo também poderão tentar diferentes planos de pagamento para testar de que modo afetam as vendas.

O jornal britânico The Times, de propriedade da Rupert Murdoch’s News Corp, pretende estabelecer um preço que seria pago para a leitura de artigos – cerca de US$ 3 por semana, ou US$ 1,50 por dia. Para desestimular os que carregam o material gratuitamente, motores de busca como o Google serão impedidos de acessar o conteúdo.

O New York Times anunciou que planeja proteger a maior parte de seu conteúdo por um sistema de pagamento até certo ponto fácil de evitar. O jornal solicitará o pagamento depois que um leitor voltar ao site certo número de vezes por mês. Para atrair novos leitores, o jornal diz que os visitantes que chegam por intermédio de um motor de buscas ou de outro recurso sempre obterão acesso livre.

A revista The New Yorker pretende cobrar um pagamento único no fim do ano, segundo a revista Advertising Age. Mediante o pagamento de uma tarifa, os assinantes poderão ler a revista em todas suas formas – impressa, no iPad da Apple, no Amazon Kindle, e possivelmente em outros aparelhos de leitura eletrônicos – por um preço único, em lugar de ter de comprar o acesso a cada texto separadamente.

A Wired Magazine cobra US$ 4,99, o mesmo do preço da banca, para a leitura de uma edição no tablet do iPad. A versão inclui recursos interativos não disponíveis na edição impressa.

Parte dessa mudança tem a ver como trecho há muito esquecido da famosa citação ‘a informação quer ser gratuita’. ‘A informação quer ser cara, por ser valiosa’, disse o escritor Stewart Brand na Conferência dos Hackers, em 1984. ‘A informação certa no lugar certo pode mudar sua vida. Por outro lado, a informação quer ser gratuita, porque seu custo está baixando cada vez mais. Por isso elas brigam entre si’.

De certo modo, somente a segunda parte pegou.

‘A distribuição gratuita de conteúdo de qualidade para uma empresa equivale a jogar valor fora até falir’, diz um recente relatório da Group M, agência de compra de veículos de informação da WPP, a gigante internacional da mídia e da publicidade. O relatório define as pessoas que usam os motores de busca para encontrar notícias ou informações de ‘turistas inúteis’ que não pagam e não têm valor, mesmo para os anunciantes.

Outros não têm tanta certeza de que a internet tenha chegado ao ponto em que pode cobrar. ‘Vou fazer uma previsão’, disse Arianna Huffington, criadora do famoso blog Huffington Post, em um recente painel que discutia o futuro do noticiário online. ‘Os sistemas de pagamento não funcionarão.’

‘Em termos históricos, os consumidores não se mostram dispostos a pagar pelo acesso eletrônico às notícias’, escreveu Dave Morgan, empresário e especialista em publicidade online, em uma entrevista por e-mail. ‘É muito difícil montar empresas com assinatura pagas para a leitura do noticiário eletrônico. Não há muitos exemplos de sucesso entre as empresas por assinatura voltadas para quem procura noticiário digital.’

O Wall Street Journal hoje cobra por grande parte do seu conteúdo de notícias, embora este possa ser acessado indiretamente por meio de um motor de busca ou por outros sites. Mas o Wall Street Journal é considerado uma exceção à regra, porque as assinaturas muitas vezes são pagas pelos empregadores, e não pelos indivíduos.

O New York Times abandonou uma primeira tentativa de cobrar parte de seu conteúdo, supostamente por ter constatado que a redução do número de leitores também reduz o atrativo para os anunciantes.

Uma diferença hoje talvez seja a explosão de telefones celulares, como os smartphones e os tablets. Com os celulares, ‘os clientes foram treinados a pagar por tudo, das mensagens de texto ao correio de voz e os minutos (do tempo de chamada)’, diz Darren Tsui, CEO da mSpot, provedora de música para aparelhos móveis da Califórnia. ‘Pagar pelo conteúdo realmente não é tão estranho para eles, em comparação com os usuários da internet, que estão acostumados a ter tudo de graça.’

Para Tsui, o iTunes da Apple constitui o modelo para a criação de conteúdo pago: oferecer um serviço importante gratuito e melhorá-lo progressivamente com recursos pagos. O iTunes começou como uma maneira de as pessoas organizarem suas próprias músicas. Mais tarde tornou-se uma maneira de comprarem as próprias músicas.

‘É muito difícil conseguir que alguém que até agora não pagou por nada comece, de repente, a pagar US$ 10 por mês ‘, diz Tsui. ‘Se pudermos fazer esta transição bem devagar e de maneira metódica, acho que teremos mais chances de converter os usuários.’

Os leitores nunca pagaram totalmente por seus jornais, ressalta o analista James McQuivery. A maior parte do custo e da publicação das informações sempre foi coberta pela publicidade. O mesmo se aplica à programação das antigas TVs e rádios.

Para McQuivery, os consumidores estão acostumados a pagar pelo ‘acesso’ ao conteúdo por meio da TV a cabo, dos planos de internet e das contas do telefone móvel, em vez de pagar pelo conteúdo em si. A receita que vai para os criadores de conteúdo é menor. A parte maior vai para as distribuidoras.

Pam Horan, presidente da Associação das Editoras Online, é mais otimista quanto ao pagamento pelo conteúdo digital.

O fato de os proprietários de smartphones e de iPad pagarem por aplicativos, como jogos ou material de leitura, é o primeiro indicador de que os americanos pagarão pelo conteúdo que venha com um pacote atraente, diz Pam.

‘O segredo é não oferecer apenas conteúdo interessante, também novas experiências’, diz Horan em um e-mail. ‘O iPad tem tudo isto – o impacto visual do papel, melhorado pelos elementos interativos como vídeo e as ferramentas de integração com as mídias sociais.’ / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

É EDITOR DE SUPLEMENTOS SEMANAIS DO JORNAL

 

TELEVISÃO
Alline Dauroiz

Do drama fez-se o riso

Quando a roteirista Kari Lizer, criadora de Will & Grace, estava em busca da protagonista para sua nova série, The New Adventures of Old Christine, no final de 2005, chegou a pensar que Julia Louis-Dreyfus, atriz que por nove anos viveu a Elaine, de Seinfeld, não seria a pessoa mais adequada para o papel. Baseada na vida da autora, divorciada e mãe de três crianças, a trama pedia uma mulher forte, engraçada, porém vulnerável e suave, imagem um tanto diferente daquela Julia que o público conhecia da TV. ‘Pensava: ‘Ela é brilhante, divertida, mas não sei se ela é a Christine’, revela Kari. ‘Então, quando a conheci, tive uma surpresa e me convenci: ‘Bem, Elaine, definitivamente, não é a Julia, e a Julia não é a Elaine. E o mesmo é com Christine. Mas acho que ela está mais para Christine do que para Elaine.’

Kari tem razão. Julia não é Old Christine, embora, depois de quatro anos e cinco temporadas, a roteirista – e o público – tenha a certeza de que não poderia ter feito melhor escolha: o papel da mãe em crise de meia idade rendeu a Julia um Emmy (o Oscar da TV) em 2006, como melhor atriz de Comédia, prêmio pelo qual foi indicada outras cinco vezes, a última delas, na quinta-feira passada.

Exibida na TV aberta dos Estados Unidos, a série obteve ótimos índices de audiência em suas primeiras temporadas (12, 5 milhões de espectadores no 1.º ano e 10,4 milhões no 2.º). Porém, com a queda geral no ibope da TV, a quinta temporada – que a Warner exibe a partir desta quarta-feira, às 21 horas – caiu para 6,6 milhões de espectadores, o que fez a rede CBS cancelar o show. Os fãs, entretanto, ainda esperam que o canal ABC resgate a atração.

Amiga da Barbra Streisand. Em entrevista à imprensa internacional, da qual o Estado participou, Julia entra na sala dos jornalistas com sorriso discreto. Não faz a linha ‘fofa’, mas também não chega a ser antipática. Pessoalmente, seu humor é mais seco, menos palhaço. Fala pouco e deixa as perguntas mais profundas para Kari, mas quando acha algo realmente engraçado solta a risada da Old Christine, aquela que acaba com um grunhido.

‘As pessoas esperam que eu seja engraçada o tempo todo, e eu tento ser, mas não sempre’, diz Julia sobre a sina que sofre a maioria dos comediantes. ‘Isso acontece, principalmente, porque estou na TV e entro na vida das pessoas quando elas estão em suas cozinhas e salas. O povo não só acha que me conhece, mas, como sou baixinha, acham que podem me colocar no bolso e conversar comigo de vez em quando.’

Ao aceitar a tietagem, Julia, hoje com 39 anos e 21 de carreira, lembra do tempo em que também era apenas uma fã. ‘Assistia a Barbra Streisand e pensava que ela deveria ser minha melhor amiga (risos).’ A atriz lembra ainda de Mary Tyler Moore, Lucille Ball e Madelyn Khan como fontes de inspiração para a comédia, arte que ela considera mais difícil de fazer do que o drama. ‘A comédia envolve uma questão primordial: ou a coisa é engraçada ou não, não dá para disfarçar.’

Perita em pagar mico e, como ressalta a atriz, pouco consciente sobre suas falhas, Christine tem um dom: consegue rir de si mesma. Seria esse um retrato da nova geração de mulheres, que se casam, às vezes se divorciam, às vezes criam as crianças sozinhas, mas mantêm o bom humor? Kari é quem responde a questão do Estado.

‘Creio que sim e já conversamos sobre isso. Realmente, a Christine não passa por situações fáceis, como muitas mulheres hoje em dia, mas abordar isso com humor faz tudo ficar mais leve’, acredita a autora. ‘E você já reparou como nossos relacionamentos são complicados? Isso não costumava ser tão complicado no passado. Hoje, as mulheres têm de ser civilizadas e manter a amizade com o ex-marido e a sua nova namorada. Isso, por si só, já é muito ridículo e engraçado.’

Até hoje, aliás, as situações da série são inspiradas na vida real. A autora garante que na escola de seus filhos existem muitas ‘Meanie Moms’, as mães fúteis e más que vivem ridicularizando Christine na escola do filho. ‘Algumas delas, inclusive, vieram reclamar que eu estava usando na série situações reais da escola, como o programa de diversidade que eles implantaram’, conta Kari.

Julia confessa adorar quando as pessoas dizem que são iguais a Old Christine. ‘As mulheres se identificam, e muito. Acreditem.’

Terapia do amor. O quinto ano começa com Old Christine tentando salvar a amiga Barb (Wanda Sykes), deportada para as Bahamas. Para isso, tem a brilhante ideia de casar Barb com Richard (Clark Gregg), seu ex-marido, que está na fossa depois que a noiva, a New Christine (Emily Rutherfurd), abandonou-o no altar. Além disso, Ritchie (Trevor Gagnon), filho de Old Christine e Richard, cresceu e, aos 13 anos, começa a ter os típicos problemas da adolescência.

A novidade fica para a entrada de Eric McCormack, o Will do Will & Grace, como o dr. Max Kershaw, terapeuta que se apaixona por Old Christine, sua paciente. ‘Existe uma química linda entre eles. E acho que posso dizer que essa temporada é do Eric’, crava a autora, que escreveu seis episódios para o ator, seu pupilo desde Will & Grace.

Julia completa: ‘Nossa sensibilidade e entendimento das coisas são parecidos. Falei pra ele outro dia: ‘Sabe, isso é tão engraçado que sinto como se estivesse trabalhando com você por toda minha vida’.

Será então que é dessa vez que Old Christine se acerta no amor? ‘Ah… não sei. Tem de haver um desespero básico o tempo todo, né? (risos)’, diz Julia. ‘Mas sinceramente acho que Christine nunca vai sossegar.’

* Viagem feita a convite do Warner Channel

 

Etienne Jacintho

‘Ninguém imaginou que fosse dar tão certo’

Teste. Kevin cantou ‘Let It Be’, dos Beatles, no teste para entrar na série. ‘Fui péssimo. Não me lembrava a letra’, diz o ator

Kevin McHale, que interpreta o cadeirante nerd Artie Abrams na série Glee, esteve no Brasil para divulgar a segunda parte da 1.ª temporada do musical, que a Fox exibe a partir de quarta-feira, às 22h. Glee mal terminou a 1.ª temporada e já foi renovada por mais dois anos. E, na 2.ª temporada, até Javier Bardem pode fazer participação ao lado de Kevin. ‘Não tenho certeza ainda, mas espero que seja verdade’, conta Kevin em entrevista ao Estado.

O ator diz não saber muito sobre o 2.º ano, mas adianta que vamos descobrir mais sobre as famílias dos personagens. Sobre romance, ele torce por Artie e Tina (Jenna Ushkowitz). ‘Jenna e eu somos melhores amigos na vida real e é divertido gravar juntos.’ Por falar em diversão, Kevin conta que o elenco costuma ir a karaokês. ‘Mas quando Amber (Riley, a Mercedes) vai, não conseguimos tirá-la do palco. É irritante (risos)!’

No início, você imaginava que Glee fosse virar sucesso tão rapidamente?

Quando li, pensei: ‘Nunca vi nada igual!’ Achei hilário, de verdade. Acho que ninguém sabia se o musical iria emplacar, mas, em Ryan Murphy (criador e diretor da série), a gente confia! No fundo, creio que ninguém imaginou que fosse dar tão certo!

Deve ser cansativo gravar as canções, aprender as coreografias e gravar o episódio… Quanto tempo leva o processo?

Só para gravar o episódio são oito dias, mas antes, enquanto filmamos, temos de ensaiar as músicas e as danças dos próximos episódios. Então, enquanto a gente gravava o piloto, por exemplo, a gente ensaiava também os números musicais dos episódios dois e três.

Glee mudou muito sua vida e sua carreira?

Bem, agora tenho um emprego (risos)! Mudou completamente, afinal, dançar e cantar são as coisas que mais gosto de fazer e nunca pensei que pudesse desempenhar essas funções em um trabalho. Estou aqui hoje, porque as pessoas assistem à série. Vim ao Brasil dois anos atrás, desempregado e ninguém sabia quem eu era.

O que você veio fazer no Brasil há dois anos?

Um dos meus melhores amigos é brasileiro, vive em Los Angeles e vem para cá todos os anos.

Qual foi seu número musical preferido até agora em Glee?

Em um episódio que ainda vai passar aqui tivemos de cantar Kiss. Foi um dos momentos mais dolorosos e divertidos da série, pois ficamos uma hora para fazer maquiagem e coloquei uma bota com salto que me fez ficar da altura de Cory (Monteith, o Finn). E olha que sou bem baixinho! Caí e torci meu tornozelo. Foi desconfortável, mas divertido, pois as meninas fizeram Lady Gaga e os meninos, Kiss. É incrível ver que uma escola em Ohio tem verba para uma superprodução dessas (risos)! Em Glee, tudo é possível!

Você foi um garoto popular na escola?

Ficava no meio termo. Me dava bem com todo mundo, mas não pertencia a nenhum grupo, por escolha minha. Odiava isso de ser rotulado.

Você consegue se identificar com Artie em algum aspecto?

O fato de cantar na escola. Claro que não era a coisa mais bacana para se fazer… As pessoas me perguntavam: ‘Ah, você é aquele garoto que canta e dança, né?’ E eu rebatia: ‘E você é o garoto que cutuca o nariz…’ Brincadeira, mas acho que a série faz muito por esses jovens que se sentem inseguros no Ensino Médio. E me identifico com isso. Acho que Artie sabe quem ele é muito mais do que eu sabia quem eu era quando estava na escola.

Você e seus colegas podem dar palpites sobre o que gostariam de cantar na série?

Não fazemos isso diretamente, mas ficamos cantarolando no set para eles colocarem as músicas na série e falarem que foi ideia deles (risos)! Não, eles vêm até nós para perguntar o que achamos de certas músicas ou se elas caberiam em determinada situação. Eles nos consultam.

Não é difícil dançar na cadeira de rodas sem poder mexer as pernas?

Estou me acostumando rapidamente, mas se você olhar com atenção, acho que pode me ver mexendo um pouco as pernas… Quando estou tocando guitarra e o som está alto, quero levantar e sair dançando.

Teve alguma cena que você precisou gravar várias vezes por mexer as pernas?

Sim, foi logo no primeiro episódio, quando a gente fez ‘Don’t Stop Believin’. O diretor me dizia: ‘Kevin, não bata seus pés!’

 

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