Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Globo

MUDANÇAS
Leitores ganham oito novos colunistas

O time de colunistas do GLOBO ganhou oito novos destaques nas páginas de ‘Opinião’: Dorrit Harazim e Marcos Sá Correa, jornalistas; Cacá Diegues, cineasta; Aldir Blanc, músico e escritor; Claudio Salm, economista; Flavia Piovesan, professora de Direito da PUC-São Paulo, Marco Antonio Villa, historiador; e Ligia Bahia, professora de Economia da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Eles representam um acréscimo de qualidade no elenco de colunistas que, diariamente, analisa temas relevantes para o país.

Mais pluralismo no debate de ideias A seção de ‘Opinião’agora conta com 38 colunistas. Ela está em processo de renovação desde março, quando ganhou novo formato gráfico e mais espaço, o que vai permitir um aumento expressivo no número de artigos publicados — de 1.100 para 1.800 artigos por ano.

Para os leitores do GLOBO, significa um jornal mais plural no debate de ideias, com a característica de valor de um grupo de colaboradores no qual já se destacam Elio Gaspari, Zuenir Ventura, Verissimo, Luiz Garcia, Roberto DaMatta, Nelson Motta, Carlos Alberto Sardenberg, Glaucio Soares, João Ubaldo Ribeiro, Paulo Guedes, Paulo Nogueira Batista Jr., Denis Lerrer Rosenfield, Rubens Barbosa, Guilherme Fiuza, Sérgio Besserman, Rodrigo Botero Montoya, Demétrio Magnoli e Joseph Stiglitz, entre outros.

O confronto de opiniões nas páginas do GLOBO resulta em um referencial importante para os leitores. Em um mundo onde é constante o bombardeio de informações, às vezes desencontradas, cada vez mais o leitor requer um ponto de referência, para se posicionar diante do que lê, ouve e vê, na televisão, no rádio e na internet. E, até mesmo, para firmar uma posição contrária àquela eventualmente assumida pelo jornal.

Com esse objetivo ampliouse, também, a participação das organizações não governamentais no debate. O GLOBO já é um dos jornais com maior nível de participação de ONGs na seção de ‘Opinião’. Agora, entidades como Contas Aber tas, de Brasília, que é especializada em análise de contas públicas, e Oxfam, uma confederação de 14 entidades internacionais com atuação global em programas de erradicação da pobreza e desenvolvimento sustentável, além da Anistia Internacional e outras dedicadas à defesa de direitos humanos, ganharam papel ainda mais relevante nas discussões travadas nas páginas do jornal, reforçando a característica de pluralidade dos debates.

Um amplo panorama das ideias na América Latina Mas o cardápio de temas em análise não se restringe às questões nacionais. Em ‘Opinião’, os leitores encontram um panorama das ideias em discussão no mundo, a partir de uma seleção de colunistas baseados na Europa, no Estados Unidos e em toda a América Latina.

‘Opinião’ também passou a publicar colunistas de jornais editados em dez países da América Latina, integrantes do Grupo de Diários da América (GDA). São jornalistas e colaboradores do ‘La Nación’, da Argentina; ‘El País’, do Uruguai; ‘El Mercurio’, do Chile; ‘El Comercio’, do Equador; ‘El Comercio’, do Peru; ‘El Tiempo’, da Colômbia; ‘El Nacional’, da Venezuela; ‘La Nación’, da Costa Rica; ‘El Nuevo Día’, de Porto Rico; e ‘El Universal’, do México.

Europa, EUA e o confronto direto de opiniões no jornal Nos Estados Unidos, O GLOBO conta com colunistas dos jornais ‘The Washington Post’ e ‘The New York Times’.

Em especial, do diário novaiorquino destacam-se, entre outros, os jornalistas Frank Rich, Nicolas Kristof, Roger Cohen, Paul Krugman, David Brooks, Bob Herbert, Thomas L. Friedman e Maureen Dowd.

A visão europeia sobre a política e a economia é fornecida por colunistas do ‘El País’, da Espanha, e do ‘Independent’, da Inglaterra.

Além disso, os leitores do GLOBO encontram um singular e rotineiro confronto entre as opiniões do jornal e a de dezenas de convidados e colaboradores sobre os assuntos prioritários para o país, sob o título ‘Tema em discussão’. Trata-se de um debate direto com o jornal que é publicado mais de uma centena de vezes por ano e que atesta a opção editorial pela pluralidade, em benefício do leitor interessado em formar a sua opinião.

 

INTERNET
Rennan Setti e Luciana Casemiro

Consumo consciente

Arena preferencial de consumidores insatisfeitos que despejam queixas contra empresas e serviços, a internet começa a ganhar um novo papel na defesa do consumidor e do planeta. A discussão sobre consumo consciente e sustentabilidade está em toda parte nas redes sociais, como Facebook, Orkut, Twitter, blogs etc. É o uso das ferramentas colaborativas da web para educar e mobilizar consumidores ao redor do mundo.

Uma dessas iniciativas é o movimento SWU — Começa com Você, cujo foco é sustentabilidade e que culminará com um festival de rock e debates durante três dias em outubro. Idealizado pela empresa de comunicação Totalcom, o SWU investiu em publicidade em mídias tradicionais (como TV, jornais e rádio), mas seus organizadores não escondem que a internet é o grande trunfo para mobilizar o público.

Segundo Helder Castro, diretor da TOD, uma das empresas envolvidas no movimento, a página do SWU já foi acessada por 240 mil pessoas, e o perfil no Twitter tem 17 mil seguidores.

— Após sete meses de elaboração, optamos por um processo colaborativo que mobiliza bastante a garotada mais jovem, que gosta de música, mas ainda acha o tema da sustentabilidade muito distante da sua realidade, às vezes até chato — afirma Castro. — Entendemos que uma das etapas do nosso projeto é informar sobre sustentabilidade, tanto por meio de conteúdo em mídias tradicionais como pela internet, com o próprio usuário dando o seu recado.

Usamos a linguagem da internet para transmitir mensagens universais, a da música e a do planeta mais sustentável.

Além de estar nas redes sociais mais conhecidas, a SWU mantém um site (www.swu.com.br) onde os internautas deixam dicas sobre, por exemplo, como reduzir o consumo de água ou comprar produtos menos nocivos ao ambiente. Outros frequentadores da página podem dizer que já aderiram a determinada dica e disseminá-la por sua rede de contatos. Já são cerca de 1.500 dicas acumuladas em um mês.

Blog sustentável é feito com e para crianças Em Campinas, interior de São Paulo, a experiência positiva com 700 alunos da Escola Municipal André Tosello fez com que o projeto social do Sindicato dos Varejistas de Campinas e Região (SindiVarejista) resolvesse estreitar a relação entre crianças e sustentabilidade por meio de um blog.

Nascido há um mês, o Blog do Júlio (www.conexaosocial.org.br/blogdojulio) deu vida cibernética a um personagem fictício, de 14 anos, que ensina meninos e meninas a tomar atitudes sustentáveis. A página também divulga material produzido pelos alunos da escola, como uma história em quadrinhos sobre o caminho das frutas da lavoura até a mesa. Além do blog, o ‘Júlio’ está no Orkut, Twitter e Facebook.

— A linguagem deles é a internet, não adianta apenas filosofar em sala de aula. É muito interessante ver essa meninada de 10, 11 anos falando de meio ambiente e orçamento familiar.

A web faz tanto parte da realidade deles que as meninas chegam a ficar curiosas para saber se o Júlio tem namorada — brinca Sanae Murayama Saito, presidente do SindiVarejista e idealizadora do projeto que mantém o blog.

Grupos de defesa do direito do consumidor também já se despertaram para o poder de mobilização da web. Após aderir ao Twitter há alguns meses, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) está envolvido em dois movimentos colaborativos baseados na rede. São o climaeconsumo.org e o reformadireitoautoral.org.

No primeiro, o internauta aprende como seus hábitos de consumo afetam o clima, pode calcular a quantidade de carbono que emite e participar de um abaixo-assinado para exigir políticas públicas para o setor. Ele também pode solicitar o envio de um cartão virtual às redes de supermercado pedindo para que só revendam carne bovina que não seja produzida por pecuaristas desmatadores. O segundo é um fórum, mantido por 11 instituições, que discute a reformulação da lei do direito autoral.

— O site representa para a pessoa comum um instrumento concreto e muito poderoso de pressão. Tivemos muitos acessos durante a COP15 (conferência sobre clima promovida pela ONU em dezembro, na Dinamarca) — observa a pesquisadora do Idec Adriana Charoux.

— Mas é claro que ainda temos muitas dificuldades para estabelecer a causa na internet brasileira, tanto pela escassez de recursos quanto pela falta de domínio amplo dessas novas ferramentas. Mas acreditamos que a rede é o caminho, e, até por isso, o Idec está reformulando sua página na internet.

O Instituto Akatu — pelo Consumo Consciente é um entusiasta do uso da internet para mobilização e disseminação de conceitos de sustentabilidade. A entidade tem perfil no Twitter e no Orkut e até o fim do ano estará também no Facebook e com um novo portal na internet, muito mais interativo que o site atual. Para Ricardo Oliani, coordenador de jogos, dinâmicas e projeto de mobilização comunitária do Akatu, lidar com redes sociais é estratégico: — Há uma disseminação rápida da mensagem.

O que precisamos medir é quanto conseguimos influenciar para uma mudança real no comportamento — afirma Oliani, acrescentando que esses consumidores internautas são mais exigentes em relação à atualização e qualidade da informação. — Precisa ser informação rápida e de ponta.

‘No Brasil, isso ainda está começando’, afirma especialista A eficácia dessas campanhas, continua Oliani, podem ser medidas por sucessos como o da mobilização mundial da ‘Campanha tictactictac’, que levou milhares de pessoas mundo afora a apagarem as luzes de casa em 12 de dezembro do ano passado. Ou a ‘Faça xixi no banho’, da SOS Mata Atlântica, que ganhou repercussão mundial após ser comentado no site da mega top model Gisele Bündchen. O próprio Akatu trabalhou com duas campanhas recentes nesses moldes: a ‘Mais é menos’, sobre desperdício de alimentos, e a ‘Saco de ideias’ que recebia vídeos sobre como reduzir o uso de sacolas plásticas.

— Criar conteúdos lúdicos e criativos para disseminar os conceitos da sustentabilidade é algo em que estamos trabalhando. Queremos entrar inclusive na área dos videogames.

As mídias estão convergindo, e nós ainda não sabemos trabalhar bem no Brasil essas ferramentas de mobilização — explica Oliani, do Akatu.

Além da pouca experiência do brasileiro na internet, Leo Cid Ferreira, dono da agência de marketing digital Ad.Brazil, acredita que o próprio movimento de sustentabilidade no país ainda carece de maturidade e de recursos: — As redes sociais são raios X da sociedade. Por isso, aqui no Brasil, ainda estamos começando a mobilização para causas ambientais pela rede. O brasileiro ainda vê engajamento como caridade. Não é à toa que a mobilização só é realmente forte quando ocorrem tragédias naturais. Nos Estados Unidos, várias organizações conseguem angariar milhões de dólares por meio do aplicativo do Facebook ‘causes’ (causas), pelo qual as pessoas podem aderir a uma causa e doar dinheiro para ela.

Marta Rocha, diretora da Atitude Brasil, empresa de comunicação social focada nos princípios da sustentabilidade, está coordenando a campanha ‘Limpa Brasil’, que pretende mobilizar voluntários para a limpeza de 14 cidades brasileiras. Ela reconhece a velocidade de disseminação das mídias sociais, mas ressalta que para alcançar participação é preciso persistência: — Em duas semanas, nossa campanha virtual já tem mais de cinco mil voluntários. Estamos no Twitter e no Facebook, e cada cidade terá seu blog. A questão é que o volume de participação efetiva não é tão rápido. Por isso, essas mídias precisam ser um espaço de diálogo, de manter o assunto vivo. Mas quando é necessária criação de uma consciência de massa, ainda usamos os meios de comunicação tradicionais.

 

LITERATURA
Miguel Conde

Marcha dos pinguins

Daqui a oito dias, na última segundafeira do mês, o animal mais conhecido do mundo dos livros vai se aboletar em prateleiras por toda parte do país na companhia de uma língua com a qual nunca teve lá muita intimidade: o português. O encontro foi anunciado no ano passado, e os curiosos com o resultado foram tantos que os responsáveis tiveram que rever seus planos. Os primeiros livros da parceria entre a multinacional Penguin e a brasileira Companhia das Letras chegam às livrarias no próximo dia 26 em tiragens entre oito mil e 18 mil exemplares, mais que o triplo dos cinco mil previstos inicialmente, graças às encomendas de livreiros que apostam no interesse em torno do maior acontecimento do mercado editorial nacional em 2010.

A sociedade Penguin-Companhia promete trazer ao Brasil a fórmula que fez da empresa inglesa uma importante marca mundial: livros de qualidade em edições cuidadas, a preços baixos. Uma combinação ainda não muito comum num país em que livros tradicionalmente são um luxo para poucos, e onde as principais editoras ainda começam a investir nas edições de bolso.

A primeira leva é de quatro títulos: ‘O príncipe’, de Maquiavel, ganhou nova tradução direto do italiano por Maurício Santana Dias, e prefácio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (leia trecho na página 2); o romance ‘Pelos olhos de Maisie’, de Henry James, em tradução revista por Paulo Henriques Britto; e as coletâneas, organizadas pelo historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello, ‘O Brasil holandês’, com textos históricos do século XVII, e ‘Joaquim Nabuco: Essencial’, seleção de textos do abolicionista, cuja morte completa cem anos em 2010. Os quatro, como todos os títulos da PenguinCompanhia, serão lançados também em e-books, mas por questões comerciais e tecnológicas por enquanto não serão compatíveis nem com o Kindle nem com o iPad. As obras (que já estão em pré-venda nas principais livrarias brasileiras) terão ainda guias de leitura e aulas na internet, complementos direcionados para o mercado educacional, um grande alvo do selo.

Com preços entre R$ 15 e R$ 35, as edições brasileiras não serão tão baratas quanto os primeiros livros lançados pela Penguin nos anos 30, que custavam o mesmo que um maço de cigarros. Ainda assim, podem preencher uma lacuna, acredita Matinas Suzuki, diretor de comunicação da Companhia e editor do selo: — Não vejo no Brasil hoje ninguém trabalhando com consistência o mercado de clássicos. O que você tem são, de um lado, edições populares não muito caprichadas, e, de outro, edições de luxo ocasionais. Entre as duas, há um espaço que nós queremos ocupar.

A partir de setembro, ele explica, serão lançados dois livros por mês, num total de 24 no primeiro ano — um terço deles brasileiros, os outros selecionados do enorme catálogo da Penguin. Além dos quatro que sairão agora, oito já estão definidos: ‘Recordações do escrivão Isaías Caminha’, de Lima Barreto, e ‘Livro da vida’, de Santa Teresa d’Ávila, com prefácio de Frei Betto (leia trecho na página 2), em setembro; ‘Ensaios selecionados’, de Montaigne, e ‘Jorge Amado: Essencial’, organizado por Alberto da Costa e Silva, em outubro; ‘Dez dias que abalaram o mundo’, de John Reed, e ‘O emblema rubro da coragem’, de Stephen Crane, em novembro; e ‘O amante de Lady Chatterley’, de D. H. Lawrence, e ‘Últimos dias: os escritos tardios de Liev Tolstói’, em dezembro.

Um dos convidados da próxima Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), onde participará de um debate com o historiador americano Robert Darnton sobre o futuro dos livros, o CEO da Penguin, John Makinson, diz que o Brasil foi escolhido entre outros países da América Latina pelo tamanho de sua população e por ter um público letrado em expansão.

— Antes de entrarmos num novo mercado, consideramos três pré-requisitos. Existe ali potencial de crescimento? Há espaço para edições baratas e bem feitas de livros clássicos? E há um parceiro com o qual possamos trabalhar? O Brasil preenchia todos os campos — afirma.

A Companhia das Letras espera também incluir títulos do seu catálogo na coleção internacional da Penguin. Por enquanto, o único livro brasileiro publicado pela Penguin é ‘Os sertões’, de Euclides da Cunha, dentro da sua série de clássicos. As negociações já estão avançadas, porém, para a publicação em 2012 de três livros de Jorge Amado: ‘Capitães da areia’, ‘A morte e a morte de Quincas Berro d’Água’ e ‘Terras do sem-fim’, que ganhou o título provisório de ‘Violent lands’ (Makinson dá a publicação como certa, mas a Companhia ressalva que o contrato ainda não foi assinado). A diversificação do catálogo faz parte de uma estratégia de expansão comercial, diz Makinson: — Estamos incorporando livros de outras regiões ao nosso catálogo internacional porque muito do crescimento da nossa indústria nos próximos anos virá dos mercados emergentes.

A história da criação da Penguin é uma das mais conhecidas do mercado editorial, o equivalente no mundo dos livros à maçã caindo na cabeça de Newton ou à água transbordando da banheira de Arquimedes: numa tarde de 1934, o editor inglês Allen Lane voltava de uma visita à escritora Agatha Christie quando seu trem fez uma parada na estação de Exeter.

Em busca de alguma coisa para ler, ele encontrou à venda apenas revistas populares e edições vagabundas de clássicos vitorianos. Dessa falta de opções, diz a lenda, veio o momentoldquo; eureka’ de Lane. Criada meses depois, em 1935, a Penguin Books mudaria para sempre o mercado de livros populares, trazendo obras de autores contemporâneos a preços baixos, com paginação e qualidade editorial superiores às dos concorrentes. Durante a Segunda Guerra, os livros da Penguin, pequenos e fáceis de carregar, eram populares com os soldados, e logo a empresa expandiria seu catálogo, incluindo clássicos.

Embora diga-se que Lane tirou muitas de suas ideias da alemã Albatross Books, criada em 1932, foi a Penguin que se tornou sinônimo mundial de livros baratos de qualidade.

O historiador Alberto da Costa e Silva — que organizou para a Penguin-Companhia o volume ‘Jorge Amado: Essencial’, a ser lançado em outubro — lembra que já nos anos 50 os livros da editora chegavam ao Brasil mais baratos do que os editados aqui, apesar dos custos de importação.

— Todo mundo que lê literatura inglesa lê os livros da Penguin — diz. — Eu ia comprálos na antiga livraria Freitas Bastos, no Largo da Carioca.

Na época, eles custavam mais ou menos a mesma coisa que uma entrada de cinema.

Outro consumidor de longa data dos livros da Penguin e dono de uma biblioteca invejável, o escritor Alberto Mussa afirma que também para os interessados em outras literaturas além da inglesa a editora foi e é importante no Brasil.

— Já tive inúmeros e tenho ainda muitos livros da Penguin.

Praticamente são todos da coleção Penguin Classics. A Penguin tem também uma linha chamada ‘The Penguin Book of…’, podendo ser ‘african stories’, ‘indian stories’ etc. Na falta de traduções brasileiras, são fundamentais para um leitor interessado na literatura feita fora do eixo Europa-EUA.

Em 2010, a Penguin completou 75 anos de existência. Para o CEO da empresa, John Makinson, os principais desafios para o futuro da companhia estão ligados ao mercado digital (leia entrevista abaixo).

O que não impede que a PenguinCompanhia pague tributo ao passado da tradicional editora: todos os títulos de autores brasileiros lançados pelo selo vão recuperar o design original dos livros da Penguin, como se vê na capa de ‘O Brasil holandês’. A exceção são os da série ‘Essencial’, como o de Joaquim Nabuco, que seguem o padrão atual.

 

‘O mercado digital vai redefinir a indústria editorial’

Na próxima Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o inglês John Makinson está escalado para conversar com o historiador americano Robert Darnton sobre o futuro dos livros na era digital. É um assunto que ele conhece bem: CEO da Penguin, Makinson está ele próprio participando da criação desse futuro, dirigindo os projetos de inovação da empresa. Casado e pai de dois filhos, Makinson é um ex-jornalista que trabalhou na agência de notícias Reuters e foi diretor do ‘Financial Times’. Recentemente, foi incluído pelo jornal inglês ‘The Guardian’ entre as cem pessoas mais influentes da indústria de mídia no mundo. Por telefone, de Londres, ele conversou com O GLOBO.

O GLOBO: O senhor vai falar na Flip sobre o futuro dos livros. Aos 75 anos, o que a Penguin tem feito para se adaptar ao mercado digital? JOHN MAKINSON: Estamos investindo em novos tipos de conteúdo para e-book e em aplicativos baseados em livros para o iPhone, por exemplo. Isso vai redefinir o que é a indústria editorial.

Foi lançada em abril uma edição de ‘Alice no País das Maravilhas’ para o iPad, com animações e conteúdo sensível ao toque e movimento. Em sua opinião, esse tipo de edição se limitará a livros infantis e didáticos, ou se aplicará também a clássicos e ficção em geral? Essa é uma boa pergunta. De fato, começamos nos concentrando em livros infantis ilustrados e livros como guias de viagem e obras de referência, sobre o corpo humano, por exemplo. Agora estamos pensando em ficção narrativa e em como enriquecer obras de ficção e não ficção dessa forma. Pensando em clássicos, podemos adicionar informações, notas, artigos sobre costumes do período, vídeos com pesquisadores, trechos de outros romances do mesmo autor.

Há muito que pode ser feito.

Existe algo na experiência atual de leitura que deveria permanecer igual? Você pode enriquecer a experiência de leitura e deixar o livro em si intacto. Lendo um livro de Tolstói, por exemplo, você pode pesquisar todas as referências dele ao amor, ou à guerra. Para estudantes, particularmente, acredito que isso pode ser muito útil.

Mas não teria, por exemplo, cenas animadas de batalha em ‘Guerra e paz’? Não. Não no livro. Mas talvez possa fazer isso num aplicativo de ‘Guerra e paz’. O que não se pode fazer é mexer com o que Tolstói escreveu. Mas você pode pegar uma ideia e fazer um jogo digital a partir dela.

Que percentagem do faturamento da Penguin vem hoje de vendas digitais? Em 2009, a percentagem mundial foi de 2%, mas nos Estados Unidos foi mais alta.

Neste ano, a percentagem no mercado americano está chegando a 10%. É um crescimento veloz.

 

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