Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2010
Gabriel Rossi e Aldo Fornazieri

A internet e as eleições

As eleições presidenciais deste ano parecem estar sendo marcadas por algumas especificidades, destacando-se: 1) A forte polarização entre candidatos, 2) o presidente Lula como um de seus principais protagonistas e 3) a presença da internet como um dos mais importantes meios de campanha.

Com a ascensão de uma imensa classe média no Brasil, que agora tem acesso ao computador, é inevitável supor que a internet deverá ser um fator diferencial nesta campanha. Ainda mais se tomarmos como horizonte a campanha de Barack Obama para a Casa Branca e a popularização – tipicamente brasileira – das redes sociais, como Twitter, Facebook, Orkut e blogs de todos os gêneros.

Mas a largada desta campanha se demonstra, até aqui, bastante estéril e imatura. Uma análise feita durante um período de dois meses nos possibilitou aferir, por exemplo, a quantidade e a qualidade das citações de determinadas marcas e nomes – no caso, dos candidatos – nas redes sociais. Já foi possível constatar a falta de qualificação do debate e dos conteúdos políticos e os ataques gratuitos que vicejam na web.

Parte deste cenário desanimador pode, sim, ser imputado aos próprios candidatos, que, se não exortam seus eleitores a essa batalha cibernética insana, também não inibem tal comportamento. Os comandos estratégicos das campanhas, afinal, são responsáveis pela qualidade ou pela falta dela no debate político-eleitoral.

Há por trás disso tudo uma estratégia caótica de guerra em curso, na qual os dois principais candidatos parecem valer-se do que no mundo da internet é chamado de ‘missionários digitais’. Esta expressão, criada para designar os profissionais que dispõem de tempo para promover as empresas na web e que é um bom exemplo de estratégia digital nos EUA, desvirtuou-se por aqui. Nessa lógica, é possível ver militantes na internet trabalhando para convencer indecisos, acusando adversários e rebatendo críticas no pior exemplo da desqualificação política.

As etiquetas básicas das mídias sociais são na maioria das vezes esquecidas e um debate de surdos flui surpreendentemente. Parece não se perceber que a internet é um instrumento singular e poderoso de mediação de conteúdos e que a eficácia de uma campanha depende da combinação da potência do meio com a qualidade do conteúdo.

Um olhar mais próximo da blogosfera mostra que boa parte de seus influenciadores tem algum tipo de ligação com a grande imprensa ou são celebridades. A transmissão das propostas de governo dos principais candidatos está ainda confusa e isso atrapalha o vínculo entre a comunidade web e a qualificação do debate.

As estratégias adotadas nas redes sociais comprovam a percepção de que os presidenciáveis ou os responsáveis por suas campanhas não enxergaram ainda a necessidade de responder a algumas perguntas básicas. Onde meu eleitor está? Quem ele influencia? Por quem é influenciado? Como ele usa as tecnologias, do ponto de vista da política? Ele apenas assiste a conteúdos, compartilha com os outros, comenta, cria ou modera comunidades? Que tipo de ações específicas deveriam ser usadas para cada grupo? Como responder a acusações infundadas? Como propagar minhas ideias de forma eficiente e sintética?

Um breve comparativo entre as tags José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva na blogosfera, num período de 30 dias (até 14 de julho), mostra que a primeira foi responsável por 44,5% das menções, a segunda, por 39,33% e a terceira, por 16,2%. Em 30 de junho, a expressão José Serra alcançou mais de 3 mil menções no Twitter. O anúncio do vice Índio da Costa foi bastante responsável por esse buzz. Já na comparação entre as expressões José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva na twittosfera, num período de 30 dias (também até 14 de julho), a primeira é responsável por 46,4% das menções, a segunda, por 21,9% e a terceira, por 31,8%, com 27.509, 12.984 e 18.854, respectivamente. Um pouco menos de um quarto das citações sobre Dilma Rousseff no Twitter é relacionado ao presidente Lula.

Além dos EUA, mais recentemente Inglaterra e Colômbia vivenciaram intensa campanha política pela internet. Nesses países foi possível verificar que muitas vezes a internet pautou o debate, transbordando a discussão para bares, escolas e casas, algo que até agora não vem ocorrendo no Brasil. Parece que será mais bem-sucedida a campanha que souber escrever este roteiro e quem apostar principalmente nos jovens, que são os mais conectados.

Os jovens mais escolarizados são grandes influenciadores na sociedade. Eles têm na rede mundial uma fonte inesgotável de pesquisa e informação e nesta eleição esse processo não será diferente. Indiretamente, a internet tornar-se-á um veículo de comunicação política para pais, familiares, colegas de classe, amigos, entre outros. A dica é seguir o comportamento destes jovens, em vez de seguir a tecnologia de forma obstinada e sem critérios. Os jovens importam-se com o que pessoas da mesma idade e comunidade pensam, e o bom debate político terá mais espaço entre eles do que com qualquer outro público internauta.

Como nenhuma outra, esta eleição tem um caráter de experimentação por causa da popularização da internet nos últimos anos. Erros serão normais, mas o inadmissível será a perda do pudor, das boas maneiras e da inteligência. Talvez a maior contribuição deste fenômeno seja a inevitável introdução da escuta estratégica do eleitorado, que, com o advento da web social, passou a fornecer pistas e informações vitais na condução de uma campanha e de projetos políticos. Mudanças de rota, antes, levariam dias para ocorrer, mas a internet levará segundos para mostrar a necessidade da adoção de táticas diversas e eficazes. Perderá quem não perceber que o online também constitui o real. Até mesmo na política.

RESPECTIVAMENTE, ESTRATEGISTA DE MARKETING NA INTERNET E SÓCIO-FUNDADOR DA GABRIEL ROSSI CONSULTORIA; DIRETOR ACADÊMICO DA FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO

 

TECNOLOGIA
Erika Kinetz

Índia apresenta seu iPad de US$ 35

Parece um iPad, mas custa 1/14 de um iPad: é o protótipo de um tablet básico dirigido ao público estudantil, que a Índia acaba de apresentar – e espera começar a produzir em 2011. ‘Esta é a nossa resposta ao computador de US$ 100 do MIT’, disse o ministro de desenvolvimento de recursos humanos Kapil Sibal, ao Economic Times na apresentação do aparelho esta semana.

Se o governo conseguir encontrar um fabricante, o computador com sistema operacional Linux será o mais recente de uma série de inovações ‘mais baratas do mundo’ a chegar ao mercado da Índia, que já tem o carro compacto Nano de 100 mil rupias (US$ 2.127), o purificador de água de 749 rupias (US$ 16) e a cirurgia a coração aberto por US$ 2 mil.

O tablet pode ser usado para funções como processador de texto, navegação na internet e videoconferência. Também tem uma opção a energia solar – importante para o interior da Índia que tem escassez de energia -, embora ela represente um acréscimo do custo.

Em 2005, Nicholas Negroponte – um dos fundadores do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology – apresentou um protótipo de laptop de US$ 100 para crianças dos países em desenvolvimento. A Índia o rejeitou, alegando que era caro demais, e durante alguns anos se dedicou ao desenvolvimento de uma opção própria mais barata.

Disputa de preços. O laptop de Negroponte acabou custando US$ 200, mas, em maio, sua associação sem fins lucrativos, One Laptop Per Child (Um laptop para cada criança), anunciou que pretende lançar um tablet básico de US$ 99. Sibal recorreu aos estudantes e professores das universidades técnicas da Índia para criar o aparelho de US$ 35, depois de receber uma resposta ‘morna’ de empresas privadas. Ele espera conseguir baixar o custo para US$ 10.

Mamta Varma, uma porta-voz do ministério, disse que a redução dos custos do hardware e o design inteligente tornam o preço sugerido plausível. O tablet não tem disco rígido, mas usa um cartão de memória, semelhante ao de um celular. O seu design reduz o custo do hardware, e o uso de software de fonte aberta também contribui para torná-lo mais econômico.

Varma disse que várias indústrias globais, e pelo menos uma de Taiwan, se mostraram interessadas na produção do aparelho de baixo custo, mas ainda não foi concluído nenhum acordo de produção ou distribuição. A porta-voz não quis identificar as companhias.

A Índia planeja subsidiar o custo do tablet para os seus estudantes, para que o preço de compra possa chegar a cerca de US$ 20. ‘Dependendo da qualidade do material que está sendo usado, certamente será plausível’, afirmou Sarah Rotman Epps, analista da Forrester Research. ‘A questão é: será suficientemente bom para os estudantes?’ A lucratividade também é um problema para uma máquina de US$ 35.

Aceitação. Segundo Sarah, os subsídios do governo ou a dupla comercialização – em que os preços mais altos nas vendas realizadas no mundo desenvolvido são usados para subsidiar as vendas a baixo custo em mercados como a Índia – podem convencer um fabricante a aceitar a empreitada e viabilizar o projeto.

Esta e outras iniciativas semelhantes – como os tablets Kakai Kno e Entourage Edge – mostram que existe uma demanda global para um aparelho a preço acessível que permita reduzir os custos elevados dos textos, disse a analista.

Se isso funcionar, Sarah prevê que o aparelho poderá finalmente conscientizar o setor da necessidade de baixar os custos. ‘Há uma pressão sobre todos os fabricantes de aparelhos para que mantenham os custos baixos e procurem inovar’, acrescentou.

O projeto faz parte de uma ambiciosa iniciativa na área de tecnologia da educação do governo indiano, que também quer introduzir a conectividade de banda larga da Índia em 25 mil faculdades e 504 universidades e tornar o material de estudo acessível online. Até o momento, foram conectadas cerca de 8,5 mil faculdades, e cerca de 500 cursos pela internet e por vídeo foram carregados no YouTube e em outros portais, informou o Ministério de Desenvolvimento de Recursos Humanos. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

 

Banda larga popular ainda é para poucos

O governo de São Paulo lançou em outubro do ano passado o Programa Banda Larga Popular, que reduziu de 25% para zero a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercados e Serviços (ICMS) de planos de banda larga com preço máximo de R$ 29,80 por mês.

Mas, passados nove meses do lançamento, ainda são poucos os beneficiados. A Net é a empresa que mais conseguiu clientes para esse plano, com cerca de 100 mil assinantes. A Telefônica, que optou por atender esses clientes com a tecnologia sem fio WiMesh, está com somente 500 assinantes. Nenhuma operadora celular aderiu ao programa.

‘Os números da Net demonstram que esse plano tem aceitação, o que é um fato positivo’, disse Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco. ‘Eu acho que o decreto precisa ser aperfeiçoado em alguns pontos.’

Tude sugeriu que o governo permita que as celulares possam cobrar o modem do cliente da banda larga popular, o que hoje é proibido pelas regras do programa. Ele também disse que poderia ser encontrada uma solução para que a Telefônica possa usar sua rede de telefonia fixa para prestar o serviço.

Barreira. Houve um desentendimento entre o governo e a Telefônica logo após o anúncio do programa. A operadora planejava oferecer a internet popular somente para quem fosse assinante do telefone fixo, mas o governo não aceitou. A Telefônica apontou questões técnicas, argumentando que conseguiria garantir a entrega do serviço somente para quem já tivesse a infraestrutura instalada.

O pacote de banda larga popular da Net oferece velocidade de 512 quilobits por segundo (kbps). Quem assina um combo, com os canais abertos de TV e o telefone, paga R$ 39,90 e tem o dobro de velocidade, com 1 megabit por segundo (Mbps).

‘A banda larga popular já existe em São Paulo’, disse Rodrigo Marques, diretor executivo de Estratégia e Gestão Operacional da Net. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), proposto pelo governo federal, prevê pacotes com preço de R$ 29 a R$ 35 e velocidades entre 512 kbps e 784 kbps. Em São Paulo, a única medida foi o corte de impostos, não houve recriação de empresa estatal, como está fazendo a União.

O microempresário Adelson Araújo da Silva, de 47 anos, assinou a banda larga popular da Net, com TV e telefone. Ele tem um computador portátil, e antes de assinar o pacote, se conectava com o sinal de Wi-Fi de um vizinho, ou usava a internet no escritório.

‘Eu e minha esposa usamos mais para pesquisa’, explicou Silva, que tem dois filhos. ‘As crianças usam para pesquisa e Orkut, que não tem jeito. Eles também usam para jogos.’ O microempresário instala e dá manutenção em equipamentos de ar-condicionado.

Potencial. Quando o programa estadual foi anunciado, havia uma estimativa de que, em São Paulo, poderiam ser beneficiadas cerca de 2,5 milhões de residências, que têm computador sem internet ou com conexão discada.

‘Para a gente, o tema da banda larga popular não se resume ao programa do governo’, disse Fábio Bruggioni, diretor executivo de Clientes Residenciais da Telefônica. ‘No primeiro semestre, 86% de nossas vendas de banda larga foram para as classes C e D.’

Para oferecer o pacote com isenção de impostos, a Telefônica iluminou com tecnologia sem fio WiMesh 3,5 mil domicílios em Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo. ‘Temos cerca de 500 clientes conectados. Até o fim do ano, a rede sem fio cobrirá 40 mil residências, com foco em baixa renda.’

Segundo Márcio Carvalho, diretor de Produtos e Serviços da Net, houve um temor, no início, de canibalização da base atual de clientes. Mas, com a demanda crescente por velocidade, isso não aconteceu.

‘A necessidade de banda tem aumentado muito’, disse Carvalho. ‘O assinante consome hoje sete vezes mais capacidade do que consumia em 2005.’ A empresa lançou recentemente pacotes com 50 Mbps de velocidade. ‘O limite técnico atual é de 300 Mbps’, disse o executivo.

 

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