Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O presidente, o Estado e a democratização da mídia

O presidente Lula acordou na segunda-feira (30/10) disposto a marcar as grandes diferenças entre o seu primeiro e segundo mandato. E em matéria de relações com a imprensa conseguiu muita coisa em apenas 24 horas: contrariando o seu antigo distanciamento dos jornalistas, ontem o presidente Lula apareceu ao vivo em todos os telejornais noturnos, com entrevistas exclusivas.


Bom sinal. Mas é preciso que esta aproximação não seja formal, medida em números de encontros. A próxima etapa deve ser marcada pela franqueza, transparência. Se a mídia faz a ponte com a sociedade, é evidente que a sociedade precisa saber o que o presidente pensa da mídia.


No debate da Record na semana passada, o presidente mandou um recado construtivo, otimista [ver ‘O presidente-candidato e a comunicação‘]. Nesta segunda-feira, por intermédio do seu pitbull preferido – o ex-ministro Ciro Gomes – veio um recado meio truncado, na direção contrária: é preciso democratizar os meios de comunicação [ver ‘É preciso democratizar a mídia‘].


Dia festivo


Ora, a proposta de Ciro Gomes parte do pressuposto de que os meios de comunicação não estão democratizados ou são insuficientemente democráticos. Acontece que a mídia impressa é autônoma, absolutamente autônoma, mas a mídia eletrônica depende de concessões públicas. Sua qualidade, grau de abertura ou democracia dependem do Estado – nele compreendidos o Executivo e o Legislativo. Portanto, quem falhou nesta suposta insuficiência democrática foi o Estado brasileiro.


É preciso registrar também que foi no primeiro mandato do presidente Lula que o seu aliado José Sarney conseguiu inutilizar um instrumento previsto na Constituição, o Conselho de Comunicação Social, fórum legítimo para discutir e encaminhar soluções para os problemas da mídia brasileira.


No fim de um dia festivo e auspicioso, ficou a impressão de que será preciso decidir quem fala em nome do presidente a respeito da imprensa. O ideal seria que fosse ele mesmo. E sem intermediários. O assunto é sério demais para bravatas.