Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2010
Uirá Machado

Dilma tem o maior potencial entre quem não viu propaganda

A parcela da população que ainda não assistiu aos programas eleitorais na TV representa 66% do eleitorado e é formada sobretudo pelos menos escolarizados e pelos mais pobres, segmentos em que a candidata Dilma Rousseff (PT) se sai melhor.

Segundo pesquisa Datafolha realizada na sexta, a petista tem vantagem ainda maior, de 24 pontos, sobre José Serra (PSDB) entre os 34% dos eleitores que viram a propaganda eleitoral gratuita.

Essa diferença mostra a consolidação do potencial de transferência de Lula para sua candidata, com a associação direta entre os dois feita pela propaganda eleitoral.

‘Considerando o efeito dos primeiros dias de campanha na TV entre os eleitores que viram os programas, é razoável supor que Dilma tem potencial de crescimento entre os que ainda não viram’, afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

PROPAGANDA NA TV

No cenário global, Dilma tem 47% das intenções de voto, contra 30% de Serra e 9% de Marina Silva (PV), resultado que daria à petista vitória no primeiro turno se as eleições fossem hoje (a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos).

Entre os que declararam ter visto ao menos uma vez a propaganda na TV, Dilma sobe para 53%, enquanto Serra tem 29% e Marina Silva, 11%.

Entre os 66% que não viram os programas na TV, a diferença entre Dilma e Serra é de 13 pontos: 44% a 31%, respectivamente.

A menor audiência da propaganda eleitoral na televisão se deu entre os que têm apenas ensino fundamental. Nesse grupo, 28% viram os programas, contra 37% dos que têm ensino médio e 45% dos mais escolarizados.

Os menos escolarizados são metade dos eleitores que não assistiram à propaganda. Nesse segmento a petista teve seu melhor desempenho, aumentando uma diferença de 5 pontos na pesquisa anterior para 19 agora.

No corte por renda, o cenário também é favorável a Dilma. Os mais pobres são 51% dos eleitores que ainda não viram os programas eleitorais na TV. Nessa fatia do eleitorado, a petista tem 20 pontos de vantagem.

Entre os que têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos, 30% viram a propaganda, percentual que sobe entre os que ganham mais de dois a cinco mínimos (35%), mais de cinco a dez (46%) e mais de dez (45%).

 

Nancy Dutra, Fábio Amato e Claudio Angelo

PT atribui crescimento de Dilma à TV

Os maiores partidos da chapa de Dilma Rousseff (PT) à Presidência comemoraram a dianteira conquistada pela candidata do presidente Lula na pesquisa Datafolha divulgada ontem.

A petista tem 17 pontos de vantagem sobre o tucano José Serra e chegou aos 47% de intenção de voto. Serra tem 30% e Marina Silva (PV), 9%. Considerando apenas os votos válidos, Dilma venceria já no primeiro turno.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, creditou a alavancada à qualidade dos programas eleitorais da petista. Esta semana teve início a campanha em rádio e TV

‘Estamos indo muito bem, mas não dá para subir no salto alto. Vamos continuar com a nossa campanha e incentivar a militância a ir às ruas.’

Para Marco Aurélio Garcia, da coordenação da campanha de Dilma, o momento é de fazer com que a vantagem na pesquisa se reflita nas coligações nos Estados e na eleição de uma grande bancada da base aliada no Senado e na Câmara.

O PMDB, que tem Michel Temer (SP) como vice na chapa, festejou o resultado da pesquisa. ‘O presidente Michel me ligou às 3h da manhã para falar sobre a pesquisa. Estava muito feliz’, disse o líder da sigla na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Um dos maiores trunfos de Dilma, segundo Alves, é o apoio que ela tem nos Estados. ‘Imagino o constrangimento de Serra. Nem os aliados fazem campanha.’

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse que a tendência é a vitória da petista em primeiro turno. ‘O fato novo da campanha é favorável à Dilma, que é o presidente Lula pedindo votos . E ele está há apenas uma semana fazendo isso.’

 

Polícia Federal fecha rádio que ironizava políticos no Pará

A Polícia Federal fechou ontem uma rádio pirata de Belém que criticava a governadora Ana Júlia Carepa (PT), candidata à reeleição.

A Rádio Tabajara, que ironizava políticos locais, operava há dois anos e meio na internet e ilegalmente em FM.

Carlos Mendes, um dos jornalistas da rádio, disse que Ana Júlia intercedeu politicamente para que a rádio fechasse. Sua assessoria negou que tenha pedido o fechamento.

Foram levados os equipamentos de transmissão da rádio, que agora é transmitida somente pela internet.

 

VENEZUELA
‘Alo Presidente’ é suspenso até 3 de outubro

A mídia oficial venezuelana anunciou ontem que o programa semanal ‘Alô Presidente’, exibido aos domingos e no qual Hugo Chávez faz propaganda de seu governo, está suspenso até o dia 3 de outubro.

A suspensão obedece à necessidade de respeitar as normas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para a campanha das eleições parlamentares de 26 de setembro, que começa na próxima quarta-feira.

O programa ainda poderia ser transmitido hoje, mas o governo cedeu o espaço para exibir uma simulação da votação organizada para comprovar o bom funcionamento do sistema eleitoral.

Nenhum instituto de pesquisa, até agora, aposta que o governo Chávez perderá a maioria.

No entanto, há sinais de que a maioria qualificada poderia estar em risco, assim como a chamada maioria ‘moral’ do chavismo, ou a vitória no voto total venezuelano.

Segundo o Instituto GIS XXI, próximo ao governo, o chavista PSUV obteria entre 50% e 55% dos votos nacionais.

 

VAZAMENTOS
Suécia retira ordem de prisão contra o editor do WikiLeaks

Horas depois de obter um mandado de prisão contra o australiano Julian Assange, 39, ontem por suspeita de estupro, a procuradoria da Suécia anulou a decisão. O recuo, informou o órgão, foi necessário porque as acusações eram infundadas.

O site WikiLeaks foi responsável, em julho passado, pelo vazamento de mais de 90 mil documentos relativos à Guerra do Afeganistão, o que incomodou muitos governos.

Mais cedo, por meio de sua conta no Twitter, Assange havia classificado a ordem de prisão sueca de ‘jogo sujo’.

 

REINO UNIDO
Vaguinaldo Marinheiro

Blair vira inimigo número um da mídia

Ele já foi ‘o cara’. Há 13 anos, quando se tornou primeiro-ministro, Tony Blair era visto como aquele que iria revolucionar a política do Reino Unido e colocar o país de volta no centro do palco das decisões mundiais.

Hoje, é o inimigo público número um da mídia de seu país, e até sua decisão de doar tudo o que for arrecadado com a venda de suas memórias é motivo para uma saraivada de críticas.

A principal razão para a mudança de humor foi a Guerra do Iraque. Blair é acusado de ter mentido para justificar a entrada de seu país na guerra e de ter acobertado casos de tortura.

No dia 1º será lançado seu livro de memórias, ‘A Journey’ (‘Uma Jornada’), em que ele conta sobre o período como premiê. Há expectativa de que seja um best-seller, uma vez que o livro já aparece no topo das listas de pré-venda de livrarias on-line.

Na semana passada, Blair anunciou que doará tudo o que receber pelo livro a uma organização de ajuda aos ex-combatentes britânicos, inclusive os 4,6 milhões de libras (cerca de R$ 12,6 milhões) que a editora deu como adiantamento.

Será a maior doação já feita a essa associação. Mas a reação dos meios de comunicação foi de desconfiança, perplexidade e raiva.

O Channel 4 apresentou a notícia, em seu telejornal, misturando imagens de Blair e de mutilados da guerra.

Nos jornais impressos, apenas manchetes negativas, mesmo naqueles mais à esquerda, que o apoiavam durante seu governo.

O ‘Independent’ estampou na primeira página: ‘Obrigado pelas memórias? Legião Britânica agradece os 4 milhões [de libras] após Tony Blair oferecer rendimentos de sua autobiografia, mas parentes dos soldados mortos dizem que doação não é nada mais que dinheiro sangrento’. No ‘Guardian’: ‘Gesto generoso ou consciência pesada?’

Os mais conservadores foram menos incisivos: ‘Blair tenta virar a página com doação’, afirmou o ‘Times’.

Num país que despreza a ostentação, Blair é também atacado por ter ficado rico depois de deixar o governo.

Ele trabalha como consultor para empresas e bancos e cobra milhares de dólares por uma palestra.

Acumulou, segundo os jornais, cerca de 60 milhões de libras (R$ 165 milhões), comprou casas para os filhos e vive como um rei em uma de suas propriedades.

MEMÓRIAS

Está marcada para o dia 8 do mês que vem uma sessão de autógrafos numa livraria no centro da cidade.

Organizações antiguerras prometem manifestações. Mas um forte esquema de segurança deverá poupar o ex-premiê de um contato direto com seus detratores.

Blair não é o único a contar em livro os bastidores de seu governo. Amigos dizem que seu sucessor, Gordon Brown, prepara um volume desde que deixou o posto, em maio.

Em junho, foi publicado ‘The Third Man’ (‘O Terceiro Homem’), de Peter Mandelson, ex-secretário de Estado e dos Negócios.

Em 2007, Alistair Campbell, diretor de comunicação e estratégia do governo Blair, publicou ‘Os Anos Blair’, baseado em um diário que manteve de 1997 a 2003.

 

TELEVISÃO
Audrey Furlaneto

Estrela da Globo na Copa, Tiago Leifert tem ‘clone’

Ele não fala difícil, não emposta a voz e não usa ‘teleprompter’, aquele equipamento que mostra o texto que o apresentador deve ler. Está à frente de um cenário em tons de verde, veste calça jeans, tênis e camiseta polo.

Apresenta um programa de esportes como se fosse um fã-espectador, sem cerimônia e com gracinhas no texto e na edição. Ele é Tiago Leifert? O apresentador do ‘Globo Esporte’ em São Paulo, queridinho da Globo da Copa? Quase.

Falta a Globo, sobra um ‘h’ no nome e alguns músculos que o mirrado prodígio global não tem. Thiago Oliveira, 26, é uma espécie de clone de Leifert, 30. Está à frente do ‘Super Esporte’, na TV Gazeta.

Thiago, o outro, assumiu em junho o programa (diário, com duração de 15 minutos), numa tentativa da Gazeta de ‘rejuvenescer’ o horário.

‘Não faço locução linear. Ou eu converso com o espectador ou eu faço um sotaque engraçado’, diz ele, repetindo a escola de Leifert, anos luz mais descontraído que, por exemplo, Léo Batista, o jornalista esportivo da velha guarda da Globo.

Embora não goste que digam que imita Leifert, Thiago, o Oliveira, diz entender que o ‘original’ criou escola.

‘Ele é referência para esta linguagem. Quem disser que não, está mentindo. Mas eu faço do jeito que sempre fiz’, diz, referindo-se ao trabalho como apresentador-vendedor no programa ‘Best Shop TV’, em 2006, quando entrou na Gazeta (aliás, mesmo ano em que Leifert entrou na Globo).

Nome forte Embora tenha sido destituído do cargo de diretor-geral da MTV, André Mantovani segue à frente da principal atração da emissora, o VMB. Neste ano, a premiação vai ao ar no dia 16 de setembro.

Lá fora A Globo se prepara para quatro eventos internacionais em setembro. Três deles são da linha ‘Brazilian Day’ (no Japão, em Manhattan e em Toronto). O quarto será o ‘Olé, Brasil’, em Madri.

PASSIONE

QUE SOBE

37 pontos

Foi a audiência da novela de Silvio de Abreu durante três noites seguidas na última semana; o bom índice, recorde da trama, só havia aparecido no dia de estreia da produção, em maio

 

Vanessa Barbara

Uma catraca para a fama

FOI POR razões acadêmicas que me propus a resenhar o programa ‘Busão do Brasil’ (Band), tendo publicado um livro-reportagem sobre o terminal rodoviário do Tietê (‘O Livro Amarelo do Terminal’), e ciente de minha condição de especialista em questões de transporte coletivo.

Nessa atração, o primeiro reality show itinerante da TV brasileira, 12 participantes ficarão confinados num ônibus que percorrerá 4.000 quilômetros, com paradas em 16 cidades diferentes. O prêmio é de R$ 1 milhão e será entregue no destino final, São Paulo, em outubro.

A despeito das elevadas expectativas, foi impossível assistir até o fim. As brigas violentas por uma lata de leite condensado, a falta absoluta de graça/interesse e a supremacia da lycra no vestuário dos participantes acabaram impossibilitando a empreitada.

Diante desse revés, apresento aqui minha sugestão para um reality show dentro de um coletivo, que se passaria durante uma viagem do 701-U, Jaçanã-Butantã/USP, onde, a exemplo da atração da Band, ‘o psicológico fica lá em cima’ e ‘é preciso ser um guerreiro’.

Os participantes do ‘reality’ serão 38 pessoas sentadas e 74 em pé, que terão que conviver por duas horas e meia com um fardo de tecidos, uma samambaia e dois travesseiros carregados por uma senhora que, antes de sair, exagerou no perfume.

Durante o programa, o cobrador ficará encarregado de assuntar com as celebridades, fazendo perguntas íntimas, eliminando os que param na porta sem a intenção de descer e anunciando provas-relâmpago, como aquela do ‘um passinho pra frente, por gentileza’, que acontece sempre que um novo membro tenta embarcar.

A prova mais temida da atração, porém, ocorre quando alguém cochila e perde o ponto. Ela se chama: ‘Vai descer no próximo’ e é de um suspense insuportável -o pobre coitado tem que se acotovelar entre sacolas de mercado, canos de PVC e uma patrulha de escoteiros, vencer a catraca e se arremessar em direção à saída, quando então descobrirá que é tarde demais e que o programa chegou ao fim: o ônibus pifou e os passageiros ganharam como prêmio uma caminhada noturna pela avenida Guapira.

Aí começa outro reality show, inspirado em ‘No Limite’.

 

AMÉRICA LATINA
Mario Lubetkin

Perto no comércio, distante na informação

Enquanto um conjunto de dados econômicos demonstra as relações positivas entre Europa e América Latina, que reforçam a proximidade cultural historicamente existente, os meios de comunicação europeus há tempos veem a informação latino-americana como uma de suas últimas prioridades.

Isso contribui para gerar no Velho Continente um novo estado de opinião que distancia a América Latina dos interesses europeus.

Na Cúpula Euro-Latino-Americana, realizada em Madri em maio, foram fechados acordos de livre-comércio com a América Central e alguns países andinos e relançadas as negociações com o Mercosul.

As informações sobre os acordos e sobre a própria cúpula ganharam espaço secundário na maioria dos meios de comunicação europeus, ou passaram despercebidas.

A União Europeia (UE) é hoje a principal parceira comercial do Mercosul. A UE exporta mais para a América Latina do que para a China, e seus investimentos na região superam os que ela tem nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). O comércio inter-regional dobrou entre os anos de 1999 e 2008.

Em contrapartida, se observamos os graus de importância atribuídos pela imprensa europeia às diferentes regiões do mundo, o primeiro é ocupado pelo próprio continente; o segundo, pelos Estados Unidos; o terceiro, pela Ásia; o quarto, pela África; apenas depois disso vem a América Latina.

Essa foi a conclusão unânime dos jornalistas especializados em América Latina dos principais veículos de imprensa europeus, reunidos em seminário de diretores de ambas as regiões organizado pelo governo da Espanha e pela agência Inter Press Service (IPS), no contexto da presidência espanhola da União Europeia.

De acordo com alguns analistas latino-americanos, essa região deixou de ser ‘notícia’ para a Europa por não haver mais golpes de Estado, ondas de exilados e violações maciças dos direitos humanos.

Outros consideram o fato resultante da falta de visão de jornalistas europeus, que não notam a tendência de crescimento e integração regional, que reforça o papel da América Latina no plano internacional.

Poucos meios de comunicação europeus têm destacado que a recessão que afeta profundamente os Estados Unidos, a Europa e o Japão pela primeira vez não afetou em grande medida os países do Sul.

Foi assinalado que as crises que afetaram os países latino-americanos -assim como os asiáticos- em períodos anteriores os levaram a adotar um rigor maior, rigor este que se traduziu em situação financeira sólida que, somada à maturidade política, trouxe estabilidade e reforçou o sistema democrático.

Olhando com atenção para a relação entre as agendas da Europa e da América Latina, percebem-se aspectos de coerência e incoerência.

Enquanto elas convergem nos planos da inclusão social, das liberalizações, dos direitos humanos, da repressão ao narcotráfico e do terrorismo, o protecionismo -especialmente o agrícola-, os temas relativos à migração e os rescaldos do colonialismo -como o conflito entre Argentina e Reino Unido em torno das ilhas Malvinas- separam as duas regiões.

A complexidade desses fenômenos exige níveis maiores de preparo dos comunicadores. Alguns dirigentes europeus pensam que seus países estão ‘desatentos’ em relação à América Latina.

Mas um informe recente da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) observa que as relações bilaterais exigem mais atenção, já que, apesar de as duas regiões estarem ligadas pelo passado, o comportamento dos mercados vai determinar os novos tipos de alianças.

De fato, a projeção das tendências comerciais atuais indica que, em 2020, a principal parceira comercial da América Latina será a China, não mais a Europa.

MARIO LUBETKIN é diretor-geral da agência de notícias Inter Press Service (IPS).

 

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