Um grupo de ativistas da web denominado Wikicong criou um site www.thaileaks.info para postar informações sobre a Tailândia divulgadas pelo Wikileaks, que é, em parte, bloqueado no país. Segundo os membros do grupo, que se mantêm no anonimato, o espaço funcionaria como ‘uma ferramenta para furar a censura’ do governo tailandês ao conteúdo, que incluiria um vídeo do príncipe Maha Vajiralongkorn.
Desde junho, o acesso ao site especializado no vazamento de documentos confidenciais foi, em parte, proibido na Tailândia. O material pode ser visto por meio de outras variantes do domínio e também de alguns servidores locais. No fim de julho, o Wikileaks ganhou atenção mundial ao postar uma grande quantidade de documentos do Exército e inteligência americanos sobre a guerra no Afeganistão.
Camisas Vermelhas
No começo do ano, milhares de manifestantes antigoverno tomaram a capital do país por dois meses, antes de serem contidos por militares. O confronto entre os manifestantes, chamados ‘camisas vermelhas’, e as forças de segurança deixaram 91 mortos e mais de 1,4 mil feridos. Desde então, autoridades temem futuras manifestações.
Segundo Aree Jiyorarak, diretor do Escritório de Crimes Computacionais do Ministério da Informação e Comunicação da Tailândia, o Wikileaks não está bloqueado, mas pode não estar acessível por conta de ‘questões técnicas’. ‘Sei que muitos disseram que o site está bloqueado, mas é apenas um problema do servidor. Eu consigo acessá-lo do meu escritório. Posso garantir que ele está liberado’, afirmou. Cerca de 1.300 sites estariam bloqueados no país, informou ele, em parte porque continham vídeos de reuniões políticas na Tailândia. No entanto, estima-se que o número de sites proibidos seja bem maior do que o informado oficialmente.
O conteúdo mais sensível sobre a Tailândia no Wikileaks é um vídeo privado do príncipe, herdeiro do rei Bhumibol Adulyadej, de 82 anos, jantando com uma mulher que, posteriormente, tornaria-se sua esposa. O vídeo foi divulgado amplamente no país, que tem uma lei que prevê até 15 anos de prisão para quem ‘difamar, insultar ou ameaçar’ a família real.
Em uma mensagem ao governo da Tailândia, o grupo Wikicong desafiou as autoridades tailandesas a bloquear informações do Wikileaks. ‘Não nos preocupamos muito, porque há centenas, talvez milhares, de internautas prontos para que os dados fiquem disponíveis para o seu verdadeiro destino: o povo tailandês’.
Rede censurada
A censura online existe há anos na Tailândia. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, mais de 50 mil sites vêm sendo bloqueados, em especial depois do golpe de 2006 que tirou do poder o então primeiro-ministro, Thaksin Shinawatra, dando início à batalha política entre seus partidários, os ‘camisas vermelhas’, e os partidários do atual governo.
O Ato de Crimes Computacionais, aprovado em 2007 pelo governo militar interino, proíbe a circulação de material online considerado prejudicial à segurança nacional ou que cause pânico público. Depois dos protestos deste ano, foi declarado estado de emergência no país. Informações de Grant Peck [Associated Press, 20/8/10].