Na semana passada, o colunista do Washington Post, Mike Wise, foi suspenso por um mês após ter inventado uma informação e colocado-a na sua conta pessoal no Twitter. Muitos leitores e colegas de redação não acharam que a punição foi justa para o seu ato, comenta, em sua coluna de domingo [5/9/10], o ombudsman do diário, Andrew Alexander.
Durante seu programa semanal de rádio, na semana passada, Wise mencionou que Ben Roethlisberger, jogador do time de futebol americano Pittsburgh Steelers, suspenso por seis jogos pela Liga Nacional de Futebol Americano (NFL, sigla em inglês), por uma acusação de assédio sexual, poderia ter sua pena reduzida para cinco jogos. Ele informou que planejava colocar esta informação na sua conta pessoal no Twitter, para observar o quão rápido os dados não verificados são espalhados online. Em seguida, ele escreveu um tweet com a notícia. Posteriormente, a NFL divulgou ter reduzido a suspensão para quatro jogos.
Como ele havia previsto, diversos sites reproduziram a informação, citando como fonte Wise. Em outros tweets, o colunista disse não poder revelar sua fonte, mas logo foi descoberto que se tratava de uma brincadeira. Seus chefes, no entanto, não acharam graça e, no final do dia, ele recebeu a punição e foi suspenso por um mês. Wise disse que seu experimento lhe revelou que estava certo sobre o fato de ninguém checar os fatos e que ele havia sido um idiota, desculpando-se a todos os envolvidos.
Opiniões divergentes
Alguns na redação do jornal acharam que a punição foi branda e que ele devia ter sido demitido. Outros, por sua vez, consideraram-na excessiva. Wise tem uma considerável audiência online, impressa e no rádio. Como a informação não foi divulgada no Post – e sim no seu Twitter e no programa de rádio –, muitos leitores acreditam que ele não deveria ter sido punido. No entanto, as normas internas do jornal são claras e deixam explícitas as regras para uso de redes sociais. ‘Devemos lembrar que jornalistas do Washington Post são sempre jornalistas do Washington Post‘, alertam. ‘Os jornalistas do Post devem reconhecer que qualquer conteúdo associado a eles em redes sociais é equivalente o que aparece no jornal ou no site’.
Para jornalistas da era digital, não há desculpas para a falta de atenção sobre os riscos e responsabilidades do uso de redes sociais. Mas, na realidade, o episódio não está centrado no uso de redes sociais, mas na fabricação de uma notícia, na invenção de um dado – o que é indefensável. A falsidade de um jornalista no Twitter é o mesmo que sua falsidade no Post. Com isso, a credibilidade do diário fica afetada.