O que alguns chamam de opinião, outros descrevem como jornalismo interpretativo – uma definição tão opaca quanto sua prática, observa, em sua coluna [4/9/10], o ombudsman do New York Times, Arthur S. Brisbane. Seja qual for o nome, nada gerou mais indignação da parte dos leitores, nas últimas semanas, do que a opinião ou jornalismo interpretativo nas páginas de notícias do jornal.
O tema já foi debatido pelos três ombudsmen anteriores, mas Brisbane acredita que o fenômeno está se acelerando e que tem o potencial de redefinir o jornal. Não significa que os editores tenham decidido abandonar as virtudes tradicionais do jornalismo objetivo. Mas as páginas de notícias do NYTimes têm cada vez mais espaço para ‘vozes’, e não meramente reportagens, na medida em que editores permitem que sejam expostos os pontos de vista dos autores das matérias.
Muitos leitores insatisfeitos estão reclamando desta junção de notícias com opinião. ‘Estas normas estão mudando quase que invisivelmente sob o assento dos jornalistas’, opinou Tom Rosentiel, diretor do Projeto para Excelência em Jornalismo do Pew Research Center. ‘É até difícil para as audiências reconhecer o que indica quando é matéria ou quando é opinião’. Rosentiel acredita, ainda, que o meio online está acelerando o processo. ‘Acredito que estamos vendo o começo de um novo estilo híbrido de escrita, que é uma mistura de opinião com notícias’.
Matt Bai, cuja coluna Political Times, do dia 12/8, sobre o político Paul Ryan foi criticada por alguns leitores, defende-se. ‘Acredito que minha coluna é parte de um esforço maior para explorar diferentes formatos para uma nova era. Acho que isto representa uma tendência estimulante para o jornal; nenhum de nós pode pensar com velhas maneiras para as novas gerações de leitores’, contou. Segundo Richard Stevenson, subchefe de redação do escritório de Washington e editor de Bai, o NYTimes ainda está explorando sobre o quanto de opinião é permitido, ainda mais no que se refere a política. ‘Uma página como o Political Times tem a liberdade não de jogar opiniões a torto e a direito, mas de expressar uma conclusão sobre algo’, opinou.
Para Dan Gillmor, diretor do Knight Center for Digital Media Entrepreneurship na Universidade do Estado do Arizona, o esforço para demonstrar imparcialidade está errado. Ele acredita que não há conflito entre ter uma ‘visão do mundo’ e fazer bom jornalismo e dá, como exemplo, jornais britânicos como o The Guardian e o The Daily Telegraph. Mas Brisbane alerta que o NYTimes não está fazendo nada disso e deveria definir melhor cada trabalho, chamando as páginas de opinião de ‘opinião’ ou ‘comentários’, de modo que todos possam entender.