O papa Bento XVI consolou uma japonesinha de sete anos, garantiu a uma mãe que seu filho doente tem alma e aconselhou uma muçulmana que o diálogo é o caminho para a paz na Costa do Marfim. O pontífice respondeu a perguntas de telespectadores em uma atípica aparição na Sexta-Feira Santa, na TV italiana RAI. Não foi um bate papo espontâneo: foram selecionadas sete perguntas de três mil enviadas para o site da emissora. As respostas foram gravadas na semana passada.
A primeira questão veio da menina Elena, que perguntou ao papa por que ela sentia tanto medo depois do terremoto no Japão ter derrubado sua casa e matado muitas crianças. ‘Por que as crianças têm de estar tão tristes? Estou perguntando ao papa, que fala com Deus, para me explicar’, disse. Falando como se Elena estive do seu lado, o Bento XVI respondeu que ele também se indaga o motivo de tantas pessoas inocentes sofrerem, mas disse que ela deveria saber que Jesus também sofreu. ‘Você pode ficar certa de que no mundo, no universo, há muitas pessoas que estão com você, pensando em você, fazendo o que podem para ajudar você’.
O papa seguiu para uma pergunta de uma mãe italiana, Maria Teresa, que se preocupa com seu filho, Francesco, de 40 anos, em estado vegetativo desde a Páscoa de 2009. Ela lhe perguntou se a alma de Francesco ainda estava com ele. ‘Ele sente a presença do amor’, disse Bento XVI, pedindo-lhe que mantenha sua vigília como um ‘verdadeiro ato de amor’. ‘Eu lhe encorajo a continuar, para saber que você está fazendo um grande serviço à humanidade, com este sinal de fé, de respeito à vida, com o amor por este corpo ferido e esta alma que sofre. A situação se assemelha a de um violão com as cordas partidas, que não pode ser tocado. Da mesma forma, o corpo é um instrumento frágil, vulnerável. A alma pode não tocar, por assim dizer, mas segue presente’.
A terceira pergunta foi de uma mulher muçulmana que cumprimentou o papa em árabe e lhe pediu, em francês, por um conselho de como levar paz à Costa do Marfim, que está sendo atingida por violência política. ‘Quantos inocentes perderam suas vidas! Quantas mães e quantas crianças traumatizadas!’, afirmou. O papa lhe respondeu lamentar por poder fazer tão pouco, alegando ter pedido ao chefe do escritório de paz e justiça do Vaticano, o cardeal Peter Kodwo Turkson, que tente fazer uma mediação entre as facções opositoras do país. ‘O único caminho é renunciar à violência, começar com o diálogo, com a tentativa de encontrar a paz juntos’, afirmou.
Segundo o monsenhor Paul Tighe, número dois do escritório de comunicação do Vaticano, a decisão de ter o papa participando no evento televisionado partiu da conscientização de que ele deve se engajar mais com o público para garantir que sua mensagem seja amplamente recebida. ‘Este é um indício do que você pode chamar de interatividade. É o lançamento de algo novo para nós’, disse.
A transmissão foi entremeada por comentários de especialistas em religião, assim como vídeos das pessoas fazendo suas perguntas. A próxima iniciativa de comunicação do papa será no dia 4/5, quando ele se conectará com a estação espacial internacional, em ocasião da última missão da Endeavour, que leva a bordo seis astronautas, dois deles italianos. Informações de Nicole Winfield [AP, 22/4/11] e de Lucia Magi [El País, 22/4/11].