Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quando as notícias são orientadas pelo mercado

Em 1996, o jornalista americano James Fallows publicou um estudo sobre os efeitos malignos da TV na democracia. Dentre os fenômenos examinados por ele, estavam a trivialização implícita e inexorável em matérias políticas, a insistência de que cada questão política – não importa quão complexa – tem apenas dois lados e a tendência a tratar cada controvérsia política como se fosse um jogo de futebol americano e cada eleição, uma corrida de cavalos.

Fallows também destacou uma tendência igualmente perturbadora, em relação às notícias orientadas pelo mercado, analisa John Naughton [The Observer, 17/4/11]. Ou seja, pautas que são determinadas não por orientação profissional do que é importante ou relevante, mas por pesquisa sobre o que os espectadores gostam e querem ver. Isto significa que política e economia ficarão relegadas a esportes, crimes e celebridades.

No início de abril, o jornalista decidiu reanalisar esta questão por meio de um estudo das notícias online contemporâneas. Suas conclusões estão resumidas em um artigo publicado na revista Atlantic. Para começar, ele visitou o britânico Nick Denton, fundador e CEO do coletivo de blogs Gawker Media. Fallows ficou intrigado com o fato de Denton trazer algo novo às redações americanas: ferramentas refinadas criadas para saber exatamente o que o público quer ver e ler, ao contrário da opinião de alguém sobre o que deveria ser visto ou lido. Em outras palavras, o Gawker é a ‘essência do modelo para o qual o modelo de negócios das notícias está se direcionando’.

Monitoramento instantâneo

No escritório do Gawker, em Nova York, telas exibem as home pages de seus principais sites, que recebem 32 milhões de visitantes únicos por mês – o mesmo número do New York Times. É possível acompanhar, ao vivo, o tráfego de cada site. Na parte inferior da tela, estão listadas matérias específicas, em um ranking de audiência. ‘As matérias mudam de lugar, cada uma acompanhada de uma seta verde, caso esteja tendo audiência, ou vermelha, se não estiver’, diz Fallows. Tudo isso é produto da mesma tecnologia que orienta a publicidade online, ao dar a anunciantes o feedback instantâneo de quais mensagens estão funcionando.

As pressões que jornalistas online enfrentam são ilustradas por um slide vazado de uma apresentação da AOL, postado pelo comentarista de mídia Frédéric Filloux há algumas semanas. Nele, quatro fatores deveriam ser considerados na decisão de qual assunto cobrir: potencial de tráfego, lucros, quanto tempo demorará para ser produzido e integridade editorial – nesta ordem. O sucesso do Gawker mostra que o caminho para a rentabilidade é a atenção da audiência online. E Denton sabe onde encontrá-la.