Leitores do The Choice, blog do repórter Jacques Steinberg sobre educação, encontraram algo atípico quando clicaram em um link no segundo parágrafo de seu post do dia 29/9, conta o ombudsman do New York Times, Arthur Brisbane, em sua coluna de domingo [17/10/10]. Era uma página convidando-os a pagar US$ 225 por um curso online do NYTimes sobre admissões universitárias, ministrado pelo jornalista. ‘Era o equivalente a um comercial. Ele não deveria ter permissão para anunciar seu produto no espaço que deveria ser uma fonte pública de informação sobre educação superior’, escreveu a leitora Emily M. Schneider. Outros leitores também registraram seu desconforto com o episódio, questionando se não havia ali um conflito de interesses.
Segundo Brisbane, o curso de Steinberg é só o primeiro de diversos que serão oferecidos pela New York Times Knowledge Network, empresa fundada em 2008 e que agora conta com 100 cursos. A maioria deles é apresentada em parceria com universidades e outras entidades educacionais. Este ano, no entanto, o NYTimes lançou uma iniciativa com 12 cursos produzidos inteiramente pela equipe do jornal, em três áreas: jornalismo e redação; ciência da saúde; e cuidando de filhos adolescentes. ‘De repente, começamos a fazer algo que nunca fomos capazes de fazer no New York Times. Estamos criando esta experiência altamente interativa usando nossa plataforma online’, contou Felice Nudelman, diretora-executiva de educação do diário. A Knowledge Network claramente alinha-se com outras estratégias para gerar lucros com o conteúdo e talento do NYTimes, por meio de livros, cursos ou eventos especiais.
Jornalismo vs. Merchandising
Stephen J.A. Ward, que lidera o Centro de Ética Jornalística na Universidade de Wisconsin, observou que ‘há uma percepção pública de que o dinheiro está entrando no caminho dos julgamentos objetivos e do que tem valor jornalístico’. ‘Parece que talvez haja um projeto comercial movendo o jornalismo do NYTimes‘, opinou.
Já o jornalão não pensa assim: considera o link anunciando o curso consistente com os padrões jornalísticos da empresa e uma extensão razoável do jornalismo apresentado no blog e no trabalho de Steinberg como repórter de educação nacional. A editora Lawrie Mifflin, que administra a iniciativa de cursos, comenta que o curso em questão foi completamente aprovado pela redação. A inclusão do link só foi feita após permissão de editores do alto escalão do jornal, como o de padrões, Philip Corbett. Na opinião do ombudsman, seria mais sensato para o NYTimes oferecer uma página intermediária para discutir o programa dos cursos e explicar que se trata de jornalismo, e não merchandising.