Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

VAZAMENTO

Vaguinaldo Marinheiro

WikiLeaks nega colocar tropas em risco

O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, defendeu ontem a divulgação de cerca de 400 mil documentos secretos sobre a Guerra do Iraque que relatam casos de torturas e mortes cometidas pela polícia e pela Guarda Nacional iraquianas e também por americanos.

Em entrevista, em Londres, Assange afirmou que foram tomados todos os cuidados para que não haja risco para nenhum soldado envolvido nas operações.

O governo americano, porém, voltou a criticar o site.

O secretário de imprensa do Pentágono, Geoff Morrell, disse que a divulgação era ‘vergonhosa’ e que dava aos inimigos chances de analisar vulnerabilidades para programar novos ataques.

Já a secretária de Estado, Hillary Clinton, afirmou que era preciso condenar tudo o que possa colocar em perigo a vida de soldados ou civis dos EUA e de seus aliados.

Em busca da reeleição, o premiê do Iraque, Nuri al Maliki, apontou ‘objetivos políticos’ na divulgação.

Os documentos -que vão de 2004 a 2009, durante o governo de Maliki- mostram que a tortura era usada pelas forças iraquianas como instrumento de investigação e também como revanche contra grupos de diferentes origens étnicas ou religiosas.

Muitos dos casos de tortura foram presenciados por soldados americanos. Na maioria das vezes, eles apenas apontavam nos relatórios que não havia investigações a serem feitas.

Em nota, o gabinete de Maliki disse que os documentos são usados ‘contra partidos e líderes nacionais, especialmente contra o primeiro-ministro’. Disse ainda que os dados secretos não comprovam as supostas violações de direitos humanos.

A maior parte das supostas vítimas das agressões é sunita, etnia que passou a apoiar o ex-premiê Ayad Allawi, o principal adversário político de Maliki, que é xiita.

A coalizão laica liderada por Allawi venceu as últimas eleições legislativas, mas não conseguiu maioria para formar um novo governo, gerando um impasse.

Desde a divulgação dos vazamentos, partidários de Allawi têm afirmado que Maliki não pode ficar no cargo.

OMISSÃO

Segundo Phil Shiner, da ONG Public Interest Lawyers, ao não fazerem nada para evitar ou denunciar essas torturas, os governos dos países envolvidos na invasão do Iraque se tornaram cúmplices desses crimes e precisam ser processados.

Baseada em Londres, a ONG pretende processar o governo britânico com base na legislação de direitos humanos do continente.

O WikiLeaks, que divulgou em julho 91 mil documentos sobre a guerra no Afeganistão, promete mais 15 mil relatórios em breve.

 

 

 

INTERNET

Folha lança na web rádio que opera 24 horas

Ampliando sua participação na internet e a produção de conteúdo para diferentes plataformas, a Folha acaba de lançar sua rádio para internet e um aplicativo para Facebook.

A Rádio Folha (www.folha.com/radio), lançada oficialmente na última segunda-feira, dia 18, funciona 24 horas por dia, sete dias por semana, em qualquer navegador da internet.

Oferece cinco programações musicais: ‘Pop & Rock’, com os grandes hits da cena pop, dos anos 1960 até hoje; ‘Música Clássica’, que reúne os mestres da música erudita; ‘Jazz & Blues’, apoiada em figuras obrigatórias da cultura negra norte-americana, como Miles Davis e Aretha Franklin; ‘MPB’, que percorre os gêneros da bossa nova, do samba de raiz e da nova MPB; e ‘Tendências’, com aposta em grupos fora do ‘mainstream’, como Air e Gothan.

O internauta tem à sua disposição um acervo com milhares de faixas, atualizadas semanalmente, e pode compartilhar com seus contatos do Twitter, Facebook ou Orkut o que está ouvindo no momento.

CANAIS

Todos os canais contam com o conteúdo noticioso do jornal. O ouvinte recebe nos intervalos musicais boletins atualizados com as últimas notícias do Brasil e do mundo em mais de dez programas jornalísticos diários.

A rádio foi concebida para uma navegação simples e intuitiva. Pode ser aberta na internet em uma janela separada, no chamado ‘pop-up’. Isso quer dizer que o ouvinte escolhe que gênero prefere escutar enquanto navega na web -mesmo que ele esteja fora da Folha.com.

Essa opção ajuda a não sobrecarregar a navegação. Além disso, o internauta pode visualizar as capas dos álbuns em que foi gravada a música que está ouvindo e compartilhá-la com seus amigos nas redes sociais.

Em breve, a plataforma estará disponível para usuários de iPhone. Os primeiros resultados aferidos projetam 200 mil acessos mensais de ouvintes.

A Folha também lançou seu aplicativo para Facebook, a maior rede social do mundo, com mais de 500 milhões de usuários -no Brasil, são mais de oito milhões de pessoas conectadas.

O acesso pode ser pela página do jornal nessa rede (www.facebook.com/folhadesp) ou diretamente pelo endereço facebook.folha.com.br. Primeiro jornal brasileiro a lançar um aplicativo para o Facebook, a Folha já utiliza recursos de compartilhamento de notícias nessa rede integrados com a Folha.com.

O aplicativo para Facebook pode ser adaptado para o interesse do usuário. O internauta pode organizar as últimas notícias da Folha.com que deseja seguir, editando sua página com as editorias que quer acompanhar.

As caixas de informações são flexíveis, podem mudar de lugar, ser fechadas ou recriadas seguindo o interesse do momento de cada um.

CONFIGURAÇÕES

O próprio usuário também consegue configurar informações pessoais, como o horóscopo.

Além disso, o internauta acompanha a repercussão das notícias da Folha no Facebook, sabendo quais são as mais comentadas nessa rede, inclusive entre seus amigos. Também pode assistir a transmissões ao vivo de eventos da Folha e comentar com os outros usuários. A estreia foi no dia 3/10, com a transmissão inédita da cobertura eleitoral da TV Folha.

No domingo passado, o debate Folha/RedeTV! com os presidenciáveis também foi transmitido. O aplicativo é gratuito e em breve ganhará uma navegação ainda mais intuitiva e leve. Em versão beta, já tem mais de 1.300 inscritos.

Os dois lançamentos ocorrem em parceria com Aorta, empresa especializada no desenvolvimento de plataformas e aplicativos para novas mídias.

 

TELEVISÃO

Fernanda Barbosa

Crítico amador de TV vira celebridade na internet

Uma simples brincadeira. Vontade de expor pensamentos e falar sobre tudo. Gosto pela escrita ou por editar vídeos durante horas e horas. São inúmeros os motivos que levam um jovem a disponibilizar seus textos, fotos e vídeos na internet.

Mas, enquanto muitas pessoas usam essas ferramentas como passatempo, outras se tornaram famosas da noite para o dia. Elas descobriram uma forma de renda e figuram entre as mais seguidas do Twitter, ao lado de cantores, humoristas, jogadores e atores de novela.

O paulista Paulo Cezar Siqueira, 24, deixou o trabalho para se dedicar exclusivamente a um canal no YouTube oito meses após postar o primeiro vídeo. Ele fala sobre diversos assuntos, de política à marca que o elástico da meia deixa em sua perna.

O carioca Felipe Neto, 22 anos, também se comunica por meio de um canal no YouTube. Mais agressivo, discursa de óculos escuros e critica modismos, personagens e situações. Em comum, os dois têm milhões de acessos às suas páginas e convites de canais de TV.

O publicitário Paulo Cezar Barbosa Mello, professor de processo de criação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz que não há uma fórmula para o sucesso. Personagens como Katylene e Hugo Gloss, que falam, entre outras coisas, sobre televisão, também têm milhares de fãs na rede de computadores.

‘[Os jovens] buscam a ideia da acidez não pela agressão, mas pela atenção. As pessoas se identificam com os comentários e se divertem com as besteiras que eles propagam’, diz Mello.

Segundo o publicitário, a internet possibilita que todos sejam comentaristas e tenham os 15 minutos de exposição. ‘O tempo de fama depende do tempo que você investe em sua comunicação.’

Mas ele também diz que se deve pensar nos limites dessas ações. ‘É fácil tirar [um post] do ar, mas não é fácil tirá-lo da cabeça das pessoas.’

TELEVISÃO

Um dos exemplos desse sucesso virtual é Hugo Gloss, que tem 452.425 seguidores no Twitter. No mundo real, atrás do computador, quem dá vida ao personagem é um jornalista de 24 anos, que assiste a muita televisão.

‘Sou espontâneo, não paro para pensar em algo engraçado.’ O jornalista do Rio, que começou a usar o Twitter há dois anos, com uma conta cover do personagem Cristian Pior, criou há pouco mais de um ano seu personagem -ele recebe dinheiro com patrocínios, mas continua com seu antigo trabalho.

O criador de Gloss afirma até ter recusado convites para trabalhar na TV, tudo para manter o anonimato. Já Katylene aceitou e hoje tem 15 minutos semanais na MTV.

A personagem, criada por Daniel Carvalho, 23, formado em moda, alfineta celebridades no blog e na TV.

 

Keila Jimenez

Cantor de cantina é chave de mistérios de ‘Passione’

Não, ele não é só um cantor de restaurante de bairro. O enigmático Diogo, vivido por Daniel Boaventura, está mais do que envolvido nos grandes mistérios que rondam ‘Passione’, da Globo.

Folha – Por que o Diogo entrou só no meio da novela?

Daniel Boaventura- Já estava previsto que eu entraria só na metade de ‘Passione’, mas seria com outro personagem. O nome era Odilon.

Não era o Diogo?

Não. Ele era um cantor, mas do núcleo cômico. O Silvio (de Abreu) mudou, o que foi ótimo, pois o Diogo tem todo esse mistério.

O Diogo é bom ou mau?

(risos) Não sei ainda.

Ele será assassinado?

Ouvi que o próximo a morrer é o Noronha.

Não… Além do Noronha morrerá mais um na novela.

Ai, meu Deus, será que é o Diogo? (risos)

O Diogo é mesmo ligado a Olga, empregada dos Gouveia?

Acho que a Olga colocou ele na cantina para arranjar provas para incriminar a Clara (Mariana Ximenes). Ele também tem uma relação misteriosa com a Bete (Fernanda Montenegro).

Ele vai acabar se apaixonando pela Clara?

Talvez e isso pode atrapalhar os planos dele.

É ironia uma estrela de musicais como você acabar como cantor de cantina do Projac?

(risos) Imagina. Desde que fiz ‘My Fair Lady’, em 2007, o Silvio dizia que queria trabalhar comigo. Quando veio o convite para ‘Passione’, logo me propôs também de gravar um CD em italiano.

Você terá um CD de ‘Passione’ só seu?

Meu não. Do Diogo. Como tenho contrato de cantor com a Sony, e o CD da novela é Som Livre, quem vai lançar o CD de músicas italianas é o Diogo Dias (risos).

RECONSTITUIÇÃO

Marcelo Rezende estreia hoje no ‘Domingo Espetacular’, da Record, remexendo no caso do goleiro Bruno e no do assassinato de Mércia Nakashima

Didi ganha festa surpresa em especial de fim de ano da Globo

Os 50 anos do trapalhão Didi Mocó, vivido por Renato Aragão, serão comemorados em um especial de fim de ano na Globo.

Sob a direção de Jayme Monjardim, ‘Eu Sou Renato Aragão – 50 Anos de Didi’ vai ao ar no dia 29 de dezembro, em clima de festa surpresa.

‘Patrícia Poeta grava na próxima semana uma entrevista com o Renato, em que ele contará toda sua história, desde a infância’, disse Monjardim. ‘Com base nesse papo faremos uma novelinha sobre essa trajetória. Será nossa surpresa para ele.’

O especial de Didi também contará com imagens de arquivo e depoimentos de profissionais que participaram da carreira do trapalhão.

‘Mas o forte mesmo é a reconstituição da vida do Renato, um lado pessoal que poucos conhecem’, contou Monjardim à Folha.

O diretor também planeja uma festa em comemoração aos 50 anos de Didi, reunindo artistas e amigos do humorista. ‘A ideia é que o especial renda ainda um livro e um DVD’, disse ele. ‘Didi encanta muitas gerações e o Renato é muito especial.’

 

Laura Mattos

TV infantil tem 1 anúncio a cada 2 minutos

Quem é contra usa expressões como ‘bombardeio, covardia’. Quem é a favor fala em ‘liberdade de expressão’, ‘direito à informação’.

O fato é que, às vésperas do Dia da Criança, a televisão brasileira exibiu, em média, mais de cem comerciais de produtos infantis por hora.

O Cartoon, por exemplo, veiculou, em média, uma propaganda a cada dois minutos. Um dos campeões de audiência na TV paga, o canal lidera também o ranking de publicidade infantil feito pelo Instituto Alana.

A ONG, voltada à defesa da criança e do consumidor, contabilizou os anúncios para crianças exibidos em cinco canais infantis fechados, além da Globo e do SBT. A medição foi realizada no dia 1º de outubro, das 8h às 18h.

O estudo joga lenha em uma das maiores polêmicas que envolvem a TV no Congresso. Há mais de 200 projetos de lei propondo restrições e até a proibição de propaganda para crianças.

Segundo o Alana, foram veiculados 1.077 comerciais, o que dá a média de 107 por hora. O Cartoon, com público-alvo de 6 a 12 anos, transmitiu 274 propagandas.

O segundo lugar ficou com o Discovery Kids. Nele, o espectador, em idade pré-escolar, assistiu a 227 anúncios no período, algo como uma propaganda para cada três minutos de programação.

São números bem superiores ao de anúncios para crianças na Globo (83) e no SBT (118). Os canais pagos, com programação para públicos específicos, se mostram mais atraentes para anunciantes de brinquedos do que redes abertas, que investem cada vez menos em conteúdos infantis.

TUDO LEGAL

Na TV paga, não há limite legal para a quantidade de anúncios, diferentemente da aberta, na qual a propaganda deve ocupar, no máximo, 25% da programação (respeitado pela Globo e pelo SBT).

Ainda que o limite existisse para os canais fechados (o que está sendo proposto pelo principal projeto de lei do setor, no Senado), todos os analisados pelo Alana ainda estariam dentro da lei.

Mesmo o Cartoon, que teve o maior número de anúncios, não foi muito além dos 20% da programação no período.

Ainda assim, o Alana encaminhou carta a vários órgãos, entre eles o Ministério da Justiça, o da Comunicação e o Procon, pedindo ‘providências cabíveis’.

Para o instituto, o levantamento mostra que há um ‘bombardeio publicitário ao público infantil’ às vésperas do Dia da Criança.

Além da quantidade de anúncios, o Alana ressalta o número de produtos diferentes anunciados: 390, sendo 295 de brinquedos, 30 de vestuário e 25 de alimentos.

‘Isso cria na criança o desejo de ter todos aqueles brinquedos. E a média de preço dos anunciados é de cerca de R$ 160’, afirma Isabella Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo, do Alana.

Henriques questiona o fato de a TV paga brasileira não ter limites para a publicidade nem para o preço dos produtos anunciados, o que é delimitado por outros países, como Noruega e Inglaterra.

‘É bom lembrar também que muitos dos produtos são de licenciamento dos personagens. No intervalo do ‘Ben 10’, é anunciado tênis do Ben 10, caneta do Ben 10, bola do Ben 10. Logo, o próprio programa funciona como publicidade’, avalia Henriques.

 

Canais dizem ser criteriosos com comerciais

Os canais infantis dizem que o levantamento do Alana, feito às vésperas do Dia da Criança, traz número atípico de publicidade.

Segundo o Cartoon, sua média anual é de sete minutos de propaganda a cada hora de programação, ou seja, em torno de 11,5%.

‘Os canais apresentam um aumento do número de publicidade nesta época do ano’, afirmou a assessoria do Cartoon.

O canal afirma acreditar que a propaganda ‘tem um papel informativo ao espectador, se produzida de forma responsável’.

Diz seguir as regras para publicidade infantil do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).

O conselho estabelece, por exemplo, que os comerciais não devem usar verbos no imperativo (‘Compre isso’, ‘Peça para o seu pai’) e o uso de crianças sugerindo o consumo de produtos.

‘Não é razoável imaginar que um consumidor sem acesso à propaganda se tornará mais consciente’, afirmou o Cartoon.

‘Segundo o estudioso francês Gilles Brougère, que estuda jogos e brinquedos, a criança não pode viver em um mundo alheio ao consumo’, defende o canal, em nota.

Fátima Zagari, vice-presidente comercial da Nickelodeon, diz que o canal segue a autorregulamentação. ‘Respeitamos o limite de oito minutos por hora de publicidade. Ainda que quiséssemos ultrapassá-lo, nossa matriz bloquearia o volume extra.’

Ela diz que o canal ‘é bastante criterioso com os comerciais’. ‘Não fazemos publicidade que usem imperativos nem que vendam a ideia de que você será melhor se consumir nossos produtos.’

O Discovery Kids afirma que o levantamento do Alana não tem caráter científico, por avaliar apenas um dia da programação. ‘Em um dia de julho, por exemplo, tivemos metade do número de comerciais do dia do levantamento’, diz a assessoria.

O Discovery traz mais argumentos: ‘A publicidade é importante fonte de receita para proporcionar conteúdos de qualidade para as crianças. E acreditamos no papel de cada pai como parte fundamental na formação de pessoas que prezem pelo consumo equilibrado.’

 

Gabriel Priolli

Lei não eximiria os pais de controlarem o que o filho vê

Vamos direto ao ponto: fazer televisão comercial e reduzir a veiculação de publicidade -infantil ou qualquer outra- são metas inconciliáveis. Não é possível esperar que uma empresa tome medidas, de moto próprio, para limitar o seu lucro.

Se a busca natural da maximização de resultados eventualmente envolver a veiculação de conteúdos sensíveis, a TV, então, apresentará as mais elaboradas justificativas para colocá-los no ar e assegurar a robustez do caixa.

No limite, se for acuada, assumirá o papel de vítima e dirá que querem censurá-la. Resistirá sempre, até o ponto da insensatez se necessário.

É certamente intenso o bombardeio de mensagens comerciais sobre as crianças e todos os telespectadores. Sobretudo nas efemérides favoráveis ou especialmente criadas para estimular o consumo, como o Dia da Criança, das Mães, dos Pais, o Natal ou a Páscoa.

É certo também que os pequenos são menos capazes de resistir aos apelos sedutores da boa publicidade e que a exposição de suas mentes em formação à volúpia consumista não ajuda a formar adultos moderados. Mas, diante disso, o que fazer exatamente?

CONTROLE

Estabelecido o conflito de interesses entre o empreendimento comercial da televisão e a sociedade que deseja proteger-se de mensagens nocivas, só há um caminho razoável e democrático a seguir: o da regulação.

Não a autorregulação, que, diante do problema, apenas tergiversa e eventualmente coíbe hoje para liberar amanhã. Mas o regramento legal, amplamente debatido pela cidadania, votado e aprovado no Parlamento, fiscalizado pelo executivo, arbitrado pela Justiça. O que nada tem a ver com censura.

Convém, entretanto, não esperar milagres. A eventual suspensão da publicidade na programação infantil não dará proteção total às crianças.

Elas seguirão assistindo à programação adulta, como fazem usualmente, e estarão expostas a mensagens muito mais nocivas do que anúncios de brinquedos.

Assim sendo, não há como escapar: o controle mais efetivo será sempre o cuidado dos pais. Quanto menos remoto, melhor.

GABRIEL PRIOLLI é jornalista e diretor de televisão

 

Laura Mattos

Calçada da lama

O clima está pesado, todo mundo grita, fala palavrão, e a hélice amarela gira sem parar em cima do boné vermelho de Sérgio Mallandro.

A ‘Fazenda 3’, um ‘Big Brother’ rural com subcelebridades, está dando o que falar com seu elenco inacreditável. A família formada -que, além de Mallandro, tem figuras como o ex-jogador Viola e a expulsa da Uniban Geisy Arruda- mal começou e já coloca a Record à frente da Globo no Ibope.

Enquanto, em fase inicial, a ‘Fazenda 1’ teve 13 pontos e a segunda, 11, esta ultrapassa 15 de média, com picos de até 23 pontos (1,38 milhão de domicílios na Grande SP).

O R7, portal da Record, chegou à demanda de 6.000 e-mails por hora ao liberar o acesso ao programa, ao vivo, a quem se cadastrasse.

Não basta dizer que o público adora barraco para explicar esse sucesso. Não que ele não goste, claro, mas esta edição de ‘A Fazenda’ traz uma nova fórmula na busca por atrair audiência.

A receita foi elaborada por Rodrigo Carelli, principal diretor de realities fora da Globo. Seu know-how data do início da década, quando lançou a ‘Casa dos Artistas’, que fez a Globo antecipar a estreia do ‘Big Brother 1’ ao ver o ‘Fantástico’ perder feio para o SBT no Ibope.

Desde então, com as outras edições da ‘Casa’ e agora as da ‘Fazenda’, ele se aprimorou na escolha dos famosos a serem confinados.

Antes, baseado em seu faro e nas manchetes de sites e revistas de fofoca, Carelli definia os nomes e os escalava.

Desta vez foi diferente. Fez uma lista de 50 nomes -ainda definidos por faro e mídia de fofocas. Seus produtores foram à casa desses candidatos a candidatos, conheceram suas famílias, amigos e os entrevistaram quantas vezes acharam necessário.

O objetivo ‘foi ver o potencial que a pessoa tinha de mostrar no programa uma imagem diferente da que o público espera’, disse Carelli, nos bastidores da ‘Fazenda’, em Itu (para onde a Folha foi em carro da Record, por exigência do canal).

Na receita, ‘a personalidade acaba sendo mais importante do que o nível de fama’. ‘Óbvio que é importante ser famosa, até porque é preciso que o público tenha uma expectativa sobre o comportamento da pessoa.’

Expectativa que, quanto mais for quebrada, melhor para o show. E está aí uma ironia nessa guerra de ibope.

Com a ‘Fazenda’, a Record rouba pontos da Globo ao desconstruir a imagem de artistas. É a estratégia inversamente proporcional à da Globo de construir e manter a todo custo a imagem de seu quadro -é isso que a faz resistir a produzir um ‘Big Brother’ com celebridades.

Além de avaliar quem tem mais potencial de surpreender a audiência, Carelli procurou elaborar um caldo de diferentes personalidades.

Nesse ponto, a seleção se aproximou da do ‘Big Brother’, que busca detectar em anônimos o potencial que terão de desempenhar papéis de ‘mocinho’, ‘vilão’ etc.

MANIPULAÇÃO

Elenco escolhido, é preciso buscar meios para ajudar o famoso a fazer o caminho entre sua imagem pré-reality show e seu lado B. Aí, diretor e cia. põem em prática seu lado mais perverso -se é que o termo vale quando subcelebridades são confinadas em troca de cachê…

Regras e provas são criadas a fim de colocá-los contra a parede. E jogar um contra o outro o mais rápido possível.

Logo na estreia de ‘A Fazenda’, no fim de setembro, Monique Evans foi sorteada para escolher, à queima-roupa: ‘Quem você acha que não deve ganhar um carro zero no valor de R$ 100 mil?’,

‘Sérgio Mallandro’, entregou, de sopetão, o ‘velho amigo’. Não precisava mais nada para que o palhaço do glu-glu/ié-ié virasse o bicho, com boné de hélice e tudo. E para que a ex-modelo tida como tia bacana surtasse.

Entre um barraco e outro, a Mulher Melancia rebola e, com a sua ferramenta de trabalho, nocauteia a cabeça do cantor Tico Santa Cruz.

 

Bia Abramo

Poder da TV iguala anônimos e mais ou menos famosos

O que é, digamos, mais eficaz? Fazer um programa com anônimos alçados à condição de celebridades ou com celebridades (de certa forma) fingindo que são pessoas (mais ou menos) comuns? Aqui no Brasil, pelo menos, dá empate.

A primeira formula é a do ‘Big Brother Brasil’, da Rede Globo, que já resiste por dez anos e 11 edições. A segunda, da concorrência: a do pioneiro ‘Casa dos Artistas’, do SBT, e a de ‘A Fazenda’, da Record, que enfrenta sua terceira edição com sucesso.

Não deixa de ser curioso o fato de ambas funcionarem num tipo de atração que é chamado, justamente, de reality show.

Ao mesmo tempo, explica-se: o poder da televisão, da notoriedade criada ou catapultada pela exposição sistemática, iguala todos. Como não há nada mais irreal do que a realidade inventada dos reality shows, o artifício que sustenta esse tipo de programa independe do ponto de partida.

De certa forma, nem o de chegada: a notoriedade dos ganhadores, como já se provou de mais de uma maneira, é fugaz.

O que interessa, de fato, no reality show, é o percurso, ou seja, acompanhar como cada um se desdobra para ser vendido ao público, como cada um vai se moldando às exigências implacáveis do espetáculo televisivo.

As torcidas por um ou outro personagem não têm, como se quer pensar, relação com padrões morais, mas com o ‘merecimento’ como mercadoria de entretenimento que cada qual consegue acumular.

Nesse sentido, os quase-famosos de ‘A Fazenda’ são até mais engraçados do que os ainda anônimos do ‘Big Brother Brasil’.

Enquanto os últimos são como telas em branco, os primeiros já têm alguma imagem esboçada pela submídia de celebridades, o que exige malabarismos maiores e manobras mais bruscas.

Dia desses, Viola se debatia exatamente com a questão: ‘Nem sei se eu sou famoso’. Pois é.

 

Vanessa Barbara

Cinco horas com Raul Gil

CONTA-SE QUE o iogue Swami Maujgiri Maharaj passou 17 anos em pé, entre 1955 e 1973, escorando-se numa tábua apenas para dormir.

Mais ou menos nessa época, o faquir Mastram Bapu plantou-se num lugar, sentado, à beira de uma estrada no vilarejo de Chitra (Índia), por mais de duas décadas.

Em busca de iluminação existencial e de uma compreensão superior do mundo, propus-me a assistir, na íntegra, o ‘Programa Raul Gil’ do penúltimo sábado (SBT, sáb., 14h15 às 19h15, classificação livre).

O programa, com a duração de cinco horas, foi inteiramente dedicado às crianças. Tanto os calouros quanto os jurados eram café com leite: segundo apuração interna, a média de idade era de 8,3 anos.

Bloco após bloco, hora após hora, o espectador acompanhou a performance de crianças excessivamente artísticas, daquelas que dizem ‘eu sou criança’, que sorriem para as câmeras e estão sempre na moda.

Entre elas, a assistente de palco Yasmin, que faz sucesso ao repetir errado as falas de Raul Gil -levando o apresentador a usar palavras difíceis de propósito.

A única exceção era Guilherme, um moleque tranquilo que tocava cavaquinho e teve que responder para Yasmin que não, não era casado. Ele não dançou, não fez micagens e não tentou ser espirituoso, limitando-se a tocar seu instrumento.

Deu de ombros quando uma das juradas elogiou seu figurino. ‘A apresentação dele foi ex-ce-len-te’, ressaltou a loirinha de sete anos, qualificando-o de impecável.

Sua presença, porém, foi logo substituída pela de um papagaio gigante, um cachorro azul, centenas de balões e um minicover do Elvis. Uma cantora gospel entrou para gritar os versos: ‘Como Zaqueu, quero subir o mais alto que eu puder’.

A certa altura, dezenas de artistas felizes ocupavam o palco, pulando, cantando e sacudindo os braços, como se não houvesse tristeza alguma no mundo.

De sua parte, Raul Gil parecia cansado e impaciente, repetindo as mesmas palavras para os calouros mirins: ‘potencial’, ‘sucesso’ e ‘talento’ foram as mais usadas e a expressão ‘todos são vencedores’ apareceu umas boas dez vezes.

‘Depois de passarem oito meses conosco [na competição], o máximo que a gente pode fazer por vocês é prestar essa homenagem’, ele diz, num ato falho. O calouro agradece.

 

E-BOOK

Dono de Kindle vai poder emprestar livro por 14 dias

A Amazon disse que os donos de Kindle vão poder emprestar seus livros para outros proprietários do leitor de livros eletrônicos ou quem tenha seus aplicativos grátis (disponíveis para PCs, iPads BlackBerries, entre outros).

A novidade, porém, vem com uma série de restrições: um livro pode ser emprestado uma única vez e esse empréstimo dura somente 14 dias. Além disso, enquanto a publicação estiver com outra pessoa, o dono original não poderá acessá-la.

Para terminar, não são todos os livros que poderão ser emprestados. ‘Isso cabe exclusivamente à editora ou aos proprietários dos direitos autorais, que vão determinar quais títulos poderão ser emprestados’, disse a Amazon em nota em seu blog oficial.

A decisão de restringir o empréstimo visa proteger os direitos autorais. Isso porque, se um livro pudesse ser emprestado sem limites (de prazo ou usuário), a venda das versões eletrônicas -uma das grandes apostas das editoras- provavelmente despencaria.

A Amazon não é, no entanto, a primeira empresa a liberar o empréstimo dos livros eletrônicos. O Nook, da americana Barnes & Noble, também permite a transferência entre donos do mesmo aparelho ou que tenham instalado seu aplicativo gratuito.

Porém, o impacto da decisão da Amazon é maior porque o Kindle é mais bem-sucedido. A empresa não divulga números, mas analistas acreditam que 5 milhões de unidades serão vendidas neste ano -e mais de 8 milhões no ano que vem.

No seu mais recente balanço trimestral, divulgado na semana passada, a Amazon disse que a nova geração do Kindle, lançada no fim de julho, é a que vendeu mais rápido entre todas as versões do aparelho (a primeira é de 2007) e que é o produto mais vendido do seu site.

O novo aparelho, que é vendido no mercado norte-americano por US$ 139 (R$ 237), chega ao Brasil por mais que o dobro do preço: US$ 312 (R$ 533), um dos mais caros do mundo.

Graças em grande parte ao Kindle, as ações da Amazon se valorizaram em 26% neste ano e estão no seu maior patamar histórico. Para ter uma ideia da alta, a Nasdaq (Bolsa de Valores onde os papéis são negociados) subiu 9% de janeiro para cá.

CAPA DURA

Em julho, a Amazon afirmou que a venda de livros para o Kindle já supera a comercialização de obras no formato tradicional.

De acordo com a empresa, foram comercializados no segundo trimestre 143 livros eletrônicos para cada 100 exemplares de capa dura no mercado norte-americano.

 

REGULAÇÃO

Sob controle

Vai produzindo os seus primeiros efeitos o intuito, constantemente expresso por setores ligados ao PT, de exercer o chamado ‘controle social’ sobre os meios de comunicação. O quanto há de eufemístico nesses termos pode ser avaliado no texto de lei recentemente aprovada pela Assembleia Legislativa do Ceará, criando um Conselho Estadual de Comunicação Social.

Oficialmente, o órgão deverá ter, entre outras atribuições, a função de acompanhar ‘denúncias relativas a atitudes preconceituosas’ nos meios de comunicação, além de produzir relatórios sobre a programação das emissoras de rádio e TV, no que se refere ‘ao cumprimento de suas finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas’.

Em tese, seriam sobretudo atividades ‘fiscalizatórias’ e de ‘acompanhamento’. Que funções desse tipo, conforme o caso, possam ser exercidas pelo Ministério Público ou por organizações da sociedade civil -eis uma ponderação que escapou aos autores do projeto.

Bem ao contrário. Participam da composição do órgão representantes de várias secretarias estaduais. Se representantes da sociedade civil serão igualmente acolhidos no Conselho, sua origem, configuração e mantenimento se caracterizam pela presença intrusiva e tutelar do Estado.

Proposto por uma deputada estadual do PT, não surpreende que o projeto tenha sido aprovado por legisladores de todos os partidos.

A qualquer governo instituído, sem dúvida, um órgão desse tipo é capaz de prestar excelentes serviços. ‘Temos uma cultura de denuncismo’ na imprensa, diz o líder do governo na Assembleia; pode-se imaginar que tipo de imprensa, e de controle, almeja-se obter com tal Conselho.

 

CHINA

Fabiano Maisonnave

A censura e as aspas

AOS 28 ANOS, o escritor best-seller, cantor, editor de revista, piloto de corridas e sex symbol chinês Han Han é o ícone dos ‘pequenos imperadores’, alcunha dada à geração nascida nos anos 80, sob a política do filho único e quando eram dados os primeiros passos da abertura econômica pós-Mao.

Sinal dos tempos, nenhuma dessas atividades deu tanta fama a Han Han quanto seu blog, o mais popular da China -o que faz dele, muito provavelmente, o escritor contemporâneo mais lido do mundo.

Crítico do governo, o blogueiro volta e meia tem problemas com a censura. Num caso recente, teve de apagar um comentário que ironizava os protestos antijaponeses fomentados por Pequim em torno de uma disputa territorial. Ali, ele dizia haver três tipos de chineses: mestres, lacaios e cachorros.

Han Han sabe que está brincando com fogo. Em entrevista ao jornal ‘Financial Times’ em janeiro, disse que, na China, escrever é mais perigoso do que pilotar carros: ‘Pelo menos correr não dá cadeia’.

Com esses antecedentes, era natural que, em 8 de outubro, quando o professor de literatura e dissidente político Liu Xiaobo ganhou o Prêmio Nobel da Paz, houvesse bastante expectativa sobre o que Han Han diria. Para orgulho dos fãs, ele não deixou a notícia do dia passar em branco, como fez a mídia oficial. Foi além: pôs o branco entre aspas. Eis a íntegra do post: ‘ ‘.

Colocado em contexto, o vazio de Han Han faz sentido. Naquele dia, o governo chinês deu uma impressionante demonstração de poder ao montar o que talvez tenha sido a maior operação de censura da história mundial.

Enquanto os meios de comunicação do resto do planeta noticiavam a escolha de Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de cadeia por encabeçar um movimento de intelectuais e ativistas em favor de reformas democráticas, na China só foi permitida a divulgação de uma nota oficial criticando a decisão.

Nenhum dos populares fóruns de discussão na internet chinesa (a maior do mundo, com 400 milhões de usuários) teve permissão para discutir o Nobel. Canais estrangeiros como a CNN e a BBC saíram do ar quando falavam do prêmio. A operação chegou até aos celulares: mensagens com as palavras ‘Nobel’ ou ‘Xiaobo’ não foram transmitidas.

Em meio ao blecaute informativo, o post, provavelmente o menor do mundo, foi um sucesso. Até o fechamento desta edição, havia sido visitado por 669.877 internautas, dos quais 5.968 clicaram num botãozinho demonstrando apoio.

Se Han Han teve a intenção de que os seus leitores entendessem a menção ao Nobel por elipse, a estratégia deu certo. Muitos dos 16.998 (!) comentários dizem apenas ‘entendo’ e ‘concordo’. Houve quem escrevesse apenas ‘bel’, para driblar o veto a ‘Nobel’.

A minoria criticava Han Han, acusando-o, entre outras coisas, de querer chamar a atenção. Em Pequim, pessoas próximas a Liu Xiao-bo, a maioria intelectuais, estão acuadas. Sua mulher, a poeta e fotógrafa Liu Xia, está em prisão domiciliar há duas semanas.

Vários dos que ajudaram Liu Xiaobo na redação do documento Carta 08, de 2008, que pede abertura política, estão sob vigilância e pressão. Procurada por este repórter na quarta, uma das signatárias, a crítica de cinema Cui Weiping, 54, disse que não quer dar entrevistas porque ‘o momento não é conveniente’.

CHINA EM CARTAZ

Termina hoje em Pequim uma exposição de cartazes de filmes chineses ou sobre a China. Os cartazes mostram, por exemplo, que praticamente não havia atores chineses nos filmes estrangeiros sobre o país produzidos até meados dos anos 1960. É o caso de ‘55 Dias em Pequim’, de 1963, de Nicholas Ray, em que Charlton Heston, Ava Gardner e David Niven aparecem diante de um edifício de arquitetura chinesa em chamas. Boa parte da coleção pode ser vista no site movieartchina.com.

D. QUIXOTE DE LA MANCHÚRIA

Estreou na semana passada o primeiro filme 3D produzido na Ásia. Mas o que chama a atenção mesmo é que o título… ‘Don Quixote’. Sim, o nobre herói de Miguel de Cervantes foi transplantado pelo diretor Ah Gan para o universo mágico ‘wuxia’ (filme de época com artes marciais). O trailer, com moinho de vento e tudo, pode ser visto no YouTube.

 

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