Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

A blogosfera e a mídia

Essas eleições marcaram definitivamente dois fenômenos de comunicação. O primeiro, o advento da Banda 2 da opinião público, um enorme exército de cidadãos das classes D e E que, pela primeira vez, romperam com as relações de submissão ao coronelato local. O segundo, a consolidação da Internet e dos blogs como agentes formadores de opinião. E não se pense em blogueiro formando opinião de leitor, mas na interação entre os dois lados, produzindo uma balbúrdia infernal, mas que ajudava a formatar opiniões.


O advento desse novo mercado de opinião não se dá de forma tranqüila. É similar ao que ocorreu nos anos 80, quando começou a distensão política, ou mesmo nos fenômenos de torcidas organizadas.


Na blogosfera há uma massa fluida que, de repente, se junta contra determinado fato ou pessoa, e avança em bandos, da mesma forma que nos linchamentos reais ou nos fenômenos de brigas de torcidas.


Parte desse pessoal se prevalece do sentimento de grupo. Parte pela primeira vez se vê em condições de opinar sobre temas sobre os quais, no máximo, participavam em discussões de bar ou no serviço.


Some-se o fato de que, nessas eleições, houve um claro posicionamento da chamada grande mídia contra um dos candidatos. E houve a profunda irresponsabilidade de alguns órgãos de grande tiragem de se valer de um estilo desqualificado de crítica política.


Esse estilo insuflou os ânimos de maneira inédita, aprofundou as diferenças entre o Brasil da Paulista e o Brasil da periferia, e bateu em uma blogosfera que regurgitava as novas formas de comunicação e manifestação política. O que se seguiu foi uma guerra violenta de palavras, acusações, desqualificações. E muita análise pessimista sobre o aprofundamento do radicalismo político, tomando por base o radicalismo nos blogs.


Alucinados no comando


É importante analisar o fenômeno com mais frieza. Ocorre hoje, na discussão política pelos blogs, algo que afetou as salas de ‘chats’ dez anos atrás. A pessoa entra protegida pelo anonimato, se fortalece estimulando ou aderindo ao espírito de grupo. E não existem, ainda, normas tácitas de procedimento, do tipo das que obrigam, em um ambiente público, pessoas se comportarem com educação.


Essa sensação de liberdade, proporcionada pelo anonimato, pelo fato da pessoa se esconder atrás de um computador e disparar seus coquetéis Molotov, provoca esses arroubos. Mas é questão de tempo para que a própria blogosfera se organize. Os blogs tratarão de selecionar melhorar os comentários, definindo regras tácitas ou explícitas de convivência com os leitores. Gradativamente essas regras irão se impondo, da mesma maneira que nos movimentos sociais dos anos 80. No início, assembléias ou manifestações de rua eram de uma virulência a toda prova. Com o tempo, amadureceram, ganharam civilidade.


Mais importante do que essa preocupação com a blogosfera, deveriam ser os cuidados para não entrar em jogadas de veículos. O jovem irresponsável que transita pela blogosfera pode ser facilmente contido. O problema surge quando alucinados se colocam no leme de publicações de larga tiragem.

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Jornalista