Saturday, 21 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

TELEVISÃO

Celso Ming

Pagou, a imagem chegou

Os números parecem exuberantes. E, em certo sentido, realmente são. Os serviços de TV paga apontaram avanço de 21,4% no acumulado dos nove primeiros meses do ano. E as perspectivas até o final do ano são ainda melhores: crescer 25% e terminar 2010 com mais de 9,3 milhões de assinantes. Os dados são da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Um salto de 25% é um resultado excelente em qualquer área da atividade econômica. Mas pode passar uma impressão errada. É que o mercado de TV por assinatura no Brasil tem progredido muito lentamente. Um estudo de 2000 da Anatel previa que, em 2005, haveria 16,5 milhões de assinantes do serviço no País. Cinco anos depois, chega-se a pouco mais da metade disso.

Levantamento realizado pela consultoria PTS, dirigida pelo especialista Otavio Jardanovski, mostra que a penetração da TV paga no Brasil é de apenas 13%. Na vizinha Argentina é de 56% e nos Estados Unidos, de 53%.

Esse baixo alcance tem uma série de explicações. A TV aberta chega com bom sinal a aproximadamente 95% dos lares brasileiros e os telespectadores parecem satisfeitos com a programação oferecida. O governo também não fez questão de estimular a TV por assinatura porque esse tipo de serviço nunca foi considerado prioritário. Além disso, alas de orientação nacionalista entendem que esta é uma área que favorece a produção estrangeira de conteúdo em detrimento da local.

O principal fator que permitiu o avanço do setor nos últimos três anos foi o crescimento da renda da população. É o já conhecido fenômeno da ascensão econômica da classe C, que puxou o consumo em praticamente todos os segmentos. Mesmo assim, o negócio continua fortemente concentrado. A Net controla algo em torno de 47% do mercado e a Sky, 26%. A fatia restante é dividida entre pouco mais de meia dúzia de operadoras.

O objetivo das empresas hoje é reduzir os custos para baixar tarifas e atrair mais interessados, especialmente entre a população das classes emergentes. A estratégia adotada há alguns anos é vender pacotes integrados com internet e telefonia, montados conforme o perfil do cliente: o combo pode ter todos os canais disponíveis e conexão veloz à internet, ao custo de mais de R$ 300 por mês; ou apenas a programação básica e uma conexão mais lenta, que sairá por R$ 35 mensais.

A superação do fator econômico não é tudo. Há sérios obstáculos técnicos. Um deles é a falta de liberação de novas licenças. A última aconteceu em 2001. Apenas 479 entre os 5,6 mil municípios do Brasil dispõem de rede de TV a cabo ou por MMDS (micro-ondas). É o que deixa espaço para o crescimento da TV por satélite, que não depende da instalação de quilômetros de cabos para funcionar.

Novas outorgas não estão sendo concedidas aparentemente porque a Anatel espera pelo desfecho da tramitação do Projeto de Lei Complementar 116, o antigo PL 29, que regulamenta o setor. Já aprovado pela Câmara dos Deputados, o PLC 116 aguarda agendamento para votação no Senado. Esse projeto abre espaço para as operadoras de telefonia e, por isso, encontra forte resistência das líderes do mercado, NET e Sky, que temem perder espaço. / COLABOROU ISADORA PERON

 

Etienne Jacintho

Tv autoral

Em cinco anos, a HBO lançou, na América Latina, cinco séries, três delas, no Brasil. Duas novas atrações estão em fase de pós-produção: a brasileira Mulher de Fases e a chilena Prófugos, que devem entrar no ar em 2011. Pode parecer pouco em relação à produção de seriados em TVs abertas por aqui, mas não há como comparar as atrações locais da HBO com programas feitos em outras emissoras – salvas raras exceções, a exemplo das experimentações de Luiz Fernando Carvalho, na Globo.

Séries como Mulher de Fases, parceria da HBO com a Casa de Cinema, levam cerca de 12 meses só para terem seus roteiros finalizados. Depois, há 30 semanas de filmagem, sem contar o tempo de pré e pós-produção. Um luxo que só um canal que não prioriza a audiência pode ter. Ao Estado, o brasileiro Roberto Rios, vice-presidente de Produções Originais da HBO na América Latina, fala sobre essa fábrica de boas e ousadas ideias.

O público brasileiro está acostumado com seriados nacionais da TV aberta, que são muito parecidos esteticamente. Já na HBO, cada seriado tem uma cara. Como é isso?

Sempre procuramos talentos. Vamos instigando, desafiando os parceiros. A equipe, modestamente, tem muita experiência na TV, uma vida toda. Sabemos o que funciona. Sabíamos, tanto no caso da Conspiração, da O2, da Gullane e, agora, da Casa de Cinema, que eram talentos diversos e que sairiam projetos de perfis claros. A gente não quer aparar arestas para deixar tudo com cara de leite pasteurizado. A gente é orgânico de luxo, não é pasteurizado industrial. A gente pode se dar ao luxo de sentar e escrever Mulher de Fases por mais de um ano. Ficamos cinco, seis meses escrevendo Alice – Um Especial em Duas Partes, que tem apenas 3 horas, com quatro escritores.

Mas há um padrão técnico…

Padronizamos na questão técnica, mas trabalhamos com talentos de altíssimo repertório. Você não vai ensinar a O2 a finalizar um produto. A ideia é se divertir. Queremos tornar o canal excitante, com coisas diferentes. Queremos fazer uma comédia como é Mulher de Fases e apresentar também uma série de ação como Prófugos. Não gostamos de nos repetir. Se fosse assim, seria mais fácil comprar uma série. E você percebe isso também nas séries americanas da HBO. Você tem Bored to Death, Império do Contrabando e True Blood. São coisas completamente diversas. O canal que tenta ser excessivamente abrangente no seu público é obrigado a fazer tudo na média.

Qual é o resultado das séries locais na América Latina?

As séries tendem a ter repercussão maior em seus próprios territórios, pela identificação, pela atenção da mídia. Mas Filhos do Carnaval, por exemplo, teve suas melhores críticas em veículos da Argentina e do México. Epitáfios funcionou enormemente no Brasil, pelo gênero, e até nos EUA.

Epitáfios concorre a dois Emmys….

Estamos contentes, mas sempre concorremos com produções da BBC e outras anglo-saxônicas. A tendência é eurocêntrica e anglófila. É cultural. O pessoal da academia tende a valorizar mais as produções faladas em inglês. Mas ficamos felizes que, nos últimos cinco anos sempre fomos indicados. Se você for ver, são 200, 270 programas do mundo apresentados na categoria série. Estar entre os quatro finalistas é uma super-estatística. Nosso trabalho é fazer essas coisas acontecerem.

Como está a produção de Mulher de Fases?

Está em finalização de cor, de áudio, criação de bandas de música e efeitos. A Casa de Cinema deve entregar tudo no fim deste ano e no começo do ano que vem. Não há data de estreia, mas deve ser no segundo trimestre. A campanha já está montada. A série é diferente de tudo o que a gente já fez, com tom leve, mas não é sitcom com risada no fundo. É comédia romântica.

Vocês sempre trazem caras novas, meio desconhecidas do público de TV.

É quase impossível ter acesso a um determinado tipo de ator. Não só por ser inacessível economicamente ou por contratos de exclusividade, mas porque eles estão tão carregados de vícios que não funcionaria para a gente. A gente acabou se virando com talentos de teatro, como Enrique Diaz, a Andreia Horta e, agora, a Elisa Volpatto, em Mulher de Fases. Isso é bastante legal.

Há planos de novas temporadas para as séries já produzidas aqui ou novos projetos com Conspiração, O2, Gullane e Casa de Cinema?

Temos alguns projetos novos, que estão em diferentes fases de envolvimento, mas é cedo para falar, pois não sabemos nem o que vai ser. Nesta fase, os projetos não têm nem nome. Mas estamos num processo constante, já que o Brasil é um território importante para nós e não só porque eu e Maria Angela (de Jesus, diretora de Produções originais da HBO Latin America) somos brasileiros, mas o meu chefe (Luis Peraza, o presidente de Produções Originais) também é grande fã do Brasil. O único problema é saber o momento exato de começar. Uma série de 13 capítulos demanda 30 semanas só de filmagem, a realização do roteiro leva de 10 a 12 meses.

Há produtoras independentes novas nesses projetos?

Tem gente nova. Não há uma semana sem que chegue projetos aqui, alguns muito legais e nem sempre de gente estrela. Há gente jovem também. São atrações de diferentes formatos, mas com ênfase em série.

Por que essas séries nunca são lançadas em DVD?

Não é minha área, mas DVD não é nosso negócio principal, então, tivemos de criar um negócio. O grande medo que se tem quando há coisas preciosas na sua mão é se meter com a pessoa errada. É como escolher a escola do filho. A gente poderia cair na mão de alguém que fizesse um trabalho ruim, um lançamento malfeito, uma má publicidade, uma campanha de marketing inadequada. Agora estamos começando um departamento para cuidar disso.

Por que a mexicana Capadócia e a argentina Epitáfios saíram já com uma temporada de 13 episódios e as brasileiras Mandrake e Filhos do Carnaval tiveram temporada quebrada?

Essa é fácil: quando a gente começou, tinha pouco dinheiro. Mandrake e Filhos foram feitos praticamente um ano após o outro e, na época, a gente não tinha muito dinheiro acumulado. Depois voltamos ambas as séries para completar os 13 episódios. Já Alice e Mulher de Fases saíram com 13 capítulos.

E a tendência agora é começar sempre novos projetos com temporadas completas?

Sim. É a tendência natural. E o Mandrake tinha histórias fechadas, independentes. Fazer sete ou dez episódios daria na mesma. Esse número 13 é o múltiplo das semanas por ano. Cabem quatro séries no ano. No futuro, a ideia é ter quatro séries no ano. Mas gosto do formato de Filhos do Carnaval com seis episódios na primeira fase, pois é o formato britânico.

Na América Latina

Além da brasileira Alice – Um Especial em Duas Partes, a HBO também está exibindo a reta final da 2.ª temporada da série mexicana Capadócia – o 10.º episódio vai ao ar hoje, às 21 horas. Ambientada em uma prisão feminina, a atração trata de assuntos em pauta hoje naquele país como o tráfico de drogas e a imigração. ‘Essa 2.ª temporada de Capadócia, no México, tem batido recordes de audiência’, comenta Roberto Rios, vice-presidente de Produções Originais da HBO na América Latina. ‘Acho que se Capadócia fosse uma série americana, atrairia menos o público latino.’

A próxima atração latina que a HBO vai lançar se chama Prófugos e é a primeira coprodução chilena do canal. ‘Prófugos está terminando as longuíssimas filmagens – foram 30 e poucas semanas – no Chile’, conta Rios. ‘Faltam só alguns ajustes para refazer ou acrescentar cenas – panorâmicas de cidades, por exemplo –, em quatro ou cinco dias de gravação.’

Prófugos é uma série de ação, filmada em toda a extensão do Chile, de norte a sul, com todas as paisagens daquele país: deserto, montanha e neve. ‘Já começamos a montar a série e o piloto (primeiro episódio) já está bem avançado’, conta Rios. ‘Agora falta tomar decisões do processo de edição – músicas, tom da série. É a fase de que mais gosto.’ Segundo Rios, esse processo deve durar mais um tempo e a série não deve ficar pronta antes do segundo semestre do ano que vem.

Enredo. Prófugos (Fugitivos) é um drama de ação sobre quatro homens envolvidos em uma operação do narcotráfico na fronteira entre o Chile e a Bolívia. O tráfico serve de pano de fundo para falar sobre relações humanas, traições e corrupção.

Os quatro personagens principais vêm de realidades diferentes e caem no tráfico por circunstâncias variadas. Há um revolucionário que, frustrado por uma vida utópica e desacreditado por uma doença, decide entrar para o crime para sustentar sua filha; um detetive que quer ganhar a confiança do chefão do tráfico e se infiltra no cartel; um violento braço direito do chefão do cartel; e um homem que não queria entrar no crime, mas é da família e não teve como fugir.

Prófugos é a sétima série latina da HBO. A primeira produção foi em 2004, com Epitáfios, série policial argentina com a atriz Cecilia Roth (de Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar) no elenco. Epitáfios teve sua 2.ª temporada apresentada no ano passado.

Alice – Um Especial em Duas Partes; Reprise da 1.ª parte dia 24, 19h30; 2.ª parte estreia dia 27, 21h

Capadócia – No ar aos domingos, 22h

 

CASO PANAMERICANO

David Friedlander

Silvio Santos à beira de um ataque de nervos

Não foi só com Luiz Sandoval, seu braço direito e amigo há 40 anos, que Silvio Santos brigou por causa do escândalo no Panamericano. Dias atrás, ele deu uma bronca em Wadico Bucchi, um dos conselheiros do banco, durante reunião com várias pessoas na sede da Caixa Econômica Federal, em São Paulo. A Caixa é sócia do Panamericano e o encontro tratava da crise criada com a descoberta da fraude de R$ 2,5 bilhões nas contas da instituição.

‘O que você está fazendo aqui? Eu não te chamei para esta reunião’, Silvio disse a Wadico, segundo o Estado apurou. A seguir, o empresário fez várias colocações rudes, inclusive criticando Wadico por não ter percebido antes os problemas na contabilidade do Panamericano.

O pito foi presenciado pelos executivos que acabavam de ser contratados para substituir a antiga diretoria, demitida por causa da fraude, pessoas envolvidas na operação de resgate do Panamericano e por Luiz Sandoval. Procurado, Wadico disse que não podia dar entrevista, mas afirmou que já está tudo bem.

‘Silvio ficou irritado com o Wadico, comigo, com todo mundo’, contou Sandoval na sexta-feira, um dia depois de pedir demissão da presidência do Grupo Silvio Santos. ‘E ele está irritado com razão, por tudo que aconteceu. Mas já passou, ele pediu desculpas ao Wadico.’

Ex-presidente do Banco Central e do Banespa, Wadico é um dos conselheiros mais experientes do Panamericano. Ele fica no cargo até a semana que vem, quando toma posse o novo conselho. Wadico era homem de confiança de Sandoval.

O episódio na Caixa contribuiu para desgastar um pouco mais o relacionamento entre Silvio e Sandoval, que ficou abalado depois da descoberta da fraude no Panamericano. Sandoval e Wadico eram as pessoas que faziam a ligação do empresário com seu banco e com o mercado financeiro. ‘Dá para entender o comportamento do Silvio. Fomos traídos’, diz Sandoval. ‘Mas nós éramos conselheiros e nenhum conselheiro ia pegar algo assim. Ele sabe disso.’

Rompimento. O estopim do rompimento, segundo fontes próximas ao empresário, estaria nas mudanças que Silvio deseja fazer na holding de suas empresas. Sua ideia seria enxugar a estrutura e levá-la para o SBT, para ficar mais perto dele. Sandoval viu nisso um sinal de perda de prestígio, eles brigaram e o executivo pediu demissão.

Sandoval não explica o motivo da última desavença, só repete o que tinha dito ao Estado na quinta: ‘Silvio queria decidir de uma maneira, eu de outra. Virou um conflito. Caso eu não concordasse, ele sugeriu que eu pedisse demissão. E foi o que eu fiz.’

Pessoas próximas de Silvio afirmam que o rompimento traz uma ironia. Havia algum tempo Sandoval, que era presidente do Conselho de Administração do Panamericano, defendia junto a Silvio a substituição de Rafael Palladino, o presidente do banco. Ex-professor de educação física, Palladino é primo de Iris Abravanel, mulher de Silvio, e aprendeu no Panamericano tudo que sabe sobre mercado financeiro. Na opinião de Sandoval, em razão de seu crescimento, o Panamericano precisava de alguém mais tarimbado no comando. ‘Sobre isso não falo. Já saí de lá’, disse Sandoval.

Tribunais. Além de ficar sem seu parceiro mais fiel no campo dos negócios, Silvio vai enfrentar momentos difíceis em família. Ele já afirmou que pretende demitir parte dos mais de 40 parentes dele e da mulher que trabalham em suas empresas, mas talvez o pior momento venha a ser com Palladino.

O empresário anunciou que vai processar os ex-diretores do banco e eles se preparam para enfrentar o ex-patrão nos tribunais. Palladino contratou para defendê-lo o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos e o advogado Celso Vilardi. Sonia Rao vai defender Wilson de Aro, que ocupava o segundo cargo mais importante na hierarquia do banco.

 

TECNOLOGIA

Ethevaldo Siqueira

Web rádio, sem fronteiras

Há poucos meses, num hotel em Tóquio, fiquei impressionado com a possibilidade de ouvir rádio em meu laptop lá do outro lado do mundo. Às 7 horas da noite, com 12 fusos horários à frente, eu ouvia os jornais matutinos das emissoras paulistas e ficava sabendo tudo sobre o Brasil, sua política, sua economia, as notícias sobre o meu Corinthians, até a situação do trânsito infernal de São Paulo. Era como se estivesse em meu escritório.

Quem poderia imaginar, por volta de 1990, a possibilidade de ouvir emissoras brasileiras em qualquer ponto do planeta? No entanto, a internet e o celular tornaram realidade esse velho sonho.

Considere agora o novo potencial dos telefones celulares avançados, leitor: 20% dos 5,4 bilhões de telefones celulares em serviço existentes no mundo são smartphones, com capacidade de recepção de rádio FM e/ou AM. Isso equivale a 1,08 bilhão de celulares capazes de sintonizar emissoras de rádio.

Esse número supera largamente o total de 850 milhões de receptores de rádio dedicados ou tradicionais existentes no mundo, segundo estimativa da União Internacional de Telecomunicações (UIT).

Por outras palavras: o mundo tem hoje mais receptores de rádio embutidos em celulares do que receptores tradicionais, em carros ou residências. Da mesma forma, existem mais câmeras fotográficas embutidas em celulares do que câmeras dedicadas.

Rádio via web. Em 10 anos, a tendência é de que o número de celulares com capacidade de recepção de rádio deverá triplicar. Isso significa que a maioria esmagadora dos receptores sintonizará emissoras de todo o planeta, graças a uma tecnologia cujo nome, ainda não padronizado, poderá ser Web Rádio (ou WebRadio), Rádio IP ou Radio sobre protocolo IP (RoIP).

A digitalização do rádio em transmissão aberta ou radiodifusão (broadcasting), como todos sabem, ainda enfrenta diversos problemas e obstáculos, no Brasil e no mundo. Esse fato torna a internet, a partir dos anos 1990, uma das opções mais promissoras para o rádio do futuro, pois oferece uma alternativa à digitalização tradicional, ao utilizar a teia mundial e, em especial, o protocolo IP.

O ano de 2010 marca o retorno vitorioso dos tablets. Além da mobilidade, a popularização desses dispositivos nos deverá possibilitar a sintonia de um número praticamente ilimitado de emissoras. É que já disponho em meu desktop, utilizando o software iTunes, da Apple, programa gratuito que me permite ouvir entre mais de mil emissoras – uma centena de rádios que só tocam música clássica, ou outras dedicadas exclusivamente a jazz ou música popular internacional.

É claro que existem dezenas de alternativas ao iTunes, como os da Nokia, da Microsoft e do sistema operacional Android.

Um livro essencial. Para quem quer aprofundar seus conhecimentos sobre essa nova geração tecnológica de rádio, recomendo o excelente livro da professora Nair Prata, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que também é jornalista com larga experiência profissional em radiodifusão.

Com o título de Webradio, Novos Gêneros, Novas Formas de Interação (Ed. Insular, Florianópolis, 2009, R$ 44), o livro da professora Nair Prata é resultado de pesquisa que envolveu 30 emissoras de rádio, divididas em três grandes grupos: a) hertzianas; b) hertzianas com presença na internet; e c) web radios. Em cada um dos três grupos, foram estudadas duas categorias de análise – gênero e interação e, como parte do estudo da interação nas webradios, foi feito estudo sobre a usabilidade das homepages.

Além de discutir os aspectos teóricos, a jornalista analisou rigorosamente o conteúdo da pesquisa de campo e identificou novos gêneros no surgidos no webradio, em meio genuinamente digital: chat, e-mail, endereço eletrônico, enquete e fórum, além dos tradicionais gêneros radiofônicos hertzianos. O webradio pode ser entendido, portanto, como uma constelação de gêneros, que abriga formatos antigos, novos e híbridos, nascidos da complexa tessitura digital desse novo rádio.

Como a web é um ambiente heterogêneo, que permite a introdução de novos recursos audiovisuais colocados à disposição de seus usuários, tanto pelo rádio hertziano como pelos webradios, graças a várias ferramentas interativas com o objetivo de atrair e fidelizar seu público. ‘A principal delas – frisa Nair Prata – é o próprio site, basicamente polifônico, marcado por vozes e outros recursos sonoros, como no rádio hertziano, mas, também, visualmente enriquecido por textos e imagens.’

Todas essas mudanças vão determinar uma nova maneira de se fazer rádio, bastante diferente das atuais formas: ‘Hoje o conteúdo radiofônico é fruto do trabalho de profissionais que conhecem e se relacionam com os novos meios, e que poderiam ser chamados de imigrantes digitais. O público também ainda é imigrante digital. Daqui a alguns anos, porém, as gerações genuinamente digitais passarão a ter acesso às mídias e irão desejar novos formatos de programação e novas formas de se interagir com o veículo. Será que os profissionais de radiofonia de hoje estão preparados para lidar com esta nova linguagem e este novo público que se avizinha?’.

O livro WebRadio está à venda apenas no site da editora (www.insular.com.br/product_info.php?products_id=546).

 

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Estado de S. Paulo – Sábado