Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica interna

01/11/06

O caos nos aeroportos é o assunto principal dos grandes jornais; os jornais econômicos estão atentos aos próximos passos do novo mandato:

Folha – ‘Aeroportos do país têm dia de caos às vésperas do feriado’.

‘Estado’ – ‘Defesa previa caos em aeroportos desde 2003’.

‘Globo’ – ‘Quinto dia de caos afeta aeroportos de todo o país’.

‘Valor’ – ‘Após apoiar Alckmin, Fiesp busca se recompor com Lula’ e ‘Presidente assume o PT e quer mudança’.

‘Gazeta Mercantil’ – ‘Governo já estuda corte de gasto público’.

Henrique Meirelles

O ‘Estado’ tem uma longa entrevista com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que esteve na berlinda nos dois últimos dias por causa da discussão sobre os rumos da economia no segundo mandato de Lula. Meirelles reivindica crédito pela estabilidade, que considera um dos pilares da reeleição de Lula – ‘Parte dos resultados eleitorais de Lula é conseqüência da derrubada da inflação’, é a manchete entre aspas da abertura do noticiário nacional do jornal.

Na Folha, há uma ‘conversa rápida’ reproduzida na coluna ‘Mercado Aberto’ (pág. B2) – ‘Aumentar a oferta é o desafio, diz Meirelles’. O personagem, sob bombardeio de parte importante do PT, e a discussão sobre o segundo mandato exigiam mais do que o que a Folha publicou.

Painel do Leitor’

Ficou estranha a resposta da Folha para as contestações feitas pelo diretor do Masp à reportagem publicada no sábado. Dos quatro pontos contestados, o jornal responde apenas a um. E os outros?

A reportagem contestada dizia que a eleição para a direção do Masp seria em novembro, mas ela ocorreu anteontem, conforme informação da própria Folha de hoje – ‘Júlio Neves é reeleito para presidir o Masp’, pág. C5 da Edição Nacional e C6 da Ed. SP.

Entrevista

Ponto para a Folha pela entrevista com Hans Blix, apesar do título meio ufanista _ ‘Brasil deve liderar luta por desarmamento nuclear’ (pág. A17).

Vale x índios

No conflito entre a empresa Vale do Rio Doce e os índios xicrim, o leitor está tendo mais acesso às informações e explicações da mineradora do que às dos índios. Além do serviço da assessoria de imprensa a empresa conta com o recurso de anúncios nos jornais. Isso não significa que esteja necessariamente com a razão neste caso. Diante de um conflito como este, que se arrasta há tempo, que contrapõe forças desiguais e ocorre distante da observação dos leitores, o melhor a fazer é o jornal ter informações próprias, obtidas diretamente no local dos conflitos. Por que ainda não foi enviada uma equipe para o local?

O esforço de ouvir a Funai e as lideranças indígenas, como está hoje no jornal (‘Vale cancela ajuda de R$ 9 mi a índios no PA’, pág. B4), não substitui a necessidade de o próprio jornal verificar o que está ocorrendo em Carajás.

A Folha vinha escrevendo o nome da etnia com ‘n’, xicrin. Hoje, no entanto, aparece grafado com ‘m’, xicrim. É necessário padronizar.

Aeroportos

O ‘Estado’ tem mais informações hoje sobre os antecedentes da crise nos aeroportos do que a Folha: ‘Defesa já previa colapso em 2003’, ‘União só gastou 54% da verba de 2006’ e ‘FAB cancelou concurso para 144 controladores’.

Aviso

Amanhã, feriado nacional, e sexta não haverá Crítica Interna.



31/10/06

Os grandes jornais estão preocupados com a economia; os jornais econômicos, com a política:

Folha – ‘Lula reafirma política econômica’.

‘Estado’ – ‘Lula garante que governo manterá metas de inflação’.

‘Globo’ – ‘Lula desautoriza Tarso e reafirma o rigor fiscal’.

‘Valor’ – ‘Lula já inicia as reuniões com novos governadores’.

‘Gazeta Mercantil’ – ‘Diálogo deve depender de cargos no governo’.

Eleições 2006

Sumiu, na Edição SP, a reportagem ‘Movimentos sociais já preparam cobrança’ (pág. A13 da Edição Nacional), a única que tratava das expectativas e pressões imediatas dos movimentos sociais.

Foi reduzida , também na Edição SP, a uma nota quase incompreensível a manifestação da CNBB sobre o futuro governo (pág. A12). Na Edição Nacional, a manifestação da entidade está bem contemplada (‘CNBB pede a Lula escolha criteriosa para ministérios’, pág. A13).

A prioridade para os rumos da economia, a formação do novo ministério e da base aliada e a exploração dos números finais da eleição não é incompatível com uma atenção aos movimentos sociais e sindicais que, seguramente, exigirão deste segundo mandato mais do que exigiram e pressionaram no primeiro.

O principal personagem do noticiário de hoje, Henrique Meirelles, não aparece no jornal: não é ouvido e não há qualquer informação sobre o seu paradeiro ou sobre o que fez ontem, quando o seu nome esteve na berlinda. Duas notas na coluna ‘Mônica Bergamo’, ‘Linha direta’ e ‘Linha indireta’, indicam que ele se movimenta para continuar no governo.

Agressões

A Folha ouviu, a propósito das agressões sofridas por jornalistas em frente ao Palácio do Alvorada, a Associação Nacional dos Jornais, que condenou a atitude dos militantes (pág. A5 na Edição Nacional e A9 na Edição SP). Deveria ter ouvido também a Federação Nacional de Jornalistas. Segundo uma nota do ‘Painel’, o presidente da Fenaj disse ‘bem-feito’ quando soube das agressões (‘Nova era’, pág. A4). Era bom saber por que ele acha que foi ‘bem-feito’ os jornalistas serem agredidos.

Máfia do lixo

A reportagem da Folha não esclarece se o Ministério Público estadual pode ou não denunciar o ex-ministro Antonio Palocci. Segundo o texto do jornal (‘Ministério Público solicita a prisão preventiva de Palocci’, pág. A23), o advogado do ex-ministro considera que só a Procuradoria da República pode denunciá-lo uma vez que foi eleito deputado federal. Mas, como Palocci ainda não tomou posse, fica a dúvida. O jornal poderia ter procurado um especialista para já deixar esclarecido este ponto.

Lembo

Não sei como está o governo dele, até porque a cobertura dos jornais é irregular. Mas ele continua dando boas entrevistas, como a de hoje, para o ‘Estado’ – ‘Para Lembo, eleição presidencial foi um processo ´esquizofrênico´‘.

México

Recebi da editora de ‘Mundo’, Cláudia Antunes, via Secretaria de Redação, o seguinte comentário em relação à crítica que fiz ontem à cobertura das revoltas em Oaxaca, no México:

‘Sua crítica à cobertura da revolta em Oaxaca está apenas parcialmente correta. É verdade que a matéria publicada nesta segunda não estava suficientemente analítica, mas nós fomos o primeiro jornal brasileiro a entrar no assunto, com duas reportagens extensas e editadas com destaque, uma delas em um domingo’.

[A editora enviou cópias dos textos ‘Greve de professores vira revolta social no México’, de 25/08/2006, e ‘Revolta de Oaxaca é Chiapas ampliada’, de 10/09/2006]

De qualquer forma, fica claro que é uma cobertura irregular (uma reportagem em agosto, outra em setembro e agora neste final de semana que passou), sem continuidade.

Uma questão na reportagem de hoje, ‘Polícia mexicana expulsa os grevistas de Oaxaca’ (pág. A27): o leitor não é obrigado a se lembrar de quando ocorreu a revolta de Chiapas nem de sua dimensão histórica. Como o jornal citou Chiapas para mostrar a importância do que está acontecendo agora em Oaxaca, deveria ter dados as informações completas.

Bolívia

Ótimos os bastidores colhidos pelo jornal a respeito do acordo entre o governo da Bolívia e a Petrobras – capa e página B3 de ‘Dinheiro’.

O ‘Estado’ informa que a Bolívia quer 35% de aumento no preço do gás.



30/10/06

Como os principais jornais retrataram o resultado final da eleição presidencial:

Folha – ‘Lula é reeleito, promete crescimento e pede união’.

‘Estado’ – ‘Lula promete abrir segundo mandato com reforma política’.

‘Globo’ – ‘Reeleito Lula, governo fala agora no ´fim da era Palocci´‘.

‘Valor’ – ‘Lula conquista segundo mandato’ e ‘Novo programa fiscal a caminho’.

‘Gazeta Mercantil’ – ‘Lula, mais de 58 milhões de votos, propõe conciliação’.

‘JB’ – ‘Lula promete 1º mundo’.

‘O Dia’, que nesta campanha eleitoral não escondeu o apoio à reeleição, fez a manchete mais ‘lulista’ entre os jornais de peso que li: ‘O povo não é bobo e elege Lula de novo’.

Eleição 2006

A Folha editou um caderno especial com 20 páginas com os resultados do segundo turno das eleições para a Presidência e para os governos estaduais, contra 24 páginas do ‘Estado’. O caderno estava bom, embora com vários problemas.

Na cobertura dos fatos de ontem, ponto para a reprodução da íntegra do discurso feito por Lula após a confirmação de sua reeleição, embora deva se lamentar que o jornal não tenha conseguido editar o texto na Edição Nacional fechada às 21h45.

Na reconstituição dos bastidores da campanha eleitoral, destaque, pela informação exclusiva, para a reportagem ‘PT pensou em apostar na divisão do país’ (título da Edição Nacional, pág. 6). A outra reportagem que completa os bastidores do primeiro mandato do governo Lula – ‘Durante a crise, ministros sugeriram renúncia’ – desapareceu na Edição SP.

Boa a idéia de colocar, na seção ‘Entrevista da 2ª’, as mesmas questões sobre o significado da reeleição de Lula e sobre o seu novo mandato para oito especialistas com pontos de vistas distintos.

O infográfico ‘A votação para presidente’ (pág. 7 da Ed. SP) deveria ter incluído os percentuais dos votos válidos para cada candidato em todos os Estados neste segundo turno. A reportagem que acompanha o infográfico – ‘Alckmin encolhe no segundo turno; Lula sofre derrota em sete Estados’ – faz referências aos votos válidos.

O jornal deveria ter contemplado o ponto de vista de um intelectual do nível de Francisco de Oliveira e de José Arthur Giannotti que escrevesse um artigo especial para a Folha com o ponto de vista de quem votou em Lula com convicção. Os dois artigos publicados são bons, mas ambos são de críticos do governo, como se identificam.

Acho que faltou uma reportagem que tivesse informações sobre o que se passa neste momento no interior do PT (os enfrentamentos entre as diversas forças e projetos partidários) e que explorasse o futuro imediato do partido. Mudará? Será ‘refundado’? Continuará o mesmo? Como estão se movimentando as várias articulações internas? Quais as próximas crises?

Faltou também a expectativa dos movimentos sociais – MST, setores ‘progressistas’ das igrejas Católica e evangélicas, negros, sem-teto etc. – em relação ao segundo mandato. Houve frustrações em relação ao primeiro mandato? Haverá mais cobrança agora? De que tipo?

E a repercussão internacional?

Na cobertura dos resultados para os governos estaduais, o jornal não conseguiu evitar o que Janio de Freitas chamou (na coluna de hoje, ‘A carta de Lula’, na página A5 de Brasil) de ‘precipitações do jornalismo’. Lá está, na página 15 da Edição Nacional: ‘Derrota do PFL marca fim das oligarquias’. Fim das oligarquias? É um tanto de ingenuidade e outro tanto de falta de informação.

A ficha deve ter caído e houve a mudança para a Ed. SP – ‘Resultado expõe derrota de oligarquias’.

A Edição Nacional circulou sem a coluna de Mauro Paulino, diretor do Datafolha.

Era inevitável a pauta comparando as comemorações da vitória de Lula em 2002 e agora em 2006. Mas o leitor da Edição SP saiu perdendo com a substituição da seleção de charges de Angeli, Jean e Glauco (contracapa da Edição Nacional) pela reportagem ‘A festa encolheu’. O jornal deveria ter tido espaço para as charges e as reportagens. Ficou parecendo que as charges entraram na Edição Nacional como calhau, e não como opção editorial.

Aliás, a reportagem ‘A festa encolheu’ (na Ed. SP) faz referência a uma missa a São Judas Tadeu no sábado mas não informa em que igreja, horário, nome do pároco, alguma informação mais precisa sobre um fato que considerou tão importante a ponto de encerrar o texto fazendo contraste com o desânimo descrito na festa de ontem à noite na Avenida Paulista.

O jornal informa, na Primeira Página e na capa do caderno ‘Eleições 2006’ da Edição Nacional, que o presidente Lula, com a reeleição, é o 39º presidente do Brasil. Esta informação sumiu na Edição SP. Estava errada? Se sim, precisa ser corrigida.

Números

Números soltos não querem dizer muita coisa. A reportagem ‘Eleito herda Estado com déficit de R$ 2,2 bi’ (pág. 16 do caderno ‘Eleições 2006’) informa que o consumo de água por habitante no Rio é de 550 litros. Mensal? Anual? É muito? É pouco? Há algum padrão internacional? Pode ser comparado com outros Estados? O texto diz que o dado é ‘aparentemente positivo’, mas indica desperdício e ineficiência na distribuição. Por que?

Dossiê

Tem razão a coluna de Jânio de Freitas de domingo (‘Iguais, mas diferentes’) quando avalia que o tratamento dado pelos meios de comunicação (e pela Polícia Federal) à trama armada em Pouso Alegre, Minas, que envolve o PSDB, não está merecendo dos jornais o mesmo tratamento que deram ao envolvimento do PT no dossiê dos Vedoin. O caso de Pouso Alegre já sumiu das páginas.

México

A Folha não vem dando a atenção devida para a grave crise política no México provocada pelos distúrbios violentos e pelos assassinatos em Oaxaca. Pela dimensão que os protestos assumiram e pela reação do governo, já era hora de o jornal ter informações próprias, e não apenas via agências, e textos analíticos que ajudem a explicar o que está ocorrendo naquele país.

Controle de vôo

Há um aspecto da operação-padrão imposta pelos controladores de vôos desde sexta-feira que a Folha apenas mencionou (‘Para sindicalista, acidente gerou reavaliação do trabalho’, na Edição Nacional, e ‘Queda do Boeing motivou protesto’, na Ed. SP), mas sem se aprofundar: o movimento parece ser uma confissão de culpa, ainda não assumida oficialmente, de que o desastre do Gol também teve alguma responsabilidade do controle aéreo.’