Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Notas da Brazil Conference

Thinking Journalism Across National Bounderies. Este foi o tema da Journalism Brazil Conference, realizada de 3 a 5 de novembro em Porto Alegre (RS). O encontro reuniu pesquisadores dos, literalmente, quatro cantos do mundo, professores, jornalistas e estudantes de Comunicação e tratou de assuntos atuais e polêmicos sobre o jornalismo e a pesquisa jornalística.

‘What to do about Journalism?’ foi a questão chave da apresentação de Barbie Zelizer, da Universidade da Pennsylvania. Sua explanação, que abriu a conferência, era intitulada ‘Journalism and the International Academy’ e abordou questões complexas, polêmicas e bastante pertinentes: ‘O que realmente sabemos sobre o Jornalismo?’, ‘O que é ensinado aos acadêmicos?’, ‘O que é o jornalismo hoje?’, ‘O que estudamos sobre ele?’, ‘Para que é, afinal, o jornalismo? Somente para prover informação?’, ‘Como seria a história, o mundo ou a literatura sem o jornalismo?’.

A pesquisadora – uma das mais importantes da atualidade – apontou os principais problemas no ambiente jornalístico afirmando que não acredita em uma academia internacional, nem sequer em uma nacional. Além disso, Barbie comentou que os professores de jornalismo não são teóricos o suficiente como deveriam ser. Segundo ela, não há uma integração entre os jornalistas, os educadores e os estudantes da área e é essa falta de relações que contribui para o jornalismo falhar com seu verdadeiro trabalho. Barbie comentou que a imprensa impressa está perdendo lugar para a ‘blogsfera’ e outras maneiras alternativas de jornalismo e que, nos Estados Unidos, apenas 50% das pessoas acreditam no que lêem e no que lhes é informado.

A pesquisadora norte-americana também destacou a deficiência do ensino na área jornalística. De acordo com ela, a preocupação deveria ir muito além das news/hard news, do mercado de trabalho e da comparação entre notícias internacionais. Barbie afirma que um bom estudo jornalístico se apóia:

** Na Sociologia – para que o futuro jornalista pense mais no coletivo do que no indivíduo;

** Na História (da sua região, país e do mundo) – pois tendo este conhecimento é possível compreender melhor as notícias atuais e o que e porque certos acontecimentos ocorrem;

** No estudo de línguas (em sua forma informal/formal e pragmática) – pois na comunicação, a linguagem é primordial.

** Nas Ciências Políticas e na análise cultural – este estudo mostra como o jornalismo pode servir e atender melhor seus diferentes públicos.

Enfim, Barbie Zelizer apresentou como soluções:

** Realçar a presença do jornalismo através do currículo universitário;

** Reconhecer a parcialidade que há no jornalismo;

** Continuar questionando o trabalho do jornalista. Não aceitar somente o que se sabe até agora, mas, pensar e discutir sobre o que sabemos e o que concordamos ou não.

** Aprimorar o ofício jornalístico e seu ensino.

Barbie afirma que toda esta preocupação é importante pelo papel do jornalismo: ‘nos ajudar a ouvir com outros ouvidos, olhar com outros olhos e pensar com outros pensamentos.’

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Outras considerações importantes foram feitas por Frank Esser da Universidade de Mainz. Com sua apresentação intitulada ‘Organizing Comparative Internaitonal Communication on Projects: Overcoming the challenges ‘. O pesquisador destacou a importância da pesquisa internacional e as lições para transpor os possíveis obstáculos e dificuldades na realização de pesquisas na área jornalística. Quando questionado ‘Por que pesquisa internacional?’, Esser justifica afirmando que a pesquisa internacional:

** É um antídoto ao etnocentrismo

** Ajuda na melhor construção da comunidade

** Faz do mundo um laboratório global

** Contribui para a difusão e globalização

** Está diretamente relacionada a glocalização e hibridização Theory generalization

** Auxilia na construção e contextualização de teorias

** Classifica e verifica conceitos

O pesquisador fechou sua apresentação dando importantes dicas para pesquisadores em comunicação e que tem interesse na pesquisa internacional, destacando a importância de ler jornais estrangeiros e participar de conferências internacionais como a Brazil Journalism Conference.

Outras apresentações ainda debateram relevantes questões, merecendo destaque as explanações dos brasileiros Elias Machado, José Marques de Melo, Sônia Virgínia Moreira e Luiz Gonzaga Motta. De maneira geral, a conferência contribuiu significativamente para conhecermos novas maneiras de pensar o jornalismo no mundo cada vez mais globalizado, para criar oportunidades para o trabalho em rede com os investigadores de outras nações e para obter informações sobre como publicar em jornais internacionais. A Journalism Brazil Conference deu sua contribuição para a internacionalização e integração dos estudos de jornalismo e facilitou o diálogo entre escolas de pensamento e tradições regionais de pensar sobre a comunicação.

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Estudante do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Univali e pesquisadora voluntária do Monitor de Mídia