Jill Abramson foi nomeada a nova editora-executiva do New York Times e substituirá Bill Keller no dia 6/9. Ela será a primeira mulher a ocupar o mais alto cargo editorial nos 160 anos da história do jornalão. Dean Baquet, chefe do escritório em Washington, assumirá a posição de Jill. Keller continuará a escrever para a revista do jornal e se dedicará ao jornalismo em tempo integral. “O novo cargo é um sonho para qualquer jornalista”, disse ela, em declaração.
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (2/6). Jill juntou-se ao jornal em 1997 e tornou-se editora de Washington em 1999. Em 2003, passou a ocupar o cargo de chefe de redação. “Sem dúvida, Jill é a melhor pessoa para suceder Bill”, disse o publisher Arthur Sulzberger Jr. “Ao longo do ano passado, ela fez uma imersão na nossa estratégia digital e liderou esforços para integrar a redação impressa e online”.
Keller assumiu a posição em 2003, com o objetivo de restabelecer o moral em uma redação que havia sofrido com o escândalo de matérias falsas do repórter Jayson Blair, e achou que era o momento de seguir adiante. “Quis sair quando a redação estava forte em seu jornalismo e segura para o futuro”, disse ele, em declaração.
Desafios e conquistas
Em entrevista a Scott Raab [Esquire, 2/6/11], antes de anunciar sua renúncia, Keller havia avaliado sua experiência. “Não imaginava o quão duro seria o cargo. Há muito o que não é ensinado na escola mítica dos editores. Eles não ensinam que você gastará muito da sua vida em gerenciamento de crise. E foi muito disso – todo tipo de crise que você imaginar, começando com a crise de moral e credibilidade que herdei, depois indo pela p*** crise da recessão”, contou, soltando um palavrão. “A crise foi mais brutal na indústria da mídia do que nos outros setores. Há, ainda, uma questão existencial sobre o modelo de notícias trazido pela revolução digital e, com isso, como você adapta uma redação com pessoas que cresceram fazendo impresso para uma audiência da web”.
Durante sua gestão, o jornal ganhou 18 prêmios Pulitzer, expandiu sua audiência online para 50 milhões de leitores e se engajou em confrontos com duas administrações por conta de segredos estatais. No governo de George W. Bush, o NYTimes revelou a escuta telefônica sem autorização pela Agência de Segurança Nacional – embora somente depois de segurar um artigo por um ano. Já no governo de Barack Obama, foram publicadas informações obtidas pelo WikiLeaks. Também na sua gerência, o jornal defendeu a repórter Judith Miller quando ela se recusou a nomear sua fonte na investigação que revelou o nome da agente da CIA Valerie Plame. Foi implementado, ainda, o modelo de cobrança do conteúdo online.
Estratégia digital
Na era Keller, o jornal investiu intensamente em iniciativas digitais – o que faz sentido, pois tem mais a ganhar com o modelo de fácil distribuição da web do que outro jornal cujo conteúdo é mais ligado a temas locais. O NYTimes tem mais apelo global e nacional e a internet é um meio que permite que o jornal atinja esta audiência.
Agora, Jill tem uma tarefa mais externa do que interna. Ela terá a árdua missão de elevar a reputação do NYTimes entre seus leitores mais influentes. Uma maneira de fazê-lo é construir mais transparência e implementar um DNA digital na redação. Com informações de Felix Salmon [Reuters, 2/6/11], Joshua Benton [Nieman Journalism Lab, 2/6/11], Alex Sherman [Bloomberg, 2/6/11], David Caruso [AP, 2/6/11] e Jeremy W. Peters [New York Times, 2/6/11].