Diariamente, somos surpreendidos por lançamentos tecnológicos digitais, o Ipod de ontem já está obsoleto hoje, aquele DVD legal, já está no saldão, o PC que te venderam como top de linha, passado um mês, é uma bela de uma porcaria e você se sente vazio.
Com este ataque frenético de especiarias tecnológicas sendo divulgadas maciçamente aos nossos olhos e em nossas mentes, nos sentimos mal, como se estivéssemos de fora de algo revolucionário. Quem não leu uma nota sequer sobre temas relacionados ao Ipod? Bradado como algo altamente inovador e motivo de cobiça para muitos jovens. Um show de tecnologia, sedutor e muito bem pensado e, por trás disso, há o trabalho incessante de padronização e alheamento ao mundo real, pois falamos do mundo digital. O barato hoje é ter um grande numero de scraps e amigos no Orkut, trocar sons pela rede. Chamar os amigos para escutar um CD novo, para jogar taco na rua, isto é coisa do passado, sem imagens lindas de um mundo que nunca vai existir.
Não há mais memórias, as pessoas já não querem mais se lembrar de nada, tudo se tornou descartável, o que me torna ‘legal’ é estar de acordo com os padrões globais, com o Ipod novo, com a roupa da vitrine etc. Mas o que notamos é um absorver zero, o conhecimento de si e do mundo em que vivemos tornou-se coisa chata e obsoleta, a política não fascina, causa estranhamento, o interessante é ser ‘hype’ e a noite se informar com o Jornal Nacional.
Uma pergunta
O mundo digital se agiganta cada vez mais em cima de nós, trabalha o esquecimento do real, mas cria uma nova legião de excluídos, os digitalmente excluídos. Ao redor do globo, apenas 15% da população têm acesso a todas essas coisas. Sendo assim, esquecemos da política, da história, a corrupção dos parlamentares não indigna, chateia.
Tanta gente babando em cima das parafernálias digitais, gritando sobre a evolução, que nunca andou tão rápido! Que evolução, cara pálida? Se o mundo grita por socorro, a alienação nunca foi tão grande entre jovens – universitários ou não -; a saúde falida constrói fila de desesperados e defuntos; os índios incomodam os governantes; a África corroída pela AIDS; a educação, então, uma vergonha… Tanta evolução digital e quase nada para o social!
A pergunta que fica é a seguinte: quando é que vão começar a pensar e usar essas coisas para o bem da sociedade, e não para pequenos grupos?
E aí, já foi ver o modelo novo do Ipod?
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Jornalista