A credibilidade da acusação contra o francês Dominique Strauss-Kahn foi posta em dúvida, na semana passada, pela imprensa americana. Se antes, o ex-presidente do FMI era o vilão nas manchetes e a camareira Nafissatou Dialo, a vítima, agora é ela quem aparece como vilã. Strauss-Khan estava em prisão domiciliar até o fim da semana passada, acusado de estuprar Nafissatou Dialo quando se hospedou em um hotel em Nova York há pouco mais de um mês. Segundo a versão da camareira, ela achou que não havia ninguém no quarto quando foi surpreendida pelo então presidente do FMI, que saiu do banheiro só de toalha, agarrou-a e obrigou a fazer sexo oral. Agora, suspeita-se que Nafissato possa ter inventado a acusação de estupro para conseguir dinheiro.
ONew York Times publicou, em detalhes, uma conversa telefônica entre a camareira e seu namorado, preso por porte de drogas, no qual ela diz para ele não se preocupar. “Esse cara tem muito dinheiro. Sei o que estou fazendo”, afirma a mulher na ligação. O tablóide New York Post – que, no início da história,chegou achamar Strauss-Khan de “pervertido” – publicou matéria acusando a camareira de ser uma prostituta. O jornal sugeriu ainda que o sindicato das camareiras faria parte de uma rede de prostituição que trazia mulheres da Guiné, país de Nafissato.
Linchamento
A mídia francesa já havia criticado a postura dos jornais americanos, que acusou de publicar matérias sensacionalistas sobre o caso. A divulgação de fotografias de Strauss-Khan algemado, por exemplo, gerou fúria na França, onde tais imagens são consideradas prejudiciais à presunção da inocência.
Tanto no começo do caso quanto hoje, a polícia e a justiça usaram a imprensa. Em alguns lugares, especialmente em tablóides como o New York Post, parece que a polícia fez de tudo para colocar Strauss-Khan na pior situação possível e a ré em uma posição positiva. Ainda que a dupla justiça-imprensa funcione desta forma, atualmente, com as tecnologias veiculando as informações rapidamente e privilegiando o imediatismo, o resultado é bem mais devastador. A informação é imediatamente divulgada em nível mundial, seja ela verdadeira, falsa, parcial ou não, verificada ou não.
Após a divulgação de fatos que colocam a camareira em situação complicada, Alain Frachon, diretor editorial do Le Monde, lembrou que, mesmo que a promotoria não tivesse dados como o telefonema para o namorado preso no início da investigação, “isto não impediu que fossem formuladas sete acusações contra Dominique Strauss-Kahn, dentre elas agressão sexual, sequestro e tentativa de estupro”. Informações do Le Monde [1/7/11] e do Libération [2/7/11].
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