Escreveu Cristovam Buarque, em algum dos seus artigos mais recentes, que o ‘Brasil tem cinco dos dez maiores craques de futebol do mundo, mas nunca recebeu um Prêmio Nobel’. Por isso, a tristeza que estamos sentindo após nosso fraco desempenho na Copa do Mundo é legítima, por um lado, mas muito relativa também.
O Brasil não se resume a um time de futebol, por melhores que sejam os nossos jogadores. Primeiro, porque não é o único esporte em que podemos ou poderíamos ter talentos. E porque também muitos possíveis talentosos escritores, artistas, cientistas, intelectuais e pesquisadores brasileiros são boicotados pela ausência de uma ‘corrente pra frente’ nos âmbitos da cultura, da arte, da educação, da invenção.
Criatividade e ousadia no futebol, ótimo, mas jamais sairemos dos limites de um estádio?
A tristeza de agora é relativa… e desfocada. O Brasil não é um fracasso por não ter vencido outro time de futebol. Nossos verdadeiros fracassos estão no desemprego crônico, no analfabetismo funcional, na baixa qualificação de nossa mão-de-obra, na escassez de alternativas culturais, no desperdício de energias criativas.
A hora é agora
Com todo o respeito pelo esforço de Parreira e seu quadrado mágico, com todo o respeito pela torcida brasileira (que encheu a geladeira de cerveja…), com todo o respeito pelo patriotismo futebolístico do presidente Lula, que já sonhava receber em Brasília os hexacampeões e fazer metáforas brilhantes sobre o futuro do país, esta derrota, ainda que dolorosa, não tem muita importância.
Não tem muita importância em comparação com outras derrotas que, paradoxalmente, esquecemos como quem nada ouviu, nada leu. Nossas derrotas na educação pública, na saúde pública, na segurança pública. Nossas derrotas no campo da ética política.
O jogo acabou, a festa nem começou. Resta-nos torcer pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari.
Não se trata de agora começar a pensar na Copa de 2010, na África do Sul. A meu ver, o fato de voltarmos mais cedo da Alemanha poderia ser uma grande oportunidade para tirar da decepção novas expectativas.
Hora de torcer com mais empenho pela valorização dos professores brasileiros, dos agricultores brasileiros, dos operários brasileiros. Hora de torcer por uma reforma no cotidiano dos presidiários brasileiros, dando-lhes estudo e trabalho. Hora de perceber que milhares de jovens brasileiros são vítimas das drogas e precisam ser resgatados. Hora de cuidar, com garra, dos nossos imensos problemas reais.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br