Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
‘Onde você está, Fátima Bernardes?’ Durante algumas semanas William Bonner começou o Jornal Nacional com esta pergunta-bordão dirigida à apresentadora. No sábado, depois da débâcle diante da França, a estrela da equipe da Globo anunciou o seu regresso. E ontem (3/7) William Bonner começou o programa como se a Copa já estivesse encerrada. Ficou a pergunta: a TV Globo estava cobrindo um evento chamado Copa do Mundo ou estava cobrindo apenas a participação brasileira no campeonato mundial?
O fim do bordão não é importante, mas é simbólico. Resume uma atitude que não foi exclusiva da Rede Globo: a mídia brasileira foi à Alemanha para torcer pelo Brasil. Torceu não, distorceu, é verdade, mas não conseguiu ser suficientemente crítica para reverter a anestesia que tomou conta da comissão técnica e chegou aos jogadores.
A imprensa brasileira não é culpada pelo trágico um a zero do último sábado. Jornalistas não entram em campo, não movimentam o placar, mas jornalistas existem para advertir, criticar, fazer pressão. Foi assim com a imprensa francesa, que no início da Copa cobrou mais garra da sua seleção. Não foram os jornalistas franceses que deram o passe para Tierry Henry fazer o gol contra o Brasil. Mas os jornalistas franceses foram capazes de exigir de sua seleção aquilo que ela acabou exibindo contra nós.
A grande verdade é que a nossa cobertura das Copas nos últimos anos mudou drasticamente de foco: ao invés de buscar o atendimento dos interesses do público passou a atender prioritariamente aos interesses dos patrocinadores e anunciantes. E para estes, o que menos interessava eram críticas. Queriam euforia.
Foi justamente essa euforia prematura e insensata que impediu William Bonner de continuar por mais uma semana com a sua pergunta-bordão.